BERNARDO PINTO DE ALMEIDA
Poeta, crítico de literatura e arte e professor de história e teoria da arte na Facualdade de Belas Artes do Porto.
Obra poética: e outros poemas (Quetzaol, 2002) e Hotel Spleen (Quetzal, 2003).
Poema kitsch
Tu és o meu veneno e o meu vício
uma forma de estar fora de mim
sem ti o que era espera faz-se ofício
a vontade de te ter noite sem fim
esse tu não estares um breve indício
de flores morrendo no jardim.
Há um sítio em mim por habitar
casa para sempre em construção
há traves altos andaimes pelo ar
estaleiro abandonado junto ao chão
onde antes se julgava que era o mar
não há vagas nem marés nem barcos vão.
Se a hora de chegares fica esquecida
não mais posso esperar tua presença
o que antes era corpo tornou ferida
tudo o mais reduto de indiferença
pois onde agora a sombra estava a vida
onde antes a luz a noite imensa.
Canção
Tinha um livro aberto sobre a mesa
uma janela aberta para os telhados
uma porta aberta para a rua
uma vogal aberta no seu riso
as mãos muito abertas e os braços
abertos para um abraço desmedido.
E os olhos abertos e os sentidos
todos eles abertos para o mundo.
Tinha o seu corpo aberto e dava luz
como se diz de um dia a céu aberto.
sobre o caminho aberto que era o seu
e sobre a rosa aberta na sua boca
sobre a cama aberta do seu corpo
o meu nesse abismo mergulhava.
Página publicada em abril de 2009.
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