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 LUIS CERNUDA(1902-1963)
 
 Era  o filho caçula de um militar que impunha na educação dos filhos a mesma  disciplina rígida e intransigente dos quartéis. Desde cedo, esses valores,  entraram em choque com a natureza tímida e retraída de Cernuda. Em  1919, começou a estudar Direito na Universidade de Sevilha onde conheceu a  Pedro Salinas, seu professor, que lhe introduziu no mundo literário. Mudou-se  para Madrid e ali, entrou em contato com os ambientes literários do que logo  viria a ser chamado a "Geração de 27". Foi em 1927, que publicou sua  primeira obra "Perfil Del Aire". Suas  principais influências procederam de autores românticos como Keats e Bécquer  entre outros. Durante  um ano, trabalhou como leitor de espanhol na Universidade de Toulouse onde,  começou a escrever os poemas de seu livro "Un rio, un amor" (1929). Quando  foi proclamada a República, a recebeu com ilusão e sempre se mostrou disposto a  colaborar com tudo o que significasse buscar uma Espanha mais tolerante,  liberal e culta. Em 1934, publicou "Donde Habite el olvido". Durante  a Guerra Civil, participou ativamente, desde as trincheiras culturais como na  fundação da revista "Hora de España", junto com poetas como Alberti  ou Gil Albert ou como na participação do "II Congreso de Intelectuales  Antifascistas" realizado em Valencia. Em  1938 seguiu até a Inglaterra para a realização de algumas conferências, porém  não regressou mais a seu país começando assim, seu triste exílio. O primeiro  livro a ser publicado no exílio foi "Las Nubes", em 1940. Em  1947, conseguiu uma cadeira de professor na Universidade americana de Mount  Holyoke onde permaneceu até 1952 quando se mudou para o México. Em 1956  publicou "Con las Horas Contadas" e em 1962 "Desolación de la  quimera". Também escreveu interessantes ensaios literários e colaborou em  revistas e periódicos mexicanos como "Excelsior" ou "Novedades".  Morreu na Cidade do México, em 1963.Fonte da biografia: Wikipédia   TEXTOS EN ESPAÑOL   -    TEXTOS EM PORTUGUÊS   REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 4,  jan./jun. No. 7 – jan./jun. 2022.  Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora  Cajuína, Opção editora, 2023. 158 p. ISSN 2674-8495                             TRADUÇÃO AO PORTUGUÊS POR  MARCOS FREITAS
                          SE O HOMEM PUDESSE FALAR
 Se o homem pudesse falar o  que ama,
 Se o homem pudesse elevar se amor ao céu
 como uma nuvem na luz;
 se como muros em ruínas.
 
 para saudar a verdade erguida no meio,
 poderia derrubar seu corpo,
 deixando apenas a verdade do seu amor,
 a verdade de si mesmo,
 que não se chama glória, fortuna ou  ambição,
 mas amor ou desejo,
 eu seria aquele que imaginava;
 aquele que com sua língua, seus olhos, e  suas mãos
 proclama aos homens a verdade  desconhecida,
 a verdade do seu verdadeiro amor.
 
   Liberdade eu não conheço, apenas a  liberdade de estar
 [preso em alguém
 cujo nome não posso ouvir sem calafrio;
 alguém para quem eu esqueço essa  existência mesquinha
 para quem o dia e a noite são para mim  o que eu quero,
 e meu corpo e espírito flutuam em seu  corpo e espírito
 como   troncos perdidos que o mar afoga no levante
 livremente, com a liberdade do amor,
 a única liberdade que me exalta,
 a única liberdade pela qual eu morro.
 
 Tu justificas minha existência:
 se não te conheço, não vivi;
 Se eu morrer sem te conhecer, não morro,  porque não vivi.
 
   DeLuis Cernuda
 LOS  PLACERES PROHIBIDOS
 Edición de José Teruel
 Ilustraciones de Miguel Rodríguez-Acosta
 Madrid: Ayuntamiento de Cultura del Concejalía de Madrid, 2002
 “Centenario de su Nacimiento 1902-1963”
   TELARAÑAS  CUELGAN DE LA RAZÓN
 TELARAÑAS cuelgan de la razón
 Es um paisaje de ceniza absorta;
 Ha pasado el huracán de amor,
 Ya ningún pájaro queda.
 
 Tampoco ninguna hoja,
 Todas van lejos, como gotas de agua
 De un mar cuando se seca,
 Cuando no hay ya lágrimas bastantes,
 Porque alguien, cruel como un día de sol en primavera,
 Con su sola presencia há dividido en dos un cuerpo.
 
 Ahora hace falta recoger los trozos de prudência,
 Aunque siempre nos falte alguno;
 Recoger la vida vacía
 Y caminar esperando que lentamente se llene,
 Si es posible, otra vez, como antes,
 De sueños desconocidos y deseos invisibles.
 
 Tú nada sabes de ello,
 Tú estás allá, cruel como el día,
 El día, esa luz  que abraza estrechamente  un triste muro,
 Un muro, ¿no comprendes?,
 Un muro frente al cual estoy solo.
 NO DECÍA PALABRA
 
 No decía palabras,
 Acercaba tan sólo un cuerpo interrogante,
 Porque ignoraba que el deseo es una pregunta
 Cuya respuesta no existe,
 Una hoja cuya rama no existe,
 Un mundo cuyo cielo no existe.
 
 La angustia se abre paso entre los huesos,
 Remonta por las venas
 Hasa abrirse en la piel,
 Surtidores de sueño
 Hechos carne en interrogación vuelta a las nubes.
 
 Un roce al paso,
 Una mirada fugaz entre las sombras,
 Bastan para que el cuerpo se abra en dos,
 Ávido de recibir en sí mismo
 Outro cuerpo que sueñe;
 Mitad y mitad, sueño y sueño, carne y carne,
 Iguales en figura, iguales en amor, iguales en deseo.
 
 Aunque solo sea una esperanza,
 Porque el deseo es una pregunta cuya respuesta nadie sabe.
   LA CASA  VERDE DORMIDA*
 La casa verde dormida,
 Las puertas tendidas como brazos,
 Los cristales brillantes,
 El agua en el jardín,
 Las flores, glicinas, prímulas, cemátides;
 Los armarios vacíos,
 Excepto uno com el pantalón del marinero,
 Igual pantalón que acaricio
 Igual que acariciaría a su dueño,
 Joven orgulloso
 Sobre su buque em mares ardientes,
 Los ojos melancólicos perdidos en el agua,
 Esperandome a mí mismo,
 Que idealmente le beso
 En los labios, en el cuello,
 En el pecho suave y fuerte,
 Em el vientre rubio,
 En los cálidos muslos
 Acerados de recorrer la tierra,
 De asomarse a los abismos que emanan un perfume,
 Atmósfera suya
 Rodeándole como un deseo
 Aquí o allá, lo mismo en tierra que sobre el mar,
 En busca de sí mismo, huyendo de los otros
 Monótonos y nauseabundos igual que la tristeza,
 Que los días iguales
 Inclinado sobre la mesa
 Dejando pasar los días,
 Dejando pasar el tiempo,
 Dejando pasar el tesoro propio,
 Como si las mismas olas mojasen siempre los mismos pies.
 
 *Este es uno de los 12  poemas del libro Los Placeres Prohibidos que ha sido eliminado de las ediciones  posteriores y que fueron republicados solamente en la edición de 2003, de José  Teruel, conmemorativa del centenario del nacimiento del poeta (Luis Cernuda,  1902-1963).
     POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia.  ANO 4 – NÚMERO 7 –  JULHO 1996.  Rio de Janeiro: Fundação  Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro,  1996.   Ex. bibl. Antonio Miranda             1.                  Donde  habite el olvido,En  los vastos jardines sin aurora;
 Donde  yo sólo sea
 Memoria  de una piedra sepultada entre ortigas
 Sobre  la cual el viento escapa a sua insomnios.
          Donde  mi nombre dejeAl  cuerpo que designa en brazos de los siglos,
 Donde  el deseo no exista.
          En  esa gran región donde el amor, ángel terrible,No  esconda como acero
 En  mi pecho su ala,
 Sonriendo  lleno de gracia aérea mientras crece el tormento
          Allá  donde termine este afán que exige un dueñoa  imagen suya,
 Sometiendo  a outra vida su vida,
 Sin más horizonte que otros ojos  frente a frente.
          Donde  penas y dicas no sean más que nombres,Cielo  y tierra nativos en torno de un recuerdo,
 Donde  al fin quede libre sin saberlo yo mismo.
 Disuelto  en niebla, ausencia,
 Ausencia  leve como carne de niño.
          Allá,  allá lejos;Donde  habite el olvido.
          1.  Onde  habite o olvido,Nos vastos jardins sem aurora;
 Onde eu seja apenas
 Memória de uma pedra sepultada entre urtigas
 Onde o vento escapa de sua insônia.
 Onde  meu nome deixeAo corpo que designa nos braços de séculos,
 Onde o desejo não exista.
 Nesta  enorme região onde o amor, anjo terrível,Não esconda como aço
 Em meu peito sua asa,
 Sorrindo pleno de graça aérea enquanto cresce o tormento.
 Lá  onde termine este afã que exige um dono a sua imagem,submetendo sua vida a outra vida,
 Sem mais horizonte que outros olhos frente a frente.
 Onde  penas e venturas não sejam mais que nomes,Céu e terra nativos na lembrança;
 Onde afinal fique livre sem que eu mesmo saiba,
 Desfeito em névoa, ausência,
 Ausência leve como a carne de menino.
 Lá,  bem longe;Onde habite o olvido.
            DEJADME SOLO          Una verdade es color de ceniza,Otra  verdade es color de planeta;
 Mas  todas las verdades, desde el suelo hasta el suelo,
 No  valen la verdade sin color de verdades,
 La  verdade ignorante de como el hombre suele encarnarse
 en  la nieve.
          En  cuanto a la mentira, basta decirle "quiero"Para  que brote entre las piedras
 Su  flor, que en vez de hojas luce besos,
 Espinas  en lugar de espinhas.
          La  verdad, la mentira,Como  labios azules,
 Una  dice, otra dice;
 Pero  nunca pronuncian verdades o mentiras su secreto
 torcido;
 Verdades  o mentiras
 Son  pájaros que emigran cuando los ojos mueren.
   DEIXE-ME  SÓ Uma  verdade é cinzenta,Outra verdade é cor de planeta;
 Mas todas as verdades, desde o chão até o chão,
 Não valem a verdade sem cor das verdades,
 A verdade ignorante de como o homem costuma
 encarnar-se  na neve.
 Quanto  à mentira, basta dizer "quero"Para que brote entre as pernas
 Sua flor, que em vez de folhas brilham beijos,
 Espinhos no lugar de espinhos.
 A  verdade, a mentira,Como lábios azuis,
 Uma disse, outra disse;
 Mas nunca pronunciam verdades ou mentiras
 seu  segredo torcido;
 Verdades e mentiras
 São pássaros que emigram quando os olhos morrem.
 
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 TEXTOS EM  PORTUGUÊS
 Tradução de Antonio  Miranda
 
 DeLuis Cernuda
 LOS  PLACERES PROHIBIDOS
 Edición de José Teruel
 Ilustraciones de Miguel Rodríguez-Acosta
 Madrid: Ayuntamiento de Cultura del Concejalía de Madrid, 2002
 “Centenario de su Nacimiento 1902-1963”
   TEIAS DE  ARANHA PEDURADAS DA RAZÃO
 Teias de aranha penduradas da razão
 Numa paisagem de cinza absorta;
 Já passou o furacão do amor,
 Já não resta pássaro algum.
 
 Tampouco folha alguma,
 Todas vão longe, como gotas de água
 De um mar quando seca,
 Quando já não há lágrimas suficientes,
 Porque alguém, cruel como um dia de sol na primavera,
 Com apenas sua presença dividiu em dois um corpo.
 
 Agora cabe recolher os restos de prudência,
 Embora sempre algum nos falte;
 Recolher a vida vazia
 E caminhar esperando que lentamente se encha,
 Se é possível, outra vez, como antes,
 De sonhos desconhecidos e desejos invisíveis.
 
 Tu não sabes nada disso,
 Tu estás lá, cruel como o dia;
 O dia, essa luz eu abraça bem apertado este triste muro,
 Um muro, não entendes?,
 Um muro diante do qual estou só.
 
 
 NÃO DIZIA NADA
 
 Não dizia nada,
 aproximava apenas um corpo interrogante,
 Porque ignora ser o desejo uma pergunta
 Cuja resposta não existe,
 Uma folha cujo ramo não existe,
 Um mundo cujo céu não existe.
 
 A angústia abre caminho entre os ossos,
 Remonta pelas veias
 Até romper-se na pele,
 Provedores de sonho
 Feito carne em interrogação volta às nuvens.
 
 Um roce de passagem,
 Um olhar fugaz entre as sombras,
 Bastam para que parta o corpo em dois,
 Ávido de receber em si mesmo
 Outro corpo que sonhe;
 Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
 Igual em desenho, iguais em amor, iguais em desejo.
 
 Mesmo sendo apenas uma esperança,
 Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém sabe.
 
 
 A CASA VERDE DORMIDA*
 
 A casa verde dormida,
 As portas estendidas como braços,
 As vidraças brilhantes,
 A água do jardim,
 As flores, glicínias, prímulas, clematites,
 Os armários vazios,
 Exceto um com a calça do marinheiro<
 Suave calça que acaricio
 Como acariciaríamos seu dono,
 Jovem orgulhoso,
 Em seu navio de mares ardentes,
 Os olhos melancólicos perdidos na água,
 Esperando o amor.
 Esperando por mim mesmo,
 Que idealmente beijo-o
 Nos lábios, no pescoço,
 No peito suave e forte,
 No ventre louro,
 Nos músculos cálidos,
 Endurecidos de percorrer o mundo,
 De assomar-se aos abismos que emanam um perfume,
 Atmosfera sua
 Rodeando-o como um desejo
 Aqui ou lá, igual na terra como no mar,
 Em busca de si mesmo, fugindo dos demais
 Monótonos e nauseabundos tal qual a tristeza,
 Que os dias iguais
 Inclinado sobre a mesa
 Deixando passar os dias
 Deixando o tempo passar,
 Deixando passar o próprio tesouro,
 Como se as mesmas ondas molhassem sempre os mesmos pés.
 
 
 *Este é um dos 12 poemas  do livro Los Placeres Prohibidos (1951) que foram suprimidos nas edições  posteriores e só republicado em 2002, na edição de José Teruel, comemorativa do  nascimento do poeta (1902-1963).
   
 Página publicada em dezembro de 2009; AMPLIADA em janeiro de 2018   
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