AUGUSTO GIL
(1873-1929)
Augusto César Ferreira Gil nasceu em Lordelo do Ouro, Guarda, no dia 31 de julho de 1873, e faleceu em Lisboa no dia 26 de fevereiro de 1929. Estudou inicialmente na Guarda, donde os pais eram oriundos, e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Começou a exercer advocacia em Lisboa, tornando-se mais tarde diretor-geral das Belas-Artes. Na sua poesia notam-se influências do Parnasianismo e do Simbolismo. Influenciado pelo lirismo de António Nobre, a sua poesia insere-se numa perspectiva neorromântica nacionalista.
Obras poéticas: Musa Cérula (1894); Versos (1898); Luar de Janeiro (1909); O Canto da Cigarra (1910); Sombra de Fumo (1915); Alba Plena (1916); O Craveiro da Janela (1920); Avena Rústica (1927); Rosas desta Manhã (1930). Crônicas: Gente de Palmo e Meio(1913).
TABOADA DE SOMAR
Permitiu que lhe desse tantos beijos,
Quantos eram os anos que ela tinha.
Cheguei ao fim da conta... com desejos
De que fosse uma velhinha.
ANTES SÓ QUE MAL ACOMPANHADO
Por mau homem não me tenho.
Grandes males nunca os fiz."
Todavia não convenho
No que este ditado diz.
Há companheiro algum
Pior e mais inimigo,
Do que o é cada um,
Quando conversa consigo?...
DEVAGAR, QUE TENHO PRESSA
Veio um lesmo d'Amarante,
Para casar em Lisboa
Com uma lesma galante,
E veio do seu vagar,
Com toda a comodidade,
A fazer e a recitar
Baladas, odes, sonetos...
Quando chegou à cidade,
A noiva... já tinha netos!
GOSTOS NÃO SE DISCUTEM
Não serei eu quem refute
O senso prudente e raro
Deste ditado. Está bem.
O gosto não se discute.
Não se discute, claro.
— Mas é com quem o não tem...
CAVALO DADO, NÃO SE LHE OLHA AO DENTE
Quando o cavalo
De presente nos for dado,
É que é olhá-lo
Por detrás e pôr de lado.
E pela frente...
E se for escanzelado,
Ou tiver mau dente,
Ou for besta velha,
Diz-se ao dono do presente
— Que não desmanche a parelha...
GRÃO DE INCENSO
Encontraste com ar cansado
Numa igreja fria e triste.
Ajoelhei-me ao teu lado
– E nem ao menos me viste...
Ficaste a rezar ali,
Naquela imensa tristeza.
Rezei também, mas a ti.
– Que aos anjos também se reza...
Ficaste a rezar até
Manhã dentro, manhã alta.
Como é que tens tanta fé
E a caridade te falta?...
Página publicada em outubro de 2014
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