POESIA ESPAÑOLA
Coordinación de AURORA CUEVAS CERVERÓ
Universidad Complutense de Madrid
JOAN MARGARIT
Joan Margarit (Sanaüja, Lleida, 1938), poeta e arquiteto catalão, último galardoado com o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, também já recebeu os prêmios Nacional de Poesia, Rosália de Castro e Jaume Fuster, além de diversos outros, tais como o Prêmio Poetas do Mundo Latino, concedido no México. O júri do Prêmio Rainha Sofia, que foi presidido pela poeta Ida Vitale, ressaltou que sua poética prima pela "transcendência profunda" e pela pluralidade da cultura peninsular que representa. Trata-se do poeta catalão vivo mais lido. Herdeiro da poesia clara e difícil de Salvador Espriu e da poesia bondosa e intensa de Miquel Marti i Pol.
O jornal Expresso, de Portugal, informa que: “Joan Margarit estudou arquitetura em Barcelona, entre 1956 e 1961, tendo começado a sua atividade literária no final dos anos 50, mas só se tornou conhecido como poeta em espanhol entre 1963 e 1965. Como arquiteto, tornou-se também um dos mais relevantes no exercício da profissão nesses anos em Espanha, tendo assinado trabalhos como o Estádio Olímpico e o Anel de Montjuïc (1989), e colaborado em outros como as obras do emblemático templo católico Sagrada Família, desenhado pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí.”
Encontra-se traduzido para o português (dois livros em Portugal), o inglês, o hebreu e o russo. Em 2019, a editora Austral reeditou Todos los poemas (1975-2015), que engloba todos seus treze livros de poemas.
TEXTOS EN ESPAÑOL - TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traduções de Salomão Sousa
Limonero
Escuchas, mientras caen la tarde,
las notas del piano de Glenn Gould.
Las “Goldenberg Variations”
son gotas transparentes de una lluvia
que alguien piensa em silencio.
Junto a las grandes hiedras de este pátio,
mientras llenas tus ojos de crepúsculo,
hallas entre as notas el recuedo
de cuando al instalarte em esta casa
plantaste um limonero, hoy ya muerto.
Limoeiro
Escutas, enquanto caem a tarde,
as notas do piano de Glenn Gould.
As “Goldberg Variations”
são gotas transparentes de uma chuva
que alguém pensa em silêncio.
Junto às grandes heras deste pátio,
enquanto enches teus olhos de crepúsculo,
encontras entre as notas a lembrança
de quando ao instalar-te nesta casa
plantaste um limoeiro, hoje já morto.
JAZZ
Nosotros lo llevamos a su primer concierto.
Permaneció muy quieto entre los dos.
El saxofón y el piano quedaron bajo el foco.
Dentro de la penumbra noté en sus ojos tímidos
el centelleo de los instrumentos.
La razón más profunda de la música
será su abrigo contra el desamparo.
Le quedará el calor de aquella hermana muerta.
Y nuestra compañía. En todos los conciertos.
Jazz
Nós o levamos ao seu primeiro concerto.
Permaneceu bem quieto entre os dois.
O saxofone e o piano ficaram sob o foco.
Dentro da penumbra notei em seus olhos tímidos
a centelha dos instrumentos.
A razão mais profunda da música
será seu abrigo contra o desamparo.
Restará para ele o calor daquela irmã morta.
E nossa companhia. Em todos os concertos.
Poética
Alguien que mide versos. Que, de Vallejo, guarda
soledad en los huesos.
Alguien que, con la Muerte de Espriu dentro del alma,
se encomienda a la sombra de Quevedo
mientras que, con el húmero, mueve la estilográfica
para escribir la letra de un bolero.
Si nunca nadie riese ni llorase
con algún verso de estos que me invento,
¿dónde lleva esta historia? —pensaría—.
Es por los hijos muertos,
por los amores sin mañana:
por el mañana que amenaza
como un arma. Por toda la extensión
del nebuloso mal que no es noticia.
Por todo esto se escribe la poesía.
Poética
Alguém que mede versos. Que, de Vallejo, guarda
solidão nos ossos.
Alguém que, com a Morte de Espriu dentro da alma,
encomenda-se à sombra de Quevedo
enquanto, com o úmero, move a esferográfica
para escrever a letra de um bolero.
Se ninguém nunca risse ou chorasse
com algum versos destes que me invento,
onde chegaria esta história? – pensaria –.
É pelos filhos mortos,
pelos amores sem amanhã:
pela manhã que ameaça
como uma arma. Por toda a extensão
do nebuloso mal que não é notícia.
Por tudo isso escreve-se a poesia.
Tradução de Nelson Santander
La Espera
Te están echando en falta tantas cosas.
Así llenan los días
instantes hechos de esperar tus manos,
de echar de menos tus pequeñas manos,
que cogieron las mías tantas veces.
Hemos de acostumbramos a tu ausencia.
Ya ha pasado un verano sin tus ojos
y el mar también habrá de acostumbrarse.
Tu calle, aún durante mucho tiempo,
esperará, delante de tu puerta,
con paciencia, tus pasos.
No se cansará nunca de esperar:
nadie sabe esperar como una calle.
Y a mí me colma esta voluntad
de que me toques y de que me mires,
de que me digas qué hago con mi vida,
mientras los días van, con lluvia o cielo azul,
organizando ya la soledad.
A espera
Tantas coisas estão sentindo tua falta.
Assim preenchem-se os dias,
instantes feitos de esperar por tuas mãos,
de sentir falta de tuas pequenas mãos,
que pegaram nas minhas tantas vezes.
Temos de nos acostumar com tua ausência.
Um verão já passou sem teus olhos
e o mar também haverá de acostumar-se.
Tua rua, ainda por muito tempo,
esperará, diante de tua porta,
com paciência, teus passos.
Não se cansará nunca de esperar:
ninguém sabe esperar como uma rua.
E a mim me domina esta vontade
de que me toques e de que me olhes,
de que me digas o que eu faço com a minha vida,
enquanto os dias se vão, com chuva ou céu azul,
já organizando a solidão.
Poema extraído de
POEMAD 2019. Madrid?: Musa a las 9 sl, 2019. 18 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
BARATARIA Revista de Poesia. Ano 7 Número Doble 14 - 15. Buenos Aires: Fondo Cultura BA, Junio 2005. ISSN 1668-1460
Ex. bibl. de Antonio Miranda
TARDE DE LLUVIA
Sobre la alfombra color beige oscuro
se balancea un pie con media negra,
igual que en los sembrados un pájaro de invierno.
La curva delicadas del talón
marca, despacio, el ritmo de la música.
Hay un temblor lejano
de niños en tus ojos, y una sombra
velada de inquietud en los cabellos.
Página ampliada em novembro de 2020
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