RODOLFO MATA
(México, 1959)
Poeta e tradutor.
Nó
Lá no fundo do tempo
Quando eu não tinha nascido ainda
o pano que copia tudo
o pano da reprodução
dava nós em si mesmo
nós sobre nós
até que surgiu o lugar
onde eu surgiria
nu
Novo Narciso
A certa distância
e num determinado ângulo
o vidro se comporta como espelho
E em meio à grande avenida
nas vidraças dos edifícios
surge o céu como um setor quadriculado
rastreável
O botão do rádio
gira num sentido e noutro
e as sereias chispam entre teus dedos
Todas as agulhas permanecem em seu lugar
Bússolas orientadas rumo à ordem
E ali onde a imagem aparece
Narciso agrilhoado frente ao espelho
Não a superfície da água hiperexcitada por seu alento
mas o vidro esmigalhado e recomposto
Quase um devoto vitral da Idade Média
É ali onde baixas ao pulso teus olhos
o relógio escondeu os ponteiros
e teus olhos em meio ao reflexo
distinguem casualmente a legenda "liquid cristal"
Extraído de
ASCHER, Nelson. O lado obscuro. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 1996. 24 p. 11,5x16 cm. Apoio cultural: Italia Comércio de Papéis Ltda. Inclui traduções de poetas hispano-americanos ao português. Col. A.M.
Página publicada em fevereiro de 2013
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