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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



JOSÉ RÉGIO

(1901-1969)

 

José Maria dos Reis Pereira, que tal era su nombre, nació en Vila do Conde, habiendo cursado estúdios en Coimbra, donde se licencio en Filología Románica,

con una tesis sobre la “Moderna Poesia Portuguesa”. Allí lanzó la revista Presença, que llegó a ser el principal órgano del Segundo Modernismo (1927-1940). Debutó poéticamente con Poema de Deus e do Diabo (1925), pronto se reveló por la expresión original de una condición humana dividida entre lo divino y lo demoníaco,

en el tono de confesionalidad dramáticva de un sujeto desgarrado entre la identidad

 y la alteridad, que se prolonga en Biografia (1929) y

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS TEXTOS EN ESPAÑOL
 

CÃNTICO NEGRO

 

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

 

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre à minha mãe

 

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?

 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

 

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

 

Como, pois sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 

Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

 

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

- Sei que não vou por aí!

 

 

EPITÁFIO PARA UM POETA

 

As asas não lhe cabem no caixão!

A farpela de luto não condiz

Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;

A gravata e o calçado também não.

Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!

Descalcem-lhe os sapatos de verniz!

Nao vêem que ele, nu, faz mais figura,

Como uma pedra, ou uma estrela?

Pois atirem-no assim à terra dura,

Ser-lhe-á conforto:

Deixem-no respirar ao menos morto!

 

 

EPITÁFIO PARA UM SANTO OBSCURO

 

Nunca sonhou ser santo,

Nem suspirou que o distinguira o Céu.

Viveu, morreu a um canto

Da casota e da aldeia em que nasceu.

Nem ele mesmo conheceu

Os Dons que dispensou tão vil, gratuitamente,

Que só os santos reconhece

De oficial aprovação.

Silêncio, pedra tumular!

Esse que aí jaz, merece

Que só Lá onde altares nada são

Se eleve o seu altar.

 

 

O AMOR E A MORTE

 

Metafísica

 

De cada vez que nos teus braços

Por uns momentos morro,

Nos abismos de mim o meu amor pede socorro

         Como se à força alguém lhe desatasse os laços.

 

         De cada vez apreendo

         Que fica em muito pouco, ou nada, aquele tanto

         Que o querer ter promete, enquanto

Se não tendo.

 

Desejar é que é ter!  mas não nos basta.

Sonhar é que é possuir sem tédio nem cansaços.

Sei-o, mas só já morto nos teus braços.

Sofre a carne de ter, ou de ser casta.

 

Sobre o desejo farto, a alma se debruça,

Contempla o nada a que o fartá-lo aponta,

E atrás do mesmo nada eis que ela mesma, tonta,

Vai, se a carne reacende a escaramuça.

 

Entrar num corpo até onde se oculte

O para Lá do corpo — eis o supremo sonho.

De que desejos o componho,

Se ei-lo se descompõe quando o desejo avulte?

 

Sôfrega, a carne pede carne. Saciada,

Pede, ela própria, o que jamais sacia.

Para de novo se inflamar, é um dia.

Para de novo desgostar, um nada.

 

Ai, como não te amar e não te aborrecer,

Carne de leite e rosas, — terra inglória

Do longo prélio-entendimento sem vitória

Que é carne e alma, ter-não ter?

 

                   (Filho do Homem, 1961)

 

 

OS SANTOS

 

Vê bem, Deus duro!

Tudo que temos seguro,

Ao ar das tuas Miragens

Se lhes desfez nas mãos frágeis.

 

Tudo o que pode ser tido,

Nem dado nem recebido

         Lhes pôde ser

         — Por o poder.

 

Quiseram, se é que é vontade

Quererem sem liberdade,

Nada do real perecível:

         Só o impossível.

 

Vê bem, Deus louco!

Se os fazes tanto, ou tão pouco,

Não desfaças dos seus fins

Os próprios teus manequins.

 

Por sede de Fonte Magna

         Se lhes estagna,

Já seca nunca bebida,

Toda a corrente da vida.

 

Por fome dum pão dum trigo

Só amassado contigo,

Não gostaram pães nenhuns

         Senão jejuns.

 

Na aposta sempre frustrada

         Do tudo ou nada,

         Vê bem, Deus nu!

Que serão, se o nada és tu?

 

         Vê bem, Deus mudo!

Jogaram tudo por tudo.

Se não existes, perderam:

Nem sequer foram quem eram.

 

Vê bem que somos o tudo

Que assim jogaram, Deus mudo!

Consigo nos apostaram

Se perderam, se ganharam...

 

Por amor, piedade ao menos,

Dos a quem dás teus acenos,

Quebra o que em ti nos resiste.

Paga-nos o que lhes deves: assume existência! Existe.

 

                            (Cântico Suspenso, 1968)

 

 

PALAVRAS

 

Palavras, atirei-as

Como quem joga pedras, lança flores.

Abriram fendas nas areias,

Suscitaram carícias e furores.

 

Sobre mim recaíram

Pesada de multíplices sentidos.

Tenho os lábios que um dia as proferiram

E os dedos que as gravaram — já feridos.

Tintas de sangue as restituo aos ventos,

Prestidigitador que sou de sons, palavras.

Dá-lhes novos alentos,

Fogo sonoro que em mim lavras!

 

Errantes lá pra solidões imensas

Com asas no seu peso, à recaída,

Me tragam, ágeis, densas,

A resposta final que me é devida.

 

 

IMPROVISO CORRIGIDO

 

Se minto? Quantas vezes!

Mas em palavras. Não

Nos meus olhos castanhos portugueses,

Nestas linhas atávicas da mão...

Se minto? ... Minto, pois!

Mas nas orais palavras que vos digo,

Nõ nas que entôo a sós comigo,

E em que enfim deixo de ser dois.

Não nas que entrego a músicas, miragens,

Alegorias, fábulas, mentiras,

Cadências, símbolos, imagens.

Ecos da minha e mil milhões de liras.

Se minto?...Minto! É regra de viver.

Mas não quando, poeta, me desnudo,

E a mim me visto de inocência, e a tudo.

Venha quem saiba ver!

Venha quem saiba ler!

 

 

                                      (Colheita da Tarde, 1971)

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De
José Régio
FADO
2a ed. com ilustrações de Stuart Carvalhais
Lisboa: Portugália Editora, 1957   157 p.

 

Fado das ruas sem sol

NAQUELA rua, à tardinha,

Já quase nada se via.

Parece que o sol fugia

Daquela rua mesquinha...

 

Mas tinha prédios imensos,

Entrechocando telhados

Tão altos!, como suspensos

De lá dos céus afastados...

 

Tinha compridas varandas

De velhos madeiramentos,

Rangendo, embora, em bolandas

Na mão da chuva e dos ventos.

 

Tinha opulentos bocados

De primevas cantarias,

Restos de ferros forjados,

E ate brasões e armarias...

 

E tinha, a meio, em seu nicho,

Nossa Senhora das Dores

Negrinha de tempo e lixo,

Com dois palmitos de flores.

 

Só nas paredes leprosas,

Tortuosamente empinadas,

Eram pupilas brumosas

As janelas desvidradas...

 

Nem, pois, que se não dissera,

Já se pudera supor

Que a longa rua não era

Mais larga que um corredor.

 

Talvez por isso, à tardinha,

Quando perto inda era dia,

Já quase nada se via

Naquela rua mesquinha...

 

Perto, que vastas artérias

Patentes ao sol e ao ar,

Nas quais a vida eram férias

Que apetecia gozar!

 

Gente a cheirar bem, vestida

Com todo o apuro do luxo,

Vinha descendo a avenida,

Parava a olhar o repuxo...

 

Claros carros cintilantes,

Relampejando metais,

Buzinavam aos passeantes

Seus estridentes sinais.

 

Dum lado e do outro, que filas

De alegres, frescas moradas!

Que janelinhas tranquilas,

Que vidas bem alojadas...!

 

Nas montras dos arredores,

Que opulenta exibição

Do que há de bom...!, em primores

Que nem precisos nos são...

 

E que perfis superfinos,

No calmo azul paternal,

De arranha-céus, com seus hinos

De cimento e de metal!

 

Só nessa rua, a dois passos,

Só nessa... ou noutras parentes,

Por trás desses vidros baços,

Ou desses vidros ausentes,

 

Nessa confusa armação

De muros prenhes quais odres

E janelas té ao chão

Florido de coisas podres,

 

Decerto, ninguém morava!

Decerto, sob esses tectos,

Só a noite divagava

Com seus préstitos de fetos...

 

E eis, também, porque à tardinha,

Com tanta luz que inda havia,

Já quase nada se via

Naquela rua mesquinha...

 

Ora quem tal supusesse,

Bem julgara supor justo.

Mas a miséria — parece

Que tudo arrosta sem custo!

 

E o certo é que há centos de anos

Que a miséria nua e crua

Com seus viveiros humanos

Escolhera aquela rua:

 

Debaixo desses telhados

Se instalara, e a seus viveiros,

—Pais e filhos misturados

Como animais em chiqueiros...

 

A par da miséria, o amor

Prolificara imoral.

E o vício é conservador,

Miséria é tradicional...

 

Visto que lá se instalaram,

Lá se deixaram ficar.

E até do chão rebentaram

Produtos daquele par!

 

Se o Progresso ali passara,

Se a Compaixão lá caíra,

Quer um quer outro — enjoara,

Tapara o nariz, fugira...

 

Mas depois, Doutor Progresso

Viera ate às gazetas

Propor, num nobre arremesso,

Dinamitar tais sarjetas.

 

E eis que Dona Compaixão

Pregara a necessidade

De se fechar a estação

Com bailes de caridade...

 

Cumprido assim seu dever,

Qual insistira em voltar

A exercitar seu mester

Em tão sinistro lugar?

 

E desde sempre, à tardinha,

Inda a luz não se acendia,

Já quase nada se via

Naquela rua mesquinha...

 

Sim, na avenida vizinha,

Tudo era moderno e fresco;

Mas essa rua... mantinha,

Mantém o seu pitoresco:

 

Uma igual turba de párias,

Vadios, trabalhadores,

Meretrizes e operárias,

Falhados e sonhadores,

 

Há centos de anos se some

Nesses palácios escuros,

E cheira mal, passa fome,

De alto a baixo desses muros.

 

Nas mesmas águas-furtadas

Há centos de anos há poetas,

E as mesmas gatas pejadas

Têm filhos nas valetas.

 

Há centos de anos que os tédios

Daquele mundo larvar

Têm, por cada dez prédios,

Uma taberna a chamar...

 

Há centos de anos que, lassa,

Por entre portas metida,

Faz propostas a quem passa

A mesma mulher da vida.

 

Sujinho e nu como um bicho,

Há centos de anos que já

No seu caixote do lixo

O mesmo menino está!

 

Há centos de anos, puídas,

Encardidas, amarelas,

Iguais roupas estendidas

Embandeiram as janelas;

 

E entre essa roupa, garota,

Da mesma cana pendente,

A mesma camisa rota

Se abre toda a toda a gente...

 

Por isso, logo à tardinha,

Parece que o sol fugia

Daquela rua sombria,

Onde a vida que se tinha

 

Nem vivia, e, todavia,

—Mãe Vida, que força a tua! —

Pululava e refervia

Das próprias pedras da rua...

 

Refervia e pululava

Na sina que em todo o mês

No banco dos réus sentava

Mais um provável freguês...

 

Nas cenas particulares

De amor, vinho, ódio, desgraça,

Que dos lôbregos andares

Desciam até quem passa...

 

Na animação das bodegas

Cheias de penumbra, fados,

Guitarradas, e colegas

De fácies de cadastrados...

 

Na infrene fecundidade

Que, pelos becos vizinhos,

Entornava uma cidade

De gatos e monstrozinhos...

 

No próprio débil craveiro

Que dera um cravo sem cor,

Que dera um cravo, e o seu cheiro!,

Do fundo daquele horror...

 

E até na meia cantiga

Que, por sobre esses telhados,

Uma voz de oiro sem liga

Lançava aos céus afastados

Um sonho de rapariga... 

 

 

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Tradução de Rodolfo Alonso

 

                ¡”Ven por aquí!” — dizem-me alguns com olhos doces,

         Estendendo-me os braços, e seguros

         De que estaría bien que los oyese

         Cuando me dicen: “Ven por aqui”!

         Los miro con ojos fatigados,

         (Hay, en mis ojos, ironías y cansancios)

         Y cruzo los brazos,

         Y nunca voy por allí...

 

         Mi gloria es ésta:

         ¡Crear deshumanidad!

         No acompañar a nadie.

         —Que yo vivo con el mismo desgano

         Con que rasgue el vientre de mi Madre.

 

¡No, no voy por ahí! Sólo por donde

Me llevan mis propios pasos...

 

¿Si a lo que busco saber ninguno me responde

Por qué me repetis: “ven por aqui”?

Prefiero resbalar por sucios callejones,

Reovolotear en los vientos,

Como harapos, arrastrar los pies sangrientos,

A ir por ahí...

 

¡Si vine al mundo, fue

Sólo para desflorar selvas vírgenes,

Y dibujar mis propios pies en la arena inexplorada!

Lo más que hago no vale nada.

 

¿Cómo, pues, seríais vós

Los que me déis impulsos, herramientas, y coraje

Para que yo derribe mis obstáculos?...

¡En las venas os corre sangre de los abuelos,

Pero amáis lo que es fácil!

Yo amo la Lejanía y el Espejismo,

Amo abismos, desiertos y torrentes...

 

¡Id! tenéis caminos

Teneis jardines, y canteros,

Tenéis patrias,  y techos,

Y reglas, y tratados, y filósofos, y sabios.

¡Yo tengo mi Locura!

Y la levanto, antorcha, que arda en la noche oscura,

Y siento espuma, y sangre, y cantos en los labios...

 

Dios y diablo me guían, nadie más.

Todos tuvieron padre, todos tuvieron madre;

Pero yo, que me empiezo ni acabo,

Nací del amor que hay entre Dios y el Diablo.

 

¡Ah, que nadie me dé piadosas intenciones!

¡Nadie me pida definirme!

¡Nadie me diga: “ven por aquí”!

Mi vida es un vendaval que se soltó.

Y una la que se alzó.

Y un átomo más que se animó...

No sé hacia donde voy,

No sé hacia donde voy:

¡Sé que no voy por ahí!

 

 

EPITAFIO PARA UN POETA

 

¡Las alas quedan fuera del cajón!

Esa ropa de luto no condice

Com su aire grave, pero, al fin, feliz;

Tampoco la corbata y el calzado.

¡Pónganlo fuera y arránquenle la ropa!

¡Quítenle los sapatos de charol!

¿O no ven que, desnudo, está mejor,

Como una piedra, o una estrella?

Pues arrópenlo así em la tierra dura,

Le estará Bueno:

¡Déjenlo respirar al menos muerto!

 

 

EPITAFIO PARA UN SANTO OSCURO

 

Nunca soñó ser santo,

Ni sospechó que el Cielo lo eligiera.

Vivió, murió a um costado

De la choza y la aldeã en que nació.

Ni él mismo conoció

Los Dones que dispensó tan vil, gratuitamente,

Que comunes penso a la común gente

Que solo santos reconoce

De oficial aprobación.

¡Silencio, piedra sepulcral!

Ese que yace ahí, merece

Que solo Donde altares nada son

Se eleve su altar.

 

 

 

EL AMOR Y LA MUERTE

 

Metafísica

 

A cada vez que em tus brazos

Por unos momentos muerto,

Pide socorro mi amor em los abismos de mi

Como si a la fuerza alguien Le desatas elos lazos.

 

Aprehendo cada vez

Que queda en mi poco, o nada, ese tanto

Que el querer tener promete, mientaras que

No se teniendo.

 

¡Desear sí que es tener! Mas no nos basta.

Soñar si que es poseer sin tedio ni cansancios.

Lo sé, pero esstoy ya muerto em tus brazos,

Al tener sufre la carne, o ser casta.

 

Sobre el deseo saciado, el alma se inclina,

Contempla la nada a que el hartarlo apunta,

Y tas la misma nada es que ella misma, tonta,

Va, si la carne reaviva la escaramuza.

 

A un cuerpo entrar hasta donde se oculte

El más Allá del cuerpo — es el supremo sueño.

¿De qué deseos lo conpongo,

Si él se descompone cuando el deseo crece?

 

Voraz, la carne pide carne. Ahita,

Pide, ella misma, lo que nunca sacia.

Un día es, para inflamar de nuevo.

Para de nuevo disgustar, es nada.

 

¿Ay, cómo no aborrecerte y cómo amarte,

Carne de leche y rosas, — tierra oscura

De larga lucha-entendimiento sin victoria

Que es carne y alma, tener-no tener?

 

 

 

LOS SANTOS

 

         !Vé bien, Dios duro!

Cuanto creemos seguro,

En tu aire de Espejismos

Se anuló en las manos frágiles.

 

Cuanto puede ser habido,

Ni dado ni recibido

         Les pudo ser:

         Por el poder.

 

Quisieran, si es voluntad

El querer sin libertad,

Nada en lo real perecible:

         Sí lo imposible.

 

¡Vé bien, Dios loco!

Si los haces tanto, o poco,

No dehagas de tus fines

A tus propios manequíes.

 

Por sed de la Fuente Magna

         Se les estanca,

Ya seca nunca bebida,

La corriente de la vida.

 

Por hambre de un pan de un trigo

Sólo amasado contigo,

Nos gustaron ningún pan

         Sino ayunos.

 

En la apuesta siempre frustrada

         Del todo o nada,

         Vé, ¡Dios desnudo!

¿Qué serán, si eres la nada?

 

         ¡Vé bien, Dios mudo!

Jugaron todo por todo.

Si no existes, perdieron:

Ni apenas fueron quien eran.

 

¡Vé bien que somos el todo

Que así jugaron, Dios mudo!

Consigo nos apostaron

Si perdieron, si ganaron...

 

Por amor, piedad al menos,

A los que ds tus señales,

Quiebra lo que em ti nos resiste.

Páganos lo que les debes: ¡asume exitencia! Existe.

 

 

PALABRAS

 

Palabras, arroje

Como quien tira piedras, Lanza flores.

Abrieron grietas en la arena,

Suscitaron caricias y furores.

 

Sobre mí recayeron

Pesadas de múltiples sentidos.

Los labios tengo que las profirieron,

Dedos que las grabaron, ya heridos,

Tintas de sangre las devuelvo al viento,

Prestigitador de sones soy, palabras.

¡Dales nuevos alientos,

                   Fuego sonoro que em mi labras!

 

                   Errantes van en soledad inmensa,

Con alas en su peso, en recaída,

Ágiles, tráganme, densas,

La respuesta final que me es debida.

 

 

IMPROMPTU CORREGIDO

 

¿Si miento? ¡Cuántas veces!

Pero en palabras. No

En mis ojos castaños portugueses.

En esta línea atávica en la mano...

¿Si miento?... !Miento, pues!

Pero en las que oranlmente os digo.

No en las que entono yo conmigo,

Y en que al fin dejo de ser dos.

No en las que entrego a músicas, mirajes,

Alegorías, fábulas, mentiras,

Cadencias, símbolos, imágenes,

De la mía ecos y un billon de liras.

¿Si miento?...¡Miento! Es regla de vivir.

Pero no cuando, poeta, me desnudo,

Y a mi me visto de inocência, y a todo.

¡Venga quien sepa ver!

¡Venga quien sepa leer!

 

                  

 

Textos extraídos de la obra POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS DE LOS SIMBOLISTAS A LOS MODERNISTAS; organización y estúdio introductorio: José Augusto Seabra.  Buenos Aires: Instituto Camões; Editora Thesaurus, 2002.  472 p. ISBN 85-7062-323-2

 

Agradecemos ao Instituto Camões a autorização para a publicação dos textos, em parceria visando a divulgação da literatura de língua portuguesa em formato bilíngüe na web.

 

Página publicada em maio de 2008, ampliada e republicada em novembro de 2010

 

 



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