Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


PEDRO DANTAS

 

PEDRO DANTAS

 

 

Esse é o pseudônimo literário que Francisco de Paula Prudente de Morais, Neto, adotou a partir de 1928. Nascido no Rio de Janeiro, em 1904, bacharelou-se em Direito em 1926. Teve importante atuação no movimento de vanguarda de nossas letras (Modernismo), sendo mesmo urna das principais figuras do grupo renovador do Rio. Em 1924, com Sergio Buarque de Hollanda, lançou e dirigiu a revista "Estética", que pretendia "modernizar, nacionalizar, universalizar o espirito brasileiro". Colaborou, ainda, em outras publicações dos escritores novos, entre elas "Terra Roxa", "Antropofagia" e "Revista Nova". Na revista "A Ordem" responsabilizou-se, durante algum tempo, por urna seção de crítica literária. É

autor de ensaios, inclusive um sobre o romance nacional, apontado como excelente por Manuel Bandeira. É também poeta e contista. Foi dos principais polemistas do modernismo, mas não tem livro publicado. Sua obra encontra-se esparsa pelos

jornais e revistas. Manuel Bandeira classifica-o entre os poetas bissextos, ou seja, os de escassa produção poética, e considera o poema "A cachorra" "urna obra-prima da literatura brasileira". Francisco de Paula Prudente de Morais, Neto, ocupou as cátedras de Técnica da Crítica e Historia Geral da Literatura da Universidade do Distrito Federal. Desse instituto chegou a ser o diretor. Foi jornalista.

 

  TEXTO EM PORTUGUÊS    /     TEXTO EN ESPAÑOL

 

A cachorra

Veio uma angústia de cima,
Pelos ombros me agarrou,
No mais fundo do meu peito
Sua lâmina cravou.
Depois que no chão desfeito
O meu corpo estrebuchou,
Pelos cabelos a fera
Sobre pedras me arrastou.
Meu corpo, se espedaçou.
Mas ainda não satisfeita,
Nova vida me insuflou:
Para mostrar poderio,
Com a sua mão direita
Uma cidade arrasou,
Na esquerda tomou um rio,
Fogo nas águas soprou,
As águas todas do rio
Com seu hálito secou.
Levou-me aos cimos mais altos,
No ar me imobilizou,
Depois, em súbitos saltos,
A garra adunca fincando
No meu coração, lá do alto
Soltou um grito nefando
E sobre o mar me atirou.
Ali! nas águas do mar alto
Meu corpo logo afundou.
Veio buscar-me de novo:
Angina-péctoris, polvo,
Meu coração sufocou
E tais surras de chicote
Me deu, que a cada lambada
Minh'alma mortificada,
Minh'alma perto da morte,
Só a morte desejou;
Meu rosto esfregou na lama,
As faces me babujou
E quando, à atroz azafama,
O meu olhar se turvou,
Vencido, entregue, arquejante
— Perdido o sangue das veias —
Na praia, sobre as areias,
Meu corpo exausto rodou.
Ali! pobre corpo do amante
Que até o fim se humilhou!
Então um riso infamante
As fauces lhe escancarou,
Zombou da minha tolice:
— "Eu sou a Cachorra", disse,
"Tu me chamaste: aqui estou."

A essa voz dissiparam-se as sombras
E enquanto ela me mastigava os últimos restos da memória
Senti que da sua boca nasciam rosas
E vi que o céu se rasgava para a maravilhosa aparição.

 

De Antologia dos poetas brasileiros : fase moderna v.1/ organização Manuel Bandeira - Rio de Janeiro: Nova Fronteira 1996.

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

 

         SONETINHO

 

       Foi a estrela cadente?
       Foi o espectro solar?
       Foi o signo inclemente?
       Ou o apelo do mar?

       Foi o pobre demente
       insofrido de amar.
       A flor incandescente
       Que envolve até matar.

       Foi a absurda agonia,

       a marcha irreparável,
       o sinistro esplendor,

 

       e música sombria,
       Seu eterno, inefável,
       grave e amargo rumor.

 

 

      

       CANTIGA DE MESTRIA

 

       Eu quero comer sargaços
       engolir água do mar
       triturar pedras nos dentes
       eu quero arrancar os braços
       ou em delírios frementes
       eu quero me estraçalhar.

 

       E quero ser desprezível
       indigno, estúpido, infame
       quero chafurdar no lodo
       sentir a vida impossível
       eu quero danar-me todo
       quero que tudo se dane.

 

       Queimar a carne nas chamas
       das profundas dos infernos
       provar densas amarguras
       — coração, por que reclamas?
       Venham todas as torturas
       quero os suplícios eternos.

       Só deste amor não tolero
       mais penas que já sofri,
       A alma dilacerada
       de tão grã coita, antes quero
       aos pés da mulher amada
       praticar o haraquiri.

 

 

 

MATERIALISMO HISTÓRICO OU PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES

       Nas corridas de hoje o povo, aos gritos, invadiu a pista,
                                reclamando a devolução das apostas
        rompeu os cordões de isolamento apesar das forças de    
                                                                          cavalaria
        penetrou na tribuna da imprensa
        atirou cadeiras na pista
        arrancou as estacas da cerca
        destruiu a sala de pesagem
        apedrejou todos os vidros
        e ateou fogo às barracas que ficaram logo reduzidas a cinza.
        O prado de corridas tomou rapidamente o aspecto de um
                                                             campo de batalha.
        A multidão criou todas as dificuldades à ação dos bombeiros
                                                                              tentando

        furar as bombas.
        Para as labaredas não se propagarem,
        foi preciso que os soldados do fogo mergulhassem na água
                                                                       os escombros.

        Mas ao ser anunciada a devolução das apostas
        os ânimos serenaram
        e a calma voltou ao recinto.
                                              

 

 

       
       
CANTO DE ABAFADO

      
Quando menos esperava
       de repente percebi que estava abafado
       e no meu peito o coração parou
       (Não parou de verdade:
       ao contrário, nunca fora tão ágil
       correu os signos do Zodíaco
       subverteu — amplamente — a ordem natural
                                                         das coisas
       foi de estrela em estrela
       para além dos limites do mundo
       lá onde não há planos nem equivalências nem
                                               perturbações)

 

 

 

             AUTOCRÍTICA

             
Quando romântico
              inconformado
             era o meu cântico
             descabelado.

 

             Sereno esteta
             greco-romano
             depois fui poeta
             parnasiano.

 

             E modernista:
             meu verso lírico
             mais que realista
             já foi homérico.

 

              Hoje, entretanto, meu verso quero
             do sentimento de toda a gente,
             fácil, sem arte, rude, fatal,
             de frases feitas, como os de Homero,
             e com a força secreta e ardente
             dos grandes sambas de carnaval.         

 

 

 

 

       PARÁFRASE DE CENDRARS

 

       Quando amares, vai-te embora,
       toma o trem, toma o avião,
       o auto, o vapor, dá o fora,
       pisa, rasga o coração.

 

       Suspira, chora, aborrece-te,
       assobia, dança, embriaga-te
       e se a morte um dia afaga-te,
       verás, teu amor esquece-te.
       Um ano, um dia, uma hora...
       Quando amares  vai-te embora,
       sossega esse coração.

       Quando amares vai-te embora
       por esse mundo de Deus.
       Vai sem destino, que agora
       não saibam os passos teus
       onde conduzir-te. A esmo
       sem hora, sem rumo, à toa
       companheiro de ti mesmo
       verás que a vida ainda é boa.
       Vai, anda, parte, dá o fora
       quando amares vai-te embora
       domina o teu coração.

 

       Quando amares vai-te embora
       por este mundo sem fim!
       Pobre de mim, vou-me embora,
       não volto mais, ai de mim!

 

 

 ==============================================================

TEXTO EN ESPAÑOL

 

PEDRO DANTAS

 

Seudónimo literário de Prudente de Morais Neto, nacido en Rio de Janeiro a princípios de siglo. Se licencio en Derecho en 1926, desempenando posteriormente Ias cátedras de Técnica y Crítica Literária y de Historia General de la Literatura en Ia Universidad dei Distrito Federal, de cuya Facultad de Letras era director al extinguirse dicho centro universitário. :Su obra poética no se halla reunida aún en libro, estando en buena parte inédita o esparcidâ por las mejores revistas de vanguardia, en ias cuales colaboro con alguna frecuencia.

 

 

LA PERRA

 

De o alto víno una angustia;

por los hombros me agarró;

de mi pecho en lo más hondo

su cuchillo me clavó.

Guando en el suelo deshecho

ya mi cuerpo agonizo,

por los cabellos la fiera

por las piedras me arrastró.

Mi cuerpo despedazó.

Pero aún no satisfecha

nueva vida me insufló.

Para mostrar poderio,

con solo su mano diestra

una ciudad arraso.

Cogió con la izquierda un rio,

fuego en las aguas sopló:

todas las aguas dei río

con, su hálito seco.

Me alzó a Ils cimas más altas;

en el aire me paró.

Después, en saltos, de pronto

la garra curva clavando

en mi corazón, en lo alto,

soltó un grito nefando

y sobre el mar me lanzó.

¡ Ay, en aguas del mar alto

mi cuerpo pronto se hundió!

Vino a buscarme de nuevo:

angina-pectoris, pulpo,

mi corazón apagó.

Y tales sus rebencazos

fueron, que, con cada golpe

mi alma mortificada,

mi alma, en Ia muerte ya,

solo muerte deseó.

Hundió en el lodo mi rostro;

la cara me babeó,

y cuando en la atroz tarea

mi mirada se turbó,

vencido, jadeante, exánime,

sin sangre en las venas ya,

sobre la playa, en la arena,

mi cuerpo exhausto rodó.

¡ Pobre cuerpo del amante

que hasta el final se humilló!

Entonces, risa infamante

las fauces le desgarró.

De mi tontería rió,

y dijo: "Yo soy la Perra;

me llamaste y aqui estoy."

 

Ante esta voz disipáronse las sombras,

y, mientras ella me devoraba los últimos restos de la memoria,

advertí que de su boca nacían rosas,              

y vi que el cielo se desgarraba para la maravillosa aparición.

 

(De Apresentação da Poesia brasileira,

:      ,            de Manuel Bandeira.)

 

 

 

Página ampliada em maio de 2020

 

 


Voltar para o topo da página Voltar para a página do Brasil Voltar para a página do Rido de Janeiro

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar