FRANKLIN ALVES
Poeta e ensaísta, nasceu no Rio de Janeiro, onde cursa o mestrado em Letras. Tem o livro inédito de poemas Céu Vermelho.
Blog http://pesa-nervos.zip.net/
Poeta y ensayista, nació en Río de Janeiro, donde cursa la maestría en Letras. Autor del libro inédito de poemas Céu Vermelho.
Blog http://pesa-nervos.zip.net/
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
POEMA
1. Os peixes escrevem
possibilidades:
mar é pele
Multiplicam-se
Escamam-se
noutras texturas
inclusos em
sangue
sulcos
2. Os peixes grafam
salmos:
a pele é pagina –
dorso riscado
tinta azul
céu-sangue
branco
3. Os peixes cometem suicídios alheios
Deslizam pela gastura vermelha de outro deserto
Nadam com as guelras gastas
Visitam-nos quando querem
Os peixes, no seu sono de vivos,
desenham letras neste mar –
fotografamos tudo
sempre a pensar
no vermelho
4. Os peixes, cardume de
incertezas, cingem o
coração: muro vivo de
escamas
Possibilitam
Acelerações
Taquicardias
Bombeiam o sangue
e explodem
neste deserto
de vontade
5. Os peixes multiplicam
os peixes
Duplos de si
explodem certezas
Escamam-se noutros
peixes:
escamas são páginas
sulcos
Os peixes são os peixes
e são nós
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TEXTO EN ESPAÑOL
POEMA
Publicado originalmente em http://www.letras.s5.com, e reproduzido com autorização do tradutor.
Traducción: Leo Lobos
1. Los peces escriben
posibilidades:
mar es piel
se multiplican
se escaman
en otras texturas
incluso en
sangre
surco
2 Los peces escriben
salmos:
la piel es página-
dorso rayado
azul tinta
cielo - sangre
blanca
3 Los peces cometen suicidios ajenos
se deslizan por la llanura roja de otro desierto
Nadan con agallas gastadas
cuando quieren nos visitan
Los peces en su sueño de vivos,
Dibujan letras en el mar-
Fotografiamos todo
siempre al pensar
roja
4 Los peces, cardumen de
incertidumbre, ciñen el
corazón: muro vivo de
escamas
Posibilidades
Aceleraciones
Taquicardias
Bombean sangre
y estallan
en un desierto
de voluntad
5 Los peces multiplican
los peces
Dobles de sí
estallan certezas
se escaman en otros
peces:
son escamas
páginas
surcos y todos nosotros
BABEL Revista de Poesia, Tradução e Crítica. Ano IV - Número 6 - Janeiro a Dezembro de 2003. Editor Ademir Demarchi. Campinas, São Paulo Ex. bibl. Antonio Miranda
O grande Buda
Incisa o corpo
Retira dele
essa pequena
peça de metal
cirúrgico:
a angústia
Depois
sem porquês
Morre
Céu vermelho
O homem que ia atravessar as caixas, de uma margem a outra,
morreu ontem. O outro homem, aquele que ia recebera as caixas,
na margem oposta, desistiu logo após a notícia da morte. Ficamos
deste lado com os embrulhos, pensando em abri-los. A dúvida
cheia de olhos nos espreitava. Não abrimos. Sob um céu vermelho,
meditamos a morte das coisas que elegemos, e que estariam,
agora, no outro lado. Meditamos o imprevisto das caixas, que não
nomeamos acaso, mas uma ordem que regula desde átomos até
casos como este.
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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
Página publicada em janeiro de 2008, com material gentilmente cedido pelo poeta chileno Leo Lobos.
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