DOMINGOS CALDAS BARBOSA
(1738-1800)
(Rio de Janeiro, Brasil, ca.1740 - Lisboa, Portugal, 1800). Mudou-se para Lisboa, Portugal por volta de 1772. Lá fez cursos de formação religiosa e foi ordenado em 1777. Excelente violonista, fez sucesso como letrista e cantor e foi grande divulgador da modinha brasileira nos salões portugueses, além de teatrólogo. Em 1790 fundou em Lisboa a Academia de Belas Artes, antiga Academia das Humanidades e futura Nova Arcádia. Aderiu à Arcádia Romana sob o pseudônimo de Lereno Selenuntino. Em 1798 foi publicada sua obra poética Viola de Lereno. Domingos Caldas Barbosa foi poeta árcade, mas sua principal obra está vinculada à canção popular.
O crítico Francisco de Assis Barbosa comentou sobre suas modinhas: "Perfeitas ou não, essas quadrinhas despretensiosas resistiriam ao tempo e à pancadaria dos eruditos. As cantigas do mulato Caldas Barbosa possuem um embalo preguiçoso e dolente, que vem da sua autêntica inspiração popular, como uma antecipação dos melhores momentos dos nossos modinheiros e letristas de samba, como um Orestes Barbosa, um Sinhô, um Noel Rosa, um Chico Buarque de Holanda.". Fonte: /www.itaucultural.org.br
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Vou morrendo devagar
Eu sei cruel, que tu gostas,
Sim gostas de me matar;
Morro, e por dar-te mais gosto,
Vou morrendo devagar.
Eu gosto de morrer por ti;
Tu gostas de ver-me expirar;
Como isto é morte de gosto,
Vou morrendo devagar.
Amor nos uniu em vida,
Na morte nos quer juntar;
Eu, para ver como morres,
Vou morrendo devagar.
Perder a vida é perder-te;
Não tenho que me apressar;
Como te perco morrendo,
Vou morrendo devagar.
O veneno do ciúme
Já principia a lavrar;
Entre pungentes suspeitas
Vou morrendo devagar.
Já vai me calando as veias
Teu veneno de agradar;
E gostando eu de morrer,
Vou morrendo devagar.
Quando não vejo os teus olhos
Sinto-me então expirar;
Sustentado d'esperanças,
Vou morrendo devagar.
Os Ciúmes, e as Saudades
Cruel morte me vêm dar;
Eu vou morrendo aos pedaços,
Vou morrendo devagar.
É feliz entre as desgraças,
Quem logo pode acabar;
Eu, por ser mais desgraçado,
Vou morrendo devagar.
A morte, enfim, vem prender-me,
Já não lhe posso escapar;
Mas abrigado a teu Nome,
Vou morrendo devagar.
O nome do teu Pastor
(Cantiga)
No tronco de um verde Loiro
Me manda escrever Amor,
Misturado com teu nome,
O nome do teu Pastor.
Mil abelhas curiosas,
Revoando derredor,
Chupam teu nome, deixando
O nome do teu Pastor.
De um raminho pendurado,
Novo emplumado Cantor,
Suspirava ali defronte,
O nome do teu Pastor.
Ah! Lília, soberba Lília,
Donde vem tanto rancor?
Tu bem viste, mas não leste
O nome do teu Pastor.
Já não se via o teu nome,
Bando o levou roubador;
E ficou só desgraçado,
O nome do teu Pastor.
O teu nome que roubaram
A novo mel dá sabor
Sem o misto d'amargura
Do nome do teu Pastor.
(De Viola de Lereno)
|
SONETOS V.2. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, s.d p. 151-302.
16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor Edson Guedes de Moraes. Inclui poetas brasileiros e de outras nacionalidades. Edição artesanal, tiragem limitada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Extraído de POESÍA BRASILEÑA COLONIAL. Traducción y prólogo de Ricardo Silva-Santisteban. Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1985. 117 p. (Tierra Brasileña. Poesía 23)
BRAYNER, Sônia, org. Poesia no Brasil. Vol. 1. Rio de Janeiro, RJ: Editora Civilização Brasileira, 1981. 395 p. 13,5x20,5 cm. Inclui poetas das Origen e Barroco, Neoclassicismo e A rcadismo, Romantismo, Parnasianismo, Simbolismo e Opre-modernismo. Capa: Eduardo Francisco Alves.
LUNDUM EM LOUVOR DE UMA BRASILEIRA ADOTIVA
CANTIGAS
Eu vi correndo hoje o Tejo,
Vinha soberbo e vaidoso,
Só por ter nas suas margens
O meigo Lundum gostoso.
Que lindas voltas que fez,
Estendido pela praia
Queria beijar-lhe os pés.
Se o Lundum bem conhecera
Quem o havia cá dançar:
De gosto mesmo morrera
Sem poder nunca chegar
Ai rum rum
Vence fandangos e gigas
A chulice do Lundum
Quem me havia de dizer.
Mas a cousa é verdadeira,
Que Lisboa produziu
Uma linda Brasileira:
Ai beleza
As outras são pela pátria,
Esta pela Natureza.
Tomara que visse a gente
Como nhanhá dança aqui;
Talvez que o seu coração
Tivesse mestre dali.
Ai companheiro
Não será ou sim será,
O jeitinho é Brasileiro.
Uns olhos assim voltados,
Cabeça inclinada assim,
Os passinhos assim dados
Que vêm entender com mim.
Ai afeto
Lundum entendeu com eu,
A gente está bem quieto.
Um lavar em seco a roupa,
Um saltinho cai-não-cai;
O coração Brasileiro
A seus pés caindo vai.
Ai esperanças
E' nas chulices de lá,
Mas é de cá nas mudanças.
Este Lundum me dá vida
Quando o vejo assim dançar;
Mas temo se continua
Que Lundum me há de matar.
Ai lembrança
Amor me trouxe o Lundum
Para meter-me na dança
Nhanhá faz um pé de banco
Com seus quindins, seus popôs,
Tinha lançado os seus laços,
Aperta assim mais os nós.
Oh! doçura
As lobedas de nhanhà
Apertam minha ternura.
Logo que nhanhà saiu,
Logo que nhanhà dançou,
O cravo que tinha ao peito
Envergonhado murchou.
Ai que peito
Se quiser flores bem novas
Aqui tem Amor perfeito.
Pois segue as danças di lá,
Os di lá deve querer;
E se tem di lá melindres
Nunca tenha malmequer.
Ai delírio
Ela semeia saudades
De enxerto no meu martírio.
A TERNURA BRASILEIRA
CANTIGAS
Não posso negar, não posso,
Não posso por mais que queira,
Que o meu coração se abrasa
De ternura Brasileira.
Uma alma singela e rude
Sempre foi mais verdadeira,
A minha por isso é própria
De ternura Brasileira.
Lembra na última idade
A paixão lá da primeira,
Tenho nos últimos dias
A ternura Brasileira.
Vejo a carrancuda morte
Ameigar sua viseira,
Por ver que ao matar-me estraga
A ternura Brasileira.
Carente, que chega a barca,
E que me chama à carreira,
Vê que o batel vai curvando
Côa ternura Brasileira.
Mal piso sobre os Elísios,
Outra sombra companheira
Chega, pasma, e não conhece
A ternura Brasileira.
Eu vejo a infeliz Rainha
Que morre em ampla fogueira,
Por não achar em Enéias
A ternura Brasileira.
Do mundo a última parte
Não tem frase lisonjeira,
As três que a têm não conhecem
A ternura Brasileira.
Do mundo a última parte
Foi sempre em amar primeira,
Pode às três servir de exemplo
A ternura Brasileira.
Viola de Lereno, org. Suetônio Soares Valença,
1980.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Ricardo Silva-Santisteban
Voy muriendo sin menguar
Yo sé, oh cruel, que tú quieres,
sí, tú me quieres matar;
muero y, por darte más gusto,
voy muriendo sin menguar.
Me place morir por ti;
tú gustas verme expirar;
como ésta es muerte de gusto,
voy muriendo sin menguar.
El Amor nos unió en vida,
nos quiere en muerte juntar;
yo, para ver como mueres,
voy muriendo sin menguar.
Perder la vida es perderte;
no me quiero apresurar;
como te pierdo muriendo,
voy muriendo sin menguar.
El veneno de los celos
ya comienza su horadar;
por entre agudas sospechas
voy muriendo sin menguar.
Va penetrando mis venas
tu veneno de agradar;
y gustando de morirme
voy muriendo sin menguar.
Cuando no veo tus ojos
yo ya me siento expirar;
sustentado de esperanzas
voy muriendo sin menguar.
Los celos y las nostalgias
muerte cruel me van a dar;
y voy muriendo a pedazos,
voy muriendo sin menguar.
Es feliz entre desgracias,
quien luego puede acabar;
yo, por ser más desgraciado,
voy muriendo sin menguar.
Al fin me llega la muerte,
ya no me puedo escapar;
protegido por tu nombre,
voy muriendo sin menguar.
El nombre de tu Pastor
(Cantigas )
En el tronco de un laurel
escribir me ordena Amor,
confundido con tu nombre,
el nombre de tu Pastor.
Mil abejas muy curiosas,
revolando en derredor,
sorben tu nombre,
dejando el nombre de tu Pastor.
De un ramito suspendido,
nuevo emplumado cantor,
que allí enfrente suspiraba,
el nombre de tu Pastor.
¡Ah! Lilia, altiva Lilia,
¿de dónde tanto rencor?
Tú bien viste y no leíste
el nombre de tu Pastor.
Ya no veía tu nombre,
lo llevó el bando raptor;
solo quedó desgraciado,
el nombre de tu Pastor.
Y tu nombre que robaron
a nueva miel da sabor
sin la mezcla de amargura
del nombre de tu Pastor.
Extraído de POESÍA BRASILEÑA COLONIAL. Traducción y prólogo de Ricardo Silva-Santisteban. Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1985. 117 p. (Tierra Brasileña. Poesía 23)
|