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ANDRES SILVA HUMERES

(1887 – 1956 )

Poeta e jornalista chileno, nascido em Concepción em 1887.  Seu primeiro livro, intitulado “Versos humanos”, apareceu em 1920. Actor y autor, foi professor de declamação no Conservatório de Música Enrique Soro, em Concepción; desde 1926, chefe geral das seções periodística e literária da Paramount  Film.

 

TEXTO EM PORTUGUÊS

 

 

ORICO, Osvaldo, tradJoias da Poesia Hispano Americana.  Lisboa: Livraria Bertrand,           1945.  229 p  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Tradução de Osvaldo Orico:

 

 

                A UMA COSTUREIRINHA

 

Costureirita divina

de pequenas ambições,

deixa a tarefa maligna

que, ao fim, te ataca os pulmões.

 

Essa agulha que fulgura
tropeçando no dedal,
lembra a ponta de um punhal
que te fere sem cordura...
Deixa, deixa essa costura,

criatura:

faz-te mal.

 

Apegada ao manequim,
teu forçado companheiro,
se te passa o dia inteiro...
Pobrezita, vem a mim!

 

Vem e escuta esta linguagem

dedicada ao teu labor.

Sabes o que é uma roupagem?

— Um engano encantador;

às mulheres dá o valor

que dá às aves a plumagem.

 

Todo o primor atribuído
à face de uma beldade
tem um brilho fementido;
sem o encanto do vestido
vale menos da metade.

 

Às vezes, vistosa pele

de um colo posta ao redor,

dá beleza de ouropel

a um rosto sem mais valor.

 

Porque o rosto feminino,
como o mar, brilha melhor a
o influxo peregrino
de um efeito enganador.

 

A que consegue colher

de um vestido esses segredos

não quer que fique a dever

seu êxito de mulher

ao milagre de teus dedos.

 

Sempre fixa no labor
da pecúnia transitória,
vives triste, sem história,
sem sonhos e sem amor.

 

Os modelos! Deles quantos
excitarão os encantos,
oferecendo aconchêgo
a uma cabeça querida,
enquanto tu, sem sossego,
estás roubando-te a vida.

 

Essa agulha que fulgura
tropeçando no dedal,
lembra a ponta de um punhal
que te fere sem cordura...
Abandona essa costura,
criatura:
faz-te mal.

 

 

 

Página publicada em março de 2019

 

 

 


 

 

 
 
 
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