JUAN MARAGALL
(1860-1911)
Nasceu e morreu em Barcelona. Formado em Direito e destacou-se também como jornalista e tradutor.Apaixonado por literatura alemã, traduziu Goethe, Novalis e Nietzsche para o catalão. Poeta dotado de um grande lirismo, sua produção poética conta com poemas muito conhecidos, a exemplo de “La vaca cega”, “Oda a Espanya” e ”Cant Espiritual”, este considerado uma das obras primas da poesia contemporânea. Em 1903, publicou o ensaio Elogi de la Paraula, em que desenvolve sua teoria da palavra viva, de feitio romântico, considerando a emoção pura, a espontaneidade e a sinceridade como elementos fundamentais da poesia. Entre suas publicações constam ainda Poesies (1905) e Enllá (1906).
TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS
CANTO ESPIRITUAL
Si el mundo ya es tan bello y se refleja,
ίoh, Señor!, con tu paz en nuestros ojos,
¿que más nos puedes dar en otra vida?
Así estoy tan celoso de estos ojos
y el cuerpo que me diste y su latido
de siempre, ίy tengo al miedo a la muerte!
Pues ¿con qué otros sentidos me harás ver
este azul que corona las montañas,
el ancho mar, y el sol que en todo luce?
Dame en estos sentidos paz eterna,
y no querré más cielo que este, azul.
A aquel que solamente grite “Párate”
al instante que venga a darle muerte,
no le entiendo, Señor, ίyo, que quisiera
parar tantos instantes cada día
para hacerlos etenos en mi alma!
¿O es que este “hacer eterno” es ya la muerte?
Pero, entonces, la vida ¿qué sería?
Sombra del tiempo huyente solo fuera,
ilusión de lo cerca y de lo lejos,
cuenta del mucho, el poco, el demasiado,
ίengañoso, pues todo ya lo es todo!
ίEs igual! Este mundo, como sea,
tan extenso, diverso y temporal;
esta tierra, con todo lo que engendra,
es mi patria, Señor, ¿y no podría
ser también una patria celestial?
Hombre soy, y es humana mi medida
para todo lo que crea y espere;
si mi fe y mi esperanza aqui se quedan,
¿me acusarás por eso más allá?
Más Allá veo el cielo y las estrellas;
y aún allí quiero un hombre seguir siendo:
si me has hecho las cosas tan hermosas
y para ellas mis ojos, al cerrarlos
¿por qué buscar entonces otro “cómo”?
ίSi para mi jamás lo habrá como este!
Ya sé que eres, mas donde ¿quién lo sabe?
Cuanto miro se te parece en mi...
Déjame, pues, creer que eres aquí.
Y cuando venga la hora temerosa
en que estos ojos de hombre se me cieren,
ábrame tu, Señor, otros más grandes
para poder mirar tu rostro inmenso.
ίNacimiento mayor sea mi muerte!
TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de
Henriqueta Lisboa
CANTO ESPIRITUAL
Se o mundo é já tão belo, contemplado
de vossa paz, Senhor, com os olhos plenos,
que mais podereis dar-me na outra vida?
Por isso tão zeloso de meus olhos
e de meu rosto estou e deste corpo
que me destes e deste coração
que o segue sempre... E temo tanto a morte!
Pois, com que outros sentidos poderei
ver este azul do céu que se derrama
por sobre os montes e esse mar imenso
e esse sol que fulgura em toda parte?
Dai-me a estes sentidos paz eterna:
não buscarei mais céu que o céu azul...
Àquele que jamais disse a um instante
sem ser da morte o derradeiro: —Pára! —
não compreendo, Senhor. A mim, quem dera
tantos momentos retornar ao dia
para em meu coração eternizá-los!
É esse eternizar, acaso, a morte?
Porém então,a vida que seria?
Apenas sombra do momento efêmero,
aparência do próximo ou longínquo,
resumo enganador de quanto é pouco
ou muito ou demasiado? Pios então,
tudo o que encerra o mundo não é tudo?
Mas não importa. Seja como for,
esta terra tão vasta e singular,
tão temporal como o que nela vive,
Senhor, é minha pátria. E não podia
ser também uma pátria celestial?
Homem sou. Com razão minha medida
de ser e de esperar é humana. Aqui
se detém minha fé, minha esperança.
Me culpareis por isso na outra vida?
Mais além vejo o céu, vejo as estrelas
e lá quisera ser humano ainda.
Se a meus olhos as coisas haveis feito
tão belas e para elas meus sentidos
haveis criado, por que desprezá-las
e o mistério inquirir? Se para mim
outro mundo não há como este mundo?
Eu sei que estais, Senhor, mas onde, onde?
Quem o soubera! Tudo quanto vejo
em minha alma reflete a vossa imagem.
Deixai-me pois pensar que estais aqui.
E ao chegar o momento tão temido
em que se fecharão estes meus olhos,
abri-me outros, Senhor, outros maiores
para não ver vossa face resplendente.
Seja-me assim a morte maior vida.
Poema extraído da obra HENRIQUETA LISBOA - POESIA TRADUZIDA (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001)
Página publicada em fevereiro de 2008. |