Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PÁGINA ELABORADA POR

FLORIANO MARTINS


Foto>  http://www.academia.org.mx

 

EDUARDO LIZALDE

MÉXICO (1929)

 

 

Eduardo Lizalde (Ciudad de México, 1929). Poeta, narrador y ensayista. Estudió Filosofía y música en la Universidad Nacional Autónoma de México. Es uno de los grandes exponentes de la actual poesía mexicana. Ha ocupado diversos cargos en el campo universitario, artístico y cultural. Hizo parte del grupo poético fundado en compañía de Enrique González Rojo y Marco Antonio Montes de Oca. Fue director de la Casa del Lago de la UNAM, director general de Publicaciones y Medios de la Secretaría de Educación Pública, y director de Ópera del Instituto Nacional de Bellas Artes. Actualmente dirige la Biblioteca Nacional de México. Su obra poética  iniciada con "La mala hora" en 1956, fue seguida por otras publicaciones entre las que se destacan, "Cada cosa es Babel" en 1966, "El tigre en la casa" en 1970, "La zorra enferma" en 1974, "Caza mayor" en 1979, "Tabernarios y eróticos" en 1989, "Rosas" en 1994  y "Otros tigres"  en 1995.  En 1984 le fue concedida la beca de la Fundación John Simon Guggenheim.  Su obra ha sido distinguida con importantes galardones: el Premio Xavier Villaurrutia  en 1969, el Premio Nacional de Poesía Aguascalientes en 1974, el Premio Nacional de Lingüística y Literatura en 1988,  y el Premio Iberoamericano de Poesía Ramón López Velarde en 2002.  (Fuente de la bibliografía: http://letras.s5.com

 

 

Obra poética

 

La mala hora. […] México. 1956.

La cámara. […] México. 1960.

Cada cosa es Babel. […] México. 1966.

El tigre en la casa. […] México. 1970.

La zorra enferma. Joaquín Mortiz Editor. México. 1975.

Caza mayor. […] México. 1979.

Memoria del tigre. […] Katún. 1983.

Tabernarios y eróticos. Editorial Vuelta. México. 1988.

 

 

Na idéia de beleza está implícita a ideia do horror. Qualquer outra concepção será vácua e possivelmente ingênua. Nos animais, se observarmos bem, se cumpre cabalmente esta dupla fascinação. A raposa simboliza a astúcia, é uma imagem que está presente em Blake e na Bíblia. É um animal que sempre está à distância e que ocupa sua vida em demarcar seu terreno. Cristo é, ao mesmo tempo, a imagem do tigre e do cordeiro, é o bem e é a destruição porque é, antes de tudo, a imagem terrenal de Deus. A raposa é o animal voraz, maligno, por natureza, e quando está doente, ou impossibilitada, se torna ainda mais perigosa.

[…]

Sou um cético radical. Gostaria que o homem fosse melhor, que a humanidade caminhasse para um mundo mais justo. É por isto que em Caza mayor fala do desaparecimento do homem, do tigre infernal e celestial. Desgraçadamente essa espécie está desaparecendo. Já não há tigres em Sumatra, já não há tigres na Índia, restam uns 400 em todo o planeta. E, em troca, é uma lástima que cresça a raça humana, que é muito menos bela e muito mais bestial que o tigre; prosperam os ratos e prospera a imundície ambiental. Esta ideia de extinção está tomada do Eclesiastes, que é a visão apocalíptica no sentido de que tudo haverá de terminar.

[…]

Ao reler Baudelaire topei com uma extraordinária e lúcida contribuição sua. Em um de seus textos Baudelaire indaga: “Que é a arte?” e depois de sucintas reflexões determina que a arte é desfiguração, que a arte não imita necessariamente a realidade, porque está marcada pelo enigma, daí o caráter de uma revelação. A mímesis aristotélica de certa maneira é o mesmo, ainda que Aristóteles tenha dito sob outros preceitos, ou seja, que a imitação deve ser iluminadora, já que a realidade é tão vasta que sempre oferece novas figuras. A propósito desta idéia me vem à mente algo com que lutei durante muitos anos e que era nada menos que suprimir o significado verdadeiro de uma metáfora. A princípio de contas a metáfora não abarca, como às vezes se acredita, todo o sentido que o poeta tenta lhe dar; sempre transpassa a ambiguidade e o caráter emocional que dela emana. De maneira que trabalhar somente com metáforas faz da poesia algo absolutamente tedioso. Creio que o conceito pode levar, em troca, a insuspeitados estágios da percepção.

[…]

O tom epigramático de minha poesia me economizou incontáveis investigações ensaísticas, não obstante, detrás de duas linhas epigramáticas está contida uma profunda reflexão e, quanto à imagem do tigre, o contemplador por excelência e o que atua no momento mais adequado, sigo sendo fiel ao que sua beleza ambivalente projeta: serenidade e violência, temeridade e tédio, memória e sublimação, potências que insinuam sua majestosidade e que sempre são dignas de celebrar.

 

EDUARDO LIZALDE 
(“
Las andanzas del tigre”, entrevista concedida a Daniel Sada. Revista Periódico de Poesía # 4. México, 1993.)

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL   -   TEXTOS EM PORTUGUêS

Tradução de Floriano Martins

 

 

 

GRANDE ES EL ODIO

 

1

 

Grande y dorado, amigos, es el odio.

Todo lo grande y lo dorado

viene del odio.

El tiempo es odio.

Dicen que Dios se odiaba en acto,

que se odiaba con fuerza

de los infinitos leones azules

del cosmos;

que se odiaba

para existir.

Nacen del odio, mundos,

óleos perfectísimos, revoluciones,

tabacos excelentes.

Cuando alguien sueña que nos odia, apenas,

dentro del sueño de alguien que nos ama,

ya vivimos el odio perfecto.

Nadie vacila, como en el amor,

a la hora del odio.

El odio es la sola prueba indudable

de la existencia.

 

2

 

Y el miedo es una cosa grande como el odio.

El miedo hace existir a la tarántula,

la vuelve cosa digna de respeto,

la embellece en su desgracia,

rasura sus horrores.

Qué sería de la tarántula, pobre,

flor zoológica y triste,

si no pudiera ser ese tremendo

surtidor de miedo,

ese puño cortado

de un simio negro que enloquece de amor.

La tarántula, oh Bécquer,

que vive enamorada

de una tensa magnolia.

Dicen que mata a veces,

que descarga sus iras en conejos dormidos.

Es cierto,

pero muerde y descarga sus tinturas internas

contra otro,

porque no alcanza a morder sus propios miembros,

y le parece que el cuerpo del que pasa,

el que amaría si lo supiera,

es el suyo.

 

4

 

Aunque alguien crea que el terror

no es sino el calcetín de la ternura

vuelto al revés,

sus pastos no son esos.

No están ahí los comederos

del terror.

La ternura no existe sino para Onán.

Y nadie es misericordioso

sino consigo mismo.

Nadie es tierno, ni bueno,

ni grandioso en el amor

más que para sus vísceras.

La perra sueña que da su amor al niño,

Goza amamantándolo.

Reino es la soledad de todas las ternuras.

Sólo el terror despierta a los amantes.

 

 

5

 

Para el odio escribo.

Para destruirte, marco estos papeles.

Exprimo el agrio humor del odio

en esta tinta,

hago temblar la pluma.

En estas hojas,

que escupo hasta secarme, arrojo

Todo el odio que tengo.

Y es inútil. Lo sé.

Sólo te digo una cosa:

si estas últimas líneas

fueran gotas,

serían de orines.

 

6

 

De pronto, se quiere escribir versos

que arranquen trozos de piel

al que los lea.

Se escribe así, rabiosamente,

destrozándose el alma contra el escritorio,

ardiendo de dolor,

raspándose la cara contra los esdrújulos,

asesinando teclas con el puño,

metiéndose pajuelas de cristal entre las uñas.

Uno se pone a odiar como una fiera,

entonces,

y alguien pasa y le dice:

“vete a cenar, tigrillo,

la leche está caliente”.

 

 

 

GRANDE É O ÓDIO

 

 

1

 

Grande e dourado, amigos, é o ódio.

Todo o grande e dourado

vem do ódio.

O tempo é ódio.

 

Dizem que Deus se odiava em ato,

que se odiava com a força

dos infinitos leões azuis

do cosmos;

que se odiava

para existir.

 

Nascem do ódio, mundos,

óleos perfeitíssimos, revoluções,

tabacos excelentes.

 

Quando sonha alguém que nos odeia, apenas,

dentro do sonho de alguém que nos ama,

já vivemos no ódio perfeito.

 

Ninguém vacila, como no amor,

na hora do ódio.

 

O ódio é a única prova indubitável

da existência.

 

2

 

E o medo é uma coisa grande como o ódio.

O medo faz com que exista a tarântula,

torna-a coisa digna de respeito,

a embeleza em sua desgraça,

apaga seus horrores.

 

Que seria a tarântula, pobre,

flor zoológica e triste,

não pudesse ser esse tremendo

causador de medo,

esse punho cortado

de um negro símio que enlouquece de amor.

 

A tarântula, oh Bécquer,

que vive enamorada

de uma tensa magnólia.

Dizem que às vezes mata,

que descarrega suas iras em coelhos adormecidos. É certo,

porém morde e desgarrega suas tinruras internas contra outro,

porque não alcança morder seus próprios membros,

e lhe parece que o corpo do que passa,

aquele que amaria se o soubesse,

é o seu.

 

3

 

Com seu grande olho o sol

não vê o que eu vejo.

KEATS

 

 

Se não as tivesse descoberto

partindo em dois o gato,

abrindo nozes,

remexendo pelas veias,

Deus não haveria se inteirado dessas coisas,

para sua criação ocultas,

perfeitamente ocultas.

Destas coisas terríveis

como ratos submissos

ou vidros comestíveis.

 

Outro Deus antagônico as forja,

em seu mundo gêmeo de gêmeos,

cego da cegueira,

banhado por suas nuvens de suor.

Sua segunda matéria armada em vãos.

 

E estas coisas existem sem meus olhos,

sem os olhos de Deus,

existem sozinhas,

gotas de tinta no deserto,

incriadas.

 

Deus as esquece a marteladas,

sonha em seu esquecimento,

no que não se deve a tantas imperfeições:

          e olha suas mãos sem polegares.

 

4

 

Mesmo que alguém creia que o terror

não é senão o coturno da ternura

virado pelo avesso,

seus pastos não são esses.

Não estão ali os comedouros

do terror.

 

A ternura não existe senão para Onã.

E ninguém é misericordioso

senão consigo mesmo.

 

Ninguém é terno, nem bom,

nem grandioso no amor

mais do que para suas vísceras.

A cadela sonha que dá seu amor ao filho,

goza amamentando-o.

Reino é a solidão de todas as ternuras.

Somente o terror desperta os amantes.

 

5

 

Para o ódio escrevo.

Para destruir-te, marco estes papéis.

Exprimo o ácido humor do ódio

nesta tinta,

faço tremer a pluma.

 

Nestas folhas,

que esculpo até secar-me, jogo

todo o ódio que tenho.

E é inútil. Bem sei.

Só te digo uma coisa:

se estas últimas linhas

fossem gotas,

seriam de urina.

 

 

 

 

MEU CORPO ANDAVA EM RUÍNAS

 

Vil coisa o corpo,

estilhaços,

quando encalha em seus vãos.

Falto de assuntos,

esgotado o jardim de seu tesouro.

A sarna das heras devora

os corredores,

os furúnculos crescem junto aos pêssegos.

Jovens ruínas junto a velhos cães mofam.

Pedreiros ativos,

demolições da alma a domicílio.

 

O corpo em destruição junto aos ancoradouros,

barco senil, o corpo destroçado em construção.

  O corpo esfarrapado pelas próprias mãos,

rasgado pelas próprias presas,

afogado na taça do próprio sangue,

por uma tormenta azul

do grifo na cozinha.

  O miserável corpo entrado em séculos,

posto na adolescência de suas ruínas,

entrado no bazar, oh teóricos,

dos trastes pensantes,

no mercado de pulgas dos corpos.

  A pátina do corpo, como a caspa dos edifícios,

somando fuligem ao ouro sem sustento.

 

 

LA CIUDAD HA PERDIDO SU BEATRIZ

 

He is a portion of the loveliness

which once he made more lovely.

Shelley

 

1

 

¡Ay, flores, brezos, castañas, dulces nueces,

dátiles y violetas,

gladiolas descreídas!

¿Por qué existir ahora,

si está muerta la flor,

la flor de flores?

 

¿Cómo, manjares,

tener sabor en lengua imaginable

si ya no existe el sol de los sabores?

 

¿De qué manera, olivos,

dar verde gozo al paladar discreto,

si el paladar murió con ella?

 

2

 

Oh muerte, ¿qué ha de morir de ti,

qué carne dañarás de muerte,

qué has de matar si ella está muerta?

 

¿Qué cosa ha de ser cosa

tras su muerte?

¿Qué dolor dolerá

si ella no duele?

 

3

 

Viva, era muerte,

y ahora, que no vive,

cincuenta veces muerte.

 

¿Quién era ella?

¿Cómo llorar así?

¿Cómo sufrir

por su maligna muerte?

¿No estaba muerta ya,

no andaba, en vida, muerta?

 

4

 

Su misma muerte pura

fue una traición de perra sin entrañas.

¡Por qué morir la perro!

¿Cómo, antes de ser creada

—antes de Dios—

morir a manos propias la creatura?

 

5

 

Si perra innoble fue, si diosa cruenta

¿a qué llorar su muerte?

Sangre vertió, desmembró cuerpos,

vendió a los cerdos carnes

en perlas cocinadas,

destejió obsidianas

para tejer con ellas

excrecencias de chivo.

¿Por qué llorar entonces?

 

6

 

Liebres que hubieron hierbas en sus muslos

de felino salvaje

fueron de corta vida,

y largos perdigueros,

halcones que en su vientre

cazaron aves deliciosas

no levantaron nunca

el tallo de su vuelo.

 

¿Qué llanto ha de valer entonces'

 

7

 

Perra sin límites

que corrompió a su paso la tierra

con su hirviente orina,

que al dogo fiel dio vástagos de puerca

y que agrietó las calles al andar,

cloaca ambulante ¿a qué llorar por ella?

 

8

 

¡Grandes hetairas,

qué pequeñas sois junto a ella!

qué despreciables,

qué puras.

Cuánto y qué poco

junto a la perra enorme,

que ahora muere sola y deja, viles,

como sombra florida o manto rubio,

prados detrás,

torpes jardines

que no conocen ya el camino

hacia las fuentes,

rotondas que suspenden

el viaje alrededor de sus rosales,

volantín o tiovivo —ay españoles—

de rosas muertas y colores vivos.

 

9

 

Ella murió, Dios mío.

¿De qué manera han de vivir los otros?

¿Cómo vivir, si ha muerto?

¿De dónde leña ha de tomar el hacha

si a cada tajo

el árbol vuelve a la semilla?

 

10

 

Árbol de arena estéril,

antorcha horrenda en llamas hasta el puño,

¡qué frutos dio, qué gemas, oh Dionisos!

Si lagartija fue, ¡qué pavos,

qué lechones salieron de su vientre!

Si leona ¡qué perdices del tacto,

qué gulas del amor hubo en sus alas!

 

11

 

He metido este sueño

en el triturador de la cocina.

Reconozco la distancia

el ruido de tus huesos que se rompen

como nueces tiernas;

el eco de tu voz contra las muelas;

de hierro y las cuchillas,

las distensiones de los nervios

que escapan al molino

como peces en sangre.

Pero el sueño impiadoso resucita,

se conforma en el caño,

se destritura halando ferozmente

la manivela del tiempo hacia otros aires,

Vuelve el sueño a soñarse

como en su primera infancia;

y tiene

la paleontología licuosa

de lo no vertebrado.

Lo desueño otra vez en el triturador,

que abre las fauces hogareñas

de laborioso tigre,

y el sueño, lento, vuelve.

 

12

 

¿Cómo expulsar del sueño

el sueño tuyo, amada?

¿Cómo cerrar las puertas del sueño,

a toda forma viviente?

¿Cómo estorbar la marcha

del tigre desgarrado,

con parapetos de neblina?

¿Cómo impedir el paso

de estas sólidas fieras

a la juguetería vaga del sueño?

¿Cómo escapar de un tigre

que crece al avanzar cuando lo sueñan

como la mole de nieve en la colina?

 

13

 

¡Ay Prometeo! Ya miro bien tus fieras

y entrañas nutritivas.

Termina el túnel del sueño cotidiano,

pero irrumpe a una luz más deslucida

que el negror de los sueños.

 

Tumba es la luz y lápida del sueño

sepultado en el pecho como una gallinaza

que golpea por dentro en la vigilia

y vuela al fondo abriendo carnes con sus ganchos

cuando duermo.

Y ella está muerta ahí,

en la coyuntura de sueño y luz,

con una muerte activa

de perra que va y viene por su jaula,

del sueño al mundo, del mundo al sueño,

comiéndome las vísceras

como una eterna goma de mascar.

 

14

 

¡Murió la perra, oh Dios!

Su muerte ha sido la más sucia trampa;

late en redor, atmósfera de púas,

se cierra sobre mí.

 

Su muerte ajena,

su muerte a propias garras y colmillos,

frustró mi mano,

congeló estos odios hambrientos para siempre,

condenó esta daga a la inocencia.

 

Murió la perra impune y nadie

la habrá de rescatar del césped blanco

en que hoy retoza,

y no despertará del sueño sin raíces

que ata su fronda infame al cuerpo.

 

(El tigre en la casa, 1970)

 

 

A CIDADE PERDEU SUA BEATRIZ

 

 

He is a portion of the loveliness

which once he made more lovely.

 

SHELLEY

 

I

 

Ah flores, urzes, castanhas, doces nozes,

tâmaras e violetas,

gladíolos desacreditados!

Por que existir agora,

se está morta a flor,

a flor de flores?

 

Como, manjares,

ter sabor em língua imaginável

se já não existe o sol dos sabores?

 

De que maneira, oliveiras,

dar verde gozo ao paladar discreto,

se o paladar morreu com ela?

 

II

 

Oh morte, que há de morrer de ti,

que carne danificarás de morte,

que hás de matar se ela está morta?

 

Que coisa há de ser coisa

após sua morte?

Que dor doerá

se ela não dói?

 

III

 

Viva, era morte,

e agora, que não vive,

cinqüenta vezes morte.

 

Quem era ela?

Como chorar assim?

Como sofrer

por sua maligna morte?

Não estava morta já,

não andava, em vida, morta?

 

IV

 

Sua própria morte pura

foi uma traição da cadela sem entranhas.

Por que morrer a cadela sem o cão!

Como, antes de ser criada

- antes de Deus -

morrer pelas própria mãos a criatura?

 

V

 

Se foi ignóbil cadela, se deusa cruenta,

para que chorar sua morte?

Sangue verteu, desmembrou corpos,

vendeu carne aos porcos

em pérolas cozinhadas,

desmanchou obsidianas

para com elas tecer

excrescências de cabrito.

 

Por que chorar então?

 

VI

 

Lebres que foram ervas em suas coxas

de felino selvagem

foram de curta vida,

e longos perdigueiros,

falcões que em seu ventre

caçaram aves deliciosas

não levantaram nunca

o talho de seu vôo.

 

Que pranto há de valer então?

 

VII

 

Cadela sem limites

que a seu passo corrompeu a terra

com sua fervente urina,

que ao dogue fiel deu rebentos de porca

e que fendeu as ruas ao andar,

cloaca ambulante, para que chorar por ela?

 

VIII

 

Grandes heteras,

que pequenas sois junto a ela!

que desprezíveis,

que puras.

Quanto e que pouco

junto à cadela enorme,

que agora morre solitária e deixa, vis,

como sombra florida ou manto ruivo,

prados atrás,

torpes jardins

que já não conhecem o caminho

até as fontes,

templos que suspendem

a viagem ao redor de suas roseiras,

volatim ou carrossel – ah espanhóis -

de rosas mortas e cores vivas.

 

IX

 

Ela morreu, Deus meu,

de que maneira viverão os outros?

Como viver, se morreu?

De onde há de tomar lenha o machado

se a cada talho

a árvore volta à semente?

 

X

 

Árvore de areia estéril,

facho horrendo em chamas até o punho,

que frutos deu, que gemas, oh Dionisos!

Se lagartixa foi, que pavões,

que leitões saíram de seu ventre!

Se leoa, que perdizes do tato,

que gulas do amor houve em suas asas!

 

XI

 

Meti este sonho

no triturador da cozinha.

Reconheço à distância

o ruído de teus ossos que se rompem

como ternas nozes;

o eco de tua voz contra as mós

de ferro e as facas,

as distensões dos nervos

que escapam ao moinho

como peixes em sangue.

Porém o sonho impiedoso ressuscita,

se ajusta no cano,

se destritura içando ferozmente

a manivela do tempo até outros ares.

Volta o sonho a sonhar-se

como em sua primeira infância;

e tem

a paleontologia liqüosa

do não vertebrado.

O dessonho outra vez no triturador,

que abre a garganta afoguenta

de laborioso tigre,

e o sonho, lento, retorna.

 

XII

 

Como expulsar do sonho

o sonho teu, amada?

Como fechar as portas do sonho

a toda forma vivente?

Como impedir a marcha

do tigre desgarrado,

com parapeitos de neblina?

Como impedir o passo

destas sólidas feras

para o armarinho vago do sonho?

Como escapar de um tigre

que cresce ao avançar quando o sonham

como a bola de neve na colina?

 

XIII

 

Ah Prometeu! Já vejo bem tuas feras

e entranhas nutritivas.

Termina o túnel do sonho cotidiano,

porém irrompe para uma luz mais desluzida

que o negror dos sonhos.

 

Tumba é a luz e lápide do sonho

sepultado no peito como um abutre

que golpeia por dentro na vigília

e voa ao fundo abrindo carnes com seus ganchos

quando durmo.

E ela está morta, ali,

na conjuntura de sonho e luz,

com uma morte ativa

de cadela que vai e vem por sua jaula,

do sonho ao mundo, do mundo ao aonho,

comendo-me as vísceras

como uma eterna gome de mascar.

 

XIV

 

Morreu a cadela, oh Deus!

Sua morte foi o mais sujo ardil;

gane ao redor, atmosfera de puas,

se fecha sobre mim.

Sua morte alheia,

sua morte pelas próprias garras e presas,

frustrou minha mão,

congelou estes ódios famintos para sempre,

condenou esta adaga à inocência.

 

Morreu a cadela impune e ninguém

poderá resgatá-la da relva branca

em que hoje traquina,

e não despertará do sonho sem raízes

que ata sua fronde infame ao corpo.

 

 

 

OS PUROS

 

A maior pureza é abjeção.

Não há dúvida.

Porém, consolo, oh puros:

Tampouco os abjetos e os vis

o são de todo.

Às vezes cheiram rosas

e acariciam cordeiros com sinceridade

ou beijam crianças

e dão sua vida pela Revolução.

 

 

 

PIE DE PÁGINA

 

Dice Painter que Proust pasó en su casa
una infernal, terrible temporada
de cierto culto al “buen gusto”,
pero en los últimos años, llenaba las estancias
con objetos horrendos, aunque amados, deformes
y sagrados, que hablaban de sus muertos,
de su infancia, de su tiempo perdido.

El que no puede, con su carne y humores, llenar su casa,
suele salir con frecuencia a las cantinas
―en otro tiempo espléndidas―,
del centro y de los aledaños de esta errática ciudad.

Pero, si es triste abstemio,
suele también infestarla con cosas de otros mundos,
que desbordan estantes
y estorban la visión de los libreros
en la pobre morada, que es casa del ausente.
Y una casa, sólo se colma con el que la habita.
Una casa es un alma que habita en su habitante.
Las preconstruidas bellezas ―austeras o suntuosas―,
sólo son galerías de almas ajenas,
guardarropa prestado.
Y los poemas son como las casas:
tienen que estar habitados para ser poemas.

 

 

 

(De Tabernáculos y eróticos, 1988)

 

 

 

PÉ DE PÁGINA

 

Para o arquiteto Francisco Javier Cossio, leitor de Proust, no nonagésimo aniversário de Os prazeres e os dias.

 

Diz Painter que Proust passou em sua casa

uma infernal, terrível temporada

de certo culto ao “bom gosto”,

porém nos últimos anos, enchia as estâncias

com objetos horrendos, ainda que amados, deformes

e sagrados, que falavam de seus mortos,

de sua infância, de seu tempo perdido.

 

Aquele que não pode, com sua carne e humores,

encher sua casa,

costuma sair com freqüência às cantinas

- em outro tempo esplêndidas -,

do centro e dos confins desta errática cidade.

 

Porém, se é triste abstêmio,

costuma também infestá-la com coisas de outros mundos,

que transbordam estantes

e impedem a visão dos livreiros

na pobre morada, que é casa do ausente.

 

E uma casa só se enche com o que a habita.

Uma casa é uma alma que habita em sua habitante.

As pre-construídas belezas – austeras ou suntuosas -,

apenas são galerias de almas alheias,

guarda-roupa emprestado.

E os poemas são como as casas:

devem estar habitados para ser poemas

 

 

Esta página integra a edição brasileira acervo inédito de Mundo mágico - Uma antologia crítica da poesia hispano-americana no século XX. Organização, tradução e notas de Floriano Martins. Cedida pelo Projeto Editorial Banda Hispânica: www.jornaldepoesia.jor.br/BHBHportal.htm.

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL  - TEXTOS EM PORTUGUêS
Tradução de Antonio Miranda

 

 

LIZALDE, Eduardo.  Poemas.  Monterrey. Nuevo León: Consejo Nacional para la Cultura y las Artes: Instituto Nacional de Bellas Artes: Consejo parfa la Cultura y las Artes de Nuevo León: Sociedad Alfonsina Internacional: Tecnológico de Monterrey: Universidad Autónoma de Nuevo León: Universidad de Monterrey: Universidad Regiomontana, 2011.  43 p.  (Poesía mexicana – Siglo XX) “Premio Internaiconal Alfonso Reyes, 2011”. 

 

 

El tigre

 

HAY UN TIGRE en la casa
que desgarra por dentro al que lo mira.
Y sólo tiene zarpas para el que lo espía,
y sólo puede herir por dentro,
y es enorme:
más largo y más pesado
que otros gatos gordos
y carniceros pestíferos
de su espécie,
y pierde la cabeza con facilidad,
huele la sangre aun a través dei vidrio,
percibe el miedo desde la cocina
y a pesar de las puertas más robustas.

Suele crecer de noche:
coloca su cabeza de tiranosaurio
en una cama
y el hocico le cuelga
más allá de las colchas.
Su lomo, entonces, se aprieta en el pasillo,
de muro a muro,
y solo alcanzo el baño a rastras, contra el techo,
como a través de un túnel
de lodo y miel.

No miro nunca la colmena solar,
los renegridos panales del crimen
de sus ojos,
los crisoles de saliva emponzoñada
de sus fauces.

Ni siquiera lo huelo,
para que no me mate.

Pero sé claramente
que hay un inmenso tigre encerrado
en todo esto.

 

 

O TIGRE

Tem um tigre em casa
que desgarra por dentro a quem o mira.
E só tem garras para quem o espia,
e só pode ferir por dentro,
          e é enorme:
maior e mais pesado
que outros gatos gordos
e carnívoros pestilentos
de sua espécie,
e perde a cabeça com facilidade,
cheira a sangue mesmo através do vidro,
percebe o medo desde a cozinha
          apesar das portas mais robustas.

Pode crescer de noite:
coloca a cabeça de tiranossauro
numa cama
e o focinho dependurado
detrás da colcha.
Sua lombada, então aperta-se no corredor,
de parede a parede.

Não olho nunca a colmeia solar,
os retintos favos do crime
de seus olhos,
os crisóis de saliva envenenada
de sua cara.

Nem mesmo cheiro-o
para que não me mate.

          Mas sei perfeitamente
que há um imenso tigre encerrado
em tudo isso.

 

 

 

 

QUE TANTO y tanto amor se pudra, oh dioses;

que se pierda

tanto increíble amor.

Que nada quede, amigos,

de esos mares de amor,

de estas verduras pobres de las eras

que las vacas devoran

lamiendo el otro lado del césped,

lanzando a nuestros pastos

las manadas de hidras y langostas

de sus lenguas calientes.

 

Como si el verde pasto celestial,

el mismo océano, salado como arenque,

hirvieran.

Que tanto y tanto amor

y tanto vuelo entre unos cuerpos

al abordaje apenas de su lecho, se desplome.

 

Que una sola munición de estaño luminoso,

una bala pequeña,

 

un perdigón inocuo para un paro,

derrumbe al mismo tiempo todas las bandadas

y desgarre el cielo con sus plumas.

 

Que el oro mismo estalle sin motivo.

Que un amor capaz de convertir al sapo en rosa

se destroce.

 

Que tanto y tanto, una vez más, y tanto,

tanto imposible amor inexpresable,

nos vuelva tontos, monos sin sentido.

 

Que tanto amor queme sus naves

antes de llegar a tierra.

 

Es esto, dioses, poderosos amigos, perros,

niños, animales domésticos, señores,

lo que duele.

 

 

 

QUE TANTO E TANTO amor apodreça, oh, deuses,
que se perda
tanto amor incrível.
Que nada reste, amigos,
desses mares de amor,
destas verduras pobres arbóreas
que as vacas devoram
lambendo o outro lado da grama,
lançando em nossos pastos
as manadas de hidras e lagostas
de suas línguas ardentes.

Como se o verde pasto celestial,
o próprio oceano salgado como arenque,
fervessem.
Que tanto e tanto amor
e tanto voo entre uns corpos
na abordagem apenas de seu leito, se desmorone.

Que uma única munição de estanho luminoso,
uma bala diminuta,
um chumbo inútil para um pato,
derrube ao mesmo tempo todas as revoadas
e desgarre o céu com suas plumas.

Que algum outro estoure sem motivo.
Que o amor capaz de transformar um sapo em rosa
se desfaça.

Que tanto e tanto, um vez mais, e tanto,
tanto impossível amor inexpressável,
nos deixe tolos, micos sem sentido.

Que tanto amor queime suas caravelas
antes de chegar à terra.

    Assim seja, deuses, poderosos amigos, cães,
    crianças, animais domésticos, senhores
o que lastima.

 

 

Autógrafo no livro de Eduardo Lizalde em que destaca a participação de Antonio Miranda no Festival Las Lenguas de América, na UNAM, em 2012: “Para Antonio Miranda con el gusto de escuchar su espléndida lectura y la amistad de Eduardo Lizalde. C. Universitária, México, octubre 11 del 2012.”

 

 

 

 

Página (em construção) publicada em junho de 2012. ampliada e republicada em outubro de 2012.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar