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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



LEONOR SCLIAR-CABRAL

Nasceu em PortoAlegre, em 1929. Doutora em Lingüística pela Universidade de São Paulo. Estudou fonoaudiologia e lecionou diversos cursos pedagógicos. Em 1991 foi eleita, na Universidade de Toronto, presidenta da Sociedade Internacional de Psicolingüística Aplicada. Foi presidenta da União Brasileira de Escritores de Santa Catarina. Participa da construção de um banco de dados sobre a língua portuguesa.

Obras publicadas: Sonetos (Florianópolis: NoaNoa, 1987); Romances e Canções Sefarditas  (São Paulo: Massao Ohno, 1990);  Memórias de Sefaradoutro (Florianópolis: Athanor, 1994); De Senectute Erotica (São Paulo: Massao Ohno, 1998, edição bilíngüe com trad. francesa por Marie-Hélène Torres); Poesia Espanhola do Século de Ouro (Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1998); “O outro, o mesmo” (trad. poética, In J.L. Borges, Obra Completa, São Paulo: Globo, 1999); Cruz e Sousa, o poeta do desterro (versão poética para o francês com Marie-Hélène Torres das legendas do filme de Sylvio Back, Rio de Janeiro: Sete Letras, 2000) e O sol caía no Guaíba, Porto alegre: Bestiário, 2006. Prepara a publicação em 5 línguas dos sonetos Sagração do alfabeto. 

Veja também sobre a autora: A ARTE DO ESPELHO, por José Fernandes, sobre o poemário Memórias de Safarad, de Leonor Scliar-Cabral

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS / EN ESPAÑOL / EN FRANÇAIS / IN ENGLISH


DOIS POEMAS INÉDITOS

de LEONOR SCLIAR-CABRAL

 

 

ZÁYIN

 

Defrontam-se os guerreiros na batalha

entre a tese e a antítese, entre o bem

contra o mal, entre o apoio e o desdém,

paralelas opostas por navalhas

 

que desferem os golpes e retalham

as hostes inimigas e detêm-se

diante da diagonal enfim refém

das pontas sobrepostas que a entalham.

 

Durante sete luas pelo obscuro

mar, a quilha fenícia o reversível

traçado vacilante e inseguro

 

vai semeando com os dedos espalmados:

só o que a pupila vê, o inacessível

e sua infinita tela descartados.

 

 

CHET

 

Barreira, muro ou grade, dominó,

tu abafas a voz subentendida

da qual depende a concha escolhida

para ouvir. Amordaça-nos o agora,

 

prisioneiros que somos como Jó

dos espaços estreitos, da guarida

sem futuro, da ação sempre impedida

pelos braços atados. O algoz

 

é o relógio imutável do mutismo,

condenando-a à prisão de ser silente

ou de ser a vassala do grafismo

 

da letra precedente. Garroteados,

só o porvir liberta essa torrente

subterrânea e o fogo represados.

 

*****

TOLEDO, CIDADE DO CONSOLO

 

Debrum nas janelas cegas e paredes de ladrilhos:

uma profusão de lírios orna estrelas de Davi,

nos idos de ha-Levi.

 

Os pedreiros muçulmanos te ergueram, Alamliquim,

as trinta e duas pilastras da toledana magia.

 

Estes trinta e seis degraus, rezando a cabala do Rabi,

salmodiavam até os banhos, nos idos de ha-Levi.

 

Os passos na pobre Aljama, paradas na Alcana rica,

separadas pelos muros e seus cerrados postigos.

 

Os segredos de tuas casas, se abriam para os jardins

internos com suas fontes cercados por alecrins,

nos idos de ha-Levi.

 

 

GIRONA

 

Harab ben Ishaq e as consagradas lâmpadas,

palavras escuras sempre iluminadas.

Vozes de Provença, presságios nas calls,

vinte-e-duas letras, vinte-e-dois degraus.

Intrincado Dédalo: de arcos e arcanos

e a estrela amarela e os vermelhos panos.

 

 

SHAVOUT EM GRANADA

 

Teus pés pequenos sobem alamedas

pelos jardins de Alhambra e suas roseiras

antes que a lua cheia.

 

Romãs maduras pendem do teu cesto

e dos vinhedos cachos de uvas frescas,

antes que a lua cheia.

 

Com a perfumada flor de laranjeira

ornarás de guirlandas as estrelas

antes que a lua cheia

 

e as campinhas soem suas bênçãos

e o Rabi Yosef já comece a ler

antes que a lua cheia.

 

Antes que tinta em sangue a lua cheia

estanque essa fonte para sempre

de uma inconclusa e eterna fortaleza.

 

 

SEPHIROT

 

Numa esfera perdida um paraíso

está à minha espera não sei quando

e eu vou galgando em círculos os ramos

secos de pomos.

 

Os meus cabelos brancos se emaranham,

disfarce dos espinhos ressequidos,

onde eu busquei romãs, maçãs e figos

do paraíso.

 

Perdida estou, jamais,porém meu sonho

e a rasgada pele em gretas geme

as derradeiras gotas que alimentam

o que está morto. 

 

De Senectude Erótica  (1998)

 

 

De
Leonor Scliar-Cabral
Memórias de Sefara
Ilustrações de Rodrigo de Haro. 
Florianópolis: Livros de Athanor, 1994.  144 P.  ilus

 

Peixe Dourado

Vagas pelo aquário o eu silêncio aprisionado,
príncipe carmesim, por uma bruxa encantado.
Virá uma princesa e o milagre de seu sal
transbordará as águas, transformando-se em mar.
Mãos dadas, mergulhando, na maré carregados,
submergirão para sempre, escafandros de metal.



Aberraman III

Salvados de Israel, colheste nossos restos.
Em torno do teu cetro estavam os mais sábios
e o livro indecifrado, herança mais letrada
da Jônia massacrada. Inúteis as sondagens:

é muda a filigrana em traços de mil plantas
tecidas por aranhas numa língua bárbara.
Hasday procura o elo, implora ajuda aos céus:
— Quem é que ainda conhece o ômega e o alfa?

Um monge erudito, trazido dos confins,
do grego ao latim, decifra-lhes os textos.
E surgem novas ervas, brilham novas pedras
e o Estagirita emerge em meio aos arabescos.
  

De
Leonor Scliar-Cabral
Sagração do Alfabeto
Desenhos de Rodrigo de Haro.
São Paulo: Scortecci, 2009.  174p.  ilus. 
Textos em Português, Espanhol, Francês, Inglês e Hebráico.


VAV

Esôfago, traquéia, remos ou falo,
vais singrando a corrente ao estuário
dos rios que se encontram no fadário
de fugirem das margens em gargalo,

submissos aos destino sem quebrá-lo,
morrendo e renascendo, refratários
a não sobreviver.  Duro calvário
do fígado exposto e ser vassalo

das bicadas eternas.  Nas papilas,
nos olhos, nos ouvidos e narinas,
na derme, nas entranhas tu asilas

a energia cósmica: no jogo
dos gestos em espelho, a divina
letra no tetragrama a ferro e fogo.

 

WAW

Trachée, rame, , phallus ou oesophage,
tu cingles les courants dans l´estuaire,
destinée de rencontre des rivières
qui s´enfuient en goulot vers les marges,

sans le casser, soumis à leur suffrage
renaissant et mourant, réfractaires
encore à ne pas vivre.  Dur calvaire
du foie vif exposé et être page

des becquées éternelles. Dans les papilles,
dans les yeus, les oreilles et les narines<
dans le derme, les entrailles, tu grésilles

l´énergie sidérela: et dans le jeu
des gestes en reflet, la divine
lettre du tétragramme à fers et feux.

 



WAW

Esophagus, trachea, phallus, oar,
you join the rivers rushing toward the sea
and ride their currents  toward your destiny
through narrow funneled straits and rocky shores

submissive to their unrelenting fate
of dying and of being born again<
of clasping life.  A Calvary of pain,
that of the naked liver´s harsh mandate:

eternal trusting beaks.  Now, to your tongue,
your ears and eyes, your nostrils flaring wide,
and to your skin and to your entrails come

cosmic energies: in the mirrored game
of gestures, sacred and now sanctified
piece of tragrammaton, forged in flame.



VAV

Tráquea, esófago, falo, remo fuerte,
navegas la corriente hacei el estuario
de los ríos cuyo destino vario
es dejar las orillas en gollete

sumisos al destino sin romperlo
muriendo y renaciendo, refractarios
a no sobrevivir.  Duro calvario
del hígado expuesto y ser el vasallo

de eternas picadas.  En las pipilas
en los ojos, oídos y narinas
en la piel, en las entrañas tú asilas

la energía cósmica: en este juego
de gestos en espejo, la divina
letra en el tetragrama a hierro y fuego.

 

SCLIAR-CABRAL, Leonor.   De senectute erótica.  Versão Marie Hèlene C. Torres.   São Paulo: Massao Ohno, 1998.  125 p.    Revisão de Rosa Alice Mosimann. Releitura por Noêmia Guimarães Soares.  Edição bilíngue.  Edição de 1000 exs.  Col,. A.M. (EA)

 

EUNUCO

Como um eunuco disfarçado sob as vestes,
erro sozinha por palácios destroçados.
Salões dourados recamados por ourives
foram meus sonhos.

Na entrega mais perfeita um dia eu revelei
o meu fruto sagrado que vertia seiva,
insciente da luxúria e sábio do prazer
que não se ensina.

Mutilado fruto por quem eu adorei,
fruto que eu preservo no sal de minhas mágoas,
para ser recebida intacta pelos deuses,
a não tangida.

Agora é só disfarce em lições aprendidas,
amoroso sem risco a fingir a ficção,
o infatigável fruto morto. Sem fadiga,
as mãos, a boca.

 

EUNUQUE

Comme un eiinuque déguisé sous les vestes,
j'erre seule à travers des palaís devastés,
salons dorés retravaillés par des orfèvres,
tels furent mes revés.

Dans l'offre parfaíte, un jour je revelai
mon fruít sacré quí débordaít de sève,
inscient en luxure et sage en plaisir
pás enseigné.

Fruít mutilé par celui que j'adorai,
fruit que je conserve au sel de mês chagrins
pour être reçue intacte suprès des díeux,
la non touchée.

Désormais plus que des masques, leçons apprises,
l'amoureux sans risque, qui feínt la fiction,
l'infatigable fruit mort. Et sans fatigue,
les mains, la bouche.

 

TRILHAS CRUZADAS

 

Pelas trilhas cruzadas entre esferas

eu fui descendo e em sombra transformei-me

que acreditei mais viva do que a luz,

desmemoriada.

 

Inútil minha busca tão efêmera,

a ilusão de o nada construir,

sobre o caos em desordem que ordenamos

inordenável.

 

O que me dispersou me acolherá

e retorno ao seu ventre iluminado,
a desprendida alma dos tormentos,

último sopro.

 

 

SENTIERS CROISES

 

Parles sentiers croisés encre les sphères,
je descendais et ombre je devins
que je crus plus vive que la lumière,
sans mémoire.

Inutile est ma quête si éphémère,
l'illusion de construire le néant
sur le chaos que nous mêmes ordonnâmes
non ordonnable.

Ce qui m'a dispersée m'accueillera,
je reviens en son ventre illuminé,
mon âme libérée de tous tourments,

le dernier souffle.

 

 

 

 

 

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TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Edicions Laiovento, 2001

ISBN 84-8487-001-4

 

                TOLEDO, CIUDAD DE CONSUELO

 

Orlas sobre las ventanas ciegas y paredes de ladrillos:

una profusión de lirios orna estrellas de Davi,

em los idos de ha-Leví.

 

Los canteros musulmanes te levantaron, Almaliquim,

las treinta y dos pilastras de toledana magia.

 

Estos trinta y três peldaños, rezando la cabala El Rabí,

salmodiaban hasta los baños, en los idos de ha-Leví.

 

Los pasos en la pobre Aljama, paradas en la Alcama rica,

separadas por los muros sus postigos cerrados.

 

Los secretos de tus casas, se abrían a los jardins

internos con sus fuentes cercadas por alecrines,

en los idos de ha-Leví.

 

 

GIRONA

 

Harab ben1

Ishaq y las consagradas lámparas,

palabras oscuras siempre iluminadas.

Voces de Provenza, presagios em los Calls,

veintedós letras, veintedós peldaños.

Intricado laberinto: de arcos y arcanos

y la estrella amarilla y los rojos lienzos.

 

 

SHAVOUT EN GRANADA

 

Tus pies pequeños suben alamedas

por los jardines de la Alhambra y sus rosales

antes de la lluna llena.

 

Granadas maduras cuelgan de tu cesto

y de los viñedos racimos de uvas frescas,

antes de la luna llena.

 

Con la perfumada flor de naranjo

ornarás de guirnaldas las estrellas

antes de la media luna.

 

Y las campanillas suenen sus bendiciones

y el Rabí Yosef ya empiece a leer

antes que la lluna llena.

 

Antes que se tiña de sangre la luna llena

estanque esa fuente para siempre

de una inconclusa y eterna fortaleza. 

 

 

SEPHIROT

 

En una esfera perdida um paraiso

me está esperando no se cuando

y yo voy colocando en círculos los ramos

exentos de frutos.

 

Mis cabellos blancos se enredan,

disfraz de espinos resecos,

donde yo busque granadas, manzanas e higos

del paraiso.

 

Nunca estoy perdida a pesar de mi sueño

y la rasgada y agrietada piel exhala

las última gotas que alimentan

lo que está muerto.

 

 

De Senectude Erótica  (1998)

 

 

ÂNGULO NO. 102.  Cadernos do Centro Cultural Teresa D´Ávila.  Lorena, São Paulo:              abril- junho 2005.    ISSN 0101 191 X  44 p.  
                                                                                         Ex. bibl. Antonio Miranda

Poeta especialmente da cultura sefardita — judeus oriundos da península ibérica — mora em Santa Catarina e é dona de uma belíssima obra, traduzida para outras línguas. Rara sensibilidade, nem o tempo já passado impede que a poeta cante o amor assim:

 

"Faz de conta que ao anos
já passaram
e a vulva tem aroma
de jasmins
 recém aberto para teu cheiro.

Faz de conta que estou
estarrecida
Sem nem saber a forma do
 teu sexo
interditado e misterioso.

Faz de conta que és tu que
me revela
Meu corpo até então
adormecido
sem se mirar diante
do espelho
que  o bico dos seios
tão redondos
pela primeira vez se endurecessem

Página publicada em janeiro de 2008


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