JOÃO CAMPOS
João Menéres de Castro Campos era o filho primogénito de João José de Campos Sampaio e sua Esposa Dona Lucília Menéres de Castro Campos. Nasceu em 8 de Janeiro de 1912, no Rio de Janeiro, onde ao tempo seu pai exercia a actividade comercial como sócio da firma Sampaio, Avelino & Companhia, uma das mais importantes da capital brasileira. O casal teve mais dois filhos, Manuel e Lucília.
Tinha cerca de um ano de idade quando veio para Vila Real, passando a viver na Vila Campos, na Quinta da Pedra da Escada (Cruz da Timpeira), propriedade do pai. Em Vila Real fez os estudos primários (possivelmente na Escola do Trem), assim como os secundários, no então chamado Liceu Central de Camilo Castelo Branco, de cuja Academia foi presidente nos anos lectivos de 1929-1930, 1930-1931 e 1931-1932. Em 1932 encontra-se em Coimbra, a estudar na Faculdade de Direito, onde conclui o 4.º ano. O casamento em 11 de Setembro de 1935 com Dona Elvira Barbosa Menéres Campos – de quem teve cinco filhos: Lucília, Maria Guilhermina, Maria Antónia, João Paulo e Maria Manuela – perturbou de algum modo a sua vida académica. Veio a terminar o curso na Faculdade de Direito de Lisboa, em regime de voluntariado (o que em Coimbra não era possível, à época).
Foi em Coimbra que João Campos se revelou como poeta. A partir do Outono de 1932, começou a frequentar a tertúlia da Pastelaria Central, onde se reuniam os jovens escritores que viriam a constituir a segunda geração modernista.
Ao mesmo tempo que se dedica à criação poética (a poesia foi sempre uma das suas grandes paixões), vai-se operando nele uma acentuada mudança de pensamento político e social.
(...)
João Campos faleceu no Porto, em 29 de Novembro de 1988, e está sepultado em jazigo de família no Cemitério de São Dinis, em Vila Real.
Extraído de: http://gremio.cm-vilareal.pt/
BALADA DUMA NAVEGAÇÃO
As minhas noites são fundas
como mares em que navegam
navios longos e negros
com pessoas que não chegam...
Não chegam... porque a viagem
é isso de não chegar:
ser [renúncia e ser ausência
da terra que nos chamar.
*
SORTILÉGIO
Esse braço!
Esse braço que me acena
dum longe que não alcanço
vai virando com o vento,
sonolento
em seu balanço.
Vêm estrelas pingando
no seu aceno distante:
um mar de estrelas arfando
e todas por mim chamando
na noite inútil que trago
a derreter o sonho
que ainda afago.
Mas tudo me prende aqui
nestes castelos vazios,
nestas arcadas tombando,
nestas praias desoladas:
os apitos dos navios,
os silêncios e os bafios
das vidas inacabadas...
Tudo me prende e requer...
E ir, agora, para quê?
Esse braço está para Lá...
De Lá para Cá não se vê...
De "Viagem fora do mundo"
SUFRÁGIO
A morte é o acontecimento que espero.
Ai! a morte, num dia como este,
batida por um sol enternecido e calmo,
que feliz notícia para o jornal provinciano!
Os amigos hão-de chegar com palavras breves
e abraços tristes dos que estiverem presentes
e olhar-me-ão como um desconhecido
e verterão ai lágrima convencional e triste.
Haverá quem, mande flores com despedidas românticas
o longos telegramas dos ausentes
afirmarão a solidariedade que já não quero.
tu também virás olhar-me com o teu sorriso morno
e não terás palavras para dizer,
nem as tuas mãos terão coragem pana me tocar...
Eu estarei imperturbável e sereno
e ]'á não te Olharei, e serei outra vez o menino
com um destino infindável e a lápide a narrar o
[acontecimento.
De "Mar vivo"
Página publicada em agosto de 2015
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