PARA ENTÃO
Tradução de Sólon Borges dos Reis
Quero morrer quando decline o dia
Rosto voltado ao céu, em alto mar,
Quando pareça um sonho a agonia
E a alma, uma ave prestes a voar.
Não escutar nos últimos instantes,
Já com o céu e com o mar a sós,
Nem mais vozes nem preces soluçantes
Mas das ondas do mar somente a voz.
Fenecer quando a luz triste retira
Suas redes de ouro da onda verde,
E ser como esse sol que lento expira:
Algo de luminoso que se perde.
Morrer, e jovem: antes que corroa
O tempo falso a gentil coroa;
Quando a vida ainda diz: sou toda tua,
Ainda sabendo que nos atraiçoa!
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Tradução de
Manuel Bandeira
“ÚLTIMO INSTANTE”
Quero morrer ao declinar do dia.
Em alto-mar, quando vem vindo a treva;
Lá me parecerá sonho a agonia,
E a alma uma ave que nos céus se eleva.
Não ouvir nos meus últimos instantes,
A sós com o mar e o céu, humanas mágoas,
Nem mais vozes e preces soluçantes,
Senão o grave retumbar das águas.
Morrer quando, ao crepúsculo, retira
A luz as áureas redes da onda verde,
E ser como esse sol que lento expira:
Algo de luminoso que se perde.
Morrer, e antes que o tempo me destrua
Da mocidade a esplêndida coroa;
Quando inda a vida ouço dizer: sou tua.
Saiba eu embora que nos atraiçoa.
Quem quiser entender a tradução de Bandeira, seus recursos e reinvenções, deve ler o texto do mestre Anderson Braga Horta “Manuel Bandeira Tradutor de Poesia” em seu livro Criadores de Mantras – ensaios e conferências (Brasília: Thesaurus, 2007), p. 221-226
Página ampliada e republicada em janeiro de 2008.
Página publicada em novembro de 2007.
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