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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




GASTÃO CRUZ

 

 

Nació en 1941, em Faro. Licenciado em Filología Germánica. Estudió en el King´s College de Londres. Uno de los más interesantes críticos de la literature portuguesa. Como poema há ahondado la temática social.

É um dos diretores da revista de poesia Relâmpago. O seu livro de poemas mais recente é A moeda do tempo (2006).

 

A COLHER

 

Reabro uma

gaveta da infância

e encontro a colher em desuso caída

a sopa lentamente se escoando

no prato fundo:

 

a vida

em certos dias tinha a forma

daquele objecto antigo

tocando-me nos

lábios com um calor excessivo

 

 

NO SOL

 

Irás achar que foi um erro e foi

um erro, que nada se passou

e na verdade nada acontece nunca

de verdade: a verdade seria

 

eterna e o acontecido pertence

aos eclipses do tempo precipícios

em que depois da morte ficam vivos,

como se o não estivessem, os momentos

 

caídos;

foi isso um erro porque nada existe

nem nós, já ao império das vagas

submetidos,

 

porém na praia oblíqua onde estivemos

permanecer no sol foi tudo o que quisemos

 

 

AO VER AS COISAS

 

Ao ver as coisas com o seu instável

halo sobrevivente, acaso morto

porque já não o vê quem antes via,

a dor de olhar trespassa

 

e não apaga a jovem labareda

que é delas a não vida e foi a vida

dos que jovens as viram e através

de mim vêem ainda

 

 

O QUE FEZ SENTIDO

 

Reformulamos o amor porém se fórmula

não existia como repeti-la?

 

É preciso criar um eco ambíguo

que deixe de ser eco e tome a forma

 

do que viver possa ter sido:

encontraremos restos do sentido

 

que num instante incerto alguma coisa fez

e nunca poderá ser repetido

 

 

É A MORTE DOS MORTOS INDISTINTOS

 

É a morte dos mortos indistintos

é o vidro destinado a suportar

o plasma

morto

sem suporte

a vítrea morte

de morrer

ao rés do vidro

sem destino

ao rés da morte

e distinguir no corpo o transporte

subterrâneo dos instintos

em círculos mortos de súbito contágio

transportado concêntrico veículo

nos troncos

o instintivo dia circular

assassinado no destino morto

e subterrâneos dos corpos

 

 

COM UM CORAÇÃO DE HOMEM

 

Com um coração de homem aqui lavra

de certeza outro sangue o outro amor

com um corpo de carne outra maneira

de lançar a carne como o vigor

sobreposto dos dias em que abrimos

os braços e lá fora as armas se

desfecham sobre a paz

 

Conheço o mapa  amor  conheço a história

as salas sitiadas os teus ombros

conheço o corpo  amor  conheço o rio

onde se lava a carne que combate

as ciladas os lagos os jornais

as árvores o fogo a luz total

conheço  amor  a tua carne

e o coração armado da cidade

 

 

DESTE-ME UM QUARTO UM OUTONO

 

Deste-me um quarto um outono

que darei em silêncio

ilha de fogo verão  em troca

dar-te-ei que incêndio

que sucesso que prazer que

força que solução que fome satisfaremos

que fogo par ti preparo

este verão

que outro local me darás

em silêncio este verão

que solidão preparamos que

local  este verão

preparo um quarto em silêncio

e a chama da solidão

 

 

TODO O SANGUE

 

Todo o sangue e a

ferocidade são

demasiado fogo

para o corpo

 

São a vida sobre

a prosa e o abismo

demasiado amada

e ardida

 

São demasiado

fogo para vivos

fogo com a vida

aprendido

 

Com a vida como

se a morte viesse

e o fogo aprendido

se perdesse

 

São a dicção agreste

e extrema como se

a vida se perdesse

e nada se dissesse

 

São o limite e a condição

a tempestade a segurança

demasiado fogo e

demasiada confiança

 

 

ESTÁ TUDO COMO ANTES

 

Está tudo como antes até esta

perfeita liberdade de perdermos

com a vinda da noite o que

ainda tivermos a vida

por exemplo se tudo pois

assim puder perder-se

 

Está tudo como antes até este

medo intacto de tudo

se perder até que a névoa a

neve a noite por exemplo

suspendam o que ainda

houver por suspender

 

Está tudo como antes até esta

completa suspensão da noite

por exemplo o desejo o prazer

a solidão por vezes a esperança

dos nervos

está tudo como antes

até anoitecer

 

 

COM TUDO O QUE ESTREMECE DESTRUIDO

 

Com tudo o que estremece destruído

e se desprende ou ameaça o ar

quando tudo é visível

e as folhas na terra já cavaram

 

os inúteis abrigos

que do sol penetrados

do ar frio

nas valas desenvolvem os seus vastos

 

abismos preenchidos

com as folhas em fundos

abrigos reunidas ou que ainda

 

nas árvores o rude

inverno esperam fixas

nos medimos

 

 

O MÊS DE JUNHO ALTERA A QUALIDADE

 

                            o Tejo em junho

 

                   O mês de junho altera a qualidade

                   variável do tempo o mês descreve

                   a solução do tempo sobre as águas

 

                   O mês de junho altera o ar convulso

Não é fácil findar quando as exaustas

sementes se avolumam sob as casas

 

 

A BOCA OUVE O SOLUÇO DAS PALAVRAS

 

A boca ouve o soluço das palavras

a terra expõe a fala

e provoca essa

queda de palavras

nos lábios 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Tradução de XOSÉ LOIS GARCÍA

 

 

                     ES LA MUERTE DE LOS MUERTOS INDISTINTOS

 

                        Es la muerte de los muertos indistintos

                   es el vidrio destinado a soportar

                   el plasma

muerto

sin soporte

la vítrea muerte

de morir

a ras del vidrio

sin destino

a ras de la muerte

y distinguir en el cuerpo el transporte

subterráneo de los instintos

en círculos muertos de súbito contagio

transportado concéntrico vehículo

en los troncos

el instintivo día circular

asesinado e el destino muerto

y subterráneo de los cuerpos

 

 

CON UN CORAZÓN DE HOMBRE

 

Con un corazón de hombre aquí labra

con certeza otra sangre y otro amor

con un cuerpo de carne y otra manera

de lanzar la carne con el vigor

añadido de los dias en que abrimos

los brazos y allá afuera las armas se

abren sobre la paz

 

Conozco el mapa  amor  conozco la historia

las salas sitiadas tus hombros

conozco el cuerpo  amor  conozco el río

donde de lava la carne que combate

las emboscadas los lagos los periódicos

los árboles el fuego la luz total

conozco  amor  conozco tu carne

y el corazón armado de la ciudad

 

 

ME DISTE UN CUARTO UN OTOÑO

 

Me diste un cuarto un otoño

qué te daré en silencio

isla de fuego verano  a cambio

te daré qué incêndio

qué acontecimiento qué placer qué

fuerza qué solución qué hambre satisfaremos

qué fuego para tí preparo

este verano

qué otro local me darás

en silencio este verano

 

 

TODA LA SANGRE

 

Toda la sangre y la

ferocidad son

demasiado fuego

para el cuerpo

 

Son la vida sobre

la prosa y el abismo

demasiado amada

y ardida

 

Son demasiado

fuego para vivos

fuego con la vida

aprendido

 

Con la vida como

si la muerte viniese

y el fuego aprendido

se perdiese

 

Son la dicción agreste

y extrema como si

la vida se perdiese

y nada se dijese

 

Son el límite y la condición

la tempestad la seguridad

demasiado fuego y

demasiada confianza

 

 

ESTÁ TODO COMO ANTES

 

Está todo como antes hasta esta

perfecta libertad de perdernos

con la llegada de la noche los que

aún tuviésemos la vida

por ejemplo si todo pues

así pudiera perderse

 

Está todo como antes hasta este

miedo intacto de que todo

se pierda hasta que la niebla

la nieve la noche por ejemplo

suspendan lo que aún

estuviese por suspender

 

Está todo como antes hasta esta

completa suspensión de la noche

por ejemplo el deseo el placer

la soledad a veces la esperanza

de los nervios está todo como antes

hasta el anochecer

 

 

CON TODO LO QUE ESTREMECE DESTRUIDO

 

Con todo lo que estremece destruido

y se desprende o amenaza el aire

cuando todo es visible

y las hojas en la tierra ya escavaron

 

los inútiles abrigos

que del sol penetrados

del aire frío

en las zanjas desenvuelven sus vastos

 

abismos rellenados

         con las hojas en hondos

abrigos reunidos o que todavia

 

en los árboles el rudo

invierno esperan fijas

nos medimos

 

 

EL MES DE JUNIO ALTERA LA CALIDAD

 

         el Tajo en junio

 

El mes de junio altera la calidad

variable del tiempo el mês describe

la solución del tiempo sobre las aguas

 

El mes de junio altera el aire convulso

No es fácil finalizar cuando las exhaustas

simientes se engrandecen bajo las casas

 

 

LA BOCA OYE EL SOLLOZO DE LAS PALABRAS

 

La boca oye el sollozo de las palabras

la tierra expone el diálogo

y provoca esa caída de palabras

en los labios

        

 

 

Poemas extraídos de HORA DE POESIA 27/28 Año 1983. “Antología de la actual poesia portuguesa”, volume cedido pelo poeta Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília, reprodução com a autorização do tradutor Xosé Lois García.

 

 Página publicada em abril de 2008



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