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CARMINDO PINTO DE CARVALHO

Nasceu em Nagosa -  Moimenta da Beira, a 1.11.1955. Em 1966 concluiu o ensino básico. Foi camponês, jornada em trabalhos diversos e operário na construção civil.
Com dezesseis anos foi para Lisboa.
Trabalhou como vigilante numa escola privada e posteriormente como empregado num hospital psiquiátrico.

Em 1985 emigrou para a Suíça.

Bibliografia ( Poesia ): 1 ) Entre o Ter e o Querer, Editorial Minerva 2000 2 ) Entre os Quês e os Porquês, Editorial Minerva 2002 ANTOLOGIAS:1 ) Mensageiro da poesia Volume I __ Associação Cultural Poética 2 ) Mensageiro da poesia, Volume II 2003 3 ) Mensageiro da poesia , Volume III 2004 4 ) Mensageiro, Volume VII 2008 5 ) Da Outra Margem _Antologia Poética de autores da Diáspora residentes em vários países e continentes. Edição Instituto Camões. Lançada em Genebra quando da feira internacional do livro e da imprensa, em 2001)

ELOS DE POESIA.  Coletânea de poemas de autores de língua portuguesa.  Camarata,  Portugal: 2005.  210 p   Ex. bibl. Antonio Miranda

Dos nove poemas do livro acima, adiantamos quatro:

Terra minha

Oh! Terra minha minha terra!
De diplomáticos apedeutas
Psico-terapeutas,
De inculta inércia sobrecarregada,
Agora entendo porque estás tão mal tratada!
Desgorvernada e estrumada à farta!
Quase destroçada.
Sinto lástima de ti
Oh! Terra minha
Minha terra!
Que vai ser de ti
Quando o Sol e a chuva se zangarem
E por aqui não mais passagem?
Vais ficar como água ebuliente?
Alaranjada como metal em brasa?
Ou seca, gelada e rachada?
E as aves?
E os animais?
Ah! Quão profundos irão
Ser os estertores ou estridentes os teus ais!
Oh! Terra minha, minha terra!
Se o culto tem de ser cómodo e mudo...
Faço minhas as tuas palavras,
Oh! Meu ídolo e Mestre
Ary dos Santos — Serei tudo o que quiseres
Poeta castrado não!

                Sei que sei

            
Sei que muito sei.

                E o muito que sei que sei
É uma minúscula partícula do muito
Que ignoro
E que sei que não sei.

Um grão de areia
De uma praia,
Uma gota de água
De uma enxurrada.

Há tanto que nem sei
Se sei.
Há tanto que nunca saberei
Se sei.

Houve
Tanto que já esqueci
Tanto que não houve
Porque não aprendi.

E nesta busca constante do saber,
Da preocupação na aproximação
À perfeição;
Quero aprender até morrer.

 

 

 

 

 

Sermão às massas

 Um ecrã de televisão
Quer eu queira ou não
É o maior palco
O maior púlpito
O maior altar onde se exibem figurões e artistas
Papões e papistas.

Pelo mundo fora semeiam
Um triste espetáculo de som e imagem.
E o que devia ser um espaço
De educação e formação
Passa a ser um espaço
De depravação.

É uma escola de crime,
Religião, sexo, e vícios de toda espécie
Onde gladiadores
Se armam em lutadores
E em nome da audiência
Inventam uma porcaria em quilos de indecência.

Esgrimem armas impensáveis,
Usam argumentos inimagináveis,
Perdem todos os escrúpulos
E decência, alienam e anestesiam
As massas. E a pensar, sozinho, me deixam.

Para onde isto caminha? Aonde isto irá parar?
Que mais irão inventar?
E eu, que não sou padre
Nem sequer sacristão
Porque me apetece,
Aqui vos deixo este sermão.

 

 Só mais que um pouco
do quase nada

Já fiz um pouco
De quase tudo,
De quase tudo
Já fui um pouco.

E esse pouco
De quase tudo
Fez de mim só mais que um pouco
Do quase nada do infinito.

Um grão de areia
De uma praia.
Uma folha murcha
De uma árvore triste de uma selva.

 

Página publicada em setembro de 2020