RODRIGO PETRONIO
Nasceu em São Paulo, SP, em 1975.
Escritor, professor e pesquisador. Formado em Letras Clássicas e Vernáculas pela USP. Professor de Criação Literária na Academia Internacional de Cinema (AIC), do Centro de Estudos Cavalo Azul, fundado pela poeta Dora Ferreira da Silva, e do Instituto Fernand Braudel. Colabora para diversos veículos da imprensa. Recebeu prêmios nacionais e internacionais nas categorias poesia, prosa de ficção e ensaio. Tem poemas, contos e ensaios publicados em revistas nacionais e estrangeiras. Participou de encontros de escritores em instituições brasileiras e em Portugal.
É autor dos livros História Natural (poemas, 2000), Transversal do Tempo (ensaios, 2002) e Assinatura do Sol (poemas, 2005), este último publicado em Portugal, e organizou com a poeta Rosa Alice Branco o livro Animal Olhar (Escrituras, 2005), primeira antologia do poeta português António Ramos Rosa publicada no Brasil. Lançou recentemente o livro de poemas Pedra de Luz, pela editora A Girafa, que foi finalista do Prêmio Jabuti 2006. Os poemas aqui selecionados foram extraídos desta obra.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
PETRONIO, Rodrigo. Pedra de Luz. Poesia. São Paulo: A Girafa Editora, 2005. 270 p. ISBN 85-89876-78-0 Capa e projeto gráfico: Angela Mendes. “ Rodrigo Petronio “ Ex. bibl. Antonio Miranda
MEDITAÇÃO À MARGEM DO RIO AMARELO
Queimei a pólvora dos meus dias lendo as entrelinhas do capital.
Decidi que o mundo foi feito para acabar em um livro.
Esterilizei a terra e alterei o curso dos rios.
Ergui palácios de papel sobre estruturas e vigas de vidro.
Escureci a noite e tirei os dentes do riso.
Apaguei a memória dos mortos e matei o viço dos vivos.
Carcomi o azul do céu e ceifei as raízes do trigo.
Hoje o meu império vacila e rebenta como um corpo balofo cheio de estrias.
As crianças estão velhas e rugas brotam do amaranto.
Tudo o que toco parece ter dois mil anos.
Talvez seja isso o início do que chamam sabedoria.
POR UM MOVIMENTO LIVRE
Um movimento livre. Um animal livre.
A mancha de um rosto destacado de um espaço puro.
A liberdade diária sem adubo.
A terra livre levada livremente às mandíbulas.
O contrato natural da mão com o astro.
A estrela pasce no campo nu de um rosto.
O braço das raízes que moldam o orvalho.
A nomenclatura solar dos insetos no pasto.
A consciência no corpo. A língua nas palavras.
Um fala livre que nos devolva ao todo.
Um vôo livre. Livres as asas de cobre das árvores.
O desenho de um deus esculpido pelas folhas do outono.
Uma ascensão livre sem trégua.
A liberdade de abismo que a laranja azul enceta.
Um dorso. Uma pálpebra. Um cílio de erva.
A corrente vegetal que une o cometa ao mar.
O percurso da alma que já nasce aberta.
Flor de cinco faces que ilumina a terra.
A liberdade do sangue livre e leve das pedras.
Rastro sem dono. Movimento sem fim.
A navalha da carne que nunca começa.
Lâmina langorosa do beijo que a desperta.
Transparência cavada na carne das muralhas.
Uma habitação livre. Gazela de líquen.
A felicidade de um corpo em queda.
A TERRA NÃO ACABA PORQUE A ALMA AFUNDA
A terra não acaba porque a alma afunda.
Recolhe-se ao suspiro das pedras que ordenham a noite.
Vê: a geometria só existe porque o movimento a articula.
A ciência dos mortos dentro de um arbusto
É a mesma do nascimento de flores prematuras.
Os olhos só vêem a verdade que flutua.
O resto é ilusão: falso amor que só preserva o que anula.
O cais deixando o barco, o vôo entre os braços das árvores
Que eclodem em uma lâmpada.
Um deus qualquer que vê além da morte o que a morte não captura.
Sim, amor, a alma só persiste porque a terra se extingue.
Prenhe de leveza antes da chuva, eclipse do corpo em atributos,
Assinatura do dia que se enrola (perfeito)
Na retidão sutil de cada curva que a mão refaz na nuvem
E modela dois diamantes em uma só torção de busto.
Entre a eternidade e o vinco que a unha faz no fruto
Em um beijo revivemos, tu e eu, todo o futuro.
MANHÃ NEGRA, AÇÚCAR, BEBO O ORVALHO DE UM ROSTO
Este açúcar negro que despejo em uma manhã de agosto
É o suor de uma face sulcada pela selva.
Diluo lentamente a sua carne no café que exala
O sangue macio, a menstruação de luz, a primavera,
A pele perfumada, o hálito da boca em brasa,
Sua resina que se granula sob a pálpebra da lua,
No seu fundo se deposita e ainda se conserva.
A arquitetura porosa dos ossos se traduz em um só gosto.
As fibras da língua e a saliva se preparam para a flor
Ceifada do todo e, despicienda, retida entre as mãos, em seu aborto.
Imolo a sua doçura no pavilhão da xícara, e ele,
Prestes a mergulhar em mim e em uma só carícia cega
Povoar-me os sonhos e rechear-me o interior de cada célula.
Dissolvo-o vagarosamente nos giros da moenda.
O aroma se desprende e enche toda a sala:
Mão diáfana com sua linha feita a faca,
Costas estriadas em arabesco como um cesto de vime.
Pausado, levo a emulsão aos lábios e desfruto
A repetição de mais um ritual civilizado
Como quem em plena luz comete um crime.
VENTILO ESTA RUA COM MINHA CARNE E SEUS VOCÁBULOS
Ventilo estas ruas com minha carne.
Os sapatos farejam os caminhos sulcados pelos pés dos mortos.
Todos os heróis morreram no mar.
Só nos resta a realidade dos guindastes e o vocabulário dos cães e das árvores.
As crianças se acendem nas sacadas.
Todas as janelas se iluminam sob o sorvedouro deste céu de pássaro.
A salsugem corrói a engrenagem dos carros, a enseada, o moinho, os acrobatas que saltam para o interior dos livros.
A madeira carcome os músculos e robustece a vinha.
O amor não pode com a ferrugem dos navios ancorados no dorso da matéria, mais reais que a saliva com que te beijo e me despeço.
Com a manhã expelida das roupas de uma varanda trêmula.
Com o espelho vegetal das conchas que semicerram sua íris: meio-dia.
Com a ressurreição da voz que já não tarda a emergir da goiva, do ferrolho, dos patíbulos.
Este é o frescor da manhã.
Imune à assepsia da virtude e aos trabalhos sujos do tempo.
Aqui é quando estou em meu centro.
Tão distante do corpo onde me perco quanto da alma onde me ausento.
Onde sinto minhas mãos e minha pele.
Onde sou o que sinto: nervo da areia no interior solar dos poros.
Onde nada se separa e tudo me adere.
A fatia de luz na mesa, o mar arfa em seus parapeitos de água,
A face se eclipsa, o chafariz cospe barcos antigos no interior da praça.
A hora extrema não é o suicídio.
A liberdade não é recusa ou desespero, mas a tranqüilidade da luz que retorna a seu seio durante o exílio do sol.
Povôo esta baía, estas ruelas, este golfo, este mar, este porto, estes corpos, estas paredes podres comidas pelo dia.
A hora extrema é delicadeza, quando escolho aquilo que já me destina:
Livre até depois da morte da semente, pão além do pão, trigo além do trigo, sopro que inaugura esta paisagem,
Paisagem que me move e que me assina.
De
ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA
Edición de Jaime B. Rosa
Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2007
MEDITACIÓN A LAS MARGENES DEL RÍO AMARILLO
Quemé la pólvora de mis días leyendo las entrelineas
del capital.
Decidí que el mundo fue hecho para acabar en un libro.
Esterilicé la tierra y alteré el curso de los ríos.
Erigí palacios de papel sobre estructuras y vigas de vidrio.
Oscurecí la noche y saqué los dientes de las sonrisas.
Apagué la memoria de los muertos y maté la vista de los vivos.
Carcomí el azul del cielo y corté las raíces del trigo.
Hoy mi imperio vacila y revienta como un cuerpo fofo
lleno de estrías.
Los niños están viejos y arrugas brotan del amaranto.
Todo lo que toco parece tener dos mil anos.
Talvez eso sea el inicio de lo que llaman sabiduría.
[Trad. Carlos Osorio]
SALDO
Piel de Levy en el tragaluz del príncipe de Gales.
Cabellos de Sara en las sandalias de las putas de Berlïn.
Un joven circunciso muestra el glande tatuado
SUBURBIO
Niñas de vestido corto escriben sus nombres en el fango.
Paredes podridas suspenden sus bocas
Y en círculo de fuego ofrecen una faz color de mora.
Tendederos tendederos tendederos
hilos infinitos donde el viento telegrafia su mensaje.
Un hombre parado revisa la basura y tritura las sobras
de su hijo.
Tengo fe en el amor y fe en el siglo XXI
El radio grita
Y de la gruta oscura de una sonrisa reluce una pepita.
Caballos pastan en vagones abandonados.
Matorral tupido para vestir muertos anónimos.
Pisadas sin dueño por los barrancos se entrecortan.
Niños arrugados por el blushe acomodan las mini faldas.
El sumidero fertiliza un campo de sueño.
Cosas y personas giran en una misma órbita.
Por la noche los astros se recomponen incontinenti
Y vuelven a circular en su fábula y en su orden antiguo.
Los bichos roen el estrado el colchón la almohada
Pueblan el cuerpo y cavan galerías por dentro de la barriga
Indiferentes al hombre que viaja desconectado
Y a la deriva sueña solito el sueño del progreso.
[Trad. Carlos Osorio}
RAMAS
Faroles colgados en la noche
Cortan las alamedas se mueven sobre un escenario
Movedizo de sombras se engastan
En la moldura carcomida de un retrato.
En medio del mundo la ciudad desaparece
En la fluidez de un sueño habitado
Por voz o resonancia de gente
O por el chirriar monótono de algún estrado
Violando el silencio el narcótico el oasis
La ciudad desaparece bajo mis ojos y zapatos
Que la recogen vanamente en el mapa
Todavía escucho el chasquido de sus ramas
[Trad. Floriano Martins]
MAS ALLÁ DEL ESPEJO
Me vestí con tu piel y con tus ojos sangré esta
mujer que canta.
Los labios de las hojas silban contra el viento de
los vagones que te recortan, Espana.
Atrás de esta ventana mi padre contempla el ganado
en su órbita.
Por el raíl dos vidas se entrelazan en una solo rota.
[Trad. Floriano Martins]
De
VENHO DE UM PAÍS SELVAGEM
Rio de Janeiro: Topbooks, 2009.
ISBN 978-85-7475-168-9
“Prêmio Nacional ALB (Academia de Letras da Bahia)/ BRASKEM 2007
NÃO DIGA ESTA FLOR: DIGA CARNE
Não diga esta flor: diga carne.
A polpa do verbo só se abre
Quando o espírito sopra por nossa boca.
Não diga esta adaga: diga sangue.
0 rio só regressa das veias
Quando o céu acolhe a pupila das pedras sem nome.
Não diga homem: diga terra.
0 conceito não presta para o que some.
Tudo expira em nos: instante e estrela.
Império e hera.
Quando o homem desaparece: diga cinza.
Diga céu.
E o que resta do século apagado
Sob a pálpebra de uma lua extinta.
ANTÍTESE
O poema me espera, fora de mim,
Para que eu me realize nele.
A sua falta de essência me completa,
E o que nele sobra me extravasa:
Transbordo em seu sinal de menos:
Sua ausência de ser é minha casa.
Sustenho seu corpo, sem mistério.
Adentro seu espaço, sem pegadas.
Encontro-o quando perco o centro.
Menor que a parte, ele não me abarca.
Maior que o todo, ele é meu avesso.
Não é o mundo o que ele me revela.
Não é a mim mesmo que nele procuro.
Não é a poesia o que ele desperta.
Mas o hiato que vai da idéia a fala
Onde o coração bate mais livre.
Mergulhado na matéria mais precária,
Pulsa em nos ao ritmo da estrela
Tanto mais imortal em quanto vive,
Eternidade da luz que se apaga.
Isento da palavra que o aprisiona,
Alheio ao conceito que o mutila,
Imerso em cada coisa que o transcende,
Mergulhado no mundo sem limite:
Vou ao poema, retorno ao nada:
A voz me liberta de minha alma
E assim eu sou o Outro que me habita.
PETRONIO, Rodrigo. Venho de um país selvagem. Rio de Janeiro: Topbooks, s.d. 102 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-7475-168-9 “Orelha” do livro por Alfredo Fressia. Capa: Julio Moreira. “Obra ganhadora do Prêmio Nacional ABL/BRASKEN 2007” “ Rodrigo Petronio “ Ex. bibl. Antonio Miranda
É POR REFAZER-TE NO TRIGO DESSA NOITE
QUE TE PERTENÇO
Não. É por refazer-te no trigo dessa noite que te pertenço.
Para sempre. É por cravar-te os olhos na maciez da carne.
E por navegar sem rumo pelo teu coração aberto. Meio a meio.
Que estou aqui. Que aqui me ofereço. Que me dou a ti.
Cavalo e cesto. É por não saber beijar-te com outros lábios.
E por nunca ter deixado de sobrevoar os teus cabelos.
É por não me saber dividido em tantas águas.
E por ser sempre o mesmo nos intervalos de mim mesmo.
Estrela dispersa no cristal de tantas margens.
Franja de um rio que se transforma no que irriga.
Traduz-se e se transforma. Nunca sai de seu seio.
Renuncio a ti. Pois sou precário. Ainda sou aquela boca
repetida.
Que pelo teu corpo procura um sol mais claro.
E ri por saber que não contém aquilo que a limita.
Glória da mortalidade. A água solar só eterniza o que não fica.
APENAS ESTE CAMPO TRANSBORDA
ENTRE MIM E TI
Apenas este campo transborda entre mim e ti
Apenas o estouro destas amoras azuis como o trigo
Noites eloquentes destas árvores poços de martírio
Apenas estas flores e suas foices seus ponteiros
Seus dentes coloridos ruminam o tecido espesso
O ventre escuro o deus de terra que cresce
Entre a estrela e o túmulo ó floração de línguas
Veio aberto na arquitetura lisa do sono
Noite noite campo material onde me enterro
Para me livrar da liberdade suicida dos flamingos
Pulso de amianto luz de maio claraboia de folhas
Clareira de frutas cintura celeste ó grãos
Páginas ó horas trançadas em musgo
Louro agreste dos cabelos da infância ,
Degustar macio dos dentes constelação
O raio migra para o céu sem carne cicatriz sem dono
A sépala de luz desliza prematura pelo meu tronco
O dia verde recolhe suas pepitas de meus braços
Apenas este campo cresce entre nossos rostos
Apenas este universo se intercala a nossos passos
Foice de água ó grande arco sol decapitado
Amada antiquíssimo disco de lua crista e magma
Face das árvores incendiadas face imemorial dos homens
Doce terra virgem negra que fecundo com os lábios
Terra doce que me sorve para um país sem nome
TEXTOS EN ESPAÑOL
De
ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA
Edición de Jaime B. Rosa
Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2007
SALDO
Pele de Levy no abajur do príncipe de Gales.
Cabelos de Sara na sandália de putas de Berlim.
Um jovem circunciso mostra a glande tatuada
Em uma revista sodomita made in USA.
Só aos eleitos foram feitos o reino dos céus e a lei.
Vide Isaias capïtulo IV versículo VI.
Às margens do Ganges um asceta aspira à graça
E a estrela de cinco pontas gira em sentido anti-horário.
I hate nigers and 1 want to kill Mahoma
Pichado no Muro das Lamentações.
E o enigma dos tempos se oferece em uma rosa refratária
Que sob sua coroa de pétalas se recompõe incontinenti
E na espiral da historia se repete como farsa.
SUBÚRBIO
Meninas de vestido curto escrevem seus nomes na lama.
Paredes podres pendem suas bocas
E no círculo de fogo oferecem uma face cor de amora.
Varais varais varais
Fios infinitos onde o vento telegrafa sua mensagem.
Um homem parado revira o lixo e tritura sobras de seu filho.
Eu tenho fé o amor e a fé no século XXI
0 rádio grita
E da gruta escura de um sorriso reluz uma pepita.
Cavalos pastam em vagões abandonados.
Mato farto para vestir mortos anônimos.
Pegadas sem dono pelos barrancos se entrecortam.
Crianças enrugadas pelo blushe ajeitam as minissaias.
O esgoto fertiliza um campo de sono.
Coisas e pessoas giram numa mesma órbita.
À noite os astros se recompõem incontinenti
E voltam a circular em sua fábula e na sua ordem antiga.
Os bichos roem o estrado o colchão o travesseiro
Povoam o corpo e cavam galerias por dentro da barriga
Indiferentes ao homem que viaja desconexo
E à deriva sonha sozinho o sonho do progresso.
GALHOS
Lampiões pendurados na noite
Cortam as alamedas se movem sobre um palco
Movediço de sombras se engastam
Na moldura comida de um retrato.
No meio do mundo a cidade some
Na fluência de um sono habitado
Por voz ou ressonância de gente
Ou pelo ranger monótono de algum estrado
Violando o silêncio o narcótico o oásis
A cidade some sob meus olhos e sapatos
Que a buscam em vão no mapa
Ainda hoje ouço o estalo de seus galhos
ALÉM DO ESPELHO
Vesti-me com tua pele e com teus olhos sangrei esta
mulher que canta.
Os lábios das folhas assobiam contra o vento dos
vagões que te recortam, Espanha.
Atrás desta janela meu pai contempla o gado em sua
órbita.
Pelo trilho duas vidas se entrelaçam em uma só rota.
En una revista sodomita made in USA.
Sólo para los elegidos fueron hechos el reino de los
cielos y la ley.
Vid Isaías capítulo IV versículo VI.
A las márgenes del Ganges un asceta aspira a la gracia
Y la estrella de cinco puntas gira en sentido anti-horario.
I hate nigers and 1 want to kill Mahoma
Meando en el Muro de las Lamentaciones.
Y el enigma de los tiempos se ofrece en una rosa refractaria
Que bajo su corona de pétalos se recomponen incontinenti
Y en la espiral de la historia se repite como farsa.
[Trad. Carlos Osorio]
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