ANDRÉS SÁNCHEZ ROBAYNA
1954
Poeta e crítico espanhol. Nativo das Ilhas Canárias, Robayna é um dos melhores poetas espanhóis da atualidade e um dos melhores críticos literários de seu país, especialista no Siglo de Oro e na obra de Góngora. Além de editor durante anos da influente revista Syntáxis ele é também tradutor, especialmente de poesia brasileira.
De
Nelson Ascher
POESIA ALHEIA
124 POEMAS TRADUZIDOS
Rio de Janeiro: Imago Editora, 1998.
384 p. ISBN 85-312-0619-7
Esta obra compreende poetas latinos, alemães, franceses, espanhóis e latino-americanos, italianos e eslavos traduzidos ao português com a qualidade de um poeta. Aqui apenas uma mínima amostra.
EL NOMBRE DE VIRGÍLIO
En tos muros, las páginas del tiempo,
vuelve a escribir el nombre de Virgílio.
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El polvo llega hasta tus ojos ciegos.
Los latidos del mar son tus latidos.
En este mismo instante silencioso
las muchachas conversan en el atrio,
corren alegres entre las columnas.
Desaparecen en un parpadeo.
Viste alzarse el tobillo en la carrera,
desprenderse la túnica de ella
en medio del calor (la tarde gira
sobre sí misma en aquel cuarto en sombras),
la mentira y la muerte en la sonrisa
del senador, la amarillez del cínico,
la hoja vibrátil en la luz de agosto,
las formas monstruosas de las nubes
antes de la traición, la garza, el chopo
ligero en la mañana de noviembre,
y otra vez aquel cuerpo que brillaba
entre las olas imperecederas,
el sol de nuevo sobre las colinas,
el tiempo del horror y de la sangre.
Dijiste: el polvo reina, el polvo sobre
El reino dei amor y la ceniza.
Cruzan cigarras pero y a tus ojos
se van tras los racimos transparentes,
trás la viña tomada por el polvo,
el oro, el sol que brilla entre los siglos.
Todo tiempo es un tiempo de terror
y de esplendor. Los signos en el muro
dicen el nombre de Virgílio. El tiempo
se ha detenido para ver su obra.
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Abre los ojos. Ya no existe el nombre
que escribiste con mano temblorosa.
Sobre tu sueño nada sabes. Solo
el sol, el tiempo, el nombre de Virgílio.
O NOME DE VIRGÍLIO
Sobre os muros, as páginas do tempo,
volta a escrever o nome de Virgílio.
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O pó já chega até teus olhos cegos.
Os latejos do mar são teus latejos.
Neste mesmo momento silencioso
as meninas conversam no vestíbulo,
correndo alegremente entre colunas.
Desaparecem num piscar de olhos.
Viste alçar-se, na pressa, o tornozelo,
viste a túnica desprender-se dela
no meio do calor (a tarde gira
sobre si mesma nesse quarto em sombras),
as mentiras e a morte no sorriso
do senador, o amarelar do cínico,
folhas vibráteis numa luz de agosto,
as nuvens, suas formas monstruosas
antes da traição, a garça, o choupo,
na manhã de novembro, tão ligeiro,
e outra vez esse corpo que brilhava
por entre as ondas que jamais perecem,
o sol de novo em cima das colinas,
o tempo dos horrores e do sangue.
Disseste: o pó domina, o pó por cima
dos domínios das cinzas e do amor.
Cruzam cigarras mas teus olhos já
vão atrás dos racimos transparentes
e da vinha tomada pelo pó,
o ouro, o sol que brilha em meio aos séculos.
Todo tempo é um tempo de terror
e de esplendor. Os signos sobre o muro
dizem o nome de Virgílio. O tempo
parou para admirar a sua obra.
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Abre os olhos. Já não existe o nome
que havias com a mão trêmula escrito.
Sobre teu sonho nada sabes. Só
o sol, o tempo, o nome de Virgílio
Página publicada em junho de 2010 |