SÉRGIO CAMPOS
(1941-1994)
Rio de Janeiro, Brasil. Autor de libros como O lobo e o pastor (1990), A cúpula e o rumor (1994).
Obra Poética: A casa dos elementos (1984), Bichos (1985), Ciclo amatório (1986), Montanhecer (1987), Nativa idade, (1990), O lobo e o pastor, (1990), As iras do dia, (1990), Móbiles de sal (1991), A cúpula e o rumor (1992), Leitura de cinzas (1993), Mar anterior - poesia selecionada e revista 1984/94 (1994).
No espaço de dez anos, Sérgio Campos publicou exatamente doze obras. Sua estréia em livro individual aconteceu, em 1984, com A casa dos elementos, composto por seis odes (ao mar, à terra, ao fogo, ao ar, aos quatro ventos elementares e aos quatro pássaros elementares) e um soneto ao Pássaro Anael. Uma estréia, certamente tardia, o poeta nascido no Rio de Janeiro em 1941, estava com 43 anos.
Em 1990, Sérgio Campos adentrou no mundo manual. Cria as edições com este nome e começa uma caminhada de divulgação poética que inclui a sua obra e a de outros escritores brasileiros. Ao longo de quase cinco anos de existência da Mundo Manual Edições, vieram a lume quinze livros (basicamente títulos seus, de Floriano Martins e Francisco Carvalho), todos em edições bem cuidadas, caprichosamente trabalhadas, com o esmero que a poesia merece. LEONTINO FILHO
Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
ELOGIO DA SOMBRA
Do branco à sombra
tudo são inverno
são elegia
no pórtico da noite vertical
Sucumbiremos nela
palco da beleza serena
com nossas abstrações velhas
e nosso horror à realidade
Poeta loucos
músicos surdos
pintores cegos
— do que é feita a arte
sucumbiremos
para renascer
sem calendários e roda
Poema extraído de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, México, n. XIX invierno 2001, de una edición dedicada al Brasil, con selección de Floriano Martins.
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CAMPOS, Sérgio. Mar Anterior. Organização, amparo crítico e revisão geral: Floriano Martins e Leontino Filho. Prólogo; Jorge Piewiro. Fortaleza, CE: ARC Edições, 2015. 140 P. 14X21 cm. Projeto Gráfico: Márcio Simões. Capa e vinhetas: Floriano Martins. “ Sérgio Campos ” Ex. bibl. Antonio Miranda
Prólogo
Cravar o osso da quilha
na solidão desta ilha
os olhos postos no cais
Mar de Minos
Meu destino foi maior
do que os tributos de Minos
Se trouxe jovens a Creta
fiando a morte entre os nervos
nutri raízes secretas
Meu destino foi maior
do que os tributos de Minos
Engenheiro dos abismos
navegador de sigilos
na orla dos desafios
de outros fios me encantei
Procissão dos exilados
responsório do que sei
meu prodígio foi maior
do que a ruina do rei
Pátio de profecias
— Nunca serei o herói que adormeceu
mas o cativo das pedras do alcantil
até que as águias clamem por meu nome
Assim renascerei porque memória
de uma dor que fere a própria dor
eis que perdido sou do que era meu
A solidão será o labirinto
onde erguerei o trono de Teseu
Lamento d'Aríana
Ó pássaro veloz
te fizeste invisível
voaste de meus olhos
rompeste
a madrugada
acesa de meus sonhos
Dormia em teus cabelos
território de alísios
panóplia de seda
dos lençóis
Neles gravava
o nome de teu rosto
Tomaste a rota
alheia ao portulano
a bordo de constelações
Para seguir-te
ouvi a voz dos remos
mas as praias
me negaram marés
Melhor não te soubesse:
coroava Atenas
errante de meus mares
o filho de Egeu
Melhor não te soubesse:
em Naxos cumpri
a orfandade da luz
as âncoras de sal
Melhor não te soubesse:
Contemplo
arder a chama em desamor
Cisne
o cisne singra
o sono
desliza
em silêncio
seu corpo
de baile
CAJU
A Leontino Filho
Pendurado
em suas vírgulas
ama a gramática
dos sabiás
ABACAXI
Flor que dá farpa
pavão rebelado
polpa no espinho
doce zangado
MILHO
—A lua me dilui
boneco horrendo
no milharal
Quando nasci
pensava
que era rei
Sérgio Campos
Mar anterior. Poesia selecionada e revista 1984/94.
Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994. 146 p.
Capa: Pedro Bahiense. Composição e impressão: Zás Gráfica e Editora.
Edição de 200 exemplares. Autografado.
Cisne
o cisne singra
o sono
desliza
em silêncio
seu corpo
de baile
OFÍCIO DE SOMBRAS
Lo0go abaixo dos anjos
mas em corpo difícil
logo abaixo dos anjos
mas em desespero
na ladeira do vento
espoliado das asas
logo abaixo dos anjos
mas no assoalho da terra
e no exílio das casas
Sérgio Campos
Leitura de cinzas
Nova Friburgo, RJ: Mundo Manual Edições, 1993.
44 p. Capa: Cláudio Pedro Alves, aquarela.
Exemplar n. 032 de uma edição de 300 exs
FOTÓGRAFO
Apenas à memória
praz esta ternura
AS mais não praz
outrora sobre o ser
se ver outra figura
Para ser ancho: outras figuras
que plasmas e urdem
novos enredos
máscaras futuras
Sérgio Campos
A cúpula e o rumor.
Nova Friburgo, RJ: Mundo Manual Edições, 1992.
55 p. Ex. n. 187 de uma edição de 300 exs.
Impresso em Juiz de Fora, Zas Gráfica
e editora.
APRENDIZADO PELA PALAVRA
É a palavra que nos antecede
e nos revela a voz do acontecer
e como somos aflição e sede
cruel é a inocência de a saber
Para insculpir teu gesto na neblina
para guardar teu rosto na memória
bata um coral de tessitura fina
e a harpa de sigilos de uma estória
Entre metal e mel temos buscado
palavra que a si mesma se descubra
que saiba sombra ser e luz do amado
que tanto menor seja tanto cresça
que não se perca antes que nos descubra
que nos encontre antes que nos conheça
Sérgio Campos
Mobiles de sal
Nova Friburgo, RJ: Mundo Manual Edições, 1991. 65 p.
Ex. n. 260 de uma edição de 500 exs. Impresso em Juiz de Fora, Zas Grfica e editora.
[ pátio de profecias ]
— Nunca serei o herói que adormeceu
mas o cativo das pedras do alcantil
até que as águas clamem por meu nome.
Assim renascerei porque memória
de uma dor que fere a própria dor
eis que perdido sou do que era meu
A solidão será o labirinto
onde erguerei o trono de Teseu
Sérgio Campos
As Iras do Dia
Nova Friburgo, RJ: Mundo Manual Edições, 1990. 55 p.
Ex. n. 355 de uma edição de 500 exs. Impresso em Juiz de Fora, Zas Grfica e editora.
MERGULHADORES
a Javier Sologuren
Os mergulhadores são pássaros fatais
Como os santos
morrem do êxtase
entre anêmonas e algas
em mar absoluto
abismo
azul decapitado
Sérgio Campos
Nativa idade
Nova Friburgo, RJ: Mundo Manual Edições, 1990.
49 p. Composição e impressão: Zás Gráfica e Editora.
Edição de 500 exemplares.
[ caranguejo ]
Flor do mangue
estranha e violenta:
come nosso lixo
e nos alimenta
CAMPOS, Sérgio. Aprendizado pela palavra.Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2017. 34 p. 21,5x13,5 cm. Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui o texto “SERGIO CAMPOS: Fortuna e os rumores da crítica”, p. 21-33 Ex. bibl. Antonio Miranda
Ver E-BOOK: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/sergio_campos
TEXTO EN ESPAÑOL
Traducción de Héctor Carreto
ELOGIO DE LA SOMBRA
De lo blanco a la sombra
todo es invierno
es elegía
en el pórtico de la noche vertical
Sucumbiremos en ella
escenario de la belleza serena
con nuestras viejas abstracciones
y nuestro horror a la realidad
Poetas locos
músicos sordos
pintores ciegos
- de eso está hecho el arte
Sucumbiremos
para renacer sin calendarios y rueda
de hilar
Poema extraído de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, México, n. XIX invierno 2001, de una edición dedicada al Brasil, con selección de Floriano Martins.
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Mar del exílio & mar arriba
Versión de Héctor Carreto
Tomé posesión de ls tierras frias
de nombre Caledonia
montañas de los órganos y de las arpas
es donde el mar se encumbra
la fortaleza de mi imperio
muralla intraspasable reservada
al abrigo de cojos y exiliados
con quienes compartiré el oro de la leyenda
y engendraré mi antisaga
erguidas las murallas derramaré el Jonio
sobre esos latifúndios de las alturas
deshilando cabras runas y genealogias
atravesaré la muerte por ambos lados
para incensar al rey que renuncia
a ver a Penélope tejer la leyenda
por cuya noche peregrinaremos
en la paralaje de estrellas perplejas
de nuestro espacio en la eternidad
em esta mar alta del exílio me encontraré
em la ìtaca de Caledonia entre las piedras
hasta que Zeus o tu me liberen
*
seré abismo de pájaros
excritura de mamíferos
pandorga de Joan Miró
prelúdio de Debussy
pues la vida se yergue
de sêmen contra Odiseo
este mar es mi exílio
la esquiria mi territorio
la playa mi armadura
la lágrima mi escotilla
mi lepra mi cristal
mi nave-catedral
Caledonia mi isla
Extraído de BLANCO MÓVIL, n. 75. México, DF, Primavera de 1998. “Poetas de Brasil”.
Página ampliada y republicada en noviembre de 2008; página ampliada e republicada em agosto 2015.
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