Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

FLORBELA ESPANCA

(1894- 1930) 

 

Poetisa portuguesa, de  Vila Viçosa (Alentejo). Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Autora consagrada e venerada, tematiza questões relacionados com a solidão, o desencanto e as paixões desencontradas, em versos de sensualismo exacerbado, que a levaram a uma consagração definitiva.  

 

Obras póstumas: Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido de Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, é publicamente em 1982.

 

 

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
 — Eu sou Aquela de quem tens saudade,
 A princesa do conto: “Era uma vez...”

FLORBELA ESPANCA



 

Seleção de Rui Pais  

 

 

ALMA PERDIDA

 

Toda esta noite o rouxinol chorou,

Gemeu, rezou, gritou perdidamente!

Alma de rouxinol, alma de gente,

Tu és, talvez, alguém que se finou!

 

Tu és talvez, um sonho que passou,

Que se fundiu na Dor, suavemente...

Talvez sejas a alma, a alma doente

Dalguém que quis amar e nunca amou!

 

Toda a noite choraste... e eu chorei

Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei

Que ninguém é mais triste do que nós!

 

Contaste tanta coisa à noite calma,

Que eu pensei que tu eras a minh'alma

Que chorasse perdida em tua voz!

 

 

 

 

REALIDADE

 

Em ti o meu olhar fez-se alvorada

E a minha voz fez-se gorjeio de ninho...

E a minha rubra boca apaixonada

Teve a frescura pálida do linho...

 

Embriagou-me o teu beijo como um vinho

Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...

E a minha cabeleira desatada

Pôs a teus pés a sombra de um caminho...

 

Minhas pálpebras são cor de verbena,

Eu tenho os olhos garços, sou morena,

E para te encontrar foi que eu nasci...

 

Tens sido vida fora o meu desejo

E agora, que te falo, que te vejo,

Não sei se te encontrei... se te perdi...

 

 

 

EU

 

Até agora eu não me conhecia.

Julgava que era Eu e eu não era

Aquela que em meus versos descrevera

Tão clara como a fonte e como o dia.

 

Mas que eu não era eu não o sabia

E, mesmo que o soubesse, não o dissera...

Olhos fitos em rutila quimera

Andava atrás de mim... e não me via!

 

Andava a procurar-me - pobre louca! -

E achei o meu olhar no teu olhar,

E a minha boca sobre a tua boca!

 

E esta ânsia de viver, que nada acalma,

É a chama da tua alma a esbracejar

As apagadas cinzas da minha alma!

 

 

 

 

OS MEUS VERSOS

 

Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!

Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,

Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,

Que a tempestade os leve aonde for!

 

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,

Que volte ao nada o nada de um momento!

Julguei-me grande pelo sentimento,

E pelo orgulho ainda sou maior!...

 

Tanto verso já disse o que eu sonhei!

Tantos penaram já o que eu penei!

Asas que passam, todo o mundo as sente...

 

Rasga os meus versos... Pobre endoidecida!

Como se um grande amor cá nesta vida

Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

 

 

 

 

DESEJOS VÃOS

 

Eu queria ser o Mar de altivo porte

Que ri e canta a vastidão imensa!

Eu queria ser a pedra que não pensa,

A pedra do caminho rude e forte!

 

Eu queria ser o Sol, a luz imensa,

O bom do que é humilde e não tem sorte!

Eu queria ser a árvore tosca e densa

Que ri do mundo vão e até da morte!

 

Mas o Mar também chora de tristeza…

As árvores também, como quem reza,

Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

 

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,

Tem lágrimas de sangue na agonia!

E as pedras… essas… pisa-as toda a gente! …

 

 

 

 

VAIDADE

 

Sonho que sou a poetisa eleita,

Aquela que diz tudo e tudo sabe,

Que tem a inspiração pura e perfeita,

Que reúne num verso a imensidade!

 

Sonho que um verso meu tem claridade

Para encher todo o mundo! E que deleita

Mesmo aqueles que morrem de saudade!

Mesmo os de alma profana e insatisfeita!

 

Sonho que sou alguém cá neste mundo…

Aquela de saber vasto e profundo,

Aos pés de quem a Terra anda curvada!

 

E quanto mais no céu eu vou sonhando,

E quanto mais no alto ando voando,

Acordo do meu sonho… E não sou nada! …

 

 

 

 

AS MINHAS MÃOS

 

As minhas mãos magritas, afiladas,

Tão brancas como a água da nascente,

Lembram pálidas rosas entornadas

Dum regaço de infanta do Oriente.

 

Mãos de ninfa, de fada, de vidente,

Pobrezinhas em sedas enroladas,

Virgens mortas em luz amortalhadas

Pelas próprias mãos de oiro do sol poente.

 

Magras e brancas… Foram assim feitas…

Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas…

Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!

 

Pra que as quero eu- Deus! – Pra que as quero eu?!

Ó minhas mãos, aonde está o Céu?

… Aonde estão as linhas do teu rosto?

 


 

 

AMIGA

 

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,

A tua amiga só, já que não queres

Que pelo teu amor seja a melhor,

A mais triste de todas as mulheres.

 

Que só, de ti, me venha mágoa e dor

O que me importa a mim?! O que quiseres

É sempre um sonho bom! Seja o que for,

Bendito sejas tu por mo dizeres!

 

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho…

Como se os dois nascêssemos irmãos,

Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho…

 

Beija-me bem! … Que fantasia louca

Guardar assim, fechados, nestas mãos,

Os beijos que sonhei prá minha boca! …

 

 

 

 

A NOSSA CASA

 

A nossa casa, Amor, a nossa casa!

Onde está ela, Amor, que não a vejo?

Na minha doida fantasia em brasa

Constrói-a, num instante, o meu desejo!

 

Onde está ela, Amor, a nossa casa,

O bem que neste mundo mais invejo?

O bando ninho aonde o nossa beijo

Será mais puro e doce que uma asa?

 

Sonho… que eu e tu, dois pobrezinhos,

Andamos de mãos dadas, nos caminhos

Duma terra de rosas, num jardim,

 

Num país de ilusão que nunca vi…

E que eu moro – tão bom! – dentro de ti

E tu, ó meu Amor, dentro de mim…

 

 

 

SUPREMO ENLEVO

 

Quanta mulher no teu passado, quanta!

Tanta sombra em redor! Mas que me importa?

Se delas veio o sonho que conforta,

A sua vida foi três vezes santa!

 

Erva do chão que a mão de Deus levanta,

Folhas murchas de rojo à tua porta…

Quando eu for uma pobre coisa morta,

Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

 

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!

Hás-de ver-me, beijar-me em todas elas,

Mesmo na boca da que for mais linda!

 

E quando a derradeira, enfim, vier,

Nesse corpo vibrante de mulher

Será o meu que hás-de encontrar ainda,,,

 

 


 

SER POETA

 

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do reino de Aquém e de Além Dor!

 

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

 

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

 

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

 

 

ESPANCA, Florbela.  Antologia poética de Florbela Espanca.  São Paulo, SP: Marin Claret, 2015.  298 p.  14x21,5  ISBN 978-85-440-0034-2  Edição especial, capa dura.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

         EU

 

         Eu sou a que no mundo anda perdida,
         Eu sou a que na vida não tem norte,
         Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
         Sou a crucificada...  a dolorida...

 

         Sombra de névoa tênue e esvaecida,
         E que o destino amargo, triste e forte,
         Impele brutalmente para a morte!
         Alma de luto sempre incompreendida!...

 

         Sou aquela que passa e ninguém vê...
         Sou a que chamam triste sem o ser...
         Sou a que chora sem saber porquê...

 

         Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
         Alguém que veio ao mundo pra me ver
         E que nunca na vida me encontrou!

 

 

 

         OS VERSOS QUE TE FIZ

 

         Deixa dizer-te os lindos versos raros
         Que a minha boca tem pra te dizer!
         São talhados em mármore de Paros
         Cinzelados por mim pra te oferecer.

 

         Tem dolência de veludos caros,
         São como sedas pálidas a arder...
         Deixa dizer-te os lindos versos raros
         Que foram feitos pra te endoidecer!

 

         Mas, meu Amor, eu não t’os digo ainda...
         Que a boca da mulher é sempre linda
         Se dentro guarda um verso que não diz!

 

         Amo-te tanto! E nunca te beijei...
         E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
         Guardo os versos mais lindos que te fiz!

 

 



Voltar para o topo da página Voltar para a página de Portugal

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar