EUGENIO FLORIT
(1903-1999)
Embora tenha nascido na Espanha, residiu nos Estados Unidos por mais de quarenta anos. Não obstante, Florit é um poeta essencialmente cubano que publicou, em 1930, Trópico, seu livro de mais clara filiação nacional. Passou a ter prestígio como poeta na década de trinta.
Suas obras mais conhecidas são: 32 poemas breves (1927), Doble acento (1937), Reino (1938) e Asonante final y otros poemas (1955). É um dos poetas "puros" (filiado durante muito tempo à poesia "pura") da tradição lírica cubana, mas é também um dos iniciadores da poesia coloquialista, com seu "Conversación a mi padre", de 1948. Suas Obras completas apareceram nos Estados Unidos em 1983. Sua obra lírica, às vezes próxima à de Juan Ramón Jiménez, se caracteriza por um cuidado formal e uma qualidade expressiva notáveis.
TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS
A MI MANO
(Casi soneto)
Aquí te ves, con tus cinco puntas
anoche flojas sobre la almohada,
y este minuto las cinco juntas
sobre la letra recién creada.
Sobre la letra que se derrama
con unas luces de alas difusas
y que se enfocan para su drama
a cada golpe con que las usas.
Pinta las buenas, las elocuentes;
di las palabras como las sientes;
clava las letras según las viste,
para que al menos cuando te mueras
dejes al mundo, de lo que eras,
las formas fijas de lo que fuiste.
(De: Asonante final y otros poemas, 1946-1955)
ESTROFAS A UNA ESTATUA
Monumento ceñido
de un tiempo tan lejano de tu muerte.
Así te estás inmóvil a la orilla
de este sol que se fuga en mariposas .
Tú, estatua blanca, rosa de alabastro,
naciste para estar pura en la tierra
con un dosel de ramas olorosas
y la pupila ciega bajo el cielo.
No has de sentir cómo la luz se muere
sino por el color que en ti resbala
y el frío que se prende a tus rodillas
húmedas del silencio de la tarde.
Cuando en piedra moría la sonrisa
quebró sus alas la dorada abeja
y en el espacio eterno lleva el alma
con recuerdo de mieles y de bocas.
Ya tu perfecta geometría sabe
que es vano el aire y tímido el rocío;
y cómo viene el mar sobre esa arena
con el eco de tantos caracoles.
Beso de estrella, luz para tu frente
desnuda de memorias y de lágrimas;
qué firme superficie de alabastro
donde ya no se sueña.
Por la rama caída hasta tus hombros
bajó el canto de un pájaro a besarte.
Qué serene ilusión tienes, estatua,
de eternidad bajo la clara noche.
(De Doble acento)
ANSIA DE DIOSES
Ansia de dioses es el homenaje
para vivir su eternidad contentos.
Sube el amor, que las ampara,
como sube el incienso.
¿Qué el otro pobre dios mortal
necesita por aire, de alimento,
sino saber que alguien detiene
la mirada en sus versos,
y por amor, con el amor
va buscándolos, dentro,
para encontrar la luz que tengan,
y la poca memoria de su cielo
—del que perdió una vez— y cada día
el pobre dios está perdiendo?
¿Qué otra cosa que ese amor
necesita el poeta en su destierro?
¿Y qué poco -qué mucho— ¡cuánto mucho!
para poder seguirse siendo?
(De Hábito de esperanza)
EN LA MUERTE DE ALGUIEN
Aquí está, en la mirada vacía de paisajes y nubes;
en la frente sin sombras, aú húmeda por la lágrima ajena;
en la boca seca, que dejó escapar el pájaro de la palavra;
en este pecho hundido,
en estas manos frías, donde estuvo hasta ayer un
ademán de angustia
y que ahora no sienten el peso de las horas negras.
Aquí, em todo este cuerpo inmóvil caído sobre el lecho,
cruce de suspiros y palomas de rezos mecânicos.
Aquí, y más aún, em la alcoba cerrada,
y en el rincón del sol amigo,
y en el puesto en la mesa, donde olvidaron de quitar
el plato .
Y más aún, debajo del sombrero,
y escondida en los pliegues del pañuelo,
y hasta en la flor que se quedó em el libro.
(Qué pena, señor, qué pena. Era una joven.)
Allá lejos, se juntan dos palomas en vuelo.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traduções de Alai García Diniz, Antonio Miranda e
Luizete Guimarães Barros
EM MINHAS MÃOS
(Quase soneto)
Tradução de
Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros
Vês a ti mesmo com cinco unhas
de noite frouxas sobre a almofada
e neste minuto as cinco juntas
aqui sobre a letra agora criada.
Sobre a letra que se derrama
como umas luzes de asas difusas
e que enfocam para seu drama
a cada toque com que as usas.
Pinta as boas, as eloqüentes;
diz as palavras como as sentes;
crava as letras como as viste,
para que ao menos quando tu morras
deixes ao mundo, do que tu eras,
as formas fixas do que tu foste.
(De: Asonante final y otros poemas, 1946-1955)
Extraídos de VINTE POETAS CUBANOS DO SÉCULO XX; seleção, prefácio e notas de Virgilio López Lemus. Trad. Alai Garcia Diniz, Luizete Guimarães Barros. Florianópolis: Editora de UFSC, 1995.
ESTROFES PARA UMA ESTATUA
(Versão de Antonio Miranda)
Monumento conformado
a um tempo tão distante de tua morte.
Assim estás imóvel no limite
deste sol que escapa em mariposas.
Tu, estátua branca, rosa de alabastro,
nasceste para ser pura na terra
como dossel de ramos perfumados
e a pupila cega sob o céu.
Não hás de sentir como fenece a luz
senão pela cor em que em ti resvala
e o frio que se instala em teus joelhos
úmidos do silêncio da tarde.
Quando morria na pedra o sorriso
rompeu suas asas a dourada abelha
e no espaço eterno leva a alma
com lembrança de mel e de bocas.
Tua perfeita geometria já sabe
que o ar é inútil e tímido o orvalho;
e como vem o mar sobre a areia
com o eco de tantos caracóis.
Beijo de estrela, luz para tua fronte
despida de memórias e de lágrimas;
quão firme superfície de alabastro
onde já não se pode sonhar.
Pelo ramo caído em teus ombros
desceu o canto de pássaro a beijar-te.
Que serena ilusão tens, estátua,
de eternidade nesta noite clara.
(De Doble acento)
ÂNSIA DE DEUSES
(Versão de Antonio Miranda)
Ânsia de deuses é homenagem
para viver sua eternidades contentes.
Eleva o amor, que os ampara,
como eleva o incenso.
Que outro pobre deus mortal
necessita de ar, de alimento,
para saber que alguém retém
a mirada em seus versos,
e por amor, com o amor
vai buscando-os, dentro,
para encontrar a luz que tenham,
e a escassa memória de seu céu
—que perdeu uma vez— e cada dia
o pobre deus está perdendo?
Que mais coisa que esse amor
necessita em seu desterro?
E que pouco —que muito— quão muito!
para poder continuar sendo?
(De Hábito de Esperanza.)
NA MORTE DE ALGUÉM
Aqui está, no olhar vazio de paisagens e nuvens;
na fronte sem sombras, ainda úmida pela lágrima alheia;
na boca seca, que deixou escapar o pássaro da palavra;
neste peito arrasado,
nestas horas frias, onde esteve até ontem um aceno
de angústia
e que agora não sentem o peso das horas negras.
Aqui, em todo este corpo imóvel caído no leito,
cruz de suspiros e pombas de rezas mecânicas.
Aqui, e ainda mais, no quarto fechado,
e no rincão de sol amigo,
e no disposto na mesa, onde esqueceram de tirar o prato.
E mais ainda, debaixo do chapéu,
e até na flor que ficou no livro.
(Que pena, Senhor, que pena. Era uma jovem.)
Lá longe, unem-se duas pombas no voo.
Ampliada e republicada em maio de 2107.
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