GASTÃO CRUZ
Nació en 1941, em Faro. Licenciado em Filología Germánica. Estudió en el King´s College de Londres. Uno de los más interesantes críticos de la literature portuguesa. Como poema há ahondado la temática social.
É um dos diretores da revista de poesia Relâmpago. O seu livro de poemas mais recente é A moeda do tempo (2006).
A COLHER
Reabro uma
gaveta da infância
e encontro a colher em desuso caída
a sopa lentamente se escoando
no prato fundo:
a vida
em certos dias tinha a forma
daquele objecto antigo
tocando-me nos
lábios com um calor excessivo
NO SOL
Irás achar que foi um erro e foi
um erro, que nada se passou
e na verdade nada acontece nunca
de verdade: a verdade seria
eterna e o acontecido pertence
aos eclipses do tempo precipícios
em que depois da morte ficam vivos,
como se o não estivessem, os momentos
caídos;
foi isso um erro porque nada existe
nem nós, já ao império das vagas
submetidos,
porém na praia oblíqua onde estivemos
permanecer no sol foi tudo o que quisemos
AO VER AS COISAS
Ao ver as coisas com o seu instável
halo sobrevivente, acaso morto
porque já não o vê quem antes via,
a dor de olhar trespassa
e não apaga a jovem labareda
que é delas a não vida e foi a vida
dos que jovens as viram e através
de mim vêem ainda
O QUE FEZ SENTIDO
Reformulamos o amor porém se fórmula
não existia como repeti-la?
É preciso criar um eco ambíguo
que deixe de ser eco e tome a forma
do que viver possa ter sido:
encontraremos restos do sentido
que num instante incerto alguma coisa fez
e nunca poderá ser repetido
É A MORTE DOS MORTOS INDISTINTOS
É a morte dos mortos indistintos
é o vidro destinado a suportar
o plasma
morto
sem suporte
a vítrea morte
de morrer
ao rés do vidro
sem destino
ao rés da morte
e distinguir no corpo o transporte
subterrâneo dos instintos
em círculos mortos de súbito contágio
transportado concêntrico veículo
nos troncos
o instintivo dia circular
assassinado no destino morto
e subterrâneos dos corpos
COM UM CORAÇÃO DE HOMEM
Com um coração de homem aqui lavra
de certeza outro sangue o outro amor
com um corpo de carne outra maneira
de lançar a carne como o vigor
sobreposto dos dias em que abrimos
os braços e lá fora as armas se
desfecham sobre a paz
Conheço o mapa amor conheço a história
as salas sitiadas os teus ombros
conheço o corpo amor conheço o rio
onde se lava a carne que combate
as ciladas os lagos os jornais
as árvores o fogo a luz total
conheço amor a tua carne
e o coração armado da cidade
DESTE-ME UM QUARTO UM OUTONO
Deste-me um quarto um outono
que darei em silêncio
ilha de fogo verão em troca
dar-te-ei que incêndio
que sucesso que prazer que
força que solução que fome satisfaremos
que fogo par ti preparo
este verão
que outro local me darás
em silêncio este verão
que solidão preparamos que
local este verão
preparo um quarto em silêncio
e a chama da solidão
TODO O SANGUE
Todo o sangue e a
ferocidade são
demasiado fogo
para o corpo
São a vida sobre
a prosa e o abismo
demasiado amada
e ardida
São demasiado
fogo para vivos
fogo com a vida
aprendido
Com a vida como
se a morte viesse
e o fogo aprendido
se perdesse
São a dicção agreste
e extrema como se
a vida se perdesse
e nada se dissesse
São o limite e a condição
a tempestade a segurança
demasiado fogo e
demasiada confiança
ESTÁ TUDO COMO ANTES
Está tudo como antes até esta
perfeita liberdade de perdermos
com a vinda da noite o que
ainda tivermos a vida
por exemplo se tudo pois
assim puder perder-se
Está tudo como antes até este
medo intacto de tudo
se perder até que a névoa a
neve a noite por exemplo
suspendam o que ainda
houver por suspender
Está tudo como antes até esta
completa suspensão da noite
por exemplo o desejo o prazer
a solidão por vezes a esperança
dos nervos
está tudo como antes
até anoitecer
COM TUDO O QUE ESTREMECE DESTRUIDO
Com tudo o que estremece destruído
e se desprende ou ameaça o ar
quando tudo é visível
e as folhas na terra já cavaram
os inúteis abrigos
que do sol penetrados
do ar frio
nas valas desenvolvem os seus vastos
abismos preenchidos
com as folhas em fundos
abrigos reunidas ou que ainda
nas árvores o rude
inverno esperam fixas
nos medimos
O MÊS DE JUNHO ALTERA A QUALIDADE
o Tejo em junho
O mês de junho altera a qualidade
variável do tempo o mês descreve
a solução do tempo sobre as águas
O mês de junho altera o ar convulso
Não é fácil findar quando as exaustas
sementes se avolumam sob as casas
A BOCA OUVE O SOLUÇO DAS PALAVRAS
A boca ouve o soluço das palavras
a terra expõe a fala
e provoca essa
queda de palavras
nos lábios
TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de XOSÉ LOIS GARCÍA
ES LA MUERTE DE LOS MUERTOS INDISTINTOS
Es la muerte de los muertos indistintos
es el vidrio destinado a soportar
el plasma
muerto
sin soporte
la vítrea muerte
de morir
a ras del vidrio
sin destino
a ras de la muerte
y distinguir en el cuerpo el transporte
subterráneo de los instintos
en círculos muertos de súbito contagio
transportado concéntrico vehículo
en los troncos
el instintivo día circular
asesinado e el destino muerto
y subterráneo de los cuerpos
CON UN CORAZÓN DE HOMBRE
Con un corazón de hombre aquí labra
con certeza otra sangre y otro amor
con un cuerpo de carne y otra manera
de lanzar la carne con el vigor
añadido de los dias en que abrimos
los brazos y allá afuera las armas se
abren sobre la paz
Conozco el mapa amor conozco la historia
las salas sitiadas tus hombros
conozco el cuerpo amor conozco el río
donde de lava la carne que combate
las emboscadas los lagos los periódicos
los árboles el fuego la luz total
conozco amor conozco tu carne
y el corazón armado de la ciudad
ME DISTE UN CUARTO UN OTOÑO
Me diste un cuarto un otoño
qué te daré en silencio
isla de fuego verano a cambio
te daré qué incêndio
qué acontecimiento qué placer qué
fuerza qué solución qué hambre satisfaremos
qué fuego para tí preparo
este verano
qué otro local me darás
en silencio este verano
TODA LA SANGRE
Toda la sangre y la
ferocidad son
demasiado fuego
para el cuerpo
Son la vida sobre
la prosa y el abismo
demasiado amada
y ardida
Son demasiado
fuego para vivos
fuego con la vida
aprendido
Con la vida como
si la muerte viniese
y el fuego aprendido
se perdiese
Son la dicción agreste
y extrema como si
la vida se perdiese
y nada se dijese
Son el límite y la condición
la tempestad la seguridad
demasiado fuego y
demasiada confianza
ESTÁ TODO COMO ANTES
Está todo como antes hasta esta
perfecta libertad de perdernos
con la llegada de la noche los que
aún tuviésemos la vida
por ejemplo si todo pues
así pudiera perderse
Está todo como antes hasta este
miedo intacto de que todo
se pierda hasta que la niebla
la nieve la noche por ejemplo
suspendan lo que aún
estuviese por suspender
Está todo como antes hasta esta
completa suspensión de la noche
por ejemplo el deseo el placer
la soledad a veces la esperanza
de los nervios está todo como antes
hasta el anochecer
CON TODO LO QUE ESTREMECE DESTRUIDO
Con todo lo que estremece destruido
y se desprende o amenaza el aire
cuando todo es visible
y las hojas en la tierra ya escavaron
los inútiles abrigos
que del sol penetrados
del aire frío
en las zanjas desenvuelven sus vastos
abismos rellenados
con las hojas en hondos
abrigos reunidos o que todavia
en los árboles el rudo
invierno esperan fijas
nos medimos
EL MES DE JUNIO ALTERA LA CALIDAD
el Tajo en junio
El mes de junio altera la calidad
variable del tiempo el mês describe
la solución del tiempo sobre las aguas
El mes de junio altera el aire convulso
No es fácil finalizar cuando las exhaustas
simientes se engrandecen bajo las casas
LA BOCA OYE EL SOLLOZO DE LAS PALABRAS
La boca oye el sollozo de las palabras
la tierra expone el diálogo
y provoca esa caída de palabras
en los labios
Poemas extraídos de HORA DE POESIA 27/28 Año 1983. “Antología de la actual poesia portuguesa”, volume cedido pelo poeta Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília, reprodução com a autorização do tradutor Xosé Lois García.
Página publicada em abril de 2008 |