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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

MARTA GONÇALVES

 

Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, em 1940, descendente de italiano. Autora de numerosos livros de poesia.  
 

TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL

 

PAISAGEM IMAGINADA

 

A incapacidade de isolar a mentira

da palavra. De separar a alma e colher

a paisagem imaginada. Renascer outros dentes

         na fria boca.

 

Morrer o interior antes de apagar o corpo.

Arrancar lianas no jardim. Olhar o peixe.

A dimensão escura da existência fica ali

na árvore. O pássaro verde é fonte.

 

Os símbolos riscados: silêncio de vida.

No exílio dos dias, medo. Medo de apodrecer

a fala, a imagem. Medo de fechar a mão para o sol.

Medo de cerrar os olhos para o sono. 

 

 

O VENTO NAS FOLHAS

 

Converso com o tamarindo e escuto

o vento nas folhas.

A palavra cobre a terra, cobre

as mãos inquietas. A idade é remota.

Longe ficaram as sementes.

 

 

A idade cega os olhos e invade a morte.

Não tenho o sono do limbo. O muro nasce

a erva no pôr-do-sol. A árvore vem do tempo

das águas e traz a maresia dos cardumes.

 

 

O silêncio das nascentes guarda a lonjura

da canção. O mesmo silêncio no verde pinheiro.

O verso perdeu o sol. Quero falar da criança

da rosa do último adeus da velha casa.

Sombras habitam o âmago do texto.

 

 

Converso com o tamarindo a história da alma.

A alma se esqueceu das estrelas. O medo

das confissões e o desespero da fala abrigam

um século de vida nos dedos nodosos de sonhos.

 

         Paisagem imaginada, 1997 

 

 

MANTEIGUEIRA COR-DE-TANGERINA

 

Guarda-louça textura o tempo

jogado no pêndulo da infância

com bonequinhos picotados de papel

recompondo as prateleiras de madeira.

 

Manteigueira cor-de-tangerina

da avó amargando a Itália

nesta terra de dor, de aço , de lida.

 

Ferro de brasa assoprado pela

negrinha escrava da casa

de pau-a-pique, onde a lenha

do fogão aquentava o café amigo

– para bocas de desamparo.

 

Pó da memória na arcada dos anos.

Dois cálices de cristal. Xícaras made in Japan.

Jarros de água secos e áridos não apagavam a sede

dos dias bolorentos pastados na idade.

 

Cheiro de azinhavre no tacho de cobre

retém substâncias na mente,é a névoa

diluindo no forno de tijolo, onde o pão

amassado na angústia alimentava corpos.

 

Não é a manteigueira cor-de-tangerina

o itinerário das lembranças.

Mas o retrato escovado,pálido,da Tia Maria

que morreu de melancolia

                  nos vitrais da insônia.  

 

 

De
GONÇALVES, Marta. 
CAVALOS VERDES.
Capa: óleo de Carlos Gonçalves.  
São Paulo: Massao Ohno, 1991.  75 p. ilus p&b

“Li todos os seus poemas. Você está em excelente forma poética.” FÁBIO LUCAS

 

 

ENGANO

 

De que me serve sorver o melaço

dos dias quentes e azuis de cristal?

De que me serve ser festejada

pelo poema editado no jornal?

 

Nada disso importa/ se a orquídea

lembra dedos cruzados no velório.

 

Vejo espanto no olhar do bêbado.

Na sua madorna, a lucidez:

Sabe que cuspo no mundo imundo.

 

No canto da tempestade

brinco de caleidoscópio no tempo.

Finjo que existe Deus movendo pedras

para aceitar o inexplicável da vida.

 

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TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. y traducción de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Edición Loiovento, 2001.

 

 

PAISAJE IMAGINADO

 

La incapacidad de aislar la mentira

de la palabra. De separar el alma y coger

el paisaje imaginado. Renacer otros dientes

         en la fria boca.

 

Morir el interior antes de apagar el cuerpo.

Arrancar lianas en el jardín. Mirar al pez.

La dimensión oscura de la existência queda allí

en el árbol. El pájaro verde es fuente.

 

Los símbolos rayados: silencio de vida.

En el exílio de los días,miedo. Miedo de pudrise

el habla, la imagen. Miedo de cerrar la manos al sol.

Miedo de cerrar los ojos al sueño.

 

 

 

EL VIENTO EN LA HOJAS

 

Converso con el tamarindo

el viento en las hojas.

La palabra cubre la tierra, cubre

las manos inquietas. La edad es remota.

 

La edad ciega los ojos e invade la muerte.

No tengo el sueño del limbo. El muro nace

la hierba al ponerse el sol. El árbol viene del tiempo

de las águas y trae la marea de las muchedumbres.

 

El silencio de las nacientes guarda la longitud

de la canción. El mismo silencio del verde pino.

El verso perdió el sol.  Quiero hablar del niño

de la rosa del último adiós de la vieja casa.

         Sombras habitan el interior del texto.

 

Converso con el tamarindo la historia del alma.

El alma se olvido de las estrellas. El miedo

se las confesiones y el desespero del habla abrigan

un siglo de vida en los dedos nodulosos de sueños.

 

         Paisagem imaginada, 1997



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