Nasceu nos EUA, em 1955. Morou 9 anos no México, publicando poesia nas revistas mexicanas Fem e La Brújula en el Bolsillo. Desde 1991, mora no Brasil. É doutora em Ciências Humanas (UFSC, 2004) e professora de sociologia de UFPR (Curitiba) desde 1992. Em 2005, obteve com seu poema “Memória” o segundo lugar no 15 Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, na “categoria especial Paraná.”
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EM ESPAÑOL
Crueldade.
Talvez não esteja nas mãos.
Talvez esteja nos olhos, ou no silêncio que
descende, justo quando as palavras pairam
como pedestres ansiosos no sinaleiro.
Talvez esteja na forma que certas partes da vida
se repetem, como se o coração do outro fosse
o armário de um voraz, onde você trabalha sem parar
repondo a mercadoria – os doces, as latas de delícias importadas, as
pequenas surpresas colecionadas nas tuas andanças –
mas quando você abre de novo as portas, está tudo
vazio para você. Talvez esteja na forma em que você
ainda espera alguma coisa em troca. Ou como você continua
aguardando o telefone tocar.
E os anos que passam nesses momentos de espera.
Os anos, as pequenas flechas no rosto
de mulheres que já sabem demais:
os copos esvaziados, os pratos sujos que jazem sobre a mesa
de madeira, onde já não faz sentido
pedir mais.
frio
aqui estão, os
pedaços quebrados
deste inverno. eu te
mantinha muito próximo
ali no fogo, você dançando
na minha mente, estalando
em cada chama e brasa.
é por tua causa que
as palavras não mais
significam.
palavras, silêncio, toque.
agora chove lá fora,
cada gota fria. poderíamos
sair para bebê-las, sentir
o frio descer pela garganta.
será esta a última
chance?
Noturno.
Eles te procuram
por um motivo, as
crianças pequenas, as
grandes crianças. Batem
na tua porta muito após
a meia noite, vestindo
túnicas rasgadas, os olhos
fundos, as mãos urgentes,
e você volta dos sonhos, não pode
virar as costas. Você está ardendo
de febre e eles vêm, trazendo
água num pequeno copo azul.
Você molha os lábios, acostumando
lentamente com seus passos e
pulos, em segredo tem vontade
de nunca mais dormir
a noite toda. É o teu desejo,
tão amargo que está
te matando.
Sonhei
teu corpo aberto,
folhagem de verão, grama imensa.
você voltava dos anos de sono, me
disse que estava pronto. e
a chuva que começava, lentos pingos
que segurava na língua. você ria,
risadas largas. o eco ia e
voltava, até cair a noite:
escuridão, lua, frio
repentino. meu sonho
se deslizando sobre teu peito
como córrego claro, como depois,
a calma.
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TEXTOS EM ESPAÑOL
Sucede que me canso ...
Sucede que me canso de ser hombre.
Pablo Neruda.
Sucede que me canso de ser mujer
Sucede que ando en los autobuses y los parques
fatigada, huyendo del tacto
Sucede que me canso de mis muslos, húmedos en la oscuridad
de mis senos pesados
de mañanas que amanezco
entre una mancha
roja, solitaria
Sucede que me canso de ser mujer
de andar los callejones entre sombras
y ojos que acechan
de habitar puertas
y puertos
Sucede que me canso
de mis propias palabras azules e negras
y de esperar respuestas
y cartas
y crepúsculos venideros
No quiero seguir caminando a tientas e temblando
No quiero tener en mi casa espejo
ni teléfonos que me despiertan aúllando silencio
No quiero ver supermercados ni tiendas por el camino
Y por eso
viajo
en los trenes de media noche
aprendo a hacer hechizos
atravieso los cielos en un barco dibujado con gis
y pongo
en el lugar de las lágrimas e la ropa recién lavada,
mis pupilas abiertas.
(1982)
Ocaso
los bosques están lejos.
aquí:
solamente luz de lámpara
y nuestras piernas dormidas.
sobre los sueños ha crecido un moho espeso
como la telaraña que cubre el tragaluz
de nuestra casa.
nos conocemos desde otro invierno
menos herrumbroso que éste.
hoy, detrás de tus cuadros,
me escondes unos brazos que se han marchitado.
yo, cada noche,
recopilo pedazos de baladas tristes
y bailo para tu sombra.
hemos asistido al incendio de los senderos.
ahora, maletas vacías en las manos,
trepamos por un calendario de destierros,
por sus interminables escalinatas:
espacios blancos,
rayas negras,
como dos sonámbulos
arrastrándose por las calles
de una ciudad arrasada.
Novo
Inicio o calendário procurando tuas pistas –
um sobrenome, um cigarro fumado, um semelhante
gosto tolo pelo sofrimento.
O que muda? Subo uma escada
íngrime na meia luz. Quebro um copo.
Flui um líquido frio.
No olhar dos amigos, na metade da noite,
uma luz vermelha acenda, apaga, acende.
Faça a escolha certa. O gasto mundo geme
E de repente, abre sua mão. Uma palma lisa,
me chamando para degustar tudo
de novo.
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