JORGE DE SENA
Escritor português, natural de Lisboa e naturalizado brasileiro, em 1963. Estudou em Lisboa, no colégio Vasco da Gama e no liceu Luís de Camões, onde, segundo o próprio, «andava já fazendo versos». Em 1937, entrou para a Escola Naval. A 1 de Outubro do mesmo ano, partiu no navio-escola Sagres, em viagem de instrução, que decorreu até Fevereiro do ano seguinte, após o que foi demitido da Armada. Entrou então para a Faculdade de Ciências de Lisboa. Num jornal da faculdade, Movimento, publicou o poema Nevoeiro. Estabeleceu contacto com a revista Presença, através de Adolfo Casais Monteiro, a propósito de um poema de Álvaro de Campos. Desse contacto veio a resultar a ligação aos Cadernos de Poesia, onde Sena publicou, em 1940, os sonetos Mastros e Ciclo, e cuja direcção integrou durante algum tempo com Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal e José Augusto França. Formou-se na Faculdade de Engenharia do Porto, trabalhando na Junta Autónoma de Estradas até 1959, data em que se exilou voluntariamente no Brasil.
A partir daí, desenvolveu uma actividade académica intensa nas áreas da literatura e cultura portuguesas. Foi catedrático contratado de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (Estado de São Paulo). Em 1961, transitou para a Universidade de Araraquara, igualmente em São Paulo, como catedrático contratado de Literatura Portuguesa. Adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, também como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978. Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina pelo conjunto da sua obra poética e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade de Santa Barbara.
Mais informações sobre o poeta em: www.astormentas.com
PANDEMO
(SONETO 1 A AFRODITE ANADIÓMENA)
Dentífona apriuna a veste iguana
de que seescalca auroma e tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcendia inana!
Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrrica donstália penicela,
às tricotas relesta demiquela,
fissivirão bolíneos, ó primana!
Dentívolos palpículos, baissai!
lingânicos dolins, refucarai!
Por mamivornas contumai a veste!
E, quando prolifarem as sangrarias,
lambidonai tutílicos anárias,
tão placitantos como o pedipeste.
ANÓSIA
( SONETO 2 A AFRODITE ANADIÓMENA)
Que marinais sob tão porá luva
de esbranforida pela retinada
não dão volpúcia de imajar anteada
a que moltínea se adamenta ocuva?
Bocam dedetos calcurando a fuva
que arfala e dúpia de antegor tutada,
e que tessalta de nigrors nevada.
Vitrai, vitrai, que estamineta cuva!
Labiliperta-se infanal a esvebe,
agluta, acedirasma, sucamina,
e maniter suavira o termidodo.
Que marinais ducífima contebe,
ejacicasto, ejacifasto, arina!...
Que marinais, tão porá luva, todo...
URÂNIA
(SONETO 3 A AFRODITE ANADIÓMENA)
Purília amancivalva emergidanto,
imarculado e rósea, alviridente,
na azúrea juventil conquinomente
transcurva deaste o fido corpo tanto...
Tenras nadáguas que oculvivam quanto
palidiscuro, retradito, e olente
é mínimo desficta, repente,
rasga e sedente ao duro latipranto.
Adónica seesvolve na ambolia
de terso antena avante palpinado.
Fímbril, filível, viridorna, gia
Em túlida mancia, vaivinado.
Transcorre uníflo e suspentreme o dia
noturno ao lia e luçardente ao cado.
AMÁTIA
(SONETO 4 AAFRODITE ANADIÓMENA)
Timbórica, morfia, ó persefessa,
melaina, andrófona, repitimbídia,
ó basilissa, ó scotia, masturlídia,
amata cíprea, calipígia, tressa
de jardinatas nigras, pasifessa,
luni-rosácea lambidando erídia,
erínea, erítia, erótia, erânia, egídia,
eurínoma, ambológera, donlessa.
Áres, Hefáistos, Adonísio, tutos
alipigmaios, alilícios, futos
de Lívia damitada, organissanta,
Agonimais se esgorem, morituros,
necrotentavos de escancárias duros,
tantisqua abrandimenbra a teia canta.
SENA, Jorge de. Poesia II. Lisboa: Edições 70, 1988. 248 p. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.
EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR
Roubam-me Deus,
outros o Diabo
— quem cantarei?
roubam-me a Pátria;
e a Humanidade
outros ma roubam
— quem cantarei?
sempre há quem roube
que eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
— quem cantarei?
roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
— aqui del-rei!
3/6/1952
SOLSTÍCIO BREVE
Imersa e doce a sombra me prepara
um despertar incauto. No estertor
das luzes cruas com que o sol me queima
os corpos nus dispersos pela brisa
ao longo da planura reticente,
já breve e subitânea se insinua
a mesma lucidez, velha agonia,
de mesma sempre com vagar perdida
ser outra ainda a juventude pura.
É com vagar que me reclino e perco
as última esperanças e cuidados,
no extenso dardejar mais fugitivo
quanto a meus olhos os visíveis gritos
vão sendo, ao longe, pouco a pouco, gestos
que a própria dispersão só envelhece.
Na lenta despedida o sol me aquece.
Página publicada em agosto de 2010; página ampliada e republicada em março de 2015.
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