BÁRBARA HELIODORA
(1759-1819)
Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira (São João del-Rei, c. 1758* — São Gonçalo do Sapucaí, 24 de maio de 1819) foi uma poetisa brasileira. Foram seus pais o Dr. José da Silveira e Sousa e D. Maria Josefa Bueno da Cunha. Para alguns estudiosos, era descendente de uma das famílias paulistas mais ilustres: a de Amador Bueno, o aclamado.
Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora viveram juntos por algum tempo, e só se casaram, por portaria do bispo de Mariana, de 22 de dezembro de 1781, quando Maria Ifigênia, filha do casal, já contava três anos de idade. Desta união nasceram quatro filhos.
Para Aureliano Leite em "A Vida Heróica de Barbara Heliodora", "ela foi a estrela do norte que soube guiar a vida do marido, foi ela que lhe acalentou o seu sonho da inconfidência do Brasil ... quando ele, em certo instante, quis fraquejar, foi Barbara que o fez reaprumar-se na aventura patriótica. Disso e do mais que ela sofreu com alta dignidade, fez com que a posteridade lhe desse o tratamento de Heroína da Inconfidência".
A poetisa viveu entre a vila de Campanha da Princesa e a de São Gonçalo de Sapucaí. O capitão-de-mar e guerra Alberto C. Rocha, no artigo publicado (sob as iniciais A.C.R.) em 11 de outubro de 1931, em A Opinião de S. Gonçalo do Sapucaí, explica as razões da decretação da demência de Bárbara: com o propósito de se livrar da ameaça de seqüestro e execução, ela "vendeu", por escritura de 27 de julho de 1809, os bens que ainda lhe restavam ao seu filho José Eleutério de Alvarenga. Ora, tal manobra, ao que parece, prejudicava a Fazenda Real; para que fosse anulada a citada escritura, Heliodora foi declarada demente.
A produção literária de Bárbara Heliodora é bastante reduzida e controvertida. A ela são atribuídos os poemas Conselhos a meus filhos e um soneto dedicado a Maria Ifigênia, mas nem todos os estudiosos são unânimes nesta atribuição.
Fonte: Wikipedia
*algumas fontes citam o ano de 1959.
Casa em que viveu Bárbara Heliodora em São Gonçalo do Sapucaí, MG
Fonte: http://www.tudoave.com/historia.htm
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
SONETO
Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa,
vem conduzir a simples natureza:
- é hoje que o teu mundo principia.
A mão, que te gerou, teus passos guia;
despreza ofertas de uma vá beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do Filho de Maria.
Estampa na tua alma a Caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da Verdade.
Tudo o mais são idéias delirantes;
procura ser feliz na Eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes.
Nota: Domingos Carvalho da Silva, em alguns trabalhos, inclusive num artigo publicado em "O Estado de São Paulo" de 12.8.1961, sob o título "História de um Soneto", atribui sua autoria a Bárbara Heliodora.
Fonte: http://www.clubedapoesia.com.br/brasileiros/braalvaren.htm
CONSELHOS A SEUS FILHOS
Meninos, eu vou dictar
As regras do bem viver,
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz sabios é o pensar.
Neste tormentoso mar
D'ondas de contradicções,
Ninguem soletre feições,
Que sempre se ha de enganar;
De caras a corações
A muitas legoas que andar.
Applicai ao conversar
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos,
E também podem fallar:
Ha bixinhos escondidos,
Que só vivem de escutar.
Quem quer males evitar
Evite-lhe a occasião,
Que os males por si virão,
Sem ninguem os procurar;
E antes que ronque o trovão,
Manda a prudencia ferrar.
Não vos deixeis enganar
Por amigos, nem amigas;
Rapazes e raparigas
Não sabem mais, que asnear;
As conversas, e as intrigas
Servem de precipitar.
Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem, que ratos velhos
Não ha modo de os caçar:
Não batam ferros vermelhos,
Deixem um pouco esfriar.
Se é tempo de professar
De taful o quarto voto,
Procurai capote roto
Pé de banco de um brilhar,
Que seja sabio piloto
Nas regras de calcular.
Se vos mandarem chamar
Pâra ver uma funcção,
Respondei sempre que não,
Que tendes em que cuidar:
Assim se entende o rifão.
Quem está bem, deixa-se estar.
Devei-vos acautelar
Em jogos de paro e tópo,
Promptos em passar o copo
Nas angolinas do azar:
Taes as fábulas de Esopo,
Que vós deveis estudar.
Quem fala, escreve no ar,
Sem pôr virgulas nem pontos,
E póde quem conta os contos,
Mil pontos accrescentar;
Fica um rebanho de tontos
Sem nenhum adivinhar.
Com Deus e o rei não brincar,
É servir e obedecer,
Amar por muito temer
Mâs temer por muito amar,
Santo temor de offender
A quem se deve adorar!
Até aqui pode bastar,
Mais havia que dizer;
Mâs eu tenho que fazer,
Não me posso demorar,
E quem sabe discorrer
Póde o resto adivinhar.
O SONHO
Oh que sonho! Oh! que sonho eu tive n'esta,
Feliz, ditosa e socegada sésta!
Eu vi o Pão de Assucar levantar-se
E no meio das ondas transformar-se
Na figura de um indio o mais gentil,
Representando só todo o Brazil.
Pendente ao tiracol de branco arminho
Concavo dente de animal marinho
As preciosas armas lhe guardava;
Era thesoiro e juntamente aljava.
De pontas de diamante eram as setas,
As hásteas d'oiro, mas as pennas pretas;
Que o indio valeroso altivo e forte
Não manda seta, em que não mande a morte,
Zona de pennas de vistosas côres
Guarnecida de barbaros lavores,
De folhetas e perolas pendentes,
Finos chrystaes, topazios transparentes,
Em recamadas pelles de sahiras,
Rubins, e diamantes e saphiras,
Em campo de esmeralda escurecia
A linda estrella, que nos traz o dia.
No cocar... oh que assombro! oh que riqueza!
Vi tudo quanto póde a natureza.
No peito em grandes letras de diamante
O nome da augustissima imperante.
De inteiriço coral novo instrumento
As mãos lhe occupa, em quanto ao doce accento
Das saudosas palhetas, que afinava,
Pindaro americano assim cantava.
Sou vassallo e sou leal,
Como tal,
Fiel constante,
Sirvo á glória da imperante,
Sirvo á grandeza real.
Aos elysios descerei
Fiel sempre a Portugal,
Ao famoso vice-rei,
Ao illustre general,
Ás bandeiras, que jurei,
Insultando o fado e a sorte,
E a fortuna desigual,
Qu'a quem morrer sabe, a morte
Nem é morte, nem é mal.
Do livro: Florilégio da Poesia Brasileira, de Varnhagen, 1946 ("fac-símile do frontespício da ed. princeps do "Florilégio da Poesia Brasileira", de 1850),
TEXTO EN ESPAÑOL
TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE
ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO
AMADA HIJA
Amada hija, ya es llegado el dia
En que la luz de la razón, como antorcha encendida,
Viene a conducir a la simple naturaleza;
Es hoy cuando tu mundo da principio.
La mano, que te ha formado, guía tus pasos,
Desprecia ofertas de belleza vana
Y sacrifica honras y riquezas
A las santas leyes del Hijo de María.
Imprime caridad en tu alma,
Que a amar a Dios y a nuestros semejantes
Son eternos preceptos de verdad.
Lo demás son ideas delirantes;
Procura ser feliz en lo eerno,
Que el mundo son brevísimos instantes.
Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.
Página republicada em junho de 2008
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