ANTONIO RAMOS ROSA
Nació el 17 de octubre de 1924, en Faro, Portugal. Profesor, traductor y uno de los mejores críticos de la literatura portuguesa. Como poeta se halla entre los autores de primera magnitud de la poesía contemporánea de su país. Su poesía es variada y destaca por su gran carga emotiva.
Poemas selecionados de la edición de la ANTOLOGIA LA ACTUAL POESIA PORTUGUESA, con traducciones de nuestro amigo XOSÉ LOIS GARCÍA, publicada originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 27/28, de 1983, de Barcelona, España. Ejemplar gentilmente donado por Aricy Curvello para la Biblioteca Nacional de Brasilia.
Mais poemas do autor podem ser lidos em: www.astormentas.com
Mas entre mim e os meus passados há um intervalo também:
então invento os meus passos e meu próprio caminho. E com
as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as pedras,
Caminho um caminho de palavras.
(Sobre o rosto da terra, 1961)
(Sobre o rosto da terra, 1961)
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança de um peito
que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
de O Teu Rosto (1994)
O ARCO, E LOGO, A FOLHA ALTA
O arco, e logo, a folha alta.
o dia. O espaço,
o silêncio, um bloco transparente.
A casa vive o que eu escrevo,
e a margem branca (intransponível)
é o corpo que eu não sei,
vivo na claridade.
Um corpo, digo, não um cristal.
Que permanece, ainda que eu hesite
ou falhe ou recomece. E longamente
se abre, no dia, o arco, e a mão que o perde.
Só uma distância, ou o desejo, o quer.
Mas onde e quando, enquanto existe?
A vulnerada folha não o rasga.
O corpo, no horizonte, dura, intacto.
SEM EU AS PRESSENTIR
Sem eu as pressentir,
mas já na febre e no desejo,
sinuosos sinais, frechas intermitentes,
interrompem a sombra, negam o meu silêncio.
Afluem, mas são lâminas e traços
Que a mão inscreve. Não o liso
curso que amanhece. Um intervalo
na luz. Em sucessivos
arranques, os membros se reúnem
ou dispersam.
Mas se noite e luz reúnem
ferindo de surpresa
negam o muro que inscrevem
a própria muro que são
e que atravessam.
Nada se dilui, pois tudo recomeça.
CATARINA PALAVRA VIVA
Catarina esta palavra vibra
vive
em nós
não é uma palavra morta
nem perdida
Catarina
é a palavra viva
que ninguém fuzila
Catarina
o teu nome é mais que um nome
ou é o nome
que encontrou
um rosto
a alegria viva
além de nós
aqui
presente
Catarina
não é um bosque musical
mas uma pedra
que canta
de pé
claramente
pura
com um rosto
de água
sua palavra viva
ATÉ ONDE VÓS ESTAIS
Oh presenças amigas, ó momento
em que alongo o braço e toco em cheio os rostos.
A minha língua abriu-se para dizer a face
do vento que percorre as vossas vidas.
Estou perante a noite mais profunda,
a delicada noite das raízes: vejo rostos,
vejo os sinais e os suores das vossas vidas.
Atravesso árvores submersas, ruas obscuras,
Poços de água verde, e vou convosco ter,
minhas faces lívidas, mãe, amigos amores
A terra que penetro é este chão de terra
Com as raízes feridas
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SEM TÍTULO
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
MEDIADORA DA PALAVRA
Um rumor
irrompe das nocturnas
margens. Sombras deslumbrantes.
Um fulgor que desnuda e que despoja.
Campo de água ágil. Dança
Imóvel. Uma cegueira arde
Incendiando o tempo. Pátria
áspera de delicado alento.
Soberano marulhar do inexplorável.
Unânime é a pedra. Selvagem
a palavra despedaça a língua.
Um silêncio central domina e orienta
A substancia primária. A palavra inicia.
Rapidez da água entre resíduos
obscuros. Talvez o diadema.
Talvez a obscura dança aérea.
O leve poder do fogo, as suas marcas
ácidas. Pulsação
dos poros. Ardor do silêncio
no nocturno centro. Fulgor do desejo.
Uma deusa de água espraia-se nas palavras.
A NOITE CHEGA COM TODOS OS SEUS REBANHOS
Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se.As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.
de A Rosa Esquerda(1991)
UM CAMINHO DE PALAVRAS
Sem dizer o fogo - vou para ele. Sem enunciar as pedras,
Sei que as piso – duramente, são pedras e não são ervas.
O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao
mesmo tempo que a vento. Tudo o que sei já lá está, mas não
estão os meus passos nem os meus braços. Por isso caminho,
caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e nesse
intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo caminho e descubro
o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passo há um intervalo também:
então invento os meus passos e o meu próprio caminho.
E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e
as pedras, caminho um caminho de palavras.
Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
Alarga o dia e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o.
(De Sobre o rosto da terra, 1961)
SÍLABAS
Sílabas.
O álcool de Dezembro é frio e rouco.
O cigarro amarga. É um cigarro clínico.
Sílabas. Com sílabas se fazem versos.
O tampo da mesa é liso.
Uma colher é uma forma complexa
familiar e deliciosa.
Palavras soterradas na prisão da minha vida.
Um copo é nítido
com um criado sem servilismo.
Uma mulher condensa-se
no olhar do poeta.
Um corpo. Duas sílabas.
O dinheiro à justa. A gola da gabardina
para tapar a nuca
e os ouvidos.
Sílabas.
De Viagem através de uma Nebulosa (1960)
Comentário sobre o poema SÍLABAS:
Este poema tem uma estrutura de justaposição. Nele o clima é criado por justaposição de elementos, que em si próprios já têm valor imagético autônomo, como por exemplo “cigarro amarga”, “um cigarro clínico”, “com sílabas se fazem versos”, “o tampo da mesa é liso”, etc. – unidades que se vão juntando, que se vão acumulando para criar um poema, originando um clima extremamente preciso onde ao mesmo tempo, existe uma extraordinária ambigüidade. Tal como em “Um corpo. Duas sílabas” – “A gola da gabardina”. “O dinheiro à justa.”.
“Sílabas”, onde o rigor da linguagem, em relação à complexidade do sentimento ou da situação que se pretende criar, atinge um alto grau de eficácia sugestiva.
MELO E CASTRO, E.M. DE. O Próprio Poético. São Paulo: Quíron, 1973. p. 81-82
De
Animal olhar
São Paulo: Escrituras, 2005
141 p. (Col. Ponte Velha)
ISBN 85-7531-172-7
Gentilmente enviado pela editora
www.escrituras.com.br
Três 1995
Tu pensas que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.
Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e os órgãos de mulheres
na fulguração da nudez líquida e candente!
Todavia eu conheço a obstinada chama do desejo,
a sua glauca ondulação, os seus olhos
deslumbrados pela oceânica vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerência
dos seus astros dispersos.
Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de Ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas,
a adolescência do fogo nos labirintos negros.
Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
ï\em atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta a imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.
Viagem através duma nebulosa
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
Página publicada em maio de 2008; ampliada e republicada em janeiro de 2011
TEXTO EN ESPAÑOL
EL ARCO, Y LUEGO, LA HOJA ALTA
El arco, y luego, la hoja alta,
el día. El espacio,
el silencio, um bloque transparente.
La casa vive lo que yo escribo,
Y el margen Blanco (instransferible)
es el cuerpo que yo no sé,
vivo en la claridad.
Um cuerpo, digo, no un cristal.
Que permanece, aunque yo dude
O falle o recomience. Y prolongadamente
Se abre, en el día, el arco, y la mano que lo pierde.
Sólo una distancia, o un deseo, o quiere.
Pero donde y cuándo, ¿mientras existe?
La vulnerada hoje no lo rasga.
El cuerpo, en el horizonte, dura, intacto.
SIN YO PRESENTIRLAS
Sin yo presentirlas
Mas ya em la fiebre y en el deseo,
sinuosas señales, flechas intermitentes,
interrumpen la sombra, niegan mi silencio.
Afluyen, pero son lágrimas y trozos
que la mano inscribe. No es liso
curso que amanece. Um intervalo
en la luz. En sucesivos
arranques, los miembros se reúnen
o dispersan.
Mas si nocho y luz reúnen
hiriendo de sorpresa
niegan el mujro que inscriben
el próprio muro que son
y que atraviesan.
Nada se diluye, pues todo recomienza.
CATARINA PALABRA VIVA
Catarina esta palabra vibra
vive
en nosotros
no es una palabra muerta
ni perdida
Catarina
es la palabra viva
que nadie fusila
Catarina
Tu nombre es más que un nombre
o es el nombre
que encontro
um rostsro
la alegría viva
más allá de nosotros
aqui
presente
Catarina
no es un bosque musical
sino una piedra
que canta
de pie
claramente
pura
con un rostro
de agua
su palabra viva
HASTA DONDE ESTAIS
Oh presencias amigas, oh momento
en que alargo el brazo y toco de lleno los rostros
Mi lengua se abrió para exponer la faz
del viento que recorre vuestras vidas.
Estoy ante la noche más profunda,
la delicada noche de las raíces: veo rostros
veo las señales y los sudores de vuestras vidas.
Atravieso árboles sumergidos, calles oscuras,
pozos de agua verde y voy con vosotros a sentir
mis faces lívidas, madre, amigos, amores
La tierra que penetro este suelo de tierra
con las raíces heridas, com los feroces pulsos,
la vertiente que desciendo es uma subida hacia vuestras vidas
A POESIA É PARA COMER: iguarias para corpo e para o espírito. Seleção de poemas Ana Vidal; coordenação editorial Renata Lima. São Paulo: Rabel, 2011. 252 p. 23,5x31,5 cm. Capa dura. Impresso em papel couchê matte 170 g/m2.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Casa do sol onde os animais pensam
erguida nos ares com raízes na terra
ampla e pequena com um pagode
com salas nuas e baixas camas
casa de andorinhas e gatos nos sótãos
grande nau navegando imóvel
num mar de ócio e de nuvens brancas
com antigos ditados e flores picantes
com frescura de passado e pó de rebanhos
ó casa de sonos e silêncios tão longos
e de alegrias ruidosas e pães cheirosos
ó casa onde se dorme para se renascer
ó casa onde a pobreza resplende de fartura
onde a liberdade ri segura.
(in Voz inicial)
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Página ampliada e republicada em OUTUBRO de 2022
Página publicada em janeiro de 2008. |