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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



MIRIAM ADELMAN

 

 

Nasceu nos EUA, em 1955. Morou 9 anos no México, publicando poesia nas revistas mexicanas Fem e La Brújula en el Bolsillo.  Desde 1991, mora no Brasil.  É doutora em Ciências Humanas (UFSC, 2004) e  professora de sociologia de UFPR (Curitiba) desde 1992.  Em 2005, obteve com seu poema “Memória”  o segundo lugar no 15 Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, na “categoria especial Paraná.”

 

 

TEXTOS EM  PORTUGUÊS  /  TEXTOS EM ESPAÑOL

 

 

 

Crueldade.

 

Talvez não esteja nas mãos.

Talvez esteja nos olhos, ou no silêncio que

descende, justo quando as palavras pairam

como pedestres ansiosos no sinaleiro.

 

Talvez esteja na forma que certas partes da vida

se repetem, como se o coração do outro fosse

o armário de um voraz, onde você trabalha sem parar

repondo a mercadoria – os doces, as latas de delícias importadas, as

pequenas surpresas colecionadas nas tuas andanças –

mas quando você abre de novo as portas, está tudo

vazio para você.  Talvez esteja na forma em que você

ainda espera alguma coisa em troca.  Ou como você continua

aguardando o telefone tocar.

 

E os anos que passam nesses momentos de espera.

Os anos, as pequenas flechas no rosto

 de mulheres que já sabem demais:

   os copos esvaziados, os pratos sujos que jazem sobre a mesa

    de madeira, onde já não faz sentido

pedir mais.

 

 

frio

 

aqui estão, os

pedaços quebrados

deste inverno.  eu te

mantinha muito próximo

ali no fogo, você dançando

na minha mente, estalando

em cada chama e brasa.

é por tua causa que

as palavras não mais

significam. 

palavras, silêncio, toque.

agora chove lá fora,

cada gota fria. poderíamos

sair para bebê-las, sentir

o frio descer pela garganta.

será esta a última

        chance?

 

 

 

Noturno. 

Eles te procuram
por um motivo, as

crianças pequenas, as

grandes crianças. Batem

na tua porta muito após

a meia noite, vestindo

túnicas rasgadas, os olhos

fundos, as mãos urgentes,

e você volta dos sonhos, não  pode

virar as costas. Você está ardendo

de febre e eles vêm, trazendo

água num pequeno copo azul.

Você molha os lábios, acostumando

 lentamente com seus passos e

pulos, em segredo tem vontade

de nunca mais dormir

a noite toda. É o teu desejo,

tão amargo que está

te matando. 

 

 

 

Sonhei

 

 teu corpo aberto,

folhagem de verão, grama imensa.

você voltava dos anos de sono, me

disse que estava pronto.  e

a chuva que começava, lentos pingos

que segurava na língua. você ria,

risadas largas. o eco ia e

voltava, até cair a noite:

escuridão, lua, frio

repentino.  meu sonho

se deslizando sobre teu peito

como córrego claro, como depois,

a calma. 

 

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TEXTOS EM ESPAÑOL

 

 

Sucede que me canso ...

 

                                  Sucede que me canso de ser hombre.

                                                 Pablo Neruda.

 

Sucede que me canso de ser mujer

Sucede que ando en los autobuses y los parques

             fatigada, huyendo del tacto

 

Sucede que me canso de mis muslos, húmedos en la oscuridad

de mis senos pesados

de mañanas que amanezco

entre una mancha

              roja, solitaria

 

Sucede que me canso de ser mujer

de andar los callejones entre sombras

               y ojos que acechan

de habitar puertas

                y puertos

 

Sucede que me canso

de mis propias palabras azules e negras

y de esperar respuestas

y cartas

y crepúsculos venideros

 

No quiero seguir caminando a tientas e temblando

No quiero tener en mi casa espejo

ni teléfonos que me despiertan aúllando silencio

No quiero ver supermercados ni tiendas por el camino

Y  por eso

              viajo

               en los trenes de media noche

               aprendo a hacer hechizos

               atravieso los cielos en un barco dibujado con gis

               y pongo

               en el lugar de las lágrimas e la ropa recién lavada,

                           mis pupilas abiertas.

 

(1982)

 

 

Ocaso 

los bosques están lejos.

aquí:

      solamente luz de lámpara

      y nuestras piernas dormidas.

sobre los sueños ha crecido un moho espeso

como la telaraña que cubre el tragaluz

de nuestra casa.

 

nos conocemos desde otro invierno

menos herrumbroso que éste.

hoy, detrás de tus cuadros,

me escondes unos brazos que se han marchitado.

yo, cada noche,

recopilo pedazos de baladas tristes

y bailo para tu sombra.

 

hemos asistido al incendio de los senderos.

 

ahora, maletas vacías en las manos,

trepamos por un calendario de destierros,

     por sus interminables escalinatas:

                                                       espacios blancos,

                                                       rayas negras,

como dos sonámbulos

arrastrándose por las calles

de una ciudad arrasada.

     

 

Novo

  

Inicio o calendário procurando tuas pistas –

um sobrenome, um cigarro fumado, um semelhante

gosto tolo pelo sofrimento.

O que muda? Subo uma escada

íngrime na meia luz.  Quebro um copo.

Flui um líquido frio.

No olhar dos amigos, na metade da noite,

uma luz vermelha acenda, apaga, acende.

Faça a escolha certa. O gasto mundo geme

E de repente, abre sua mão.  Uma palma lisa,

me chamando para degustar tudo

de novo.

 

 



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