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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



DAVID MOURÃO-FERREIRA

 

 

Nació em Lisboa, en 1927. Se licencio em Filología Románica en la Universida de dicha Capital, donde ejerceu como profesor.  Fue Secretario de Estado para la Cultura durante el periodo 1976-1979. Poeta técnico por excelência y dramaturgo. Asesor cultural de la Fundación Calouste Gulbenkian. 

 

 

 

 CASA
(Soneto)
de David Mourão-Ferreira

na voz do bibliotecário e ensaista EDSON NERY DA FONSECA,
gravado por Juvenildo Barbosa Moreira (NILDO) nos jardins da
Reitoria da Universidade de Brasilia em abril de 2010.
Duração:  2 minutos e 10 segundos

 

 

 

POEMAS EM PORTUGUÊS / POEMAS EM ESPAÑOL

 

Canção amarga

 

Que importa o gesto não ser bem

o gesto grácil que terias?

--- Importa amar, sem ver a quem...

Ser mau ou bom, conforme os dias.

 

Agora, tu só entrevista,

quantas imagens me trouxeste!

Mas é preciso que eu resista

e não acorde um sonho agreste.

 

Que passes tu! Por mim, bem sei

que hei-de aceitar o que vier,

pois tarde ou cedo deverei

de sonho e pasmo apodrecer.

 

Que importa o gesto não ser bem

o gesto grácil que terias?

--- Importa amar, sem ver a quem...

Ser infeliz, todos os dias! 

 

PRESÍDIO

 

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.

Que dizer do pescoço, às vezes mármore,

às vezes linho, lago, tronco de árvore,

nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

 

E o ventre, inconsistente como o lodo?...

E o morno gradeamento dos teus braços?

Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:

É também água, terra, vento, fogo...

 

E sobretudo sombra à despedida;

onda de pedra em cada reencontro;

no parque da memória o fugidio

 

vulto da Primavera em pleno Outono...

Nem só de carne é feito este presídio,

pois no teu corpo existe o mundo todo!

 

 

ADYNATA

 

Um rstilho de lepra ao fim da noite branca

Um cancro no pulmão de todas as gavetas

Os ferros da tortura em vez destas varandas

onde brilhava outrora o sorriso de seda

 

a lua que reluz nas estolas das putas

O sol que dorme a sesta ao colo de um prelado

As navalhas do vento a servir de gazuas

ao “teddy-boy” que vai arrombar o teu quarto.

 

E somem-se na treva as sementes do ópio

E a primavera traz um chicote nas unhas

E a madrugada vem misturar neste copo

Uma gota de sangue uma gota de bruma

 

No cachaço do campo ó rubras banderilhas

Na garupa do mar ó brancas baionetas

Onde estão as manhãs que não atingidas

e conservam a luz que só tu representas

 

Oh Tanta solidão Como range na cama

O veneno arrancado ao silêncio das portas

só porque te não tenho há quase uma semana

só porque não te vejo há vinte e quatro horas

 

 

E POR VEZES

 

E por vezes duram meses

E por vezes o meses oceanos

E por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos E por vezes

 

encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes

 

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro da noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

 

E por vezes sorrimos ou choramos

E pro vezes por vezes ah por vezes

num segundo se evolam tantos anos 

 

 

BARCO NEGRO

De manhã, que medo, que me achasses feia!

Acordei, tremendo, deitada n’areia

Mas logo os teus olhos disseram que não,

E o sol penetrou no meu coração.

 

Vi depois, numa rocha, uma cruz,

E o teu barco negro dançava na luz

Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas

Dizem as velhas da praia, que não voltas:

 

São loucas! São loucas!

 

Eu sei, meu amor,

Que nem chegaste a partir,

Pois tudo, em meu redor,

Me diz qu’estás sempre comigo.

 

No vento que lança areia nos vidros;

Na água que canta, no fogo mortiço;

No calor do leito, nos bancos vazios;

Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

 

PRIMAVERA

 

Todo o amor que nos

prendera

como se fora de cera

se quebrava e desfazia

ai funesta primavera

quem me dera, quem nos dera

ter morrido nesse dia

 

E condenaram-me a tanto

viver comigo meu pranto

viver, viver e sem ti

vivendo sem no entanto

eu me esquecer desse encanto

que nesse dia perdi

 

Pão duro da solidão

é somente o que nos dão

o que nos dão a comer

que importa que o coração

diga que sim ou que não

se continua a viver

 

Todo o amor que nos

prendera

se quebrara e desfizera

em pavor se convertia

ninguém fale em primavera

quem me dera, quem nos dera

ter morrido nesse dia

 


 

HATHERLY, Ana.  CAMINHOS DA MODERNA POESIA PORTUGUESA. 2ª. edição  S.l.:Ministério da Educação Nacional, Direção Geral do Ensino Primário, 1969. 121 p.  (Coleção Educativa, Serie G, n. 8)11x16 cm. 

 

 

A écloga, que significa poesia de carácter pastoril, campestre, é um dos mais antigos modos poéticos. O que é moderno aqui não é a forma nem propriamente o tema, mas sim a maneira como este está sentido. Além de uma poesia de belíssima expressão musical e de delicada imaginação, resulta assim perfeitamente atual.


 

 

ÉCLOGA

PASTORA, grácil, vieste,
sempre caminho do Sul...
E, rosa brava trouxeste,
Nos cabelos, um agreste
céu azul!...

Tu me encontraste, pastora,
velado, sem nenhum céu.
Mas agora um céu me doura
a vida que, muito embora,
se perdeu...

Era nas margens do Tejo...
(Nem noutras margens seria).
Sobre nós dois, o adejo
de gaivotas, num desejo
de alegria...

E não mudou o cenário

Para pastor e pastora.

Mas o Fado, sempre vário,

muda a história do cenário,

de hora em hora...

 

Trazias o teu passado,

Para ali o apascentar...

—Etéreo, volúvel gado,

que não é p'ra ser guardado

num lugar!

 

Guardava eu, sem sabê-lo,

um futuro, talvez meu...

Tanto cuidado e desvelo!

— Mas a cor do teu cabelo

me perdeu...

 

Dois invernos, dois estios,

primaveras, um outono...

(Dias serenos ou frios

se volviam longos rios

de abandono...)

 

E quanto ali nos trouxera

(cuidados de cada um!)

se quedara à nossa espera,

mas em vão... que já não era

de nenhum...

 

Apenas o meu futuro

se fugira, espavorido...

Já também o não procuro!

(Só tenho um corpo maduro,

no sentido!)

 

Mas teu passado, pastora,

que ali foras a pascer,

não se tinha ido embora:

 

inda esperava a sua hora

de volver...

 

Ele, e só ele, negou-me

o direito à, minha vida.

Encoberto no teu nome,

deu-me o castigo da fome

consentida.

 

Pão duro da solidão

o que me dão a comer...

Que importa se o coração

disser que sim ou que não,

se viver?

 

E condenaram-me a tanto:

viver, viver... e sem ti!

Vivendo, sem no entanto

me ausentar daquele encanto

que perdi...

 

O Tejo, verde e correto,

como no tempo passado...

Eu, porém, mais inquieto,

e, por este mal secreto,

— tão mudado!

 

 


 
 POEMAS EM ESPAÑOL 

Poemas selecionados de la edición de la ANTOLOGIA LA ACTUAL POESIA PORTUGUESA, con traducciones de nuestro amigo XOSÉ LOIS GARCÍA, publicada originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 27/28, de 1983, de Barcelona, España. Ejemplar gentilmente donado por Aricy Curvello para la Biblioteca Nacional de Brasilia.  



PRESIDIO

 

No todo el cuerpo es carne... No, no todo.

¿Qué decir del pescuezo, a veces mármol,

a veces Lino, lago, tronco de árbol,

nube, o ave, al tacto siempre pequeño...?

 

¿Y el vientre, inconsiste como el lodo?...

¿Y el tíbio enrejado de tus brazos?

No, mi amor... No todo el cuerpo es carne:

es también água, tierra, viento, fuego...

 

Y sobre todo sombra en la despedida;

onda de piedra en cada reencuentro;

en el parque de la memória el huidizo

 

rosstro de la Primavera en pleno Otoño...

No sólo de carne está hecho este presídio,

¡pues en tu cuerpo existe el mundo todo!

 

 

ADYNATA

 

Un surco de lepra al término de la noche blanca

Un câncer en el pulmón de todos los cajones

Los hierros de la tortura en vez de estas barandas

donde brillaba otrora la sonrisa de la seda

 

La luna que reluce en las estolas de las putas

El sol que duerme la siesta en brazos de un prelado

Las navajas del viento sirviendo de ganzúas

al “teddy-boy” que va a destrozar tu cuarto

 

Y se sumen en la tiniebla las simientes del ópio

Y la primavera trae un látigo en las uñas

Y la madrugada viene a mezclar en este vaso

Una gota de sangre una gota de bruma

 

En el pescuezo del campo oh rojas banderillas

En la grupa del mar oh blancas bayonetas

Donde están las mañanas que no son alcanzadas

Y conservan la luz que sólo tú representas

 

Oh Tanta soleda Cómo cruje en la cama

el veneno arrancado al silencio de las puertas

sólo porque no te tengo hace casi una semana

sólo porque no te veo hace veinticuatro horas

 

 

Y A VECES

 

Y a veces las noches duran meses

Y a veces los meses oceanos

Y a veces los brazos que estrechamos

nunca vuelven a ser los mismos Y a veces

 

encontramos en nosotros em pocos meses

lo que la noche nos hizo en muchos años

Y a veces fingimos que recordamos

Y a veces recordamos que a veces

 

al tomarle el gusto a los oceanos

sólo el sarro de las noches no de los meses

allá en el fondo de los vasos encontramos

 

Y a veces sonreímos o lloramos

Y a veces ah a veces

en un segundo se evaporan tantos años

 

 

Página publicada em janeiro de 2008



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