RICARDO ALBERTO PÉREZ
A poesia de Ricardo Alberto Pérez remete diretamente à riqueza da poesia barroca de origem espanhola e cubana em particular. São muitos os pontos de contato, citações, palavras, ecos que ligam o poeta a esse movimento europeu e, através de José Lozama Lima, ao barroquismo latino-americano do presente século. Diz Cirlot, citado por Geir Campos no seu Pequeno Dicionário de Arte Poética: "No barroco, todas as formas adquirem um sentido de precipitação panteísta, de universo agitado; o ritmo que lhes concede unidade não permite que nenhuma delas permaneça indiferentes".
José Eduardo Degrazia
TEXTOS EN ESPAÑOL - PORTUGUêS
Traduções de José Eduardo Degrazia
PÉREZ, Ricardo Alberto. Turim sem pássaro, sem relógio. Tradução, notas e
apresentação de José Eduardo Degrazia. Passo Fundo,, RS: Aldeia Sul Editora, 2000. 96 p.
DE UN VIENTRE DE MUJER LA METÁFORA SE
HACE CON UN FETO LLEGADO DE VARSOVIA
El espacio interior de un cuerno
(talado)
es útil al depositar una contemplación.
El espacio interior de un cuerno
es la Cripta
y cima
de la figura geométrica
que el pensamiento traza
sobre la idea de un embarazo.
En un pueblo de provincia compré la revista
POLONIA.
(era la más sensual
de todas las que se comercializaban
en el país),
en ese número había un desnudo
de una mujer embarazada.
Durante tiempos (intervalos oblicuos)
intenté la conquista de mujeres embarazadas
para que cierta plasticidad
de lo que era una idea fija
pudiera transformarse en redondez.
Dentro de mí un papel rugoso
se ha dedicado a formar figuras plurales,
a decidir el tono de mí cuerpo
que en estos días ha rozado la idea
de otro vientre magnífico.
Invierno y 1995
DO VENTRE DE UMA MULHER A METÁFORA SE
FAZ COM UM FETO CHEGADO DE VARSÓVIA
O espado interior de um chifre
(cortado)
é útil ao depositar urna contemplação.
O espaço interior de um chifre
é Cripta
e cúpula
da figura geométrica
que o pensamento traça
sobre a ideia de gravidez.
Em urna cidade de província comprei a revista
POLONIA
(era a mais erótica
de todas as que se vendiam
no país),
nesse número havia a nudez
de urna mulher grávida.
Algumas vezes (intervalos oblíquos)
tentei a conquista de mulheres grávidas
para que certa plasticidade
do que era urna ideia fixa
pudesse transformar-se em redondez.
Dentro de mim um papel enrugado
dedicou-se a formar figuras plurais,
a decidir o tom de meu corpo
que por estes dias tocou a ideia
de outro ventre magnífico.
Inverno de 1995
FELIZ, FELLINI
Feliz, Fellini que otorga al cartón
la propiedad del dolor
ante algún cerebro
que pretende obtener de fragmentos
una ameba tentativa.
(Bajo por esas canales repletas
de flujo,
atestadas de vapor
y desechos grasientos
rasantes al cosquilleo del interior
de un muslo).
Feliz, Fellini que aleatorio lo veo reaparecer
en unas manchas de sangre
de murciélago
en las aceras de un pueblo
en la provincia.
Feliz, Fellini que tiene un espacio
en este sitio,
y en esta cabeza
tan cercana a la destemplanza
de la tierra.
Feliz, porque Fellini vuelve
a donde se remueve la corteza como urna baba
o el excremento ejemplar y exacto
de un molusco.
Está ahí, entre tantas agujas
que he visto mover
desde mi infancia,
moverlas como si al hacerlo
fueran integradas a la rotación misma
del planeta.
Feliz, entre las tejedoras domésticas
y dentro del aliento
de los que en una fría noche
de Silecia
cantaron contra la plusvalía.
Cuando el gusanito de seda
le roza su nariz,
la matriz
o la pierna envejecida
de la Julieta.
(Toda membrana queda a espensas
de volverse orificio,
hundimiento hervidero,
compresión y escape de gas,
casi una lava caliente.
El mundo no es más complejo
que un huevo,
que el contacto de una boca
con un pene,
de esa misma boca
con la otra que la espera arriba,
vertical,
conmovida e irónica).
Fellini, Feliz en las rosetas
que se abren.
Invierno 1996
FELIZ, FELLINI
Feliz, Fellini que empresta à cartolina
a propriedade da dor
frente a algum cérebro
que pretende obter de fragmentos
uma ameba tentativa.
(Desço por esses canais repletos
de fluxo,
cheios de vapor
e dejetos gordurosos
rasante às cócegas do interior
de um músculo).
Feliz, Fellini que aleatoriamente o viu reaparecer
numas manchas de sangue
de morcego
nas calçadas de uma cidade
na província.
Feliz, Fellini que tem um espaço
neste lugar,
e nesta cabeça
tão próxima da destemperança
da terra.
Feliz, porque Fellini volta
aonde se remove o córtex como uma baba
ou o excremento exemplar e exato
de um molusco.
Está aí desde tantas agulhas
que vi se movimentarem
desde minha infância,
movimentá-las como se ao fazê-lo
fossem integradas à rotação mesma
do planeta.
Feliz, entre as tecedoras domésticas
e dentro do respirar
dos que numa fria noite
na Silésia
cantaram contra a mais valia.
Quando o vermezinho de seda
roça seu nariz,
a matriz
ou a perna envelhecida
de Julieta.
(Toda membrana fica à espera
de tornar-se orifício,
submersão fervor,
compressão e escape de gás,
quase uma lava quente.
O mundo não é mais complexo
do que um ovo,
do que o contato de uma boca
com um pênis,
dessa mesma boca
com a outra que a espera acima,
vertical,
comovida e irônica).
Fellini, Feliz nas pequenas rosas
que se vão abrindo.
Inverno de 1996
CENTAVOS
Deleuze ha muerto ayer, en Francia,
caído al vacío, dijerase,
o en la vasija donde se vertebra
el resto de un imaginario.
En el corro de su propia mente,
en las manecillas de un iris cansado,
de un labio que hedoniza.
Adquiere la calma de un árbol,
de un hueso,
la resistencia del vuelo de una mosca.
CENTAVOS
Deleuze morreu ontem, na França.
caído no vazio, disseram,
ou na vasilha onde se vértebra
o resto de um imaginário.
Na ciranda de sua própria mente,
nos signos de uma íris cansada,
de um lábio que hedoniza.
Adquire a calma de uma árvore,
de um osso,
a resistência do voo de uma mosca
Outono de 1995
Página publicada em agosto de 2012
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