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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
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foto: Luis Urbina

Fonte: Aqui » 

 

FÉLIX GRANDE

 

Poeta, editor, ensayista, letrista y guitarrista español. Nació en Mérida (Badajoz) en el año de 1937. Fue jefe de redacción de la revista Cuadernos Hispanoamericanos. Entre sus libras publica­dos están: Las piedras (1964), Música amenazada (1966), Blanco spirituals (1967) —con el que obtuvo el Premio Casa de las Américas de Cuba-, Por ejemplo doscientas (1968), Apuntes sobre poesía española de posguerra (1970), Lugar siniestro este mundo, caballeros (1985).  

 

TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

RECUERDO DE INFANCIA

 

Hoy el periódico traía sangre igual que de costumbre

venía chorreando como la tráquea de un ternero sacrificado

he visto chotos cabras vacas durante su degüello

bajo el agujero del cuello una orza se va llenando de sangre

los animales se contraen en sacudidas cada vez más nimias

de pronto ya no respiran por la nariz ni por la boca

sino por la abertura que la navaja hizo en la tráquea

en la cual aparecen burbujas a cada nueva respiración

a menudo parece que están completamente muertos

y no obstante aún se agitan una o dos veces suavemente

ahora sus ojos ya no miran tienen como una niebla

un teloncillo de color indeterminado que recuerda al ceniza

entonces el carnicero se incorpora con las manos manchadas

y procede a desollar y trocear al animal cadáver

para después pesarlo venderlo en porciones hacer su negocio

 

hoy el periódico traía sangre lo mismo que otros días

acaso unos cuantos estertores más que de hábito

pero cómo saberlo hay países que no especifican

por ejemplo el departamento de estado no da las cifras  

                                     de sus bajas,

únicamente les agrega apellidos

bajas insignificantes bajas ligeras bajas moderadas

 

hoy el periódico traía sangre en volumen considerable

y mientras leo pacientemente civilizadamente el intento

de justificación de esos destrozos escrito de sutil manera

recuerdo vacas cabras chatos la gran orza en el suelo

y recuerdo imagino pienso que unos cuantos carniceros

continúan desollando troceando pesando en sus básculas

haciendo su negocio mediante esos pobres animales

sacrificados.  

 

 

Extraído de ALFORJA REVISTA DE POESÍA XXII, Otoño 2002. p. 23-24

 

 

ELOGIO DE LO IRREPARABLE

 

Sé involuntaria. Sé febril. Olvida

sobre la cama hasta tu propio idioma.

No pidas. No preguntes. Arrebata y exige.

Sé una perra. Sé una alimaña.

Resuella busca abrasa brama gime.

Atérrate, mete la mano en el abismo.

Remueve tu deseo como una herida fresca.

Piensa o musita o grita «¡Venganza!»

 

Sé una perdida, mi amor, una perdida.

En el amor no existe

lo verdadero sin lo irreparable. 


 

TEXTOS EM PORTUGUÊS

Traducciones de Antonio Miranda

 

 

RECORDAÇÃO DA INFÂNCIA

 

Hoje o jornal trazia sangue como de costume

vinha jorrando como a traquéia de um novilho sacrificado

Eu vi cabritos cabras vacas durante sua degola

no buraco do pescoço um saco se enchendo de sangue

os animais se contraem em sacudidelas cada vez mais nímias

de repente já não respiram pela narina nem pela boca

mas pela abertura que a navalha fez na traquéia

em que aparecem borbulhas a cada nova respiração

amiúde parece que estão completamente mortos

e no entanto ainda se agitam uma ou duas vezes lentamente

agora seus olhos já não miram têm como uma névoa

uma telinha de cor indeterminado que lembra a cinza

então o açougueiro se incorpora com as mãos manchada

e procede a desossar e a fatiar o animal cadáver

para depois pesa-lo vende-lo em porções fazer seu negócio

 

hoje o jornal trazia sangue como em outros dias

apenas uns quantos estertores mais que de costume

mas como sabe-lo há países em que não especificam

por exemplo o departamento de estado não dá cifras de suas baixas

unicamente acrescenta sobrenomes

baixas insignificantes baixas ligeiras baixas moderadas

 

hoje o jornal trazia sangue em volume considerável

e enquanto leio pacientemente civilizadamente a tentativa

de justificar esses destroços escrito de maneira sutil

relembro vacas cabras cabritos o grande saco no chão

e lembro imagino penso uns quantos açougueiros

continuam esquartejando escalpelando pesando em suas balanças

fazendo seu negócio mediante esses pobres animais sacrificados

 

ELOGIO DO IRREMEDIÁVEL

 

Seja involuntárioa. Seja febril. Esqueça

Sobre a cama até o próprio idioma.

Não peças. Não perguntes. Arrebata e exige.

Seja uma cadela. Seja uma alimária.

Resfolega busca abrasa brama geme.

Amedrontada, mete a mão no abismo.

Remove teu desejo como uma ferida fresca.

Pensa ou mussita ou grita “Vingança!”

 

Seja uma perdida, meu amor, uma perdida.

No amor não existe

O verdadeiro mas o irremediável.

 

 



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