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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


LUÍS QUINTAIS

http://antologiadoesquecimento.blogspot.com

 

 

LUÍS QUINTAIS

 

 

Luís Quintais nasceu em 1968 em Angola. Antropólogo, poeta e ensaísta, lecciona no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra. Como poeta, publicou A Imprecisa Melancolia (1995), Lamento (1999), Umbria (1999), Verso Antigo (2001), Angst (2002), e Duelo (2004), obra a que foram atribuídos o Prémio Pen Clube de Poesia e o Prémio Luís Miguel Nava - Poesia 2005.

 

Parecia  verão

 

Parecia verão. Ele via na noite.

 

Ele via as pequenas árvores,

os atemorizados animais,

uma linha de signos junto à terra.

 

Ele celebrava os objectos,

as irrisórias meditações

sobre os objetos criados,

 

o simples pensamento:

 

escrever é seguir curso no leito da morte.

 

Um livro é sempre memória

de um verão aparente que acaba.

De alguém que não domina a sintaxe,

que, inadvertidamente, lhe destrói

as suas fontes,

 

Parecia verão, e era um nunca acabar de promessas

que o rigor, a justa dignidade da beleza,

ou a ilusão de tudo isso,

rondariam por perto.

 

 

 

Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE, Num. 26, Ano 14, 2007. Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

 

 

Nos teus lábios a noite

descreve um arco.

É o ciclo da melancolia

que se fecha.

Talvez não regresse.

Por outros sinais

lamentaremos a beleza

que, nos teus lábios,

a noite fez cessar.

 

 

[Sem título]

 

 

I

 

O estrépito que o passado faz.

As palavras gritadas.

A terrível máquina de dizer

e calar.

Tudo gira no nada

e no nada se compraz.

Uma fúria ergue-se

no plasma.

Uma cidade é destruída.

Escuta os muros

que se abatem.

Desenha árvores,

o rápido deslizar de nuvens,

o desenho que a mão faz

quando teme agarrar o sentido,

e o sentido é escuro, escuro.

 

 

II

 

O dia acaba, e com ele

a incerta medida dos teus erros.

Uma lâmina de vento

inicia-se no escuro.

A noite apaga o teu zelo.

O vestígio do ontem

cruza o sítio da memória,

somente atenuado

por outras presenças.

 

 

III

 

O rio escurecia

e depois aclarava e depois escurecia.

As árvores gravitavam nas margens

da tua memória,

faziam correr estilos de morte e promessa.

As personagens do inscrevível

seriam afinal mais monstruosas

do que se suspeitara,

e os insectos emudeciam

enquanto o outono regurgitava as suas vítimas.

 

E tu, tu? E tu fazias abolir

o sentido para fazer eclodir de novo

o novo sentido. E tu procuravas entre despojos

um aro de bicicleta partido,

um casaco com bolsos que dessem para o improvável,

um qualquer outro achado preso à cega geometria

e à circunstância do procurar.

 

 

IV

 

Atravessas a ponte, lês o jornal, alheias-te

do rio, mas o rio sitia-te

com a sua música de eleição,

a que julgaste escutar,

apesar dos sinais de morte

te encadearem

com a sua luz extrema.

 

Terás tu ainda a certeza do começo

movendo-se no écran

do primitivo medo

de que não há limite,

fuga, consolo.

 

 

V

 

Animal afeiçoado à metamorfose e à fuga,

o rio muda de cor

e tu anotas o denso espelho

e imaginas a métrica

que o levará à foz.

 

O rio é o teu deserto

e a palavra

apenas palavra

com que o descreves

a tenda onde o provisório

vem habitar.

 

Realidade

 

Olho para a realidade desprovida de silêncios.

As coisas são o que são. Porém, há que ter em conta

a gravidade que as prende à terra.

 

Os signos são os poucos recados que a vida pouca nos traz.

São o muito desta vida

onde árvores se perfilam nas avenidas, e nas avenidas

 

o frágil contraponto de domingo se passeia

atento à soalheira chegada de famílias-à-beira-Tejo

alheias à semana que aí vem, onde cada um por si,

 

e a desrazão por todos,

irá colher as incertezas do amanhã.

Dos sentidos todos o que resta são olhos fechados,

 

tacto de treva onde a realidade acaba

como um promontório sobre o Outono: onde começo

a contar as folhas, a memória da sua queda, a avisada música.

 

 

 

Página publicada em novembro de 2009

 

 

 

 

 


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