DINAH RAPHAELLUS
Dina P. Pereira da Costa nasceu em Ovar, Aveiro, Portugal, em 1965.
Blog: http:/poesialilazcarmim.blogspot.com
G Á R G O L A S
As gárgolas sem compaixão
Horrendas, frias e feias...
Envoltas por solidão,
Prendem-me em suas veias.
Sem predicados ou versos,
São teias... que num
Doce cipreste a balançar,
Embalam-me suspensa
Em epopeias.
Castradas de rimas a rimar
Suadas de amor por amar,
Sol aberto, vento a discursar
À luz tosca das candeias...
E no fresco verde a chilrear,
Pintam o canto exalado
E gemido por sereias.
H O J E
Hoje sinto-me assim
Muda de tanto falar,
Rouca de tanto calar.
Hoje sinto-me assim
Cansada das roupas
Vestidas por vestir
E não desejadas
Hoje sinto-me assim
Minhas mãos cheias de vazios
Minha alma repleta
De pedras tumulares.
Hoje sinto-me assim
De cemitérios vestida
E feito de velas
O meu respirar.
Hoje sinto-me assim
De flores roxas na lapela,
Alguém que chora numa capela
E eu sozinha
No meu caixão,
Sem ninguém
Que me queira velar.
Hoje sinto-me assim
Perdida do mundo,
Perdida de mim
Existo, por existir
Numa espera roxa
Duma cruz... partir!!!
A M B I G U I D A D E
Desafiavas-me escondido por detrás das vírgulas
E rias, rias iludido que nas reticências frívolas
Arranjavas abrigo, um lar amigo para nossas demências
Ahahahah...como os nossos risos cresciam...
Balões de primaveras no outono de nossas vidas
Unguentos miraculosos sarando nossas feridas
Não...não falo de quimeras, mas sim das longas esperas
Com que perpetuamos os sentidos, reais e vividos
Nas rimas pintamos feras, e moldamos de barro
Muitas prosas, sonetos feitos duetos, laranjais frescos
De perfume índigo...dos sons fizemos esferas,
Bancos de jardins bebendo ópios de trigo.
Nas muralhas das odes...lindos arcos arabescos
Arquitetura debruada a linho...
Na ambiguidade da poesia...a fragrância de lilás e pinho!!!
Página publicada em março de 2020
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