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ROBERTO F. RETAMAR
Roberto Fernández Retamar se tornou doutor em Filosofia e Letras na Universidade de Havana em 1954, e realizou estudos de pós-graduação nas Universidades de Paris e Londres (1955–1956). É Doutor em Ciências Filológicas, e desde 1955 é professor da Universidade de Havana (desde 1995, Professor Emérito); foi entre 1957 e 1958 professor na Universidade Yale, e organizou conferências, leituras e cursos, em muitas outras instituições culturais da América, Europa e Japão. É Professor Honorário da Universidade de São Marcos em Lima (1986) e Doutor Honoris Causa das Universidades de Sófia (1989), Buenos Aires (1993) e Central de Las Villas (2011). Foi, entre 1947 e 1948, chefe de informação da revista Alba (para a qual entrevistou Ernest Hemingway) e é colaborador, desde 1951, da revista Orígenes, além de ter sido diretor entre 1959 e 1960 da Nueva Revista Cubana, conselheiro cultural de Cuba na França (1960) e secretário da União de Escritores e Artistas de Cuba (1961–1964), onde fundou em 1962 e codirigiu até 1964 a revista Unión, junto com Nicolás Guillén, Alejo Carpentier e José Rodríguez Feo. Em 1965 começou a dirigir a revista que é órgão da Casa de las Américas, instituição que preside desde 1986. Fundou em 1977 e dirigiu até 1986 o Centro de Estudos Marcianos e seu Anuario. Desde 1995 é membro da Academia Cubana da Língua (que dirigiu entre 2008 e 2012), e membro correspondente da Real Academia Espanhola.
Entre seus ensaios mais conhecidos estão La poesía contemporánea en Cuba (1927-1953), Antipoesía y poesía conversacional en Hispanoamérica, Modernismo, 98, subdesarrollo, Calibán, Nuestra América y Occidente y Contra la Leyenda Negra.
Biografia (parcial) : https://pt.wikipedia.org/
TEXTOS EN ESPAÑOL – TEXTOS EM PORTUGUÊS
ANTOLOGÍA 5to. FESTIVAL MUNDIAL 2008. Homenaje a Gustavo Pereira. África / América / Ásia / Europa / Oceanía. Caracas, Venezuela: Fundación Casa Nacional de las Letras Andrés Bello, 2009. 372 p. 15,5x20 cm. "5º. Festival Mundial de Poesía". ISBN 978-980-214-221-7 Ej. bibl. Antonio Miranda
ESCRIBIA PALABRAS PARA EL AGUA
"que tu mayor dolor quedará sin ser dicho "
Escribía palabras para el agua
(Escala, ánfora, miel, ruiseñor, corza),
Alzando su cristal en el ligero
Lomo del viento: torres, muros rápidos.
Era una frágil búsqueda en la noche,
Un levantar su vuelo las palomas
Desde las cicatrices de la sangre,
Una larga pregunta por lo oscuro.
Allí el gemido se quedó clavado;
El pequeño dolor alzó su espada,
Efímera y fragante como un lirio
Para esa carne de tan bravo vuelo.
La palabra ambiciosa, la palabra
De piel enamorada hubo en su boca,
Para decir el pulso y la sonrisa
el minúsculo sueño y el ocaso.
Pero alzaron sus hombros las espigas
Hacia el alba, perfectas y adueñadas,
amenazó a su triste arquitectura
Tanta cruda semilla en áureo surco.
ESTA TARDE Y SU LLUVIA
El día es claro y firme ahora. Ha llovido.
Hay un vago recuerdo de la lluvia en el aire.
Las grandes hojas guardan sus minúsculas ruinas
—Múltiples ojos claros, gotas limpias y débiles—
Pero ya el cielo está sencillamente azul
(También, es cierto, hay grandes nubes blancas
Que ondean su orgulloso algodón y sonríen),
Y el aire y su recuerdo se recuestan y duermen.
Esta tarde y su lluvia, he pensado en tus ojos.
Esta lluvia he pensado en tu piel, y esta tarde,
Con su cielo y sus nubes, he pensado en tus ojos.
Una tarde, me he dicho, lloverá frescamente,
Lloverá en nuestras flores, lloverá en nuestras hoja
Nuestra casa será tejida por la lluvia.
(Allí sus hilos largos, de cristal delgadísimo,
Se enredarán quizá en nuestros propios pasos.)
Una tarde tan clara como esta misma tarde
Lloverá en nuestra casa.
Por eso hoy, inexplicablemente,
Mientras su red sin peces descendía la lluvia,
Mientras las grandes flores acercaban sus labios
Hacia ese largo beso, yo pensaba en tus ojos
Tan tristes como míos, y en tus manos, y en ti,
Y en otra tarde casi como ésta.
HACIA EL ANOCHECER
Hacia el anochecer, bajábamos
Por las humildes calles, piedras
Casi en amarga piel, que recorríamos
Dejando caer nuestras risas
Hasta el fondo de su pobreza.
el brillo inusitado del amigo
Iluminaba las palabras todas,
divisábamos un poco más,
el aire se hacía más hondo.
La noche, opulenta de astros,
Cómo estaba clara y serena,
Abierta para nuestras preguntas,
Recorrida, maternal, pura.
Entrábamos a la vida
En alegre, en honda comunión;
la muerte tenía su sitio
Como el gran lienzo en que trazábamos
Signos y severas líneas.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de ANTONIO MIRANDA
ESCREVIA PALAVRAS PARA A ÁGUA
“que tua dor maior ficará sem ser dita”
Escrevia palavras para a água
(Escala, ânfora, mel, colibri, corço)
Alçando seu cristal no ligeiro
Lombo do vento: torres, muros ligeiros.
Era uma frágil busca pela noite,
Um levantar seu voo as pombas
Desde as cicatrizes do sangue,
Uma longa pergunta no escuro.
Ali o gemido ficou cravado;
A pequena dor alçou sua espada,
Efêmera e fragrante como um lírio
Para essa carne de tão bravo voo.
A palavra ambiciosa, a palavra
De pele enamorada havia em sua boca,
Para dizer o pulso e o sorriso
E o músculo sonho e o ocaso.
Mas ergueram seus ombros as espigas
Para a alvorada, perfeitas e possuídas,
E ameaçou a sua triste arquitetura
Tanta semente crua em áureo sulco.
ESTA TARDE E SUA CHUVA
O dia é claro e firme agora. Choveu.
Há uma vaga lembrança de chuva no ar.
As grandes folhas guardam sus minúsculas ruínas
— Múltiplos olhos claros, gotas límpidas e débeis —
Mas já o céu está inteiramente azul
(Também, é certo, há grandes nuvens brancas
Que ondeiam seu orgulhoso algodão e sorriem),
E o ar e sua lembrança recostam e dormem.
Esta tarde e sua chuva, pensei em teus olhos.
Esta chuva eu pensei em tua pele, e esta tarde,
Com o seu céu suas nuvens, eu pensei em teus olhos.
Uma tarde, eu me disse, vai chover frescamente,
Vai chover em nossas flores, vai chover em nossas folhas,
Nossa casa vai ser tecida pela chuva.
(Ali seus fios longos, de cristal finíssimo,
Vão enredar-se talvez em nossos próprios passos.)
Uma tarde tão clara como esta mesma tarde
Vai chover em nossa casa.
Mas esse hoje, inexplicavelmente,
Enquanto sua rede sem peixes descia da chuva,
Enquanto as enormes flores aproximavam seus lábios
Tão triste como os meus, e em tuas mãos, e em ti,
E em outra tarde quase como esta.
ATÉ O AMANHECER
Até o amanhecer, descíamos
Pelas humildes ruas, pedras
Quase na amarga pele, que percorríamos.
Deixando cair nosso riso
Até o fundo de sua pobreza.
E o brilho inusitado do amigo
Iluminava todas as palavras,
E divisávamos um pouco mais,
E o ar se tornava mais profundo.
A noite, opulenta de astros,
Como estava clara e serena,
Aberta para as nossas perguntas,
Recorrida, maternal, pura.
Entrávamos na vida
Em alegre, em funda comunhão;
E a morte tinha seu lugar
Como o grande lenço em que traçávamos
Signos e severas linhas.
Página publicada em abril de 2020
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