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   Fotografo Victor Tagore


EDUARDO MORA-ANDA

 

Poeta e ensaísta equatoriano nascido em 1948, é autor de Historia de los Ideales, cuja tradução foi publicada no Brasil pela Thesaurus editora, em 2006. Embaixador de seu país no Brasil. Os três fragmentos de Los Salmos del Mar (2.ªed., Quito, 2003), foram traduzidos por Anderson Braga Horta.

 

EDUARDO MORA-ANDA

 

O poeta equatoriano Eduardo Mora-Anda numa das sessões magnas da I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA (de 3 a 7 de setembro de 2008), no auditório do Museu Nacional de Brasília.

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS  

EDUARDO MORA-ANDA

De

Los Salmos del mar

2 ed. Quito: 2003.

 

 

1

 

Oh juventud del mar, eterno y sonriente.

Canta su onda gentil ­ trigal azul con nardos.

 

Canta inmenso y jocundo. Canta joven y viejo.

Canta manso y profundo, como un lobo sin miedo...

 

Soy un punto pequeño frente al mar gigantesco.

Y ambos somos misterios.

 

5

 

¡Oh claridad de Dios, el día llega!

¡Oh dulce y leve canto de las aves!

La luz, el suave viento, el mar en calma...

Oh buena y alta patria: ¡la vida unánime!

En el claror del día mi alma exulta

y halla su parentesco con los valles,

con la montaña azul y con el agua...

Y esta es la alquimia, al fin:

hallarme, hallarte,

cielo y mar otra vez,

tan juntamente,

toda la luz aquí, juntas las manos,

otra vez la unidad, el sol, ¡tu canto...!

Dame, Señor, al fin, la transparencia.

La Parusía, si, la Parusía.

 

6

 

La luz viene de Dios, el día claro,

el sol, la vida-luz,

rueda que canta.

¡Ella es nuestra salud y nuestra calma!

¡Fluya alegre y gentil el agua viva!

¡Crezcan la verde yerba y los pinares!

¡Broten, perfil de fe, nuevas palabras!

¡Vuele el joven halcón sobre la cima!

Sobre el sereno azul abro mis brazos...

En la amplitud de luz mi alma renace...

 

                       EX PAISAJE CON RETRATOS

 

1

 

El torpe muro, el

inhumano hierro

cubren la tierra inmaterial y buena

donde cantaban antes los jilgueros

y el rio hablaba sus murmullos lentos...

 

 

2

 

Turba mi noche una inquietud de ciego

que busca los caminos de la vida,

uma misión o vocación de Cielo

que yo la incumplo en la rutina fría.

La madrugada acecha. En el silencio

espero el don que ha de cambiar mi vida.

¿Cuál es mi hora, mi lugar, mi dia?

¿Cuál es mi sino y a qué vine al mundo:

Una ansiedad me ahoga el pecho enjuto

mientras yo rezo y alborea el día...

 

 

3

 

Los años pasan. La rutina es hueca.

La mente en vano esboza, hila, elabora.

¿Qué quiero? ¿qué me falta? ¿qué venero?

Si no está aqui tu brío, tu alegría,

¿cómo vivir la claridad del día?

La loca geografia de la vida

señala que el amor es lo primero...

 

 

4

 

La madrugada acrece. El mundo toma

un perfil de amistad. El agua mece

su consistencia eterna repicando

contra la piedra agreste,

y, pincelada gualda entre los prados,

la flor silvestre

rastro es de Dios en el momento breve.

La pincelada eterna en el ahora

mientras la vida pasa fugazmente...

 

 

5

 

Camino en mi sendero individual

tan libre.

Este es el arte de vivir sin tiempo:

Los sauces, el camino y mi alegría.

Florece en el silencio

la armonía

palabras que son hojas,

voces nuevas...

Nada perturba el aire de mi dicha.

la tontería no entra aqui

ni el vulgo.

He recobrado mi alma y son mis pasos

mi juventud, mi flor,

la voz tan mía.

Esa es la libertad del propio rumbo

sin controversias,

sin contradicciones...

Arriba juega el mar de nubes puras

y el sol hace amarillos los caminos...

 

 

6

 

Hoy, ayer y mañana

son una trama

para encontrar la luz y

la ventana

al Ser Que Se Es

y vernos,

al fin,

claros,

seres completos

en el Sol eterno...

 

 

7

 

— Yo soy el ortinorrinco,

rara avis,

oso único.

 

— Yo soy el dulce koala

y el discípulo

de Buda.

 

 

8

 

Llega, fulgor del Bien, hasta la tierra,

bella como las náyades pensadas

por el primer poeta.

Luz y sorpresa

y panal de flores,

eres la novedad de la belleza,

los ojos claros

cuya luz no cesa...

Eres mi libertad

que se abre y vuela

a las altas delicias del Misterio...

Llegas, eterna

y, sin embargo, pasas...

Me llenas, me embelesas y

te marchas...

Nave de luz

y del recuerdo

fuego!

 

 

9

 

Bebo en tu cielo limpio el aire eterno,

la inevitable luz,

el amplio brío.

La provisión más dulce e infinita.

Tú me das cuanto soy,

Tú me renuevas.

Todos tus dones son puntuales y gratuitos,

                   ¡oh maternal Señor de la mañana!

 

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS
 

 

De

Los Salmos del mar

2 ed. Quito: 2003.

 

       Trad. de Anderson Braga Horta

 

1

 

Juventude do mar, eterno e sorridente.

Canta a onda gentil – trigal azul com nardos.

 

Canta imenso e jucundo. Canta jovem e velho.

Canta manso e profundo, como um lobo sem medo...

 

Sou um ponto pequeno ante o mar gigantesco.

E ambos somos mistério.

 

5

 

Claridade de Deus, o dia chega!

Oh doce e leve cântico das aves!

A luz, o suave vento, o mar em calma...

Oh boa e alta pátria: a vida unânime!

Minha alma no claror do dia exulta

e acha seu parentesco com o vale,

com a montanha azul e com as águas...

E esta é a alquimia, enfim:

achar-me, achar-te,

céu e mar outra vez,

tão juntamente,

a luz inteira aqui, juntas as mãos,

outra vez a unidade, o sol, teu canto!...

Dá-me, Senhor, ao fim, a transparência.

A Parusia, sim, a Parusia.

 

6

 

A luz provém de Deus, o dia claro,

o sol, a vida-luz,

roda que canta.

Ela é a saúde nossa e a nossa calma!

Flua alegre e gentil a água viva!

Cresçam as verdes ervas e os pinhais!

Brotem, perfil de fé, novas palavras!

Voe o jovem falcão sobre o alto monte!

Sobre o sereno azul abro os meus braços...

Minha alma na amplidão de luz renasce...

  

EX PAISAGEM COM RETRATOS

 

                   Tradução de Antonio Miranda

 

1

 

O rude muro, o

inumano ferro

cobrem a terra imaterial e boa

onde cantavam os pintassilgos

e o rio expressava lentos murmúrios...

 

 

2

 

Turva minha noite uma inquietação de cego

que busca os caminhos da vida,

essa missão ou vocação de Céu

que eu descumpro na rotina fria.

A madrugada espreita. No silêncio

espero o dom que há de mudar minha vida.

Qual será minha hora, meu lugar, meu dia?

Qual é minha sina e a que vim ao mundo?

Uma ansiedade me afoga o peito enxuto

enquanto eu rezo e clareia o dia...

 

 

3

 

Os anos passam. A rotina é vazia.

A mente em vão esboça, fia, elabora.

Que eu busco?  que me falta? o que venero?

Se não está aqui teu brio, tua alegria,

Como viver a claridade do dia?

A louca geografia da vida

assinala que o amor é primordial...

 

  

4

 

A madrugada acresce. O mundo ganha

um perfil de amizade.  A água agita

sua consciência eterna repicando

contra a pedra agreste,

e, pincelada amarela entre os prados,

a flor silvestre

rastro é de Deus no momento breve.

A pincelada eterna no agora

enquanto a vida passa fugazmente...

  

 

5

 

Caminho pela senda individual

tão livre.

Esta é a arte de viver sem tempo:

Os salgueiros, o caminho e minha alegria.

Floresce no silêncio

a harmonia

palavras que são folhas,

vozes novas...

Nada perturba o ar de minha dita.

A tolice não entra aqui

nem o vulgar.

Recuperei a minha alma e são meus passos

minha juventude, minha flor,

a voz tão minha.

Esta é a liberdade do próprio rumo

sem controvérsias,

sem contradições...

Acima joga o mar de nuvens puras

e o sol torna amarelos os caminhos...

  

6

 

Hoje, ontem e amanhã

são uma trama

para encontrar a luz e

a janela

ao Ser Que Se É

e ver-nos

afinal,

claros,

seres completos

no Sol eterno...

 

 

7

 

— Eu sou o ortinorrinco,

avis rara,

urso único.

 

—  Sou o doce koala

e o discípulo

de Buda.

  

8

 

Chegas, fulgor do Bem, até a terra,

Bela como as náyades* pensadas

pelo primeiro poeta.

Luz e surpresa

e favo de flores,

és a novidade da beleza,

os olhos claros

cuja luz não cessa...

És a liberdade

que se abre e voa

às altas delícias do Mistério...

Chegas, eterna

E, entretanto, passas...

Me fartas, me embelezas e

vais embora...

Nave de luz

e da lembrança

fogo!

 

 

9

 

Bebo em teu céu límpido o ar eterno,

a inevitável luz,

o amplo brio.

A provisão mais doce e infinita.

Tu me dás quanto sou.

Tu me renovas.

Todos os teus dons são pontuais e gratuitos,

ó maternal Senhor da manhã!

  

 

Página ampliada e republicada em março de 2008.

 

*ninfas da água

 

Belo Horizonte, 1.º/6/2011

 

Manoel Hygino dos Santos

Poesia no Equador

 

 As palavras nem sempre expressam exatamente o que o redator deseja. Ademais, elas têm mais de uma acepção, daí permitir interpretações equívocas. Assim, quando escrevo que são "estreitas" as relações das nações latino-americanas entre si, no campo literário, não significa que elas sejam próximas. Pelo contrário, elas se acham em nível bem menor do que deveriam.

 

Sabemos muito pouco sobre o ofício literário em língua espanhola, e os cultores conhecidos são relativamente poucos. Evocam-se nomes como os de Neruda, Cortázar, Gabriela Mistral, Rubén Dário, e os que conquistaram o Nobel, ganhando em termos de popularidade os romancistas que já têm obra consagrada.

 

É o caso do Equador, por exemplo, banhado pelo Oceano Pacífico, embora o adjetivo - pacífico - não possa ser adotado a rigor para a vida política do país, que nos últimos 14 anos - teve três presidentes destituídos do poder. Bem latino-americanamente portanto.

 

Do país sempre se lembre, a título de curiosidade, que lá se fabricam os famosos chapéus "Panamá"! Ou que em suas costas está o arquipélago dos Galápagos, habitado por uma raríssima fauna, que impressionou Darwin, mas a todos os demais pesquisadores que por ali andaram a estudar as maravilhas da natureza.

 

Outro dado interessante é que o Equador se livrou do jugo espanhol no mesmo ano em que D. Pedro dava o grito do Ipiranga: 1822, alguns meses antes, aconteceu em 24 de maio, quando o competente Antônio José de Sucre, tenente de Bolívar, venceu a Batalha de Pichincha, comandando soldados de meia dúzia de países que seriam criados. Uma pichincha ou pechincha? Mero trocadilho.

 

Mas em termos de letras o máximo talvez que se saiba é que a atividade literária equatoriana é representada por Frei Gaspar de Villarroel, orador sacro, poeta e jurista, a que se atribuem os alicerces do Direito Público hispano-americano.

 

Assim, é muito bom conhecer a produção de Eduardo Mora-Anda, que teve publicado "Salmos del Mar - Salmos do Mar", em edição bilíngue, lançada em Brasília. A obra, a mim enviada por Anderson Braga Horta, uma das mais autênticas vozes da poesia contemporânea no Brasil, tem estudo preliminar de Rubén Vela, ex-presidente da Sociedade Argentina de Escritores e Primeiro Prêmio de Poesia da Cidade de Bueno Aires.

 

Para o autor argentino, a obra poética de Eduardo Mora-Anda está firmemente ligada a seu pensamento filosófico ou, como disse Leopoldo Marechal, é através de seu fazer poético que culmina seu fazer filosófico. Nos versos do "Salmos do Mar", sente-se a força de um poeta de perfeita maturidade, que proclama a simbiose da exaltação religiosa com a natureza, o que se sente muito intimamente na tradução feliz de Anderson Braga Horta e Antônio Miranda.

 

Para o poeta equatoriano, "A luz provém de Deus, o dia claro,/ sol, a vida luz,/ roda que canta./ Ela é a saúde nossa e a nossa calma! - Cresçam as verdes ervas e os pinhais!/ Brotem, perfil de fé, novas palavras!/ Voe o jovem falcão sobre o alto monte!/ Sobre o sereno azul abro os meus braços.../ Minha alma na amplidão de luz renasce..."

 

 

 

 


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