Fonte: http://www.fundacaoantonioquadros.pt
ANTÓNIO QUADROS
António Gabriel de Quadros Ferro, conhecido como António Quadros (Lisboa, 14 de Julho de 1923 — Lisboa, 21 de março de 1993), foi um filósofo, escritor, professor universitário e tradutor português.
António Quadros licenciou-se em Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pensador, crítico e professor, também poeta e ficcionista, foi um dos fundadores da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores. Fundou a atual Associação Portuguesa de Escritores e o Instituto de Arte, Decoração e Design, (IADE). Foi director das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, dirigiu a colecção Biblioteca Breve, (ICALP) e foi um dos fundadores e directores das revistas de cultura Acto, 571 (1957-1962)e Espiral. Pertenceu ao Grupo da Filosofia Portuguesa na companhia de Álvaro Ribeiro, José Marinho, Orlando Vitorino, Afonso Botelho, Cunha Leão, Pinharanda Gomes, António Telmo, Dalila Pereira da Costa e outros pensadores que se inspiraram em Leonardo Coimbra, Sampaio Bruno, Delfim Santos, Teixeira de Pascoaes, entre outros filósofos e autores.
Fonte: wikipedia
HATHERLY, Ana. CAMINHOS DA MODERNA POESIA PORTUGUESA. 2ª. edição S.l.:Ministério da Educação Nacional, Direção Geral do Ensino Primário, 1969. 121 p. (Coleção Educativa, Serie G, n. 8) 11x16 cm.
POÉTICA CONTRADITÓRIA
Não digas o que sabes nos teus versos,
Deixa para trás a ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti não for ausência
São ideais perdidos, ou submersos.
Abandona-te às vozes que não ouves,
E liberta os teus deuses nos teus dedos;
Não busques os sorrisos, mas os medos,
E o que não ignoto e só, não louves.
Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos.
É uma imagem heroica, dos teus prantos.
Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o inunde,
Não sejas um escritor, mas um profeta.
(De «Viagem Desconhecida»)
INVENÇÃO DA MORTE
ENCHERAM-LHE a, alma pura e cristalina com
[todas as pedras e espinhos do mundo
E os ventos infinitos trouxeram-lhe gemidos e
[dores, torturas, silícios, sofrimentos.
Cercaram-lhe o coração inocente e palpitante de
[esperança, de tempestades surgindo como
[feras esfaimadas e insaciáveis.
E amarraram-lhe os pés como raízes, a uma terra
[negra, amassada com sangue dos seus irmãos,
feito de ódio e medo e cobardia.
Mais rico e orgulhoso ficou, porém. O seu silêncio
[é mais vasto do que os seus gritos são pungentes,
A sua tristeza é mais sólida e fecunda do que a
[mesquinha vaidade das suas pequenas alegrias!
Através das lágrimas escorrendo como uma cascata
sangrenta, ele vê melhor, longe, longe,
Longe até alcançar os reinos misteriosos até então
[apenas pressentidos e adivinhados
Tirem-lhe a dor e ele será dor, tirem-lhe o medo
[e ele será sempre medo,
Nem herói disposto' a afrontar temerosos combates,
nem santo pronto a dominar os mais
[enlouquecidos desejos; apenas um homem
[qualquer.
A liberdade é um abismo impossível e desolador,
[a paz um paraíso que ele quer perdido.
A sua vida inteira, vive-a à espera do dia decisivo.
Se ele fosse eterno, inventaria a morte.
(De «Viagem Desconhecida»)
Página publicada em julho de 2015 |