AMADO NERVO
(México, 1870-1919. Obras: Poemas, 1901; Serenidad, 1914;
Elevación, 1916; Plenitud, 1918; La Amada Inmóvil, 1920.)
TEXTO EN ESPAÑOL y/e TEXTO EM PORTUGUÊS
EN PAZ
Muy cerca de mi ocaso, yo te bendigo, Vida,
porque nunca me diste ni esperanza fallida
ni trabajos injustos, ni pena inmerecida.
Porque veo al final de mi rudo camino
que yo fuí el arquiteto de mi propio destino;
que si extraje las mieles o la hiel de las cosas
fué porque en ellas puse hiel o mieles sabrosas:
cuando planté rosales, coseché siempre rosas.
Cierto, a mis lozanías va a seguir el invierno;
¡mas tu no me dijiste que Mayo fuese eterno!
...Hallé sin duda largas las noches de mis penas;
mas no me prometiste tú solo noches buenas;
y en cambio tuve algunas santamente serenas...
Amé, fuí amado, el sol acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida, estamos em paz!
METAFISIQUEOS
¡De qué sirve al triste la filosofía!
Kant o Schopenhauer o Nietzche o Bergson...
¡Metafisiqueos!
En tanto, Ana mía,
te me has muerto, y yo no sé todavía
dónde ha de buscarte mi pobre razón.
¡Metafisiqueos, pura teoría!
¡Nadie sabe nada de nada: mejor
que esa pobre ciencia confusa y vacía,
nos alumbra el alma, como luz del día,
el secreto instinto del eterno amor!
No ha de haber abismo que ese amor no ahonde,
y he de hallarte. ¿Dónde? ¡No me importa dónde!
¿Cuándo? No me importa..., ¡pero te hallaré!
Si pregunto a un sabio, "¡Qué sé yo!", responde.
Si pregunto a mi alma, me dice: "¡Yo sé!"
ALQUIMIA
Bien sé que para verte
he menester la alquimia de la muerte
que me transmute en alma, y delirante
de amor y de ansiedad, a cada instante
que llega, lo requiero
diciéndole: "Ah, si fueses tú el postrero!"
Es tan desmesurado, tan divino
y tan hondo el futuro que adivino
a través de las rutas estelares,
y de uno en otro de los avatares,
siempre contigo, noble compañera,
que por poder morir, ¡ay, qué no diera!
TAL VEZ...
Tal vez ya no le importa mi gemido
en el indiferente edén callado
en que el espíritu desencarnado
vive como dormido...
Tal vez ni sabe ya cómo he llorado
ni cómo he padecido.
En profundo quietismo,
su alma, que antes me amara de tal modo,
se desliza glacial por ese abismo
del eterno mutismo,
olvidada de sí, de mí, de todo...
MÁS YO QUE YO MISMO
¡Oh, vida mía, vida mía!,
agonicé con tu agonía
y con tu muerte me morí.
¡De tal manera te quería,
que estar sin ti es estar sin mí!
Faro de mi devoción,
perenne cual mi aflicción
es tu memoria bendita.
¡Dulce y santa lamparita
dentro de mi corazón!
Luz que alumbra mi pesar
desde que tú te partiste
y hasta el fin lo ha de alumbrar,
que si me dejaste triste,
triste me habrás de encontrar.
Y al abatir mi cabeza,
ya para siempre jamás,
el mal que a minarme empieza,
pienso que por mi tristeza
tú me reconocerás.
Merced al noble fulgor
del recuerdo, mi dolor
será espejo en que has de verte,
y así vencerá a la muerte
la claridad del amor.
No habrá ni coche ni abismo
que enflaquezca mi heroísmo
de buscarte sin cesar.
Si eras más que yo mismo,
¿cómo no te he de encontrar?
¡Oh, vida mía, vida mía,
agonicé con tu agonía
y con tu muerte me morí!
De tal manera te quería,
que estar sin ti es estar sin mí.
QUIÉN SABE POR QUÉ!
Perdí tu presencia,
pero la hallaré;
pues oculta ciencia
dice a mi conciencia
que en otra existencia
te recobraré.
Tú fuiste en mi senda
la única prenda
que nunca busqué;
llegaste a mi tienda
con tu noble ofrenda,
¡quén sabe por qué!
¡Ay!, por cuánta y cuánta
quimera he anhelado
que jamás logré...,
y en cambio, a ti, santa,
dulce bien amado,
te encontré a mi lado,
¡quién sabe por qué!
Viniste, me amaste;
diez años me amaste;
diez años llenaste
mi vida de fe,
de luz y de aroma;
en mi alma arrullaste
como una paloma,
¡quién sabe por qué!
Y un día te fuiste:
¡Ay triste!, ¡ay triste!;
pero te hallaré;
pues oculta ciencia
dice a mi conciencia
que en otra existencia
te recobraré.
SILENCIOSAMENTE
Silenciosamente miraré tus ojos,
silenciosamente cogeré tus manos,
silenciosamente,
cuando el sol poniente
nos bañe en sus rojos
fuegos soberanos,
posaré mis labios en tu limpia frente,
y nos besaremos como dos hermanos.
Ansío ternuras castas y cordiales,
dulces e indulgentes rostros compasivos,
manos tibias...¡tibias manos fraternales!
ojos claros....¡claros ojos pensativos!
Ansío regazos que a entibiar empiecen
mis otoños, almas que con mi alma oren,
labios virginales que conmigo recen;
diáfanas pupilas que conmigo lloren.
NERVO, Amado. Poemas selectos de Amado Nervo. Selección Enrique González Martínez. Ciudad de México: Frente de Afirmación Hispanista, 2015. 175 p. 14x21 cm. Portada: Amado Nervo, grabado publicado en 1920. Ex. bibl. Antonio Miranda
AUTOBIOGRAFÍA
Versos autobiográficos? Ahí están mis canciones,
allí están mis poemas: yo, como las naciones
venturosas y a ejemplo de la mujer honrada,
no tengo historia. ¡Nunca me ha sucedido nada,
oh noble amiga ignota, que pudiera contarte!
Allá en mis años mozos, adivinhe del Arte
la harmonía y el ritmo, caros al Musageta,
¿y, pudiendo ser rico, preferí ser poeta!
—¿Y después?
—He sufrido como todos y he amado.
—¿Mucho?
—Lo suficiente para ser perdonado...
De Serenidad
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TEXTOS EM PORTUGUÊS
AUTOBIOGRAFIA
Versos autobiográficos? Aí estão minhas canções
ali estão meus poemas: eu, como as nações
venturosas e no exemplo da mulher honrada,
não tenho história. Nunca aconteceu comigo nada,
ó nobre amiga ignota, que pudesse contar-te!
Lá nos meus anos moços, adivinho da Arte
a harmonia e o ritmo, caros ao Muságeta,
e, podendo ser rico, preferi ser poeta!
—E depois?
—Sofri como todos e amei.
—Muito?
—O suficiente para ser perdoado...
Tradução: Antonio Miranda
EM PAZ
Tradução de Anderson Braga Horta
Perto do meu ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança falida
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo no fim de meu rude caminho
que fui eu o arquiteto de meu próprio destino;
que se os méis ou o fel eu extraí das cousas
foi que nelas pus mel ou biles amargosas:
quando plantei roseiras, não colhi senão rosas.
Às minhas louçanias vai suceder o inverno;
mas tu não me disseste que maio fosse eterno!
Julguei sem fim as longas noites de minhas penas;
mas não me prometeste noites boas apenas,
e, afinal, tive algumas santamente serenas...
Amei e fui amado, o sol beijou-me a face.
Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!
EM PAZ
(2.ª versão)
Perto do meu ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança falida
nem injusto trabalho ou pena imerecida;
porque, chegando ao fim de minha rude estrada,
vejo que arquitetei minha própria jornada;
que se os méis ou o fel eu extraí das cousas
foi que nelas pus mel ou biles amargosas:
se roseiras plantei, não colhi senão rosas.
Às minhas florações vem já render o inverno;
mas não te ouvi dizer que maio fosse eterno!
Longas noites velei em meio a acerbas penas;
mas quem me prometeu noites boas apenas?
E algumas tive, enfim, santamente serenas...
Sorriu-me o sol, amei e fui amado assaz.
Nada me deves, pois: Vida, estamos em paz!
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A AMADA IMÓVEL
São Paulo: Ateniense, 1995.
Tradução de Ivan Doretto
(selecta)
METAFISIQUICES
De que serve ao triste a tal filosofia!
Kant ou Schopenhauer ou Nietzsche ou Bérgson...
Metafisiquices! Porém, por meu mal,
partiste. Ana cara, e não sei todavia
onde há de buscar-te meu ser racional.
Metafisiquices, pura teoria!
Ninguém sabe nada de nada: melhor
que essa pobre ciência confusa e vazia,
nos aquece a alma como a luz do dia
o secreto instinto do eternal amor!
Não existe abismo que este amor não sonde –
e hei de achar-te. Onde? Não me importa onde!
Quando? Não me importa, mas te encontrarei!
Se pergunto a um sábio, “Que sou eu!” – responde –
Se a alma me interrogo, ela me diz: “Eu sei!”
ALQUIMIA
Pra te ver, acredito
que a alquimia da morte é requisito,
que me transmude em alma, e delirante
de amor e de ansiedade, cada instante
que chega, e o requeiro
dizendo: “Ah! fosses tu o derradeiro!”
É tão desmesurado, tão risonho,
tão profundo o futuro que suponho
por todos os caminhos estelares,
e através de um em um dos avatares,
sempre contigo, amiga mais sincera,
que por poder morrer, quanto não dera!
TALVEZ
Talvez já não lhe importe meu gemido
lá nesse indiferente Éden calado
no qual o espírito desencarnado
vive como dormido...
Talvez nem saiba o que tenho chorado
e o que tenho sofrido.
Em profundo quietismo,
sua alma, que antes me amara sobretudo,
já desliza glacial por esse abismo
de perpétuo mutismo,
esquecida de si, de mim, de tudo...
MAIS DO QUE EU MESMO
Oh vida minha, vida minha,
agonizei com tua agonia
e com tua morte faleci.
De tal maneira te queria
que é estar sem mim o estar sem ti!
Farol da minha devoção,
perene qual minha aflição
é tua memória peregrina.
Santa e doce lamparina
Dentro do meu coração!
Luz que alumbra o meu pesar
desde que tu partiste
e há de sempre alumiar,
que, se me deixaste triste,
triste me haverás de achar.
E ao ceifar minha cabeça
para nunca, nunca mais,
o mal que a minar começa,
sei que por minha tristeza
tu me reconhecerás.
Mercê do nobre fulgor
da lembrança, minha dor
será espelho em que hás de ver-te,
e vencerá pois à morte
a claridade do amor.
Não há noite nem abismo
que enfraqueça meu heroísmo
de buscar-te sem cessar.
Se tu eras mais do que eu mesmo,
como não te hei de encontrar?
Oh vida minha, vida minha!
Agonizei com tua agonia
e com tua morte faleci.
De tal maneira te queria
que é estar sem mim o estar sem ti.
QUEM SABE POR QUÊ
Perdi tua presença
mas a encontrarei,
pois oculta ciência
diz-me à consciência
que em outra existência
te recobrarei.
Foste em minha senda
a única prenda
que nunca busquei;
vieste à minha tenda
com nobre oferenda.
Quem sabe por quê!
Tenho quanta e quanta
quimera buscado,
que jamais logrei...
e a ti, minha santa,
meu bem adorado,
te encontrei ao lado,
quem sabe por quê!
Tu vieste, me amaste;
dez anos marcaste
meus dias de fé,
de luz e perfume;
minh’ alma banhaste
com teu suave lume,
quem sabe por quê!
... E um dia partiste,
ai, triste! que triste!
... Mas te encontrarei;
pois oculta ciência
diz-me à consciência
que em outra existência
te recobrarei.
JOIAS DA POESIA HISPANO AMERICANA. org. ORICO, Osvaldo. Lisboa: Livraria Bertrand, 1945. 229 p. 12x19 cm.
SILENCIOSAMENTE
Fitarei os teus olhos em silêncio,
tomarei em silêncio as tuas mãos,
silenciosamente,
quando o sol-poente
nos banhe em seus vermelhos
raios soberanos,
pousarei minha boca em tua fronte
e assim nos beijaremos como irmãos.
Quero ternuras castas e cordiais,
rostos que sejam doces, compassivos,
mãos líricas, discretas, fraternais!
olhos claros, uns olhos pensativos.
Quero regaços onde, ao lume aceso,
encontre na velhice a paz dos oratórios:
lábios virgens que rezem como eu rezo
e pupilas que chorem como eu choro.
PÉROLAS NEGRAS
XXXIV
— Cala-te! — disse, pousando
a mão sobre minha boca.
—Eu esquecer-te? Primeiro
a luz se mudara em sombras,
perdera o mar seus rumores,
e o rosal não dera rosas!
Passados já alguns anos,
a luz inda os campos doura,
as ondas gemendo expiram,
flores de nácar adornam
o rosal... minha lembrança
se lhe varreu da memória!
EM PAZ
Já bem perto do ocaso, eu te bendigo. Vida,
porque nunca me deste esperança falida,
nem trabalhos cruéis, nem pena imerecida.
Porque vejo, ao final de meu rude caminho,
que fui o construtor do meu próprio destino;
que, se extraí o mel ou o fel das rosas,
foi porque nelas pus ambas as coisas:
quando plantei rosais, eu sempre colhi rosas.
Por certo ao meu prazer se vai seguir o inverno;
não disseste jamais que Maio fosse eterno.
Esperam-me, decerto, as noites de agonia;
não prometeste só vigílias de alegria,
e eu tive noites perfumadas de poesia.
Amei e amado fui. O sonho tem limites.
Nada me deves, Vida. Ó Vida, estamos quites!
REVISTA DE POESIA E CRÍTICA No. 6 – Brasília – São Paulo – Rio -
Setembro 1979 Diretor José Jezer de Oliveira. 120 p.
Ex. doação do livreiro Brito – DF
Tradução de WALDEMAR LOPES:
A BRUMA
A bruma é o sonho da água que se esfuma
em leve gris. Tu ignoras a essência da bruma!
A bruma é o sonho da água, e volta, em seu anseio
de imaterializar-se, ao sonho de onde veio.
Através de seu véu mirífico, parece
que tudo os que é matéria bruta se esvanece:
a torre é um fantasma de fluidez que pasma,
E tudo, em gaze envolto, assemelha um fantasma;
até o homem que cruza a sua zona quieta
se converte em fantasma, isto é, em silhueta.
A bruma é o sonho da água que se esfuma
em leve gris. Tu ignoras a essência da bruma,
dessa bruma que sonha auroras no amanhã.
— Glorifiquemos Deus — eu digo — ó bruma irmã!
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Página atualizada e republicada em fevereiro de 2023
Página republicada em novembro de 2007, ampliada e republicada em julho de 2015.
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