HOMBRE DE CUALQUIER TIERRA
Hombre de cualquier tierra o meridiano
yo te ofrezco la mano
te doy en ella el sol americano.
Te doy la brava pluma
del cóndor, la candela ágil del puma:
selva y montaña en suma.
Te doy la geografía
vasta y azul del día
concentrado en el fruto de ambrosía.
Te doy nuevo tesoro:
el pimiento y el toro
y la cúpula de oro.
Te doy volcán y rosa,
la clave de esa gente misteriosa
que en vasijas reposa.
Mi mano es de alfarero
solar, de navegante, misionero
y libre guerrillero.
Mano de constructor de un Continente
mano de techo y puente
y alfabeto de amor para la gente.
El sol americano
te lo entrego en mi mano,
hombre mundial, hermano.
HOMEM DE QUALQUER TERRA
Homem de qualquer terra ou meridiano
a mão te estendo ufano
te dou com ela o sol americano.
Te dou a brava pluma
do condor, a candeia ágil do puma:
selva e montanha em suma.
Te dou a geografia
vasta e azul do dia
concentrado no fruto da ambrosia.
Te dou novo tesouro:
a pimenta e o touro
e a cúpula de ouro.
Te dou vulcão e rosa,
a chave dessa gente misteriosa
que em vasilhas repousa.
Minha mão é de oleiro
solar, de navegante, missioneiro
e livre guerrilheiro.
É mão de construtor de um Continente
mão de teto e corrente
e de amor alfabeto para a gente.
O sol americano
com a mão te entrego ufano,
homem mundial, meu mano.
(De Hombre Planetario)
MORADA TERRESTRE
Habito um castelo de cartas,
Uma casa de areia, um edifício no ar,
E passo os minutos esperando
O desmoronamento do muro, a chegada do raio,
O correio celeste com a última notícia,
A sentença que voa numa vespa,
A ordem como um látego de sangue
Dispersando ao vento uma cinza de anjos.
Então perderei minha morada terrestre
E me encontrarei nu novamente.
Os peixes, os astros,
Remontarão o curso de seus céus inversos.
Tudo que é cor, pássaro ou nome,
Volverá a ser apenas um punhado de noite,
E sobre os despojos de cifras e plumas
E o corpo do amor, feito de fruta e música,
Baixará por fim, como o sonho ou a sombra,
O pó sem memória.
MORADA TERRESTRE
Tradução de Mário de Andrade
Habito um castelo de cartas,
Uma casa de areia, um edifício no ar,
E passo os minutos esperando
O desmoronamento do muro, a chegada do raio,
O correio celeste com a última notícia,
A sentença que voa numa vespa,
A ordem como um látego de sangue
Dispersando ao vento uma cinza de anjos.
Então perderei minha morada terrestre
E me encontrarei nu novamente.
Os peixes, os astros,
Remontarão o curso de seus céus inversos.
Tudo o que é cor, pássaro ou nome,
Volverá a ser apenas um punhado de noite,
E sobre os despojos de cifras e plumas
E o corpo do amor, feito de fruta e música,
Baixará por fim, como o sonho ou a sombra,
O pó sem memória.
ANTHOLOGY OF CONTEMPORARY LATIN-AMERICAN POETRY. Edited by Duddley Fitts. Norfolk Conn. A New Directions Book, 1942. 667 p. Capa dura revestida de tecido. Inclui os poetas brasileiros: Jorge de Lima, Ismael Nery, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia, Carlos Drummond de Andrade.
DOMINGO
Iglesia frutera
sentada en una esquina de la vida:
naranjas de cristal de las ventanas.
Órgano de cañas de azúcar.
Ángeles: polluelos
de la Madre María.
La campanilla de ojos azules
sale con los pies descalzos
a corretear por el campo.
Reloj de Sol:
burro angelical con su sexo inocente;
viento bien mozo del domingo
que trae noticias del cerro;
indias con su carga de legumbres
abrasada a la frente.
El cielo pone los ojos en blanco
cuando sale corriendo de la iglesia
la campanilla de los pies descalzos.
DOMINGO
Igreja fruteira
sentada numa esquina da vida:
laranjas de cristal das janelas.
Órgão de cana de açucar.
Anjos: filhotes
de Mãe Maria.
A campânula de olhos azuis
sai de pés descalços
a perambular pelo campo.
Relógio de Sol:
burrico angelical com seu sexo inocente;
vento bem novo de domingo
que traz notícias do morro;
índias com sua carga de legumes
abraçada pela frente.
O céu fica de olhos brancos
quando sai correndo da igreja
a campainha dos pés descalços.
Tradução de Antonio Miranda
LA VIDA PERFECTA
Conejo: Hermano tímido, mi maestro y filósofo!
Tu vida me há enseñado la lección del silencio.
Como en la soledad hallas tu mina de oro
no te importa la eterna marcha del universo.
Pequeño buscador de la sabiduría,
hojeas como um libro la col humilde y buena,
y observas las maniobras que hacen las golondrinas,
como San Simeón, desde tu oscura cueva.
Pídele a tu buen Dios uma huerta en el cielo,
una huerta com coles de cristal en la gloria,
un salto de agua Dulce para tu hocico tierno
y sobre tu cabeza un vuelo de palomas.
Tú vives en olor de santidad perfecta.
Te tocará el cordón del padre San Francisco
el día de tu muerte. ¡Com tus largas orejas
jugarán en el cielo las almas de los niños!
A VIDA PERFEITA
Coelho: irmão tímido, meu mestre e filósofo!
Tua vida me ensinou a lição do silêncio.
Como na solidão encontras tua mina de ouro
não te importa a eterna marcha do universo.
Pequeno buscador da sabedoria,
folheias como um libro a couve humilde e boa,
e observas as manobras que as andorinhas fazem,
como São Simeão, desde a tua escura cova.
Peça ao teu bom Deus uma horta no céu,
uma hora com couves de cristal na glória,
uma queda d’água para teu foucinho terno
e sobre tua cabeça um revoada de pombos.
Tu vives no aroma de santidade perfeita.
Vai te tocar o condão do pai São Francisco
no dia de tua morte. Com tuas longas orelhas
brincarão lá no céu as almas das crianças!
Tradução de Antonio Miranda