JOSÉ GERALDO NERES
J
José Geraldo Neres (Garça - SP, 1966). Atuação na área de Gestão Cultural, com ampla experiência, e como produtor cultural, arte‐educador e escritor, ministrando oficinas literárias, ênfase em criação literária e estímulo à leitura. Poeta, ficcionista, roteirista, com dois livros: “Outros silêncios”, poesia, Prêmio Programa de Ação Cultural ‐ ProAC ‐ Concurso de Apoio a Projetos de Publicação de Livros no Estado de São Paulo, 2008 (Escrituras Editora, 2009); “Pássaros de papel” (Projeto Dulcinéia Catadora, edição artesanal, SP, 2007). Jurado da etapa inicial do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2009. Integrante do Grupo Gestor & Conselho Editorial do Ponto de Cultura Laboratório de Poéticas (Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura), responsável pela seção Outra Margem da revista homônima (2006/2010). Assessor literário da Secretaria de Cultura de Diadema (responsável pelo planejamento, realização e acompanhamento de projetos/atividades literárias de difusão, formação, e estímulo à leitura, 2005/2008). Curador da Sala Permanente de Vídeo/Documentários da VIII Bienal Internacional do Livro do Ceará (nov. 2008). Co-fundador do grupo Palavreiros (1999).
Único poeta de idioma português convidado e participante do 1º Festival Internacional de Poesia, Granada, Nicarágua (Fevereiro – 2005).
Antologias: “Alabastros” (Março/2002), “Tempos Perplexos - Poética Social” (Depto. de Cultura de Diadema, Agosto/2002), “Onze autores da Web” (Editora Ottoni, 2003), “Roda Mundo, Roda gigante”, Antologia Internacional. (Editora Ottoni, 2004), “Antologia VMD” (Editora Ottoni, 2004), Antologia "Tempos & Territórios" (Depto. de Cultura de Diadema, Diadema/SP - 2004).
Conta com publicações em prosa, poesia em sítios brasileiros e na Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, México, Portugal, Porto Rico, Suiça, Venezuela e Nicarágua.
O poeta José Geraldo Neres participando de uma sessão magna da I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA ( de 3 a 7 de setembro de 2008 ).
NERES, José Geraldo. Olhos de barro. . São Paulo: Editora Patuá, 2012. 112 p. ilus. col. 14x21 cm. ISBN 978-85-64308-44-2 Editores: Aline Rocha e Eduardo Lacerda. Projeto gráfico, capa e ilustrações: Leonardo Mathias – flickr.com/leonardomathias. Tiragem: 100 exs. Col. A.M. (EA)
TRANCO FANTASMAS
NO MEU CORPO
Os minutos saem de minha pele, se perdem pela casa. Vozes no meu corpo: passam por uma encruzilhada de caminhos, movem-se, movem-se. Ela não conhece o tempo. O espelho não se lembra de sua face. Caminha. Sem testemunhas. Caminha. Não sabe misturar o barro, procurar nomes e milagres. Hoje ele mudará de pele e dormirá sozinho.
A morte caminha nos olhos dos Outros, dizem que seus olhos são paredes brancas. De herança ganhei um relógio, não de metal, mas de carne. Pedi paciência e ele responde: a ferida está aberta, caminhe. Os dois ponteiros gostam de serpentes. Caminhe. Ela nunca me desafia — a morte —, arrasta um colar de nomes, gosta da inocência destes olhos cegos, nunca repete um nome.
Á quarta parede a se formar dentro do meu corpo. Imagem dentro da imagem dentro do relógio. A casa, diante do espelho, sorri.
Realiza um estranho ritual, retira do espelho palavras e mais palavras. Tenta compor nomes. Horas e horas passa frente ao espelho. Sequer um pequeno nome ela consegue formar, continua o ritual, palavras e mais palavras. Aferida está aberta. Eles nunca caminham de mãos dadas.
OS QUE ACENAM
DA OUTRA MARGEM II
Os pés crescem a brincar ladeira abaixo. Meu nome. Carrinho de barro sem palavras. As marcas da chuva na terra sequer acompanham nossas sombras. A rua desagua nas raízes das casas.
Espreitado por portas e janelas, o céu se arrepia. Molhado caminho a costurar corpos. Ladeira abaixo, fome não existe. O tempo, língua de outra língua, desenha outros carrinhos. Corpos se inclinam em resposta. Ombro a ombro a sonhar nomes. Na outra margem, verdes olhos acenam em silêncio. A força do vento causa inveja aos anjos.
De
José Geraldo Neres
OUTROS SILÊNCIOS
São Paulo: Escrituras, 2009
ISBN978-85-7531-318-3
“E por isso o renascimento, um novo universo de palavras que passa a se mover na forma de sintaxes embrionárias, a conduzir a revelação dos sonhos antevistos pelas profecias, arcaicas habitações das primeiras manhãs dos mito poéticos.” AFFONOSO HENRIQUES NETO
O CORAÇÃO DA TERRA
uiva na parede humana
mÚsica dionisÍaca caminha no cérebro
o peregrino
dorme na estrela penhorada
seu cajado procura a água de uma profecia qualquer
a corda se rompe
seu corpo sorri em goles de loucura
traz o planeta de cobre
& seus cemitérios de karmas
LARÓYÈ!
-- Letra, voz: José Geraldo Neres. Participação, voz e direção: Márcio Barreto.
Peço Licença! EXÚ (O Guardião: "Àquele que vive a noite, que nos livre das emboscadas")!
O TAMBOR/ATABAQUE QUE HABITA EM MIM SAÚDA O TAMBOR/ATABAQUE QUE HABITA EM VOCÊ! - "Macumbaria poética -- arte ancestral"; africanidade, diversidade, e ancestralidade:
http://www.youtube.com/watch?v=4lSI7yB6bhI&feature=youtu.be
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TEXTO EN ESPAÑOL y/e TEXTO EM PORTUGUÊS
Traduções/Traducciones de Antonio Alfeca
LA CUARTA LENGUA DE LA LUNA
La cuarta lengua de la luna
pasa por el cuerpo
& la primavera
solloza
espectros de pétalos
su semilla
- el manso golpe
del hacha –
rasga el pecho
salen
dos girasoles
con la edad
del silencio
uno con los pies
de niño-huérfana
el otro con las manos
de trigo
la lengua
perfora el pensamiento
congela
los ojos del tiempo
(besos
a devorar
la música
del rocío)
un grito
pesca una estrella
– sella el abismo – |
A QUARTA LÍNGUA DA LUA
A quarta língua da lua
passa pelo corpo
& a primavera
soluça
espectros de pétalas
sua semente
- o manso golpe
do machado -
rasga o peito
saem
dois girassóis
com a idade
do silêncio
um com os pés
de criança-órfã
o outro com as mãos
de trigo
a língua
perfura o pensamento
congela
os olhos do tempo
(beijos
a devorar
a música
do orvalho)
um grito
pesca uma estrela
- sela o abismo - |
EN LA VIDRIERA
En la vidriera seis ojos
puñal cocodrilo mariposa
con una cuchara
el segundo se divertía
mezclaba lágrimas con espejos
la tercera
traía la fe para los niños
-pero por una moneda
vendía milagros-
el primero
era el portero del infierno
hacía puertas en el pecho de las
estrellas
pedazos de pieles brillaban
su lengua-perro
penetraba el escorpión-asfalto
tres hombres descienden del alfabeto
Henrique Emílio Lorenzo
en la vidriera
la herida-mundo
besa una gota de nube
& el girasol devora la última virgen
en el tejado los tres hombres
beben un seno ahogado
& el corazón de Lorca |
NA VIDRAÇA
Na vidraça seis olhos
punhal crocodilo borboleta
com uma colher
o segundo se divertia
misturava lágrimas com espelhos
a terceira
trazia a fé para as crianças
-mas por uma moeda
vendia milagres-
era o porteiro do inferno
fazia portas no peito das estrelas
pedaços de peles brilhavam
a sua língua-cão
penetrava o escorpião-asfalto
três homens descem do alfabeto
Henrique Emílio Lorenzo
na vidraça
a ferida-mundo
beija uma gota de nuvem
& o girassol devora a última virgem
no telhado os três homens
bebem um seio afogado
& o coração de Lorca |
EN LA PIEL DEL SOL
en la piel del sol
pintura de enero
en pelaje de serpiente
otro ropaje
en el cementerio andaluz
el espíritu de la noche
desnuda la violeta de su cuerpo
en los huecos de la luna oculta
en la guitarra
duerme un ángel medio crio
siente el dolor de la poesía
cosechada en el abismo de los
siglos
lloro de invierno
los ojos de otra niña
amamantan
un sol de cobre |
NA PELE DO SOL
na pele do sol
pintura de janeiro
em pêlo de serpente
uma outra roupagem
no cemitério andaluz
o espírito da noite
despe a violeta do seu corpo
nas frestas da lua oculta
na guitarra
dorme um anjo meio-menino
sente a dor da poesia
colhida no abismo dos
séculos
choro de inverno
os olhos doutra criança
amamentam
um sol de cobre
|
DORSO DE LUNA
dorso de luna
en el ala del ángel caído
barca
de sombras
desierto
de mil lenguas
retazos de estrellas
y
sonido de hojas
rasgadas
en tres partes
la roca virgen
sangra
el río callado
canto de luces
abisales
polvo de rosas
azuladas
gozo
al colorear
el viento negro |
O DORSO DE LUA
O dorso de lua
na asa de anjo caído
barca
de sombras
deserto
de mil línguas
retalhos de estrelas
& som de folhas
rasgadas
em três partes
a rocha virgem
sangra
o rio calado
canto de luzes
abissais
poeira de rosas
azuladas
gozo a colorir
o vento negro |
EPISODIO
Metal impuro
medallón de la suerte sin poderes ocultos
moneda acuñada en los tiempos del sufrimiento
Éstas fueron las primeras hipótesis
para describir el objeto que estaba clavado
entre los dedos de aquel incógnito ser en la angustiada
mesa de autopsia
Él fue encontrado en la cumbre de la montaña
[irónicamente denominada
Paraíso]
Aún no había llegado a la edad del lobo
Concluidos los primeros exámenes
intentaba yo armar el rompecabezas del devorador de mi tranquilidad
No salí de la primera pieza
Ningún indicio de su muerte
los órganos internos estaban perfectos
algo inhabitual para alguien de su edad
Una luz artificial se reflejó en mi rostro
& el Señor de las Dudas me recorrió el cuerpo
La moneda abandonó su alojamiento
robándome la concentración en los análisis
La ampolleta está invertida
Las runas trazan diferente destino
El viento nocturno conduce a una extraña sensación
estoy en la montaña Paraíso
Solitario
Vestigios de sanidad
Abruptamente el escenario es invadido por otra criatura
pero ella no percibe mi presencia
Se sienta en posición de loto
parece asombrada con el horizonte
Con un movimiento angelical
ella retira un objeto circular de sus entrañas
Lo mira
& su semblante se transforma
Grita
& tira furiosamente el objeto montaña abajo
Se gira hacia mí
mirada vaga
un algo de decepción
Llueve
La lluvia cubre su cuerpo en un lamento
Una gota bermeja me devuelve a la escena inicial
[Metal impuro - Forja maestra de almas
invento que impone su cadencia
arquitectando lo cotidiano
monarca de las ilusiones
Soy siervo bañándome en espejos de lágrimas]
Me dejaron pasar el sol
Pero hace días no percibo su luz
-- [Trad. Antonio Alfeca]
|
EPISÓDIO
Metal impuro
medalhão da sorte sem poderes ocultos
moeda cunhada nos tempos do sofrimento
Estas foram as primeiras hipóteses
para descrever o objeto que estava cravado
entre os dedos daquele incógnito ser na angustiada
mesa de necropsia
Ele fora encontrado no cume da montanha
[ironicamente denominada
Paraíso]
Ainda não atingira a idade do lobo
Concluídos os primeiros exames
tentava eu montar o quebra-cabeça do devorador de minha tranqüilidade
Não saí da primeira peça
Nenhum indício de sua morte
os órgãos internos estavam perfeitos
o que era incomum para alguém de sua idade
Uma luz artificial refletiu-se em meu rosto
& o Senhor das Dúvidas percorreu-me o corpo
A moeda abandonou seu hospedeiro
furtando-me a concentração nas análises
A ampulheta é invertida
As runas traçam diferente destino
O vento noturno conduz a uma estranha sensação
estou na montanha Paraíso
Solitário
Vestígios de sanidade
Abruptamente o cenário é invadido por outra criatura
mas ela não sente minha presença
Senta-se em posição de lótus
parece admirada com o horizonte
Num movimento angelical
ela retira um objeto circular de suas entranhas
Olha-o
& seu semblante transforma-se
Grita
& atira furiosamente o objeto montanha abaixo
Vira-se para mim
olhar vago
um quê de decepção
Chove
A chuva cobre seu corpo num lamento
Uma gota rubra remete-me à cena inicial
[Metal impuro - Forja mestra de almas
invento impondo sua cadência
arquitetando o cotidiano
monarca das ilusões
Sou servo banhando-me em espelhos de lágrimas]
Permitiram-me o sol
mas há dias não sinto sua luz |
La muerte llevaba vendas en los ojos
Traducido por: Adolfo Ruiseñor (México)
La muerte llevaba vendas en los ojos. Grandiosa voz domadora de los desiertos —mi corazón—combatía a los ángeles. Era el niño en su caballo blanco. Atravesaba los espejos; andaba descalzo sobre las tumbas de las almas perturbadas; bebía la sangre de las sombras en un cáliz tomado de la voz de un cuervo, del lecho profundo de un dios olvidado. La muerte tenía los ojos de ese dios, hacía de él su casa. Corría por las venas como humareda y cruzaba la ciudad y sus torres de sangre; vendedora de milagros.
El deber en los callejones y callejas, un ángel traza una jeringa. En aquella prisión de vidrio ellos viajan con otros dioses. Descubren el útero del tiempo. Encuentran el poeta que vive en el abismo.
María no consigue más evocar el rostro de su mad re. Cuando alguien pregunta, da siempre la misma respuesta: ¡Mi madre es la calle!
María, doce años. Carga una muñeca, regalo de Navidad. Pero la miseria no le da tregua; el hambre tiene rostro antiguo dentro de María. La virginidad tiene su valor. El sudor de aquel hombre le corre por el cuerpo. El sol es un puñal. Rehace su rostro. Corta el alma. El lloro, el grito, y ningún ángel para escuchar. Ninguna lágrima.
José usa la muñeca para limpiarla. La sienta a su lado. Llora.
—¿Qué fue? ¿Por qué está llorando? Guardé un poco de comida para usted.
Un minuto. La encrucijada. Árbol de ramas retorcidas y frutos sueltos. A los pies pedazos de pan, u n espejo, una vasija con agua, una madeja de lana, una victrola. Una pequeña con un mazo de naipes en las manos. Ella cubre el espejo con pequeños pedazos de pan. Toma una carta y la escudilla. Mira para los dos objetos. Zambulle la carta. Comienza a moverse de un lado a otro. Gira, gira. Retira la sombra dentro de la sombra, arrastra el silencio para dentro de la vasija. Eleva las manos, las juega para lo alto. El agua cae en la madeja de lana. Cada milímetro de la madeja conduce a otro laberinto. Con un rosario de carnes la pequeña coge niños sin sombras.
Está surgiendo un silencio nuevo cada día, y siempre surge ese abismo que ronda las sombras blancas del papel. El disparo de un ángel sádico quebró mis alas.—Madre; hoy no escuché su bendición; siento una risotada cortar el aire.
En el lecho profundo de un dios olvidado la muerte llevaba vendas en los ojos.
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morte usava vendas nos olhos
I
A morte usava vendas nos olhos. Grande voz domadora dos desertos – meu coração – combatia os anjos. Era o menino em seu cavalo branco. Atravessava os espelhos; andava descalço por entre os lotes de almas perfuradas; bebia o sangue das sombras com um cálice retirado da voz de um corvo, do leito profundo de um deus esquecido. A morte usava os olhos desse deus, fazia dele o seu lar. Corria pelas veias como fumaça e cruzava a cidade e suas torres de sangue; mercadora de milagres.
O dever nos becos e vielas, um anjo traz uma seringa. Naquela prisão de vidro eles viajam com outros deuses. Descobrem o útero do tempo. Encontram o poeta que habita o abismo.
II
Maria não consegue mais lembrar do rosto de sua mãe. Quando alguém pergunta, dá sempre a mesma resposta: — Minha mãe é a rua!
Maria, doze anos. Carrega uma boneca, presente de Natal. Mas a miséria não dá trégua; a fome é um rosto antigo, dentro de Maria. A virgindade tem seu valor. O suor daquele homem corre pelo corpo. O sol é um punhal. Refaz seu rosto. Corta a alma. O choro, o grito, e nenhum anjo para escutar. Nenhuma lágrima.
Hoje ela almoçou!
José usa a boneca para limpá-la. Senta ao seu lado. Chora.
– Que foi? Por que está chorando? Guardei um pouco de comida para você.
III
Um minuto. A encruzilhada. Árvore de galhos retorcidos e frutos soltos. Aos pés: pedaços de pão, um espelho, uma cuia com água, um novelo de lã, uma vitrola. Uma criança com um maço de cartas nas mãos. Ela cobre o espelho com pequenos pedaços de pão. Apanha uma carta e a cuia. Olha para os dois objetos. Mergulha a carta. Começa a movimentar-se de um lado a outro. Gira, gira. Retira a sombra dentro da sombra, arrasta o silêncio para dentro da cuia. Eleva as mãos; joga-os para o alto. A água, cai no novelo de lã. Cada milímetro do novelo, tece um outro labirinto. Com um rosário de carnes a criança colhe meninos sem sombras.
IV
Está surgindo um silêncio novo a cada dia, e sempre surge esse abismo que ronda as sombras brancas do papel. O tiro de um anjo sádico quebrou minhas asas. — Mãe; hoje não escutei a sua benção; sinto uma risada cortar o ar.
No leito profundo de um deus esquecido a morte usava vendas nos olhos.
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"la noche desvelada"
a Pedro Juan Avila Justiniano
En los ojos del silencio
la calle de mi pueblo
tiempo secreto
en semillas de metáfora
en los labios de los niños
una pequeña estrella
II
El beso azul
de un ángel carnívoro
habita mis entrañas
ese laberinto de sombras
III
La sangre en la tormenta
oraciones en la piel
en el pecho
la semilla de la primavera
Canta el milagro
una gota de girasol
en la puerta de mi patria
una sonrisa de niño
leyendo: "la noche desvelada" de Pedro Juan Avila Justiniano, Editorial Ultimo Arcano
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"la noche desvelada"
a Pedro Juan Avila Justiniano
Nos olhos do silêncio
a rua de meu povo
tempo secreto
em sementes de metáfora
nos lábios das crianças
uma pequena estrela
II
O beijo azul
de um anjo carnívoro
habita minhas entranhas
esse labirinto de sombras
III
O sangue na tormenta
orações na pele
no peito
a semente da primavera
Canta o milagre
uma gota de girassol
na porta de minha pátria
um sorriso de criança |
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El eco de los árboles, o A la sombra de las guillotinas
- poema inédito -
José Geraldo Neres
Imágen: Floriano Martins.
Traducción al castellano: Leo Lobos.
El eco de los árboles, o A la sombra de las guillotinas
El tiempo y los lugares - presencia de un solo poema recitado por varias voces.
Somos el mismo poema en las ruinas de un mundo imaginario.
La respiración de las sombras y su nacimiento.
Somos una gota de sol y sus raíces aéreas.
El gran arco de una plaza desierta en plena celebración de la alegría humana.
El origen del abismo esta en la misma mirada que atraviesa esa plaza.
La alegría humana pide una limosna, un milagro, un sentido para la muerte - de una
vida ya sabemos sin sentido.
Seis de la tarde, y cruzamos un nuevo siglo.
Somos esa distancia, la promesa y el futuro.
Lenguaje de la inconsecuencia, alegoría que nunca llega al fin.
La poesía nos reprueba y nos da el sentido de libertad.
¿Cuál es la ventaja de llegar a Itaca si a camino ella misma se disuelve?
Somos un intento para descifrar símbolos, símbolos más allá de los símbolos, la gran
cobra que devoraremos para fecundar nubes de hermosura terrestre.
El agua de la lluvia que no llega.
El ganado en la sequía interminable.
La imagen del movimiento doble.
La malla de palabras que alguien intenta traducir.
Vengan a beber en el pecho de las musas despreciadas.
Vengan en las alas del cometa los suspiros de los huérfanos.
Mirar al espacio en busca de algo que nunca caerá.
El guardián del cuervo con sus ojos en llamas.
Padre de divina imagen, escucha al rebaño en el cielo creado con osamentas y que se disfraza en el fuego ardiente del laberinto.
Tigre. Tigre. La maldición completa el espejo que clama por Blake.
Condenados a la espera del golpe angelical que nos colocará nuevamente en el hospicio.
Somos el espectáculo de la repetición simbólica.
Ahora déme la mano, vamos a atravesar el desierto y coger algunas flores en la sala del almuerzo.
Poe buscando en sus ojos el acto original de la creación del mundo.
El tiempo presente y el tiempo pasado en dirección a la puerta.
Otras voces.
Profeta no.
Eliot. Lázaro. La voz retorna. Lázaro en el otro borde del abismo. Seis horas.
Los mundos se contraen alrededor de las imágenes.
Las sombras retornan.
El secreto es un escorpión de ojos tímidos.
Palabra dentro de la palabra. El polvo dentro del polvo.
El silencio se desdobla en un resto de vida.
Palabra sin habla.
El frío y sus ojos de lámina.
No puedo beber el tiempo, él es siempre tiempo.
El esfuerzo más allá de los huesos.
La poesía no se importa. Son seis horas. Otros intentos.
Recoja sus zapatos, está llegando una tempestad y no tenemos tiempo.
Una carcajada de serpiente cuando nuestros pies descalzos alcanzan la lluvia.
Somos esa ola peregrina que perfora el poema, ondulación de guitarras en el
golpe líquido de Lorca.
Somos su compañía con pedazos de espejos y tambores de heridas abiertas.
La desnudez de la niebla que devora toda luz.
Los números del monasterio de sangre.
Escondrijo en la noche de su asesinato. La traición.
Muro para dividir el mundo, en medio de una noche que no salva.
Somos aprendices dentro de la marmita que Baudelaire se rehúsa a cerrar.
El nombre vacío de su amigo de libertad, su igual, él mismo.
Volvamos al mundo de los nombres propios, donde un jardín no es nada más que
un jardín.
No recibe niños ni cuervos ni flores.
Somos ese jardín.
La lengua de los dioses en Whitman.
El entendimiento de los dos amantes.
Tome mi mano.
Libertad, Whitman.
No soy de aquí; veo, escucho, toco, y no soy de aquí.
Temo un encuentro con la ceguera.
Ser parte de esa noche, del vacío de los nombres, y del amor universal.
En la escritura abolimos lo que cubre la página y la no página.
Leí en Paz: el poeta no es el que nombra las cosas, pero si es el que disuelve sus nombres.
El mundo pierde sus nombres, pero continúa siendo un nombre.
Mis parpados golpean las repeticiones en los desfiladeros de la creación.
El sistema de espejos donde la lectura de la metáfora es la suplica del poeta, que se inscribe en otra palabra, otra carne
- el eco y la respuesta -
la revelación no es una casa, es un follaje en llamas.
La salida es la entrada, y la entrada es el pecado que engulle la manzana y la serpiente.
La sombra de un poema recitado por varias voces.
Repetí la lectura:
La poesía no quiere saber lo que hay al fin del camino.
La poesía busca, se contempla, se funde y se anula en las cristalizaciones del lenguaje.
Soy la ropa de arbustos donde un poeta se intenta equilibrar.
La vida despojada del reloj, los punteros disuelven al poeta en su figura negra y única.
La sombra en busca del poema.
Danza de símbolos en la eterna búsqueda del hombre que un día podrá ser.
Cuerpo dividido, dispersándose en la medida que leo lo que escribo.
Yo no existo aquí. El poema mal sabe de mí.
Dedico esta traducción a Miriam Rojas.
San Pedro de Atacama - 2008
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