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Foto e biografia: wikipedia
INÊS LOURENÇO
(Porto, 7 de Novembro de 1942) é uma poeta portuguesa. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Está representada em diversas antologias e numerosas colectâneas de poesia. Poemas seus foram publicados em vários jornais e revistas portuguesas, como: Jornal de Letras, Artes e Ideias; Cadernos de Serrúbia; Colóquio/Letras; Inimigo Rumor; Telhados de Vidro, Águas Furtadas, Poezine, Cão Celeste #7, etc. Colaborou, igualmente, em publicações de poesia do Brasil, Espanha, França, Itália, México e Roménia, com poemas que foram traduzidos nas respectivas línguas.
Coordenou e editou, entre 1987 e 1999, os Cadernos de Poesia – Hífen, com 13 números editados, na sua maioria temáticos, publicação de carácter intergeracional, em que participaram, com colaborações inéditas, grande parte dos poetas portugueses contemporâneos, bem como poetas de outras línguas.
OS PECADOS PREDILECTOS -Antologia da poeta portuguesa Inês Lourenço, organizada e posfaciada por Ronaldo Cagiano. SÉRIE LUSOFONIA, VOLUME 12.
ABSOLVIÇÃO
Ajoelhávamos naquele escuro sítio de madeira, a fronte curvada, diante de um sombrio quadrado pontilhado de furos, que dissimulavam vestes negras e um rosto oculto. Nessa encenação da culpa, balbuciávamos os nossos crimes infantis: faltei duas vezes à missa. Disse nomes feios. Desobedeci a minha mãe. Só não sabíamos quase nenhuma palavra do corpo. Por isso nunca dizíamos o número de vezes que nos tínhamos masturbado, jubilosos e tementes daquela sabedoria secreta que havíamos roubado aos adultos. Assim tomávamos o Senhor, em pecado mortal, com a vaga tristeza de não podermos ser pecadores arrependidos.
MAMOGRAFIA DE MÁRMORE
Deliciam-me as palavras dos relatórios médicos, os nomes cheios de saber oculto e míticos lugares como a região sacro-lombar ou o tendão de Aquiles. Numa mamografia de rastreio, a incidência crânio-caudal seria um bom título para uma tese teológica. Alguns poetas falam disso. Pneumotórax de Manuel Bandeira ou Electrocardiograma de Nemésio, para não referir os vermelhos de hemoptise de Pessanha ou as engomadeiras tísicas de Cesário. Mas nenhum(a) falou (ou fala) de mamografia de rastreio. Versos dignos só os de mamilo róseo desde o tempo de Safo ou de Penélope. E, de Afrodite enquanto deusa , só restaram óleos e mamografias de mármore.
OS LIVROS
Os livros duram séculos e falam da melodia da chuva, dos rios e dos mares, das fontes, dos húmidos beijos dos amantes, mas também morrem despedaçados num qualquer temporal que parte as vidraças e lhes tolhe as páginas numa brutal invasão líquida. E falam do fogo das paixões, de estrelas a arder no infinito, mas o convívio das chamas é-lhes vedado, apesar da torpe ignorância a isso os ter condenado tantas vezes. Quantos naufrágios e incêndios os destruíram, para depois ressurgirem múltiplos, audazes amigos tão antigos e tão novos. Quantos naufrágios e incêndios os destruíram, para depois ressurgirem múltiplos, audazes amigos tão antigos e tão novos.
A POESIA É PARA COMER: iguarias para corpo e para o espírito. Seleção de poemas Ana Vidal; coordenação editorial Renata Lima. São Paulo: Rabel, 2011. 252 p. 23,5x31,5 cm. Capa dura. Impresso em papel couchê matte 170 g/m2.
PRELÚDIOS INSPIRADOS
Há mil e cem anos *
Página publicada em janeiro de 2020
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