Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EFRAIN BARQUERO

(1951-  )

 

Efraín Barqueroseudónimo de Sergio Efraín Barahona Jofré (Piedra BlancaTeno3 de mayo de 1931) es un poeta chileno de la llamada generación literaria de 1950. Obtuvo el Premio Nacional de Literatura en 2008.

 

TEXTOS EN ESPAÑOL   - TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

LA MIEL HEREDADA

Mi abuelo era el río que fecundaba esas tierras.
Lleno de innumerables manos y ojos y oídos.
Y, al mismo tiempo, ciego y taciturno como un árbol.
Era la barba antigua y la voz profunda de la casa.
Era el sembrador y el fruto. La cepa rugosa.
El índice del tiempo y la sangre propicia.
Mi abuelo era el invierno con las manos floridas.
Era el propio río que poblaba las tierras.
Era la propia tierra que moría y renacía.

Mi abuela era la rama curvada por los nacimientos.
Era el rostro de la casa sentado en la cocina.
Era el olor del pan y la manzana guardada.
Era la mano del romero y la voz del conjuro.

Era la pobreza de los largos inviernos
envuelta en azúcar como humilde golosina.
Quince hijos comían de sus manos milagrosas.
Quince hijos dormían con su sueño de águila.
Muchos nietos y biznietos hemos seguido
pasando por sus brazos enjutos.
Pero ella es siempre la mano que mezcla agua y harina.
Es el silencio de la noche lleno de pájaros dormidos.
 Es el brasero de la infancia con la tortilla corredora.

Mi padre era el que más se parecía a la tierra.
Debe haber nacido junto con el maíz o el trigo.
Mi padre era moreno, y dormía en su caballo.
Era como el jinete lento de la primavera.

Mis otros tíos todos se parecían a las aves del lugar.
Todos tenían algo de los árboles y las serranías.
Algunos eran poderosos como los caballos percherones.
Pero todos recordaban las cosas más cercanas a la tierra.
Era un enjambre turbulento que llenaba la casa.
Era una bandada de queltehues que anunciaba la lluvia.
Eran los zorzales que se robaban las cerezas.

Yo nací cuando eran viejos ya; cuando mi abuelo
tenía el pelo blanco, y la barba lo alejaba como niebla.
Yo nací cuando ardían las fogatas de mayo.
Y lo primero que recuerdo es la voz del río y de la tierra.

 

FOGON

Nunca apagaron el fogón
donde hervía un agua obscura.

Nuevos leños fueron arrojados
por dos manos ocultas en la sombra.
Nuevos baldes se trajeron
llenos de agua y de misterio.

Un trozo de carne fue asado.
Un pan surgió de las cenizas.
Un rito de azúcar quemada
hizo más antiguo el silencio.

Pero nadie se movió de ia orilla

Ni supe cuántos eran: el humo
los envolvía como en sueños.
No conocí sus rostros: el agua
que hervía los hacía tan lejanos.

Alguien irrumpió desde afuera,
pero nadie se movió de su asiento.

Seguía ardiento el fuego, bullía el agua.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Antonio Miranda

 

         O MEL HERDADO

         Meu avô era o rio que fecundava estas terras.
         Valendo-se de inumeráveis mão e olhos e ouvidos.
         E, ao mesmo tempo, cego e taciturno como uma árvore.
         Era a barba antiga e a voz profunda da casa.
         Era o semeador e o furto. O cepo rugoso.
         O índice do tempo e o sangue propício.
         Meu avô era o inverno com as mãos floridas.
         Era o próprio rio que povoava as terras.
         Era a própria terra que morria e renascia.

         Minha avó era a rama encurvada.
         Era a dor do pão e a maçã guardadas.
         Era o ramo do romeiro e a voz do conjuro.

         Era a pobreza dos longos invernos
         coberta de açúcar como humilde guloseima.
         Quinze filhos comiam de suas mãos milagrosas.
         Quinze filhos dormiam com o sonho de águia.
         Muitos netos e bisnetos nós seguimos enxutos
         passando por seus braços.
         Mas ela é sempre a mão que mescla água e farinha.
         É o silêncio da noite cheio de pássaros dormidos.
         É o braseiro da infância com a panqueca corredora.
        
         Meu pai era o que de mais parecido com a terra.
         Deve ter nascido com o milho e o trigo.
         Meu pai dera moreno, e dormia em seu cavalo.
         Era como o ginete lento da primavera.

         Meus outros tios eram todos parecidos com as aves do lugar.
         Todos tinham algo de árvores e serranias.
         Alguns eram poderosos como os cavalos potrancos.
         Outros tinham rosto de pedra ou de trigo tostado.
         Mas todos recordava as coisas mais próximas da terra.
         Era um enxame turbulento que enchia a casa.
         Era um bando de queltehues* que anunciava a chuva.
         Eram os tordos que roubavam as cerejas.

         Eu nasci quando já estavam velhos; quando meu avô
         tinha cabelos brancos, e a barba o distanciava como neblina.
         Eu nasci quando ardiam as fogueiras de maio.
         E o que recordo primeiro é a voz do rio e da terra.

 

         FOGÃO

         Nunca apagaram o fogão
         onde fervia uma água escura.

         Novas lenhas foram lançadas
         por duas mãos ocultas na sombra.
         Trouxeram novos baldes
         cheios de água e de mistério.

         Um pedaço de carne foi assado.
         Um pão saiu das cinzas.
         Um rito de açúcar queimado
         tornou mais antigo o silêncio.

         Mas ninguém deixou a margem.
         Nem soube quantos eram: a fumaça
         os envolvia como em um sonho.
         Não conheci seus rostos: a água
         que fervia tornava-os mais distantes.

         Alguém veio de fora,
         mas ninguém moveu-se de seu assento.

         Seguia ardendo o fogo, a água fervia.         

 

*pássaro campestre comum no Chile.

 

REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. No. 9 – jan./jun. 2023.  Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína, Opção editora, 2023.  174 p.          ISSN  22674-8495.

 

Tradução do Espanhol
por MARCOS FREITAS:

 

        A PEDRA DO POVO

      
A  pedra é nossa única arma
       com uma mistura de sangramento e de pranto.
       A doce pedra das construções
       é a nossa única arma,
       mas também a iracunda, a implacável, a áspera,
       a pedra guerreira das barricadas,
       a cruel dos colapsos exatos,
       a paciente e serena dos precipícios,
       a pedra da água, a pedra do tempo,
       a embriagada de morte e de enxofre, a necessária
       pedra das erupções,
       a pedra do povo!

       Eis aqui nossa arma elemental e primitiva,
       empunhada nas mão com saliva e com terra,
       com suor e com lágrimas, com unhas e dentes,
       com crispação inexorável de mão de morto,
       com lucidez de aferrar-se a um último resquício,
       com a alegria de envolver uma estrela,
       com a nudez de ser igual a uma pedra,
       com a pureza de sentir apenas o seu peso,
       eis aqui nossa única arma,
                                                 uma catapulta
       lambida pelo fogo secreto das mãos,
       alimentada no frio da nossa certeza,
       moldada em silêncio toda hora
       para o precioso local do assalto.

       A pedra do povo!


       O IDIOMA DE TODOS

      
Abriu a porta a todas as sombras
       e iluminou o rosto do desconhecido
       com aquela luz com que se come.
       A noite ficou da cor do pão e do azeite
       que é a cor do mistério de ser homem,
       que é a cor de nossa sombra.
       E o visitante estremeceu como a noite na lâmpada
       porque os que vêm de muito longe
       ficam calados, mostrando apenas seus rostos,
       deixando falar os que vieram antes.

       Levantou a luz acima de sua cabeça
       e a noite ficou ainda mais velha
       como a mãe da chuva e da neve.
       O estranho viu aquela luz ao longe, dentro de si,
       porque se lembrou do forno de barro de sua casa.
       E aquele braço estendido parecia-lhe a eterna
                                                                  pergunta 
       que os homens se fazem ao acordar.
       E respondeu ao braço aberto com uma saudação,
       falando-lhe no velho idioma do pão,
       que é a língua dos desconhecidos.

       Saudou o eterno hóspede e saudou a eternidade
       daquela luz de carboneto que arde no fundo da terra.
       E ambos se olharam em silêncio
       sem saber quem era o visitante, que era o visitado,
       com aquela luz de quem acredita no homem.

 *

Pedra ampliada e republicada em julho de 2023

 

 

Página publicada em setembro de 2017
           

 

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar