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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





JOSÉ GERALDO NERES

   

J

José Geraldo Neres (Garça - SP, 1966). Atuação na área de Gestão Cultural, com ampla experiência, e como produtor cultural, arteeducador e escritor, ministrando oficinas literárias, ênfase em criação literária e estímulo à leitura. Poeta, ficcionista, roteirista, com dois livros: “Outros silêncios”, poesia, Prêmio Programa de Ação Cultural ProAC Concurso de Apoio a Projetos de Publicação de Livros no Estado de São Paulo, 2008 (Escrituras Editora, 2009); “Pássaros de papel” (Projeto Dulcinéia Catadora, edição artesanal, SP, 2007). Jurado da etapa inicial do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2009. Integrante do Grupo Gestor & Conselho Editorial do Ponto de Cultura Laboratório de Poéticas (Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura), responsável pela seção Outra Margem da revista homônima (2006/2010). Assessor literário da Secretaria de Cultura de Diadema (responsável pelo planejamento, realização e acompanhamento de projetos/atividades literárias de difusão, formação, e estímulo à leitura, 2005/2008). Curador da Sala Permanente de Vídeo/Documentários da VIII Bienal Internacional do Livro do Ceará (nov. 2008). Co-fundador do grupo Palavreiros (1999).

Único poeta de idioma português convidado e participante do 1º Festival Internacional de Poesia, Granada, Nicarágua (Fevereiro – 2005).

 

Antologias: “Alabastros” (Março/2002), “Tempos Perplexos - Poética Social” (Depto. de Cultura de Diadema, Agosto/2002), “Onze autores da Web” (Editora Ottoni, 2003), “Roda Mundo, Roda gigante”, Antologia Internacional. (Editora Ottoni, 2004), “Antologia VMD” (Editora Ottoni, 2004), Antologia "Tempos & Territórios" (Depto. de Cultura de Diadema, Diadema/SP - 2004).

 

Conta com publicações em prosa, poesia em sítios brasileiros e na Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, México, Portugal, Porto Rico, Suiça, Venezuela e Nicarágua.
 

JOSÉ GERALDO NERES

O poeta José Geraldo Neres participando de uma sessão magna da   I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA ( de 3 a 7 de setembro de 2008 ).

 

NERES, José Geraldo. Olhos de barro.  São Paulo: Editora Patuá, 2012.  112 p. ilus. col.  14x21 cm.  ISBN 978-85-64308-44-2  Editores: Aline Rocha e Eduardo Lacerda.  Projeto gráfico, capa e ilustrações: Leonardo Mathias – flickr.com/leonardomathias.  Tiragem: 100 exs.  Col. A.M.  (EA)

 

 

 

TRANCO FANTASMAS

NO MEU CORPO

 

Os minutos saem de minha pele, se perdem pela casa. Vozes no meu corpo: passam por uma encruzilhada de caminhos, movem-se, movem-se. Ela não conhece o tempo. O espelho não se lembra de sua face. Caminha. Sem testemunhas. Caminha. Não sabe misturar o barro, procurar nomes e milagres. Hoje ele mudará de pele e dormirá sozinho.

 

 

A morte caminha nos olhos dos Outros, dizem que seus olhos são paredes brancas. De herança ganhei um relógio, não de metal, mas de carne. Pedi paciência e ele responde: a ferida está aberta, caminhe. Os dois ponteiros gostam de serpentes. Caminhe. Ela nunca me desafia — a morte —, arrasta um colar de nomes, gosta da inocência destes olhos cegos, nunca repete um nome.

 

 

Á quarta parede a se formar dentro do meu corpo. Imagem dentro da imagem dentro do relógio. A casa, diante do espelho, sorri.

 

 

Realiza um estranho ritual, retira do espelho palavras e mais palavras. Tenta compor nomes. Horas e horas passa frente ao espelho. Sequer um pequeno nome ela consegue formar, continua o ritual, palavras e mais palavras. Aferida está aberta. Eles nunca caminham de mãos dadas.

 

 

 

OS QUE ACENAM

DA OUTRA MARGEM II

 

Os pés crescem a brincar ladeira abaixo. Meu nome. Carrinho de barro sem palavras. As marcas da chuva na terra sequer acompanham nossas sombras. A rua desagua nas raízes das casas.

 

 

Espreitado por portas e janelas, o céu se arrepia. Molhado caminho a costurar corpos. Ladeira abaixo, fome não existe. O tempo, língua de outra língua, desenha outros carrinhos. Corpos se inclinam em resposta. Ombro a ombro a sonhar nomes. Na outra margem, verdes olhos acenam em silêncio. A força do vento causa inveja aos anjos.

 

 

De
José Geraldo Neres
OUTROS SILÊNCIOS
São Paulo: Escrituras, 2009
ISBN978-85-7531-318-3


“E por isso o renascimento, um novo universo de palavras que passa a se mover na forma de sintaxes embrionárias, a conduzir a revelação dos sonhos antevistos pelas profecias, arcaicas habitações das primeiras manhãs dos mito poéticos.” AFFONOSO HENRIQUES NETO

 

 

O CORAÇÃO DA TERRA

         uiva na parede humana

         mÚsica dionisÍaca caminha no cérebro

 

o peregrino

         dorme na estrela penhorada

 

seu cajado procura a água de uma profecia qualquer

 

a corda se rompe

seu corpo sorri em goles de loucura

         traz o planeta de cobre

         & seus cemitérios de karmas


 

LARÓYÈ!
 -- Letra, voz: José Geraldo Neres. Participação, voz e direção: Márcio Barreto.


Peço Licença! EXÚ (O Guardião: "Àquele que vive a noite, que nos livre das emboscadas")! 

O TAMBOR/ATABAQUE QUE HABITA EM MIM SAÚDA O TAMBOR/ATABAQUE QUE HABITA EM VOCÊ! - "Macumbaria poética -- arte ancestral"; africanidade, diversidade, e ancestralidade: 

http://www.youtube.com/watch?v=4lSI7yB6bhI&feature=youtu.be


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  TEXTO EN ESPAÑOL y/e TEXTO EM PORTUGUÊS

Traduções/Traducciones de Antonio Alfeca

 

LA CUARTA LENGUA DE LA LUNA

 

La cuarta lengua de la luna

pasa por el cuerpo

& la primavera

solloza

espectros de pétalos

su semilla

- el manso golpe

del hacha –

rasga el pecho

salen

dos girasoles

con la edad

del silencio

uno con los pies

de niño-huérfana

el otro con las manos

de trigo

la lengua

perfora el pensamiento

congela

los ojos del tiempo

(besos

a devorar

la música

del rocío)

un grito

pesca una estrella

– sella el abismo –



A QUARTA LÍNGUA DA LUA

 

A quarta língua da lua

passa pelo corpo

& a primavera

soluça

espectros de pétalas

sua semente

- o manso golpe

do machado -

rasga o peito

saem

dois girassóis

com a idade

do silêncio

um com os pés

de criança-órfã

o outro com as mãos

de trigo

a língua

perfura o pensamento

congela

os olhos do tempo

(beijos

a devorar

a música

do orvalho)

um grito

pesca    uma estrela

- sela o abismo -

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 






 

 



EN LA VIDRIERA

 

 

En la vidriera                  seis ojos

puñal                   cocodrilo           mariposa

con una cuchara

el segundo se divertía

mezclaba lágrimas con espejos

la tercera

traía la fe para los niños

-pero por una moneda

vendía milagros-

el primero

era el portero del infierno

hacía puertas en el pecho de las

estrellas

pedazos de pieles brillaban

su lengua-perro

penetraba el escorpión-asfalto

 

tres hombres descienden del alfabeto

 

Henrique           Emílio                  Lorenzo

 

en la vidriera

la herida-mundo

besa una gota de nube

& el girasol devora la última virgen

 

en el tejado los tres hombres

beben un seno ahogado

& el corazón de Lorca  



NA VIDRAÇA

 

 

Na vidraça                      seis olhos

punhal                 crocodilo           borboleta

com uma colher

o segundo se divertia

misturava lágrimas com espelhos

a terceira

trazia a fé para as crianças

-mas por uma moeda

vendia milagres-

era o porteiro do inferno

fazia portas no peito das estrelas

pedaços de peles brilhavam

a sua língua-cão

penetrava o escorpião-asfalto

 

três homens descem do alfabeto

 

Henrique           Emílio    Lorenzo

na vidraça

a ferida-mundo

beija uma gota de nuvem

& o girassol devora a última virgem

 

no telhado os três homens     

bebem um seio afogado

& o coração de Lorca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



EN LA PIEL DEL SOL

 

en la piel del sol

pintura de enero

en pelaje de serpiente

 

otro ropaje

en el cementerio andaluz

 

el espíritu de la noche

desnuda la violeta de su cuerpo

en los huecos de la luna oculta

 

en la guitarra

duerme un ángel medio crio

siente el dolor de la poesía

cosechada en el abismo de los

                                                  siglos

 

lloro de invierno

 

los ojos de otra niña

amamantan

un sol de cobre


NA PELE DO SOL

 

na pele do sol

pintura de janeiro

em pêlo de serpente

 

uma outra roupagem

no cemitério andaluz

 

o espírito da noite

despe a violeta do seu corpo

nas frestas da lua oculta

 

na guitarra

dorme um anjo meio-menino

sente a dor da poesia

colhida no abismo dos

séculos

 

choro de inverno

 

os olhos doutra criança

amamentam

um sol de cobre

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 

 



DORSO DE LUNA

 

dorso de luna

                     en el ala del ángel caído

                     barca

                               de sombras

                     desierto

                               de mil lenguas

 

retazos de estrellas

y

sonido de hojas

                     rasgadas

                     en tres partes

 

la roca virgen

                     sangra

                     el río callado

 

                     canto de luces

                                          abisales

 

                     polvo de rosas

                                          azuladas

 

                     gozo

                     al colorear

                     el viento negro



O DORSO DE LUA

 

O dorso de lua

na asa de anjo caído

barca

de sombras

deserto

de mil línguas

 

retalhos de estrelas

& som de folhas

rasgadas

em três partes

 

a rocha virgem

sangra

o rio calado

 

canto de luzes

abissais

 

poeira de rosas

azuladas

 

gozo      a colorir

o vento negro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



EPISODIO

 

Metal impuro

medallón de la suerte sin poderes ocultos

moneda acuñada en los tiempos del sufrimiento

Éstas fueron las primeras hipótesis

para describir el objeto que estaba clavado

entre los dedos de aquel incógnito ser en la angustiada

mesa de autopsia

 

Él fue encontrado en la cumbre de la montaña

[irónicamente denominada

Paraíso]

Aún no había llegado a la edad del lobo

 

Concluidos los primeros exámenes

intentaba yo armar el rompecabezas del devorador de mi tranquilidad

 

No salí de la primera pieza

 

Ningún indicio de su muerte

los órganos internos estaban perfectos

algo inhabitual para alguien de su edad

Una luz artificial se reflejó en mi rostro

&  el Señor de las Dudas me recorrió el cuerpo

La moneda abandonó su alojamiento

robándome la concentración en los análisis

 

La ampolleta está invertida

 

Las runas trazan diferente destino

 

El viento nocturno conduce a una extraña sensación

estoy en la montaña Paraíso

 

Solitario

                    Vestigios de sanidad

Abruptamente el escenario es invadido por otra criatura

pero ella no percibe mi presencia

Se sienta en posición de loto

parece asombrada con el horizonte

Con un movimiento angelical

ella retira un objeto circular de sus entrañas

Lo mira

           &     su semblante se transforma

Grita

           &   tira furiosamente el objeto montaña abajo

Se gira hacia mí          

mirada vaga

un algo de decepción

 

Llueve

 

La lluvia cubre su cuerpo en un lamento

Una gota bermeja me devuelve a la escena inicial

 [Metal impuro - Forja maestra de almas

invento que impone su cadencia

arquitectando lo cotidiano

monarca de las ilusiones

 

Soy siervo bañándome en espejos de lágrimas]

 

Me dejaron pasar el sol

        Pero hace días no percibo su luz

 

-- [Trad. Antonio Alfeca]  



EPISÓDIO

   

Metal impuro

medalhão da sorte sem poderes ocultos

moeda cunhada nos tempos do sofrimento

Estas foram as primeiras hipóteses

para descrever o objeto que estava cravado

entre os dedos daquele incógnito ser na angustiada

mesa de necropsia

 

Ele fora encontrado no cume da montanha

[ironicamente denominada

Paraíso]

Ainda não atingira a idade do lobo

 

Concluídos os primeiros exames

tentava eu montar o quebra-cabeça do devorador de minha tranqüilidade

 

Não saí da primeira peça

 

Nenhum indício de sua morte

os órgãos internos estavam perfeitos

o que era incomum para alguém de sua idade

Uma luz artificial refletiu-se em meu rosto

&  o Senhor das Dúvidas percorreu-me o corpo

A moeda abandonou seu hospedeiro

furtando-me a concentração nas análises

 

A ampulheta é invertida

 

As runas traçam diferente destino

 

O vento noturno conduz a uma estranha sensação

estou na montanha Paraíso

 

Solitário

                    Vestígios de sanidade

Abruptamente o cenário é invadido por outra criatura

mas ela não sente minha presença

Senta-se em posição de lótus

parece admirada com o horizonte

Num movimento angelical

ela retira um objeto circular de suas entranhas

Olha-o

           &     seu semblante transforma-se

Grita

           &    atira furiosamente o objeto montanha abaixo

Vira-se para mim           

olhar vago

um quê de decepção

 

Chove

 

A chuva cobre seu corpo num lamento

Uma gota rubra remete-me à cena inicial

 [Metal impuro - Forja mestra de almas

invento impondo sua cadência

arquitetando o cotidiano

monarca das ilusões

 

Sou servo banhando-me em espelhos de lágrimas]

 

Permitiram-me o sol

        mas há dias não sinto sua luz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 



 



La muerte llevaba vendas en los ojos  

José Geraldo Neres

Traducido por: Adolfo Ruiseñor  (México)

 

I

La muerte llevaba vendas en los ojos. Grandiosa voz domadora de los desiertos —mi corazón—combatía a los ángeles. Era el niño en su caballo blanco. Atravesaba los espejos; andaba descalzo sobre las tumbas de las almas perturbadas; bebía la sangre de las sombras en un cáliz tomado de la voz de un cuervo, del lecho profundo de un dios olvidado. La muerte tenía los ojos de ese dios, hacía de él su casa. Corría por las venas como humareda y cruzaba la ciudad y sus torres de sangre; vendedora de milagros.

 

 El deber en los callejones y callejas, un ángel traza una jeringa. En aquella prisión de vidrio ellos viajan con otros dioses. Descubren el útero del tiempo. Encuentran el poeta que vive en el abismo.

 

II

María no consigue más evocar el rostro de su mad re. Cuando alguien pregunta, da siempre la misma respuesta: ¡Mi madre es la calle!

 

María, doce años. Carga una muñeca, regalo de Navidad. Pero la miseria no le da tregua; el hambre tiene rostro antiguo dentro de María. La virginidad tiene su valor. El sudor de aquel hombre le corre por el cuerpo. El sol es un puñal. Rehace su rostro. Corta el alma. El lloro, el grito, y ningún ángel para escuchar. Ninguna lágrima.

 

¡Hoy ella almorzó!

 

José usa la muñeca para limpiarla. La sienta a su lado. Llora.

 

—¿Qué fue? ¿Por qué está llorando? Guardé un poco de comida para usted.

 

III

Un minuto. La encrucijada. Árbol de ramas retorcidas y frutos sueltos. A los pies pedazos de pan, u n espejo, una vasija con agua, una madeja de lana, una victrola. Una pequeña con un mazo de naipes en las manos. Ella cubre el espejo con pequeños pedazos de pan. Toma una carta y la escudilla. Mira para los dos objetos. Zambulle la carta. Comienza a moverse de un lado a otro. Gira, gira. Retira la sombra dentro de la sombra, arrastra el silencio para dentro de la vasija. Eleva las manos, las juega para lo alto. El agua cae en la madeja de lana. Cada milímetro de la madeja conduce a otro laberinto. Con un rosario de carnes la pequeña coge niños sin sombras.

 

IV

Está surgiendo un silencio nuevo cada día, y siempre surge ese abismo que ronda las sombras blancas del papel. El disparo de un ángel sádico quebró mis alas.—Madre; hoy no escuché su bendición; siento una risotada cortar el aire.

 

 En el lecho profundo de un dios olvidado la muerte llevaba vendas en los ojos.



morte usava vendas nos olhos

 

I

A morte usava vendas nos olhos. Grande voz domadora dos desertos – meu coração – combatia os anjos. Era o menino em seu cavalo branco. Atravessava os espelhos; andava descalço por entre os lotes de almas perfuradas; bebia o sangue das sombras com um cálice retirado da voz de um corvo, do leito profundo de um deus esquecido.   A morte usava os olhos desse deus, fazia dele o seu lar.  Corria pelas veias como fumaça e cruzava a cidade e suas torres de sangue; mercadora de milagres.

 

O dever nos becos e vielas, um anjo traz uma seringa. Naquela prisão de vidro eles viajam com outros deuses. Descobrem o útero do tempo. Encontram o poeta que habita o abismo.

 

 II

 

Maria não consegue mais lembrar do rosto de sua mãe. Quando alguém pergunta, dá sempre a mesma resposta: — Minha mãe é a rua!

 

Maria, doze anos. Carrega uma boneca, presente de Natal.     Mas a miséria não dá trégua; a fome é um rosto antigo, dentro de Maria. A virgindade tem seu valor. O suor daquele homem corre pelo corpo. O sol é um punhal. Refaz seu rosto. Corta a alma. O choro, o grito, e nenhum anjo para escutar. Nenhuma lágrima.         

 

 Hoje ela almoçou!

 

 José usa a boneca para limpá-la. Senta ao seu lado. Chora.

 

– Que foi? Por que está chorando? Guardei um pouco de comida para você.

 

 III

Um minuto. A encruzilhada. Árvore de galhos retorcidos e frutos soltos. Aos pés: pedaços de pão, um espelho, uma cuia com água, um novelo de lã, uma vitrola. Uma criança com um maço de cartas nas mãos. Ela cobre o espelho com pequenos pedaços de pão. Apanha uma carta e a cuia. Olha para os dois objetos. Mergulha a carta. Começa a movimentar-se de um lado a outro. Gira, gira. Retira a sombra dentro da sombra, arrasta o silêncio para dentro da cuia. Eleva as mãos; joga-os para o alto. A água, cai no novelo de lã. Cada milímetro do novelo, tece um outro labirinto.  Com um rosário de carnes a criança colhe meninos sem sombras.

 

IV

Está surgindo um silêncio novo a cada dia, e sempre surge esse abismo que ronda as sombras brancas do papel. O tiro de um anjo sádico quebrou minhas asas.  — Mãe; hoje não escutei a sua benção; sinto uma risada cortar o ar.

 

No leito profundo de um deus esquecido a morte usava vendas nos olhos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



"la noche desvelada"

 

            a Pedro Juan Avila Justiniano

 

 

 

En los ojos del silencio

la calle de mi pueblo

 

tiempo secreto

en semillas de metáfora

 

en los labios de los niños

una pequeña estrella

 

II

 

El beso azul

de un ángel carnívoro

habita mis entrañas

 

ese laberinto de sombras

 

III

 

La sangre    en la tormenta

oraciones en la piel

en el pecho

la semilla de la primavera

 

Canta el milagro

una gota de girasol

en la puerta de mi patria

 

una sonrisa de niño

 

 leyendo: "la noche desvelada" de Pedro Juan Avila Justiniano, Editorial Ultimo Arcano  



"la noche desvelada"

 

            a Pedro Juan Avila Justiniano

 

Nos olhos do silêncio

a rua de meu povo

 

tempo secreto

em sementes de metáfora

 

nos lábios das crianças

uma pequena estrela

 

II

 

O beijo azul

de um anjo carnívoro

habita minhas entranhas

 

esse labirinto de sombras

 

III

 

O sangue     na tormenta

orações na pele

no peito

a semente da primavera

 

Canta o milagre

uma gota de girassol

na porta de minha pátria

 

um sorriso de criança

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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El eco de los árboles, o A la sombra de las guillotinas

- poema inédito -

 

José Geraldo Neres

Imágen: Floriano Martins.

Traducción al castellano: Leo Lobos.

 

 

 

El eco de los árboles, o A la sombra de las guillotinas

 

El tiempo y los lugares - presencia de un solo poema recitado por varias voces.

Somos el mismo poema en las ruinas de un mundo imaginario.

La respiración de las sombras y su nacimiento.

Somos una gota de sol y sus raíces aéreas.

El gran arco de una plaza desierta en plena celebración de la alegría humana.

El origen del abismo esta en la misma mirada que atraviesa esa plaza.

La alegría humana pide una limosna, un milagro, un sentido para la muerte - de una

vida ya sabemos sin sentido.

Seis de la tarde, y cruzamos un nuevo siglo.

Somos esa distancia, la promesa y el futuro.

Lenguaje de la inconsecuencia, alegoría que nunca llega al fin.

La poesía nos reprueba y nos da el sentido de libertad.

¿Cuál es la ventaja de llegar a Itaca si a camino ella misma se disuelve?

Somos un intento para descifrar símbolos, símbolos más allá de los símbolos, la gran

cobra que devoraremos para fecundar nubes de hermosura terrestre.

El agua de la lluvia que no llega.

El ganado en la sequía interminable.

La imagen del movimiento doble.

La malla de palabras que alguien intenta traducir.

Vengan a beber en el pecho de las musas despreciadas.

Vengan en las alas del cometa los suspiros de los huérfanos.

Mirar al espacio en busca de algo que nunca caerá.

El guardián del cuervo con sus ojos en llamas.

Padre de divina imagen, escucha al rebaño en el cielo creado con osamentas y que se disfraza en el fuego ardiente del laberinto.

Tigre. Tigre. La maldición completa el espejo que clama por Blake.

Condenados a la espera del golpe angelical que nos colocará nuevamente en el hospicio.

Somos el espectáculo de la repetición simbólica.

Ahora déme la mano, vamos a atravesar el desierto y coger algunas flores en la sala del almuerzo.

Poe buscando en sus ojos el acto original de la creación del mundo.

El tiempo presente y el tiempo pasado en dirección a la puerta.

Otras voces.

Profeta no.

Eliot. Lázaro. La voz retorna. Lázaro en el otro borde del abismo. Seis horas.

Los mundos se contraen alrededor de las imágenes.

Las sombras retornan.

 

 

El secreto es un escorpión de ojos tímidos.

Palabra dentro de la palabra. El polvo dentro del polvo.

El silencio se desdobla en un resto de vida.

Palabra sin habla.

El frío y sus ojos de lámina.

No puedo beber el tiempo, él es siempre tiempo.

El esfuerzo más allá de los huesos.

La poesía no se importa. Son seis horas. Otros intentos.

Recoja sus zapatos, está llegando una tempestad y no tenemos tiempo.

Una carcajada de serpiente cuando nuestros pies descalzos alcanzan la lluvia.

Somos esa ola peregrina que perfora el poema, ondulación de guitarras en el

golpe líquido de Lorca.

Somos su compañía con pedazos de espejos y tambores de heridas abiertas.

La desnudez de la niebla que devora toda luz.

Los números del monasterio de sangre.

Escondrijo en la noche de su asesinato. La traición.

Muro para dividir el mundo, en medio de una noche que no salva.

Somos aprendices dentro de la marmita que Baudelaire se rehúsa a cerrar.

El nombre vacío de su amigo de libertad, su igual, él mismo.

Volvamos al mundo de los nombres propios, donde un jardín no es nada más que

un jardín.

No recibe niños ni cuervos ni flores.

Somos ese jardín.

La lengua de los dioses en Whitman.

El entendimiento de los dos amantes.

Tome mi mano.

Libertad, Whitman.

No soy de aquí; veo, escucho, toco, y no soy de aquí.

 

Temo un encuentro con la ceguera.

Ser parte de esa noche, del vacío de los nombres, y del amor universal.

En la escritura abolimos lo que cubre la página y la no página.

Leí en Paz: el poeta no es el que nombra las cosas, pero si es el que disuelve sus nombres.

El mundo pierde sus nombres, pero continúa siendo un nombre.

Mis parpados golpean las repeticiones en los desfiladeros de la creación.

El sistema de espejos donde la lectura de la metáfora es la suplica del poeta, que se inscribe en otra palabra, otra carne

- el eco y la respuesta -

la revelación no es una casa, es un follaje en llamas.

La salida es la entrada, y la entrada es el pecado que engulle la manzana y la serpiente.

La sombra de un poema recitado por varias voces.

Repetí la lectura:

La poesía no quiere saber lo que hay al fin del camino.

La poesía busca, se contempla, se funde y se anula en las cristalizaciones del lenguaje.

Soy la ropa de arbustos donde un poeta se intenta equilibrar.

La vida despojada del reloj, los punteros disuelven al poeta en su figura negra y única.

La sombra en busca del poema.

Danza de símbolos en la eterna búsqueda del hombre que un día podrá ser.

Cuerpo dividido, dispersándose en la medida que leo lo que escribo.

Yo no existo aquí. El poema mal sabe de mí.

 

 

 

Dedico esta traducción a Miriam Rojas.

San Pedro de Atacama - 2008

 

 

 

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