JOSÉ FÉLIX DUQUE
Doutor em História (História Moderna), Mestre em Estudos Românicos (Cultura Portuguesa), Licenciado em Investigação Educativa e Bacharel em Educação Social. Mais de vinte anos de experiência em investigação, assessoria de Direcção, assessoria de imprensa, produção de conteúdos, gestão de projectos e formação. Autor de conferências, livros e manuais de procedimentos.
O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e brasileira. Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio Antônio Carlos Cortes. Capa Julio Cunha. Fafe: Amarante: Labirinto, 2010 207 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Natureza Morta, de Josefa de Óbidos
Hás-de atravessar os campos
dos meus pensamentos para sempre.
Qual lírio entre os espinhos, tal é meu amor
Hás-de atravessar para sempre
os pensamentos e os sulcos dos meus campos.
A figueira já deu os seus figos verdes
E as vides em flor exalam o seu aroma - Levanta-te, meu amor Formosa minha E vem.
Como outrora
Nos dias da minha juventude
Quando a morte exalava os seus perfumes
E eu jazia intranquilo por ver-te
Como outrora
Nos dias
dos meus pensamentos e dos meus campos
Havia uma escrita
a prolongar-se ávida pelas colinas,
E havia promessas de felicidade,
E olhos que diziam Tudo,
Toda a vida a germinar neles.
Havia flores invisíveis dentro das flores visíveis
E entre elas uma rosa formosa invisível
dentro de uma rosa formosa visível.
E a escrita descia intensa pelos seus caules
Contra os perfumes da morte, contra os espinhos.
Então a morte declinava-se pelos campos
para adubar os dias,
Era um tempo de fermentação,
Os textos dormiam entre as nossas mãos
e nós acreditávamos,
Nós sabíamos que iriam germinar um dia
Nos campos
Nos caminhos.
Agora
Levanto-me
Meu amor.
0 amor é ainda um texto a fecundar a terra.
Este poema
Este mesmo poema
Lê bem - é ainda o rasto que deixaste sobre os pensamentos Em cuja beira rebentam os lírios contra a luz.
E onde também despontam
Essa rosa formosa
Branca
E essas figueiras, e videiras
E tantas outras palavras verdejantes,
Tantas outras formas de atravessar os pensamentos sem fim.
Este poema é o perene movimento da memória
Do nosso amor.
A minha alma certamente disto se lembra,
E se abate dentro de mim.
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Página publicada em janeiro de 2021
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