JOSÉ MANUEL CAPÊLO
José Manuel Gomes Gonçalves Capêlo nasceu a 29 de Janeiro de 1946, em Castelo Branco. Poeta, ficcionista, investigador e editor, tem colaboração (poesia, recensão crítica, conto e ensaio) dispersa em jornais e revistas, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Textos seus foram traduzidos e/ou publicados em algumas edições estrangeiras, nomeadamente, no Brasil, Espanha, França, Inglaterra, República Popular da China e USA.
Obras – Poesia: Miragem, Montanha, Lisboa, 1978; corpo-terra, Trelivro, Lisboa, 1982; Fala do Homem Sozinho, Danúbio, Lisboa, 1983; Rostos e Sombras, Sílex, Lisboa, 1986; O Incontável Horizonte – plaquette – Património XXI, Lisboa, 1988; Enche-se de Eco a Cidade, Átrio, Lisboa, 1989; A Voz dos Temporais, Átrio, Lisboa, 1991; Quanto desta terra é, Átrio, Lisboa, 1992; Odes Submersas – colectânea – Átrio, Lisboa, 1995; A noite das Lendas, Aríon, Lisboa, 2000. Ensaio histórico: Portugal templário, relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314]1ª edição, Aríon, Lisboa, 2003; 2ª edição, Zéfiro, Lisboa, 2008; D. fr. Pedro Alvites, Mestre templário em Portugal e nos três reinos; Estudos de Castelo Branco, Nova série, nºs 1 e 2, Castelo Branco, 2003; Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Os Mistérios Templários à Luz da História e da Tradição, Zéfiro, Sintra, 2007.
Fonte da biografia: http://alfarrabio.di.uminho.pt/
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[ CAPÊLO, JOSÉ MANUEL ] EXISTÊNCIA: A ETERNA LEMBRANÇA FEITA - JOSÉ MANUEL CAPÊLO - IN MEMORIAN. Coordenação e organização: Pedro Miguel Salvado. Castelo Branco, Portugal: SIRGO, 2013. 44 p. ilus. Inclui textos do poeta, textos sobre ele e poemas em sua homagem, além de fotos. Capa e design: HUGO Landeiro Dominguez. ISBN 978-989-97695-9-5 Col. A.M.
NO CUME DA GUARDUNHA
para o Peado Loução
Viver é criar. Subir é ver.
Eu que não criei montanhas, nem aves, nem espaços
vejo-me criá-los ao erguer os braços no ponto mais alto da serra
na Senhora da Penha, em pleno maciço da Guardunha
como Godofredo, o conquistador do Templo, o fez
— quando a cidade sagrada lhe foi entregue
depois de acometida, tomada e saqueada—
brandidas as audácias e a loucura da posse.
Deixando o caminho mais largo, com os meus amigos, começo
a subida
do morro firme e vário, como que escondido pela serra maior,
por entre caminhos antigos e pedras de leitura
que nos descobrem os vestígios dos passos, do arquitecto lúcido
que por ali andara há alguns séculos e escolhera aquela região .
para deixar nome em rio, terras, ameias e memórias.
Sinto-me na terra, que é bela e estranha
— gerida por uma força que não se vê, mas sente —
a cada palmo de rocha trepada. Subo para ver
a íngreme escadaria de pedra, própria de deuses
com sinais deles, até ao cume.
Recuperado o fôlego perdido, preso à grande pedra em que me firmo
ergo os braços de punhos cerrados e grito como o vento:
— Sou o senhor do mundo!... O senhor do mundo!...
SUPREMA INTENÇÃO
a António Salvado
Nada sem forma. A rua larga, albicastra, a forma esguia
duma face em perfil, um sorriso num copo cheio de mim.
Meu pai ... Quando sou eu? Talvez, um dia, quando o mar
se chegar mais próximo. Quando a terra deixar de vacilar,
ou quando a natureza se mostrar na sua grandeza, sem os
desvarios dos homens. Quando Deus e o Diabo quiserem,
sem que me modifique ou esqueça, sem deixar de pensar
que por aqui passei, menir antepassado, narrativa em pedra,
silhueta apontada à imensidão árida.
Quando me procurarem e encontrarem na porção de tudo
e nada!...
Página publicada em outubro de 2013
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