CONCHA EL APUNTADOR
No sé a partir de qué momento
empecé a repetirle las cosas más extrañas a los demás
con cierta pasíón incomprensible
Ni tampoco
Después de que ocasión comencé a ser
inmutable
parco
al punto que mi ropa también sufrió cambios
Ahora me visto de negro
y sigo comprando o tiñendo algunas prendas
Desde que hicieron hincapié
en algunos ademanes muy míos
calificándolos de finos
me propuse darles gusto
Aunque todavía no soy lo que ellos quieren
he iniciado la triste labor de prestar
por enésima vez
todas mis pertenencias para siempre
Todas las mañanas frente al espejo
birlo alguna mueca de mi pasado
y me la trago
para no llevarla nunca más en la cara
y si quisiera hacerla en algún momento
ya la habré olvidado
No limaré mi tabique
No borraré mi lunar de la sien
y no esconderé mi cicatriz de la frente
Llegar a la sonrisa que tengo ahora
me demandó mucha práctica
y constancia
Ensayos, ya se entiende
Todo esto ocurrió
cuando en plena actuación
los espectadores escucharon levemente mi nerviosismo
al decir implorándole al apuntador
(aprovecho mi posición de rodillas)
¿en qué me quedé?
MUÑECA FEA
Los poetas dejan de serlo cuando escriben
cuando una de las muñecas danza sobre el papel
Cuando no escriben si lo son. Habría que verlos.
Si no pregúntenles a los analfabetos
que lo dicen todo
sin un papel de por medio
que se puede quemar, perder, arrugar, olvidar
o no leer jamás.
ALMOHADA PARA UNA CABEZA
Durante toda mi vida
viví con el mito
de creerme un gran amante
Hoy,
a mis tantos años
sigo creyendo lo mismo
al igual que mi almohada
que hacía saltos mortales
No hay sitio para más
Una amante más
y moriría mi memoria
mi única fiel compañera
que nunca me dice que no
OBSEQUIO
Te regalo todas mis cicatrices
que juntas deben medir
más de seis metros
Todo el alcohol que he bebido en mi vida
Te alcanzaría para muchas fiestas
Ninguna navidad
Todo lo que he comido a lo largo
de mis treintaiún años
por si te vuelves pobre
Mis lecturas en el idioma que elijas
También,
ese retrato que me regalaste
y en donde apareces risueña
antes de conocerme
Te regalo todos los próximos obsequios
que recibirás de los demás
incluido algún hijo
que no me tocará la puerta
porque las carpas no las tienen
sólo tienen a payasos sin función
que como yo
ya no necesitan maquillarse
PONTO DE PALCO
Não sei a partir de que momento
comecei a repetir as coisas mais estranhas
com certa paixão incompreensível
Nem tampouco
depois de que ocasião comecei a ser
imutável
parco
ao ponto em que meu vestuário mudou
Agora me visto de negro
e continuo comprando ou tingindo algumas peças
Desde que notaram
alguns gestos muito pessoais
qualificando-os de refinados
decidi realçá-los
Embora ainda não sou o que eles querem
já iniciei a triste tarefa de emprestar
pela enésima vez
todos meus pertences para sempre
Todas as manhãs diante do espelho
surrupio alguma careta de meu passado
e a engulo
para não levá-la nunca mais na cara
e se quisesse fazê-la em algum momento
já a terei esquecido
Não limarei meu tabique
Não apagarei meu sinal da têmpora
Não esconderei minha cicatriz da face
Chegar ao sorriso que tenho agora
exigir de mim muita prática
e persistência
Ensaios, vocês entendem
Tudo isso aconteceu
quando em plena atuação
os espectadores perceberam levemente meu nervosismo
ao dirigir-me implorando ao apontador
(aproveito estar de joelhos)
o onde é mês que estava?
BONITA FEIA
Os poetas deixam de sê-lo quando escrevem
quando uma das bonecas dança sobre o papel
Quando não escrevem, sendo-o. Há que vê-los.
Se não, perguntem-lhes aos analfabetos
que dizem tudo
sem valer-se de papel
que se pode queimar, perder, enrugar, esquecer
ou não ler jamais.
ALMOFADA PARA UMA CABEÇA
Durante toda a minha vida
vivi com o mito
de julgar-me um grande amante
Hoje,
nos meus tantos anos
sigo ainda acreditando
assim como meu travesseiro
tal qual meu coração acrobata
que dava saltos mortais
Não mais lugar para mais
Uma amante mais
e morreria minha memória
minha única fiel companheira
que jamais me disse não
OBSÉQUIO
Te dou todas as minhas cicatrizes
que juntas devem medir
mais de seis metros
Todo o álcool que consumi em minha vida
—suficiente para muitas festas
Nenhum Natal
Minhas leituras no idioma que preferir
Também,
esse retrato que me presenteaste
onde apareces sorridente
antes de conhecer-me
Te dou todos os próximos obséquios
que receberás dos demais
inclusive algum filho
que não baterá em minha porta
porque as barracas não as têm
somente têm os palhaços sem função
que, como eu
já não necessitam maquiagem
Poema inédito
DEPRESSÃO
Tradução de Antonio Miranda
Dizem que eu nunca chorei.
Quando perguntei me disseram que não,
que nem mesmo chorei ao nascer.
Mas eu sim provoquei prantos. Muitos.
Quiçá choro nos olhos dos outros,
ou talvez quando me brotam as lágrimas,
mas a isso não podemos chamar de choro.
Sei que os homens não choram,
mas nem mesmo sou um homem,
e menos um menino,
porque não há menino que não chore.
E o pranto, esse que faz um nó inglês na garganta
e q não deixa falar, eu tampouco conheço.
Dizem que os poetas pranteiam pelas palavras.
E pareceria que as minhas não são lacrimais,
o que me exclui também como poeta,
porque não há poetas que não façam rir,
talvez apenas sorrir, de pena ou por pena.
Será que nasci sem olhos,
e ainda não me precatei,
ou será que todas as lágrimas estão reservadas
para quando me abandones,
e neste caso
tampouco me verás chorar
porque estarei longe,
buscando um ombro,
que pode ser o meu próprio.
Fernando Olea recibe Antonio Miranda en su casa de Barranco, Lima, Peru, el pasado mes de abril de 2013, para “matar saudades” y una entrevista en vídeo. Al fondo un detalle de su relicario de inscripciones de sus amigos.