JOÃO MAIA
(1923-1999)
Padre João Maia (nascido em 1923 na Fundada (aldeia a meio caminho da Sertã e de Vila de Rei, falecido em 1999) foi um poeta e crítico, que também se notabilizou como cronista e ficcionista português.
Ingressou em 1940 na Companhia de Jesus, tendo-se licenciado em Filosofia pela Faculdade Pontifícia de Braga. Obteve o doutoramento na Faculdade de Teologia de Burgos (Espanha).
Colaborou regularmente na revista Brotéria, de que foi membro do conselho redactorial e onde se notabilizou com a secção "Crónica de Poesia" e também devido aos cerca de 360 textos aí publicados. Escreveu também para outras publicações, nomeadamente a revista Colóquio e o jornal O Renovador, da Sertã.
Manteve, além disso, na Rádio Renascença, um programa semanal de crítica literária (sob a designação de "Textos e Pretextos" - título este que viria a servir para um livro publicado em 1989).
A sua poesia, pouco aberta a inovações formais e geralmente apoiada na rima, mereceu de Jorge de Sena os epítetos de suave e inteligente, meditativa e singela.
O padre João Maia recebeu o Prémio "Antero de Quental" pelo livro Abriu-se a Noite (1954). Fonte: pt.wikipedia.org
LÍRICAS PORTUGUESAS. II Volume. Seleção e apresentação de Jorge de Sena. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1983. 448 p. 13,5x20 cm.
ÉCLOGA PERDIDA
À beira do meu verso não há flores,
Nem verdes ramos nem canaviais,
Nem vergônteas esguias como ais
Ondulam com os ventos voadores.
Ninguém passa também nos areais
Desertos. Aves, nuvens, leves cores:
— Nem sequer esses fáceis pormenores
De soluços monótonos e iguais.
Se a tarde empalidece de tristeza
e poisa magoada na aspereza
Dos montes, o regato ganha vida,
E estende para a noite enorme e langue
No grito solitário do meu sangue
O sonho de uma écloga perdida.
CERTEZA
Pode a noite ser morta
E o mundo sem ânsia
Do por haver...
Na aldraba de ouro e luza da tua porta,
Distância,
Há um poeta a bater.
À roda de um lume momentâneo,
Pode a vida fechar-se,
Iludida.
Há-de haver um poeta contemporâneo
A afastar-se,
Para além da noite adormecida.
PERPLEXIDADE
Luminosa era a hora que passava
E breve o sinal que nos fazia.
Mas como um não sei quê nos demorava
A hora que passava ia vazia.
Que aceno levaria a nossa vida
Um pouco mais além? — Hesitantes
Invocadores de céus! Constantes
Amadores da terra estremecida.
Não vemos nem ficamos todavia.
A uma vaga saudade nos prendemos
Entre a pedra do chão e a noite fria
Entretidos a amar o que não temos.
Página publicada em agosto de 2016.
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