SAMUEL FEIJÓO
(1914-1992)
Além de poeta, Samuel Feijóo foi pintor, desenhista, jornalista, editor, narrador, folclorista, crítico e ensaísta. Autor de obra tão diversificada conta provavelmente com um número de publicações nunca suplantado por nenhum outro cubano. A isso se acrescentam mais de sessenta números das revistas Islas e Signos que Feijóo editou, em diferentes épocas, completamente sozinho. Cabe ressaltar, em relação a sua poesia, que conseguiu os mais sólidos efeitos estéticos em nossa lírica, criando uma poética da natureza que pode ser lida, principalmente, nos grandes poemas Beth-el (1948), Faz (1955), e o Himno a la alusión del tiempo (1959), reunidos em Ser fiel (1964). O melhor de sua obra se encontra em Ser (1983) e em Poesía (1984). A demência senil impediu a continuação de uma das obras mais intensas da história da literatura cubana.
Virgilio López Lemus
Más datos y poemas del autor en: http://www.cubaliteraria.com/autor/samuel_feijoo/index.html
TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS
LA PILTRAFA DEL PERRO BOBO
La naturaleza se equivocó conmigo.
Nací para perro guardián
de un asilo de viejos.
Los palos que me han dado
son palos para perros.
Cuando alguien me echa
una piltrafa
tiemblo de amor y
ya no sé comerla
con entero placer.
(De: EI pan del bobo, 1978-1979)
EL PAN DEL BOBO
Todas las mañanas
os pongo pan
y plátanos
en las ventanas,
por lo
tanto, gorrioncitos:
no
escapéis
cuando os llame ....
(Samuel: ¿tú eres bobo?
¿No ves que
para ellos
eres un hombre?)
(De: El pan del bobo, 1978-1979)
RECUENTO
Nada más puedo ser,
ayúdame tarde;
un caminante oscuro por la orilla
otoñal del agua)
ayúdame agua;
una canción perdida siempre
bajo un árbol apenas visible,
ayúdame árbol;
un ojo de niño condenado,
un enfermo que vaga sin ruta,
ayúdame errancia;
un poeta de puro sortilegio,
un tan vago sonido cayendo:
ayúdame verso;
un amor que ha encendido los fuegos
de oro, del joven oro:
oro, ayúdame.
Ah, vasto campo, tiempo tan bello
monótono cayendo en mi pérdida
fría), acude, ¿puedes
calentarme como una transida doncella
con tiernas pausas, correspondencias turbadas,
con pensamientos con el sueño de la yerba,
entrando en locura jubilosa
como llama vasta y santa,
canto
vívido, honor del mundo?
Ah, cuerpo mío, condenado suave,
alma de mi cuerpo, sola de mi cuerpo, pájaro
anidando en su solo nido, su único
arrimo de pajas rotas, devuélveme, ayúdame:
hazte pacífico para que yo lo sea, restaura,
enloquece, suave, sonríe, heroico cae
en tu sórdido lecho noblemente si puedes.
Abril 11, 1956 (Muerte de mi madre)
(De: La hoja deI poeta, 1957)
EL NIÑO
Yo no busco el palacio
Lujoso,
los altares de oro:
yo
busco
el hogar humildísimo
y en él a un niño.
En ese niño está
mi dios mortal,
pidiéndome:
ayúdame,
¿no ves que soy
un niño?
Sea un dios o sea un dragón
futuro:
¡es un niño que me mira!
Ven a mi pecho, hijo,
mis brazos necesitan abrirse,
aunque abracen quimeras.
(De: El pensador silvestre, 1978-1979)
Extraídos de VINTE POETAS CUBANOS DO SÉCULO XX; seleção, prefácio e notas de Virgilio López Lemus. Trad. Alai Garcia Diniz, Luizete Guimarães Barros. Florianópolis:Editora de UFSC, 1995.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traduções de
Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros
A PELANCA DO CACHORRO BOBO
A natureza se enganou comigo.
Nasci para cão de guarda
de um asilo de velhos.
As pauladas que me deram
são pauladas pra cachorro.
Quando alguém me joga
uma pelanca
tremo de amor e
já não sei comê-la
com todo o prazer.
(De: El pan del bobo, 1978-1979)
O PÃO DO BOBO
Todas as manhãs
vos ponho pão
e banana
nas janelas,
por
isso
pardaizinhos:
não
escapeis
quando eu vos chame ...
(Samuel: você é bobo? Não vê que
para eles
você é um homem?)
(De: El pan del bobo, 1978-1979)
INVENTARIO
Nada mais posso ser,
ajude-me tarde;
um caminhante escuro pela beira
outonal da água,
ajude-me água;
uma canção sempre perdida
sob uma árvore apenas visível,
ajude-me árvore;
um olho de criança condenada,
um doente que vaga sem rumo,
ajude-me errância;
um poeta de puros presságios,
um som tão vago caindo:
ajude-me verso;
um amor que acendeu os fogos
de ouro, do jovem ouro:
ouro, ajude-me.
Ah, vasto campo, tempo tão belo
monótono caindo em minha perda
fria, acode. Pode
esquentar-me como uma transida donzela
com pausas ternas, correspondências turvas,
com pensamentos com o sonho da erva,
entrando em loucura jubilosa
como chama vasta e santa, canto
vívido, honra do mundo?
Ah, corpo meu, condenado suave,
alma de meu corpo, só de meu corpo, pássaro
aninhando em seu único ninho, seu único
arrimo de palhas rotas, devolva-me, ajude-me:
faça-se pacífico para que eu o seja, restaure,
enlouqueça, sorria suave, caia heróico,
nobremente, em seu sórdido leito, se puder.
11 de Abril de 1956 (Morte de minha mãe)
(De: La hoja del poeta, 1957)
A CRIANÇA
Eu não busco o palácio
luxuoso,
os altares de ouro:
eu
busco
o lar humílimo
e nele uma criança.
Nessa criança está
meu deus mortal,
pedindo-me:
ajude-me,
não vê que sou
uma criança?
Seja um deus ou um dragão
futuro:
é uma criança que me olha!
Venha ao meu peito, filho,
meus braços necessitam abrir-se,
ainda que abracem quimeras.
(De: El pensador silvestre, 1978-1979)
Extraídos de VINTE POETAS CUBANOS DO SÉCULO XX; seleção, prefácio e notas de Virgilio López Lemus. Trad. Alai Garcia Diniz, Luizete Guimarães Barros. Florianópolis:Editora de UFSC, 1995.
DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA. ANO XI – No. 21. Editor Guido Bilharino. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 1991. 130 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
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Página ampliada e republicada em abril de 2024 |