JAIME TORRES BODET
(1902 -1974)
Nació en la ciudad de México. Estudió en la Universidad Nacional de México la carrera de filosofía y letras. Dirigió la revista Falange (1922-1923).
Torres Bodet entró muy joven en la literatura con un libro de versos: Fervor, (1918), y siete libros precedente en su antología personal Poesías (1926) y Sin tregua (1957)
TEXTO EN ESPAÑOL / TEXTO EM PORTUGUÊS
DÉDALO
Enterrado vivo
en un infinito
dédalo de espejos,
me oigo, me sigo,
me busco en el liso
muro del silencio.
Pero no me encuentro.
Palpo, escucho, miro.
Por todos los ecos
de este laberinto,
un acento mío
está pretendiendo
llegar a mi oído.
Pero no lo advierto.
Alguien está preso
aquí, en este frío
lúcido recinto,
dédalo de espejos...
Alguien, al que imito.
Si se va, me alejo.
Si regresa, vuelvo.
Si se duerme, sueño.
"¿Eres tú?", me digo...
Pero no contesto.
Perseguido, herido
por el mismo acento
-que no sé si es mío-
contra el eco mismo
del mismo recuerdo
en este infinito
dédalo de espejos
enterrado vivo.
HUESO
Shall I compare thee to a Summer´s day?
W. SHAKESPEARE
La toque — entre la rubia
y delicada pulpa — ¿de qué fruta? —
el hueso negro y áspero al verano.
Y me sentí de pronto, ante la muda
sinceridade cruel de la semilla,
como quien halla en una tumba el nombre
de la mujer que nunca
imaginara, en vida, sustentada
por el recóndito esqueleto
— de miseria, de cólera y de tedio —
que todavia, muerta, la desnuda.
TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de Manuel Bandeira
DÉDALO
Enterrado, vivo
Em um infinito
Dédalo de espelhos
E me ouço, me sigo,
Me busco no liso
Muro do silêncio.
Porém não me encontro.
Olho, escuto, apalpo.
Por todos os ecos
O meu próprio acento
Está pretendendo
Chegar-me ao ouvido...
Porém não o advirto.
Alguém está preso
Aqui neste frio,
Lúcido recinto,
Dédalo de espelhos...
Alguém que eu imito.
Se parte, me afasto;
Se torna, regresso;
E se dorme, sonho...
Porém não respondo...
Cerrado, ferido
Pelo mesmo acento
— Meu? Não sei dizê-lo —
Contra o eco mesmo
Da mesma lembrança,
Eu nesta lembrança,
Eu neste infinito
Dédalo de espelhos
Enterrado vivo.
TRADUÇÃO DE OSVALDO ORICO
PRIMAVERA
Primavera! Primavera!
A primavera não tarda!
Já uma rosa temporã
rompeu a armadura tarda.
Já me encontrei com a leiteira
montada na mula parda...
Ah! já vem a primavera!
O campo está luminoso
como incendiado por dentro,
e a alma contempla do centro
um claro prisma de gozo
nesse campo luminoso
que está brilhando por dentro.
Primavera, primavera!
Amanheceu nos telhados.
Uma flor de primavera
está sôfrega de espera
nos tecidos esgarçados
de rosais ainda nevados
de neve suave e ligeira.
Meninos levam seus arcos
e divertem-se entre as rosas
que lhes dão matizes claros;
até o brinquedo dos arcos
é beijado pelas rosas...
Os dias despertam claros
e cheios de mariposas...
A orvalhada rosa do ano
tem colorido na rama.
Florido está o castanheiro!
A primavera é uma flama.
É tão sutil seu engano!...
Amemos enquanto este ano
conserva uma flor na rama!
Primavera, primavera!
A primavera não tarda!
Já uma rosa têmpora
rompeu a armadura tarda.
Já me encontrei com a leiteira
Montada na mula parda...
Ah! já vem a primavera...
Tradução de Antonio Miranda
OSSO
Shall I compare thee to a Summer´s day?
W. SHAKESPEARE
Eu a toquei — entre a loura
e delicada fruta — de que fruta? —
o osso negro e áspero ao verão.
E me senti, de repente, ante a muda
sinceridade cruel da semente,
como quem encontra na tumba o nome
da mulher que nunca
imaginara, em vida, sustentada
pelo recôndito esqueleto
— de miséria, de cólera e de tédio —
que mesmo morta, a desnuda.
Página publicada em fevereiro de 2008; ampliada em maio de 2017.. |