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JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES

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JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES

 

 

Nasceu no Porto, a 3 de Junho de 1967. Vive em Leça da Palmeira. Tem uma filha. É licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade do Porto, especialista em Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia.

 

 

 

vens

caindo

pela  dor

acomodando

 

nuas palavras

à ferida  de  ter

perdido. a face é

pequena para  sentir

 

o que em nós sobrevive

no instante em que  a  voz

desce as sombras  desse dia

 

onde voltar não se escreve já

com medo das marés, podes então

subir é como estar de novo  na  luz

 

            In Rua Trinta e Um de Fevereiro

 

 

Ponte móvel sobre o rio Leça

 

Imóvel na ponte aberta sobre este porto de mar

queria não ter que esperar que o petroleiro passasse

a vomitar outro preto nos depósitos d Cepsa.

Olho as margens da tarde em informe ebulição

o navio japonês veio dar à luz Toyota’s

alinhados sobre o cais qual parada militar

(os turistas do cruzeiros aguardam pelo autocarro

que lembrará em sueco memórias do Porto antigo).

Do cargueiro africano rolam troncos gigantescos

houve um que caiu à água e ninguém o foi salvar

(decerto não irá longe nestas águas estagnadas

nem poderá ir mais ao fundo).

Corre um vento de norte. Novembro

está dentro do Outono. Alguém reuniu o manto

de folhas cerca da ponte mas pelo final do dia

já é Outono outra vez. Mas

distraí-me do cais. Espera. Lá está a marinha.

A fragata da Defesa devolveu homens à terra

meio-dia de licença na casa da luz vermelha

(este Natal as meninas vão-lhes dar a provar sonhos

e o porteiro: rabanadas). E se

faltam desrazões para me obrigar a parar

aqui me têm parado

(só reparando se vê)

qualquer amurada é perfeita para resumir um país

qualquer ponte é ideal para se matar

os tempos.

 

Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE, Num. 26, Ano 14, 2007. Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

 

DIMENSÃO. Revista Internacional de Poesia.  Ano XVIII  No. 27.  1998Editor:  Guido Bilharinho.  Uberaba, MG: 1998.  192 p.
                                                Ex. biblioteca de Antonio Miranda

       
      
deve haver uma estrada  (dos olhos ao coração)  uma
        artéria em chamas um nervo emocionado sempre que
        falo nessa   mão  apetecida  a (impa)ciência  do vento

        no  brilho  da  tua  voz  (páginas  de pele  infinitas)
        esse   rio  que   volta                        de novo à nascente
        aquilo  o  que  sendo                         possível  ainda nos
        perturba   como duas                        aves   enfeitiçadas.

        é  por  vezes  quando                        mais estás que mais
        está  a saudade  uma                        melodia  quase cega
        quase  casa  o  acaso                        que  juntou   nossas
        pegadas  (essas  pequenas  feridas)   isso  tudo:  tudo
       
        isso   o que   crescendo  sob os dedos fala da dança do
        sol  sobre   os lábios o espaço  que trazes   dentro   de
        ti  onde guardo  sempre que  sonhas  o eco de tua  voz

 

*
Página ampliada e republicada em abril de 2024

Página publicada em novembro de 2009

 

 


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