I
PEREGRINO
(fragmentos)
viaja do PLANETA TERRA viaja
A GALÁXIA
rondam AS ESTRELAS rondam
enquanto Deus sopra a poeira
que parece cobrir a luz do Sol
NUMA FRINCHA
CONSTEALCIÓN DE MOLÉCULAS
que contêm o todo que contêm
...
grita meu sangue / ali /
circula congelado
...
sem rastros
tomo por guia a Estrela d´Alva Matutina
/ e de noite me sonho entre AURORAS BOREAIS/
caminhando vou caminhando
...
A gargalhada franca do Buda
me toca e antecipa
no caminho de Macuiltianguis (zapoteca)
para Tónachic (rarámuri)
- são estas montanhas altíssimas antenas –
...
estou fora de mim, sem ti, saliente –
e me aparento
com a Lua LICÂNTROPA
tão grande e pesada
que parece cairá
sobre o Bolsão de Mapimi –
lobos não há
mas uivam
nas cavernas da alma
...
O que desaparece
retorna a um álveo
antanho abandonado
O que aparece pro-
cede da desaparição.
TAO
origem do princípio?
- o nada –
e a cor do nada é o
vazio
- um espaço oco
cheio de dúvidas
como o todo-
- a gestação
que se destrói /
o gesto aniquilado
e um salto microscópico
do qual a vida nasce /
a vida que vai e cai serena
do rictus ao espasmo
num círculo cercado
que vem e que vai / rondando /
em claustros com resquícios
/ encontros extraviados/
brota um fragmento menos
no mais diminuto imaginado
e pode ser, completo, o absoluto
de toda a morte acontecida.
Freqüento o mestre chinês
durante três vexes três meses
...
TAI CHI CHUAN
OM
aspiro a vida do bosque
OM
um clarão estrela-se na memória
OM
desdobro as asas da garça /
...
HOJE
sinto saudade de
HOJE
Caminho como qualquer mamífero caminha.-
II
POSTAIS
(poemas)
OCEANO PACÍFICO, ZEPOLITE
A espuma do mar estende-se rasa;
cacho de pérolas diminutas, flutuando,
desolado. Esferas que contêm nada.
...
Beleza que não torna a repetir-se,
vítima da luz do Sôo, do ar,
do movimento das ondas onde nasce...
...
Crédito que os meus olhos dão. Beleza.
Vida para morrer-se num instante.../,,,
EM IXPTEC, OAXACA
uma sombra
ganha corpo
e corre:
é um iguana.
NO TRÓPICO
mosquitos ocultos no ar
- t r a n s p a r e n t e s –
escondidos na luz,
espiam.
NOITE ESTRELADA
NA SERRA DE CHIHUAHUA
Diálogos que ladram
na noite espessa / / /
os lobos ululam / / /
Não escutas
que o ar se lamenta?
.
A realidade é uma
lâmina de barbear enferrujada
e corta meu cérebro:
descarga elétrica
que me congela.
.
/ matando a sua luz /
minh´alma cairá
como estrela fugaz
até o espaço
sem fundo.
DESERTO
O sol está em todo o ar.
Cola na pele
- até por dentro da roupa –
calcina o osso.
.
Fecho os olhos, e eis aí.
Calo-me, e é essa a palavra.
Paro de caminhar, e vem a mim
... Desaparece...
.
O céu se dissipa
e ficamos
estendidos
entre nossos braços
(orgasmo)
OLHOS DOS LOUCOS:
OLHARES de navalhas afiadas
que cortam
o abismo –
Borboletas voejando
fazem amor
sobre o meu cabelo.
.
Em Yaxchilan – selva –
não aparece a luz do Sol / / /
a luz nos chega
de tanta folhagem briverdejante.
.
neste momento
com adagas das suas garras
um leão esquarteja um cervo
(e tu não o vês)
neste momento
dois amantes trocam de pele
com o esmero de seus toques
(e tu não o vês)
neste momento
o tempo devora os momentos
JUNTO AO RIO USUMACINTA
mantos, sobre a praia,
um pestanejo de azul turquesa:
miríades de borboletas mil.
POESIA
eterno fulgor eterno
que se alimenta
de alma e do sangue
de todos os poetas
PALENQUE
na
ponta
das pirâmides
o Sol pousa sua luz
para abraçar contornos
e demonstrar a aura da vida
que na selva cintila seus raios
somo o leve pestanejar de meu coração.
.
Chovem estrelas
minúsculas na selva:
os pirilampos.
VÕO DE MORCEGO
umas palmadas
(completamente escuras)
na escuridão.
.
Enquanto ando de noite
( pelo bosque )
vejo que
a Lua passeia
entre os ramos
do pinhal.
A VERDADE
enganada pela língua
vai-se
desvanecendo em saliva.
.
Gritos e ruídos.
A cidade acorda
ou é pesadelo?
.
Nascemos cerrados
nascemos errados
nascemos ferrados
NO MAR DA CIDADE (ILHA) DEL CARMEN
Preso nas armadilhas do caminho /
a noite é densa; e o dia, mais,
muito mais denso que a noite. / .
assim, preso,
a vida esvai-se
em gotinhas
/ e todos seus pedacinhos triturados/
.
Cheguei com os olhos de ninguém,
amarrado pelo tédio, para ver
como sangrava o mar
pelos poros o mar
pelos poros da areia / e
a água marinha lavava suas feridas
como um gato que espera o alívio
lambendo as chagas do próprio câncer /
.
A mente passa
ao longo do gume de uma faca;
e o pensamento, com pavor oculto,
desmorona...
se desmorona...
E o Tao se insinua.
Laus Deo |