JORGE EDUARDO EIELSON
(1924-2006)
Poeta, pintor, ensaísta, narrador. Nasceu em Lima, Peru. Autor com uma vasta obra poética de reconhecimento internacional.
TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS
HABITACIÓN EN LLAMAS
Perdido en un negro vals, oh siempre
Siempre entre mi sombra y la terrible
Limpieza de los astros, toco el centro
De un relámpago de seda, clamo
Entre las grandes flores vivas,
Ruedo entre las patas de los bueyes, desolado.
¡Oh círculos de cieno, abismos materiales!
¿He de prenderos fuego un día,
He de borrar el sol del cielo, el mar
Del agua? ¿O he de llorar acaso
Ante los fríos ciclos naturales, como ante un ciego,
Vasto, inútil teléfono descolgado?
AMO LOS ASTROS LOS AMANECERES
Las aguas amargas
Las anguilas y las algas
Los árboles antiguos y las alimañas
Amo los armarios y las agujas
Las habitaciones amplias y sin almohadones
Los ángeles atroces pero arrodillados
Los amores de antes algo amarillentos
Casi siempre absurdos y aterciopelados
Y todas las palabras que empiezan por A
Aunque no digan
Ah
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Antonio Miranda
QUARTO EM CHAMAS
Perdido numa valsa negra, oh sempre
Sempre entre minha sombra e a terrível
Limpeza dos astros, toco o centro
De um relâmpago de seda, clamo
Entre as grandes flores vivas,
Rodo entre as patas dos bois, desolado.
Oh círculos de lodo, abismos materiais!
Devo acender o fogo um dia,
Devo apagar o sol do céu, o mar
Da água? Ou devo chorar acaso
Ante os frios círculos naturais, como ante um cego,
Vasto, inútil telefone desligado?
AMO OS ASTROS OS AMANHECERES
As águas amargas
As enguias e as algas
As árvores antigas e a as alimárias
Amo os armários e as agulhas
Os quartos amplos e sem almofadões
Os amores de antes algo desbotados
Quase sempre absurdos e aveludados
E todas as palavras que começam com A
Ah
Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 28. Ano 15 / 2008. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 246 p. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Tradução de FLORIANO MARTINS
Último reino
Aura suprema, besa mi garganta helada,
Confiéreme la gracia de la vida, dame
El suplicio de la sangre, la majestad
De la nube. Que en cada gota del diluvio
Haya tristeza, sombra y amor. ¡Oh, romped
Hervores materiales, cráteres radiosos!
El sol del caos es grato a la serpiente
Y al poeta. Las nieves que ellos funden
Caen al fondo del verano, entre aletazos
De gloriosa lava, de luciérnagas
Y cerdos fulgurantes. Nada impide ahora
Que la onda de los aires resplandezca
O que reviente el seno de la diosa
En algún negro bosque. Nada
Sino los puros aros naturales arden,
Nada sino el suave heliotropo favorece
La entrada lila de las bestias y el otoño
En el planeta. Yo quisiera que así fuera
La alta puerta que me aguarda tras el humo
De mi vida, como una grave dalia en pedestal
De piedra, o un esqueleto deslumbrado.
Ultimo reino
Aura suprema, beija minha garganta gelada,
Confere-me a graça da vida, dá-me
O suplicio do sangue, a majestade
Da nuvem. Que em cada gota do diluvio
Haja tristeza, sombra e amor. Oh rompei
Fervores materiais, crateras radiosas!
O sol do caos é grato à serpente
E ao poeta. As neves que eles fundem
Caem ao fundo do verão, entre pancadas
De gloriosa lava, de vaga-lumes
E porcos fulgurantes. Nada impede agora
Que a onda dos ares resplandeça
Ou que rebente o seio da deusa
Em algum negro bosque. Nada
Exceto os puros aros naturais ardem,
Nada exceto o suave girassol favorece
A entrada simplória das bestas e do outono
No planeta. Eu quisera que assim fosse
A alta porta que me aguarda atrás do vapor
De minha vida, como urna grave dália em pedestal
De pedra, ou um esqueleto deslumbrado.
Cuerpo anterior
El arco iris atraviesa mi padre y mi madre.
Mientras duermen. No están desnudos
Ni los cubre pijama ni sábana alguna
Son más bien una nube
En forma de mujer y hombre entrelazados
Quizás el primer hombre y la primera mujer
Sobre la tierra. El arco iris me sorprende
Viendo correr lagartijas entre los intersticios
De sus huesos y huesos viendo crecer
Un algodón celeste entre sus cejas
Ya ni se miran ni se abrazan ni se mueven
El arco iris se los lleva nuevamente
Como se lleva mi pensamiento
Mi juventud y mis anteojos
Corpo anterior
O arco-iris atravessa meu pai e minha mãe
Enquanto dormem. Nao estão nus
Nem lhes cobre pijama ou lençol algum
São como urna nuvem
Em forma de mulher e homem entrelaçados
Talvez o primeiro homem e a primeira mulher
Sobre a terra. O arco-íris me surpreende
Vendo correr como lagartixas entre os interstícios
De seus ossos e de meus ossos vendo crescer
Um algodão celeste entre suas sobrancelhas
Já nem se olham nem se abraçam nem se movem
0 arco-íris os leva novamente
Como leva meu pensamento
Minha juventude e meus óculos
Rei convicto de teu amor
Cansado de saber que és cinza
Ou que és somente luz
Vestida de carne e osso. Cansado
De saber que tudo passa
Que tudo o que vemos e tocamos
Já não é nada. Cansado
De te ver brilhar como um diamante
Na palma de minha mão
Sabendo que minha mão
E somente a mão
De um esqueleto que tropeça
E que já não te acaricia. Cansado
De tanto número insondável
De tanta palavra vazia
De tanta terra que se move
De tanto céu impossível.
Começo Novamente por onde tudo se acaba
Renasço de teu amor como um mendigo
Da terra como um rei que não repousa
Para sempre adornado
Com tua própria cinza.
Página publicada em setembro de 2018
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