ANTÓNIO JOSÉ QUEIRÓS
Nasceu em Vila Meã, na região de Amarante, Portugal, no dia 4 de maio de 1954. Doutor em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi fundador e diretor das revistas literárias Cadernos do Tâmega (1989-1995), Anto (1997-2000) e Saudade (em curso de publicação desde 2001).
É autor dos livros Memória do Silêncio (1ª edição, 1989; 2ª edição, 1994) e Os Meninos e Outros Poemas (1993). Tem colaboração em revistas de Portugal, Espanha, França, Itália e Brasil. É membro da Associação Portuguesa de Escritores e e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
“Tendo aprendido com alguns dos nossos melhores poetas, do simbolismo ao modernismo e seu avatares contemporâneos, a lição de contenção e da limpidez verbal (pensamos num Eugénio de Andrade), Antonio José Queirós revela, na sua ainda breve mas promissora obra, uma rara sapiência da essencialidade do fazer poético, que nestes tempos de recaída na inflaccção retórica o singularizam, até pela sua postura discreta, ao arrepio das promoções espetaculares em voga.”
José Augusto Seabra
A DIVINA IMPERFEIÇÃO
Caminho sem pressa pelas veredas
de um labirinto que parece não ter fim.
Ouço o som dos meus passos solitários
e sinto as fragrâncias de um jardim que se perdeu.
Entre ser livre ou ser feliz, escolhi
a liberdade de construir outro destino.
Sei agora que a minha vocação
é o silêncio íntegro das sementes
em campos tranquilos e lavrados.
É tarde. Do pó vim, ao pó quero regressar,
liberto, enfim, da geometria cruel do labirinto.
Dia após dia, procuro a secreta passagem
para a morada longínqua do mundo inicial.
Se Deus projectou em mim a sua imagem
em mim negou a sua divina perfeição.
De
MEMÓRIA DO SILÊNCIO
3.a ed. Amarante: Labirinto, 2007
I
Quando te chamo
o teu nome é mais azul.
Sorris como quem espera
as promessas que chegam
penduradas no Verão.
Vens como as gaivotas
vestidas de branco
e cheias de maresia.
II
O meu caminho
são todos os teus passos.
Sigo-os serenamente
como as aves que regressam
à inocente luz do sol.
Nas minhas mãos levo rosas,
tímidas rodas por abrir,
e palavras de amor escondidas
no rumor branco do silêncio.
III
Procuro nas fontes
o sabor da tua sede.
Sou como a ave renascida
voando para o azul
que nunca conheceu.
Vou descalço, peregrino
à espera do milagre.
IV
É entre o silêncio da bruma
e o verde rumor das algas
que o meu olhar se demora.
O horizonte é um barco
que navega para ti.
Amar é descobrir.
XXXI
Aos domingos, a minha tristeza
passeia com a tua ausência.
Sinto a amargura
de um barco encalhado
a solidão
de uma praia quando chove.
Quero ir mais além
mas o caminho não tem fim.
LITERATURA. Revista do Escritor Brasileiro. No. 19. Ano IX / DEZEMBRO 2000.
Publicação semestral da Editora Códice. Brasília, DF: 2000. Diretor: Nilto Maciel.
Editor: José Carlos Taveira. Ex. bibl. Antonio Miranda
TÂMEGA
Salve ó rio formoso!
que trazes nas águas
lembranças do tempo
em que tudo era nada.
Salve ó aldeias velhinhas!
escondidas nas fragas da montanha
onde o granito acolhe a solidão
e o silêncio as orações.
Salve ó verde e terna
terra minha!
Em ti as coisas e o homem
são tudo o que é a natureza.
Salve ó Tâmega!
Todos os dias beijas docemente
as pedras que Pirra e Deucalião
há muito tempo esqueceram.
Página publicada em fevereiro de 2008, por indicação de Aricy Curvello. Ampliada em setembro de 2019. |